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Foto 02- Entrevista em grupo com as alunas

1.6 Repercussões do bullying na mídia

A violência nas instituições de ensino é um drama retratado cotidianamente em todo o mundo. Os casos são inúmeros e, de modo geral, podem ser identificados em todos os níveis de relações estabelecidas dentro dos ambientes educacionais, isto é, entre alunos, entre os profissionais da instituição, entre profissionais da instituição e alunos. As notícias veiculadas pelos meios de comunicação apontam para uma diversidade de episódios desta ordem, dentre eles, agressões, brigas, desentendimentos, depredação e roubo do patrimônio, os quais são cada vez mais frequentes.

Na esteira destes acontecimentos, o bullying, fenômeno caracterizado como uma das formas de violência mais comuns entre crianças e jovens, cuja maior incidência é verificada no ambiente escolar, tem recebido destaque nos meios de informação, com ampla divulgação em revistas, jornais, internet e mídia televisiva, dentre outros meios de comunicação.

Figura 01: Correio do povo, 10 de outubro de 2012 – Folha Geral, p. 17

Fonte: http://www.correiodopovo.com.br/

Em geral, as matérias veiculadas sobre o tema, objetivam tornar públicos os casos de maior gravidade, ou seja, os que culminaram em trágicos desfechos, e que envolvem violência extrema, como suicídios ou homicídios, bem como elucidar sobre as características do fenômeno e de seus efeitos nocivos, divulgar projetos e campanhas de combate e prevenção do problema, dentre outros. Conforme exemplificam as tiragens abaixo:

Fonte: http://www.folhadaregiao.com.br/

A popularização do tema é atribuida, sobretudo, ao crescimento do número de episódios provenientes desta prática. No Brasil, é cada vez maior o número de jovens que vicenciam a problemática do bullying, especialmente, no meio escolar. São vários os casos registrados enquanto decorrência deste fenômeno, da mesma maneira, os que tiveram maior repercussão são aqueles que também convergiram para graves consequências.

Entretanto, nestes casos a mídia pode exercer um papel ambivalente, isto porque, tanto poderá alertar sobre as consequências do problema, ao prevenir e informar sobre o mesmo, quanto poderá ser um agente que contribui para a adoção e disseminação de comportamentos e posturas inadequadas e prejuciais.

Desta maneira, é consenso entre muitos estudiosos que se dedicam a investigação da violência e suas causas, que a mídia, sobretudo televisiva tem efeitos negativos sobre o comportamento dos jovens, tornando-se um fator que estimula a prática da violência.Na perspectiva de Levisky (1997, p. 27) ―a relação da mídia com a sociedade precisa ser reexaminada, principalmente quando sabemos de suas influências sobre a estruturação da personalidade das crianças e dos jovens.‖

Beane (2011), em seus estudos sobre os fatores que têm relação com o desenvolvimento da violência e da agressividade em crianças, destaca a interferência da mídia neste processo, que exerce influência por meio dos programas, desenhos, filmes e jogos eletrônicos com pesada carga de cenas de violência. Neste sentido, Clark (apud BEANE, 2011, p. 42,43) acrescenta que:

A mídia tem um tremendo impacto sobre as crianças hoje em dia. Algumas pesquisas indicam que crianças que assistem a muita violência na televisão, em videogames e no cinema frequentemente se tornam mais agressivas e menos solidárias com outras pessoas. De fato, o consenso entre os pesquisadores sobre a violência na televisão é que existe um aumento mensurável de 3 a 15 por cento no comportamento agressivo do indivíduo depois de assistir a programas violentos. As crianças tendem a imitar aquilo a que são são expostas.

O poder de sugestão que estes veículos exercem na vida das pessoas, tem sido considerado como um meio muito eficaz para ditar e moldar opiniões e comportamentos. No caso do bullying, Silva (2010, p.65) chama atenção para o fato de que, não se pode desconsiderar a presença de outros elementos que disputam com pais e professores a ascendência educativa sobre os jovens, dentre os quais, a autora cita: ― a cultura televisiva; o universo da propaganda, da internet, da música e do consumo.‖

Para Minayo (1999, p.139) a televisão tem o poder de distorcer e manipular a realidade [...] ―os jovens de todos os estratos consideram que a televisão e os jornais influenciam no aumento dos conflitos da sociedade, na medida em que os veiculam de forma exagerada e incentivam comportamentos violentos‖. A televisão tem um forte apelo entre a população, pois induz à fantasia e a assimilação dos conteúdos por ela transmitidos. Assim como a mídia, de modo geral, faz com que as pessoas absorvam tudo o que veem na TV, em jornais e revistas e na internet.

Ao retomarmos a questão da dualidade presente na mídia, na rota inversa é possível que ela se configure como um suporte eficaz para a conscientização sobre a gravidade destes problemas.

Nesta perspectiva, além de matérias publicadas em jornais e revistas; existem documentários, programas e filmes produzidos para a TV e cinema, que podem servir como meios de informação e promoção de alerta e prevenção do comportamento

para pais e professores, no desenvolvimento de atividades educativas, como material de apoio, usado para suscitar o debate e a reflexão entre os participantes.

É possível encontrar um vasto material com abordagem direcionada ao fenômeno bullying, o qual pode, perfeitamente, ser utilizado com fins didáticos e pedagógicos, dentre estes, cartilhas, documentários, séries, vídeos explicativos, filmes e outros, produzidos pela mídia. Deste modo, selecionamos algumas produções, cujo foco central é retratar este fenômeno e problematizar as suas causas e consequências,como se pode notar no quadro expositivo abaixo:

Quadro 02: Produções midiáticas sobre o bullying

TÍTULO ANO PAIS TEMÁTICA

 Carrie: a estranha 2012 Estados Unidos Narra a estória da atormentada adolescência de uma jovem problemática, que é perseguida pelos colegas na escola.

 Bully 2001 Estados Unidos

É um filme longa metragem baseado em fatos verídicos, foi considerado pela crítica um filme chocante e objetivou, segundo o diretor, retratar o ócio e a banalidade da violência na juventude americana.

 Bang, Bang! Você Morreu (Bang,

Bang! You’re

Dead)

2002 Estados Unidos

Mostra a perseguição sofrida diariamente por um jovem em sua escola e as consequências disto para a comunidade local.

 Elefante (Elephant) 2003 Estados Unidos Retrata o famoso caso de Columbine.

 Meninas malvadas (Mean Girls)

2004 Estados Unidos Aborda o bullying relacional e social nas relações entre garotas.

 A Classe (Klass) 2007 Estônia É descrito como um alerta, que dificilmente irá deixar o espectador indiferente.

 Meu Melhor Inimigo (Min

Bedste Fjende) 2010 Dinamarca

É considerado pela crítica como triste e impactante, mas que leva a reflexão sobre as consequências que determinados atos podem ter.

 Bullying – Provocações sem limites (Bullying)

2009 Espanha

É definido pela crítica como um longa metragem angustiante, que retrata de forma severa e chocante a estória de um jovem vítima de

bullying. Com um desfecho trágico, o filme

alerta para a importância de denunciar esta conduta.

 Bullying 2011 Islândia Documentário de longa metragem

 Depois de Lúcia 2012 México Conta à estória de uma estudante alvo de

bullying pelos colegas do próprio grupo

As obras destacadas tratam especificamente do tema bullying, cujo enredo gira em torno dos dramas vividos pelas personagens principais, que são vítimas do problema, o comportamento dos agressores e as consequências destes atos. Existem ainda, outros filmes e séries que paralelamente ao tema central abordam o problema da vitimização sofrida por personagens secundários na trama.

Em que pese algumas destas produções terem sido classificadas como tendenciosas e sensacionalistas, elas podem se constituírem em ferramentas pedagógicas interessantes, a serem empregadas em atividades de intervenção e de combate ao

bullying, com fins a sensibilização e ao alerta, visto que, enfatizam o sofrimento da

vítima e as repercussões psíquicas e sociais que a exposição contínua a estas condutas podem trazer para os envolvidos.

A partir destas inferências, verifica-se que a mídia, embora possa ter reflexos negativos na formação e desenvolvimento dos indivíduos é também um mecanismo de informação que disponibiliza recursos que podem ser utilizados de maneira assertiva, com objetivo de orientar, conscientizar e educar.

Na seção a seguir, tratamos da organização metodológica utilizada para o desenvolvimento de nosso trabalho, na qual buscamos conceituar a Teoria das Representações Sociais, enquanto aporte teórico-metodológico que balizou este estudo. Posteriormente, apontamos os procedimentos que subsidiaram a pesquisa de campo, constituídos pelos instrumentos e técnicas para coleta de dados, procedendo à caracterização do lócus pesquisado e dos sujeitos participantes.

SEÇÃO II

TECENDO CAMINHOS: O PERCURSO METODOLÓGICO

Nesta seção faremos uma breve incursão sobre a Teoria das Representações Sociais, aporte teórico-metodológico sob o qual está assentada a produção deste estudo, e de como esta teoria foi estruturada por Moscovici, com destaque para os elementos constituintes do processo de elaboração de uma representação social; e sua importância no contexto da produção intelectual nas últimas décadas em diversas áreas do conhecimento, bem como sua relação com o tema abordado. A seguir serão explicitados os caminhos percorridos no desenvolvimento de nosso trabalho, no qual procedemos a caracterização do lócus pesquisado e dos sujeitos participantes, posteriormente apontamos os procedimentos que subsidiaram a pesquisa de campo, constituídos pelos instrumentos e técnicas para coleta e análise dos dados.

Ao analisarmos o fenômeno bullying enquanto uma forma específica de violência que ocorre por meio das interações entre pares, consideramos que as práticas que visam a inferiorização do outro, a partir de uma gama de ações, dentre as quais, desrespeitar, ferir, humilhar, intimidar, ou qualquer ato de agressão no campo físico ou psicológico que ocorra de forma permanente e repetitiva, são, em grande parte, provenientes de pensamentos e sentimentos que se corporificam nas incertezas e nas dificuldades de aceitação e autoafirmação daqueles que as praticam.

Deste modo, a falta de habilidade para lidar com questões que por alguma razão se constituam em fontes de descontentamento e insatisfação pessoal, podem arbitrariamente demandar o desejo de projetar e/ou transferir para o outro, o mesmo sentimento de desconforto e mal estar vivenciados. O que provavelmente se materializará pela imposição de atos que provoquem dor e sofrimento, uma vez que comprovadamente, a frustração decorrente das questões anteriormente aludidas, poderá resultar em agressividade, raiva e revolta, sentimentos que possivelmente terão vazão por meio de atos violentos.

Partindo deste pressuposto, discutir o fenômeno bullying na perspectiva das representações sociais (RS), faz-se pertinente na medida em que as RS estão alicerçadas sobre as interações sociais, e influenciam diretamente nas condutas e práticas dos indivíduos, na mesma proporção em que são influenciadas por estas práticas, mediando

às relações entre eles e orientando os seus comportamentos, participando da constituição do conjunto de atitudes, opiniões e valores de um determinado grupo.