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CAPÍTULO 2: VARIÁVEIS QUE INFLUENCIAM NA ORIENTAÇÃO ESPACIAL

2.4 VARIÁVEIS CONTEXTUAIS QUE INFLUENCIAM NA ORIENTAÇÃO ESPACIAL

2.4.5 Repetição e uniformidade entre prédios

A possibilidade de replicar a cidade como um modelo padronizado, desconsiderando as particularidades socioculturais e a importância da diversidade arquitetônica foi um dos pontos mais criticados do urbanismo moderno (BENTLEY et al., 1985; TRANCIK,1986). A semelhança e repetição entre as edificações gera uma monotonia na leitura de conjunto, fator de dificuldade para os visitantes se orientarem e encontrarem seu destino (REIS, 1992; KOHLSDORF, 1996b; CARPMAN; GRANT, 2002; REIS et al., 2006a; REIS et al., 2006b; HOLANDA, 2013). Estudos sobre orientação espacial indicam que a uniformidade entre os prédios interfere no reconhecimento e distinção do espaço, dificultando a capacidade do indivíduo de determinar sua posição no mesmo (ABU-GHAZZEH, 1996; COOPER MARCUS; WISCHEMANN, 1998; CARPMAN; GRANT, 2002), o que foi verificado mesmo entre usuários com maior grau de familiaridade com o local (GÄRLING et al.,1986 in ABU-GHAZZEH, 1996).

Locatelli (2007) evidencia que a necessidade de pontos de referência e dispositivos de sinalização é maior no campus da UFSM (Figura 2.19) do que no Centro da cidade de Santa Maria-RS. Neste sentido, espaços que apresentam composições simétricas e regulares, cujos níveis de complexidade entre os espaços são menores (Campus da UFSM), tendem a dificultar a orientação espacial.

(1) Implantação (2) Vista do pedestre

Figura 2.19: Campus universitário UFSM, Santa Maria-RS

Fonte: (1) e (2) Google Earth, 2014.

Sobre a similaridade das fachadas dos edifícios residenciais nas superquadras em Brasília- DF (Figura 2.20), Kohlsdorf (2010) afirma que esta redundância de informação, desprovida de variedade visual, tende a desorientar o visitante. “Há quadras onde a abertura de janelas nas empenas é generalizada a ponto de não encontrarmos um único exemplo de prédios com características originais” (HOLANDA, 2013, p. 255). O equilíbrio harmônico entre unidade e diversidade garantem o desempenho adequado dos projetos quanto à orientação espacial, em outras palavras:

[...] tanto a escassez de informação (elementos insuficientes, muito semelhantes ou repetidos) quanto o excesso de informação (grande quantidade ou diversidade de elementos) prejudicam a leitura, seja do interior de um edifício, seja de espaços da cidade. Em termos gerais, garante-se a boa topocepção procurando-se equilibrar elementos repetidos e elementos diferentes, assim como a repetição e variação das relações entre os mesmos. (KOHLSDORF; KOHLSDORF, 2008, p.14).

(1) Superquadra 116 Sul (2) Superquadra 316 Sul (3) Superquadra 316 Sul

Figura 2.20: Superquadras em Brasília-DF

Passini (1992) aponta que mesmo em ambientes uniformes, o usuário será capaz de identificar algumas particularidades que auxiliem na construção do mapa cognitivo. Neste sentido, o usuário se deterá em detalhes que possam lhe dar alguma indicação de onde está e como se orientar. Entretanto, estudo sobre aquisição do conhecimento espacial sugere que uma pessoa não familiarizada com o local procura inicialmente por elementos que se destaquem no ambiente. Após, conectam estes elementos através dos percursos e, por fim, organizam o sistema espacialmente e cognitivamente (SIEGEL; WHITE, 1975 apud GÄRLING et al., 1983). Logo, a composição de espaços uniformes deveria ser evitada, com objetivo de facilitar a apreensão do espaço pelos visitantes ou pessoas não familiarizadas com as áreas em questão. Contudo, frequentemente são encontrados exemplos nas cidades brasileiras que vão de encontro com tais pressupostos. Inúmeros empreendimentos recentes que, por desconhecimento dos projetistas ou justificados pela economia de materiais (padronização dos prédios) reproduzem edificações idênticas, um exemplo é o Residencial Bento Gonçalves (Figura 2.21) com prédios idênticos, recentemente finalizado em Porto Alegre-RS.

Os resultados de estudos que avaliam os impactos da forma urbana sobre a orientação espacial dos pedestres indicam que os espaços que reproduzem edifícios similares tendem a dificultar a navegação dos usuários (REIS, 1992; LOCATELLI, 2007; ANTOCHEVIZ, 2014; TOOREN; MEIER, 2015). Estudo realizado por Antocheviz (2014) em condomínios residenciais com edifícios altos demonstra que a semelhança entre os edifícios e sua implantação em lotes de maior extensão estão entre os principais motivos que justificam a dificuldade de orientação espacial dos usuários.

Figura 2.21: Conjunto habitacional Bento Gonçalves, Porto Alegre-RS

Fonte: (1) e (2) skyscrapercity.com

A orientabilidade das configurações apóia-se no conceito de harmonia na composição da pauta sequencial, significando acordo e equilíbrio, mas distanciando-se das noções de estaticidade, repetição e uniformidade. As situações harmônicas são pontos de mutação estáveis, enquanto valerem contrastes entre os opostos (unidade e diversidade, continuidade e mudança, etc.). Logo, a capacidade informativa das composições morfológicas percebidas cresce sempre que se tenham valores médios, em sua quantidade e natureza (KOHLSDORF, 1996b, p. 48).

A citação refere-se, não só à importância do equilíbrio na composição morfológica dos espaços para a orientação espacial dos indivíduos, mas ao contraste entre elementos ser

preferível a espaços homogêneos. Como medida para solucionar problemas de navegação decorrente da repetição e uniformidade entre as edificações, vários estudos evidenciam que a cor auxilia no destaque dos elementos da paisagem (PASSINI, 1984; LANG, 1987; PASSINI, 1992; ZINGALE, 2010; HELVACIOĞLU; OLGUNTÜRK, 2010; FARRAN et al., 2012). Estudo

realizado por Evans et al. (1980) na Universidade da Califórnia, demonstra que a tarefa de orientação espacial foi facilitada pela presença de diferentes cores nos pavimentos para estudantes não familiarizados com o prédio. Corroborando, resultados de Hidayetoglu et al. (2012), em análise comparativa entre ambientes com cores diferentes, apontaram que 66,7% dos participantes (80 de 120) mencionaram a presença de cores como fator determinante para lembrarem-se do local.

Considerando a influência da repetição e uniformidade entre os prédios na orientação espacial, será verificado como se comporta esta variável, especificamente, no contexto de campi universitários. Assim, propõem-se a verificação da seguinte hipótese: quanto maior a

repetição e a uniformidade entre os prédios, maior a dificuldade de localização do prédio por indivíduos com baixo grau de familiaridade.