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3 O TABLET

5.2.2 Descrevendo as estruturas da narrativa

5.2.2.4 Reportagem "O ‘aniversário’ de Malala"

Há textos em que se dividem em três páginas, e o ícone na parte inferior do mesmo sinaliza as divisões, no intuito de oferecer ao leitor direcionamento para que o mesmo não se perca durante a leitura. A exemplo da estrutura formada na reportagem sobre a paquistanesa Malala, em 08 de outubro de 2013.

A reportagem em referência ressalta a história da vida da menina paquistanesa e mulçumana ferida por uma bala na cabeça, no intuito de intimidar seu ativismo por direito à educação para meninas em seu país. Aborda ainda sua história de vida: como começou a escrever no blog que despertou o ódio de radicais do talibã.

O texto aborda também promove o lançamento do livro de Malala, sendo dividido em quatro páginas, a primeira com uma grande fotografia tomando metade da página, título, subtítulo e autor. O uso da imagem vai ao encontro da importância que esse tipo de recurso tem tido ao longo dos séculos nos jornais (KNOX, 2009).

A origem das imagens nos jornais iniciou com bordas ilustradas no fim do século 16 (Bicket; PACKER, 2004), mas foi em meados do século 19 que consideraram um aumento significativo no uso das ilustrações, uma prática que continuou mesmo quando a tecnologia fotográfica melhorou e se tornou mais difundida na segunda metade século 19 e início do século 20. (BARNHURST AND NERONE, 2001; CAPLE, FORTHCOMING apud KNOX, 2009, p. 156, tradução nossa)6263

As sinalizações também estão presentes nessa reportagem: setas indicativas para baixo e ícones mapeadores.

Na segunda página começa o texto da reportagem, relatando como a menina foi abordada por radicais islâmicos, além de expor o caminho que percorreu até chegar à Londres para cirurgia. Ela, como personagem do texto, responde sua visão sobre si e sobre radicalização em relação a educação para meninas em seu país. O texto na primeira página termina abordando a situação da educação no país a partir do regime

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“The origins of images in newspapers have been traced to the illustrated broadsides in the late 16th century (Bicket and Packer, 2004), but it was the mid-19th century that saw a significant increase in the use of hand-drawn illustrations in newspapers, a practice which continued even as photographic

technology improved and became more widespread in the second half of the 19th and early into the 20th century (Barnhurst and Nerone, 2001; Caple, forthcoming). (BARNHURST AND NERONE, 2001; CAPLE, FORTHCOMING apud KNOX, 2009, p. 156).

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Barnhurst, K.G. and Nerone, J. (2001) The Form of News: A History. New York: Guilford Press. apud KNOX, John. S. Punctuating the home page: image as language in an online newspaper. Discourse and Communication. Macquarie: Macquarie University, (2009, p. 145-172).

talibã em 2007, e o fechamento de escolas para meninas em 2009. Vê-se na construção dos parágrafos a preocupação do enriquecimento ou aprofundamento com falas e dados informativos, fazendo jus às reportagens de revista.

Na terceira página, há uma galeria de fotos que por meio do toque permite a visualização das imagens. Como se pode ver na figura 15, essa galeria de foto também possui ícones mapeadores que indicam onde o leitor se encontra. Atualmente, ao invés desses ícones, as galerias possuem o símbolo de somar (+) junto aos números relacionados às fotos que ainda faltam serem visualizadas. Abaixo, encontra-se o texto contando a história dela, quem é, sua filiação, e citação do post no blog.

Figura 14 – telas capturadas ilustrando a galeria de fotos com ícones mapeadores.

Fonte: captura de tela realizada em 08 de outubro de 2013.

Na quarta página, há comentários sobre o fato de Malala ter expressado ao embaixador da Casa Branca sua vontade de entrar na política em documentário. O autor complementa dando ênfase que o caso de Malala gerou comoção e protestos em âmbito mundial. Nessa página, o texto termina falando sobre a petição da ONU " eu sou Malala"para pressionar o governo contra a discriminação na educação do país em relação às meninas. Lembra também o lançamento de seu livro com o mesmo nome da petição. Na página seguinte, explora-se aspectos da vida de Malala, a origem de um fundo para arrecadação de dinheiro em prol de sua militância e seu livro.

papel impresso. A característica da hipertextualidade não é explorada, exceto na galeria de foto. Como o único recurso multimídia é foto, não se percebe o uso enfático da interatividade e tactilidade.

Figura 15 – linear com alternativa.

Fonte: modelo semelhante a estrutura linear com alternativa elaborado por Díaz Noci e Salaverría (2004, p. 18).

O modelo pode ser interpretado como uma reportagem de fatos (fact-story) conceituado por Muniz Sodré e Maria Helena Ferrari (1986), pois faz uso do factual para falar do "aniversário"do tiro que quase tira a vida de Malala. O repórter introduz o texto de forma descritiva para situar o leitor: "pequenos ônibus improvisados estão por toda parte em Mingora, maior cidade do Vale de Swat, no Paquistão. São como caminhonetes cobertas, com bancos presos à caçamba e a parte de trás aberta. Na tarde de 9 de outubro do ano passado, um desses veículos levava cerca de 20 estudantes e professores de volta para casa…"

Vê-se que há um tema defendido no texto do autor: o preconceito de gênero específico na educação e a forma violenta como o Paquistão conduz tal problema. O repórter destaca seu juízo de valor em relação ao contexto, colaborando para marcar o tom de pronunciação da reportagem.

Logo na primeira página acompanhando o título, tem-se a seguinte expressão relacionada a pessoa de Malala: "Uma guerreira da educação". No decorrer do texto, o repórter deixa transparecer sua subjetividade. Ao se referir a um dos homens que estavam a procura de Malala, ainda escreve: "um deles subiu e perguntou, agressivamente: quem é Malala".

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