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Representações de professores sobrepobreza e cidadania no ambiente escolar

Os dados obtidos por meio dos questionários aplicados aos professores foram organi-zados por questões. Foram entrevistados 06 professores dos Anos Iniciais do Ensino Fundamen-tal por meio de questionário. As respostas obtidas dos docentes, na condição de participantes da pesquisa, estão descritas como base da análise realizada.

Buscando preservar a identidade dos participantes da pesquisa, os professores, os re-gistros transcritos de cada entrevista estão identificados com a letra “P”, acompanhada dos nú-meros “1”, “2”, “3”, “4”, “5” e “6”, respectivamente.

O questionário adotado como instrumento para a realização das entrevistas compôs--se de 5 (cinco questões), as quais buscavam a compreensão da pobreza, de cidadania, e das discussões promovidas sobre a pesquisa e sua importância para a conquista social.

Detalhadamente, os dados obtidos com a aplicação do questionário estão discutidos neste tópico perante a apresentação das respostas às respectivas questões.

O primeiro ponto de abordagem questionou: “Como você define pobreza”?

Um dos participantes da pesquisa, o P2, disse que entendia por pobreza “a falta de recursos mínimos para o indivíduo sobreviver com dignidade”; para o P3 a pobreza era definida pela “falta de recursos para suprimento de necessidades básicas para a sobrevivência”; já em tom mais amplo, o P4 apontou que a pobreza representava o “estado das pessoas que não tem con-dições básicas para garantir uma vida digna ou requisitos para sua sobrevivência”; a percepção a pobreza como o “estado ou período da vida do ser humano em que lhe falta perspectivas de futuro, esperança no amanhã e também necessidades de bens materiais” foi definida pelo P5; já o P6 resumiu que a pobreza significava a “falta de dinheiro paratudo”.

Uma resposta mais acentuada sobre esse primeiro questionamento foi definido pelo P1 ao referenciá-la como ausência de recursos mínimos.

A pobreza pode ser definida na dificuldade que o indivíduo encontra para alcançar os níveis mínimos de sua qualidade de vida, sendo vista

pela constante ausência de recursos necessários para satisfação de suas necessidades básicas (P1).

As respostas obtidas dos participantes da pesquisa, os professores, não conseguem explicitar claramente o conceito de pobreza. Todos os professores vinculam o termo pobreza somente à questão financeira. E, no contexto escolar, tal interpretação acaba por comprometer a formação dos indivíduos. Para Leão Rêgo; Pinzani (2013, p. 24), “a educação é afetada pelas consequências advindas da pobreza, e nessa perspectiva contribui para perpetuá-la”.

Ao exposto, as consequências da pobreza são reproduzidas através da educação, quan-do seus conceitos são desconheciquan-dos ou mal interpretaquan-dos. Isso significa dizer que a falta de conhecimento desses conceitos ligados a pobreza podem gerar uma certa acomodação, pre-conceito, e até mesmo a reprodução deste tema.

O segundo questionamento procurou saber: “Qual sua definição para a palavra cidadania?”

O P1 afirmou que a cidadania se referia ao “exercício dos direitos e deveres civis, políti-cos e sociais estabelecidos na constituição”. Em outro contexto, o P2 indicou que era “a condição de vida com recursos necessários para que o indivíduo consiga exercer os seus direitos”.

A defnição apresentada por P3 e P4 se aproximou caracteristicamente ao dizerem que a cidadania era um “conjunto de direitos e deveres de uma sociedade” (P3); indicava também o

“ato de ter direitos e deveres com a sociedade” (P4); já para P5 a cidania significava o“direito de expor suas opiniões, direito de ir e vir e escolher seus representantes”. E,emcaráter mais amplo, era “ter direito à saúde, educação e segurança de qualidade”(P6).

A definição de cidadania nas respostas dos professores é reduzida apenas a questões ligadas a direitos e deveres. E, no âmbito escolar, essa interpretação prejudica a formação dos indivíduos que necessitam de uma formação plena.

Quando o termo cidadania tem suas definições esclarecidas e debatidas faz com que a educação assuma seu papel crítico e formador, ou como afirma Rêgo e Pinzani (2013, p. 27), isto faz com que a educação seja contemplada em seu sentido mais profundo. Ou seja, preocupan-do-se com a formação plena do indivíduo, respeitando cada individualidade e suas respectivas realidades. Afinal, a educação deve ser integradora, e não discriminatória e levando os indivídu-os a uma conscientização para uma pindivídu-osterior ação, como aponta Freire (1979, p. 16), “quanto mais conscientizados nos tornamos, mais capacitados estamos para sermos anunciadores e de-nunciadores, graças ao compromisso de transformação que assumimos”.

O compromisso de anunciar e denunciar de que trata Freire se refere às mazelas exis-tentes no meio social, pois a educação tem a responsabilidade de ser orientadora, exatamente para que sejam compreendidos atos de anunciar e de denunciar como fins necessários à trans-formação social.

O terceiro questionamento buscou dos participantes a percepção de como a escola trabalharia os conceitos da pobreza, a saber: “Na sua opinião como a escola pode trabalhar os conceitos de pobreza e cidadania nas turmas de 1º ao 5º ano do Ensino Fundamental de modo a ajudar os alunos a superarem a pobreza?”

As respostas obtidas sobre este questionamento compuseram-se das seguintes afirma-tivas: “Falando sobre esses temas, fazendo projetos” (P1); “O professor pode conscientizar o aluno que a pobreza pode ser superada por meio da educação” (P2); “De forma crítica para os alunos construírem seus conceitos e opiniões sobre esses temas” (P3). “A pobreza pode ser trabalhada como um período que não é permanente e que pode ser mudada essa realidade” (P5); “Falando para eles porque as pessoas são pobres e dizendo o que eles podem fazer para saírem da pobre-za, como se dedicando ao sestudos” (P6).

O participante P4 acentuou que uma das formas de trabalhar esses conceitos seria esclarecendo que a libertação é uma libertação social:

Esse trabalho pode ser feito conscientizando os alunos sobre a impor-tância da educação como instrumento de libertação social, sobretudo aproximando a família da escola e trabalhando conteúdos que tratem da própria realidade dos alunos (P4).

As respostas de todos os docentes foram satisfatórias. O entendimento sobre pobreza e cidadania possibilita a reflexão de que quanto mais inteirados e conscientes sobre os aspectos que envolvem a pobreza, mais possível torna-se a mudança em certos aspectos para lidar ou superá-las.

Um exemplo dessa superação, no caso dos docentes entrevistados, é visto mediante a alteração de metodologias em prol de uma dinâmica que favoreça e inclua as múltiplas realidades presentes em sala de aula. E isso é possível ao se propiciar diálogos com os discentes, problemati-zando situações cotidianas com os conteúdos ministrados, pois, como nos diz Alba, Olivo e Olivo Filho (2009, p.4) “a educação pode ser um elemento transformador, ocasionando mudança social e autonomia individual, face ao conhecimento, aos saberes transmitidos aos indivíduos na escola”.

Outra importância encontrada é a de que este conhecimento provoca melhor planeja-mento escolar inclusivo e participativo. Torna-se possível ampliar e aproximar os conteúdos das realidades dos discentes. Pois como diz Rêgo e Pinzani (2013, p. 62) “é preciso viver experiências que transformam a maneira de pensar e agir.” Isto é, o docente se apropria de exemplos viven-ciados cotidianamente pelos discentes, levando em conta as suas realidades.

O quarto questionamento buscou identificação da percepção da vivência dos docen-tes em relação à pobreza, a saber: “Você como professor já vivenciou debadocen-tes, formações ou discussões sobre o tema pobreza, suas causas e consequências?”

Em respostas pontuais, os participantes responderam: “Não” (P1); “Sim, mas deveria ser mais debatido” (P2); “Sim. Por ocasião do lançamento do programa fome zero assisti uma pales-tra sobre os números da fome no Brasil” (P3); “Não” (P4); “Não” (P5); “Não” (P6).

Ficou evidente nas respostas dos docentes que não ocorrem formações continuadas abordando o tema pobreza. O docente que já realizou estudos e debates sobre o tema pobre-za elabora atividades condizentes com os alunos por conhecerem do seu dia a dia .Ou seja, a partir dos critérios ligados a pobreza é considerado o lugar em que vivem esses indivíduos, sua composição e estrutura familiar. Para tanto, são adequadas metodologias a fim de integrar os discentes aos conteúdos ministrados em sala. Isto faz com que o aprendizado seja significativo e o discente seja ativo neste processo. Por meio disso, o trabalho dos docentes possibilita uma

proximidade e empatia com os demais colegas de turma sobre a vida social e cultural. Dessa for-ma, é que se efetiva a prática da cidadania no meio escolar. Além, sobretudo, de dar ciência dos conceitos que possibilitam a inserção de novas atitudes frente ao modo de se fazer educação, implicando uma articulação entre as múltiplas realidades e as finalidades da educação.

O quinto e último questionamento buscou a percepção da importância que os partici-pantes davam à discussão sobre a pobreza. Para tanto, questionou-se: “Para você qual a impor-tância de trabalhar o tema pobreza com seus alunos em seu ambiente de trabalho?”

As respostas apresentadas por P2, P3, P5 e P6 foram um pouco restritas, mas acentu-adas. Assim, disseram que esse trabalho é “importante para despertar a criticidade dos alunos.

Eles precisam saber que todo ser humano tem direito às necessidades básicas” (P2); que serve conscientizá-los de que o problema existe e fomentar neles o que de fato é pobreza” (P3); que “é de grande importância para incentivá-los a mudarem os seus futuros” (P5); e que “é importante para que os alunos pobres se apeguem aos estudos como forma de conseguirem uma vida melhor” (P6).

Em discurso mais longo, ou seja, com termos mais densos, P1 e P4 ressaltaram que esse trabalho é importante para a percepção das condições sociais e econômicas:

Para que eles entendam que trabalhar o assunto da pobreza na escola é importante para identificação da condição social e econômica em que oindivíduo está inserido depende de políticas sociais, econômicas e dis-tribuição de renda justa (P1).

Esse trabalho é de grande relevância para conscientizar os alunos sobre a realidade e a crise social e política que cerca nosso país e estimular o senso crítico, fazendo com que os alunos percebam que eles podem mudar essa realidade (P4).

Todos os professores afirmaram que é importante trabalhar o tema pobreza na escola, embora os mesmos não tenham demonstrado domínio sobre o tema, conforme se observou nas respostas apresentadas na pergunta 1.

Considerações Finais

Este estudo buscou refletir sobre a importância dos conceitos de pobreza e cidadania para a educação. Foi revelado que, entendendo as causas, consequências, definições, torna-se possível cumprir com os propósitos do processo educativo por meio de uma formação além da intelectual, a qual envolve a formação física, cidadã, cognitiva, e por meio de com ações in-clusivas, reflexivas que leve o indivíduo a pensar sobre sua realidade para posteriores ações de transformações. Além disso, ficou evidenciado que este tema proporciona a adesão de novos métodos como fins de uma educação para formar cidadãos e cidadãs. Isto é feito através de novas propostas a serem postas em práticas em sala de aula, fazendo relações com situações vivenciadas ou próximas a estes sujeitos, exatamente para que sejam repensadas e superadas.

Mediante aos objetivos do estudo foipossível compreender que os conceitos de

po-breza e cidadania são restritos no ambiente escolar, bem como suas implicâncias que perpas-sam pela escola. A partir disso, foi necessário apontar as finalidades e concepções da educação, e encontrar subsídios que evidenciassem a responsabilidade da escola na formação não só in-telectual, mas também cidadã. Essa formação cidadã possibilita um espaço de respeito mútuo entre os indivíduos, como também de solidariedade.

Ainda com base nos objetivos apresentados foi possível responder a razão dos concei-tos de pobreza e cidadania serem importantes para a educação, por mostrarem as suas causas e consequências, e de que precisam ser dialogados e interpretados para melhor serem abordados e superados.

Assim, a realização do trabalho proporcionou um conhecimento a mais acerca das te-máticas, além de permitir levantamentos sobre questões atreladas ao meio educacional, con-sideradas relevantes para a formação dos indivíduos. Além disso, deixa espaço para que outros estudos sejam realizados com fins de problematizar a pobreza, a formação cidadã que é papel da escola, sobretudo possibilidades de reforma do currículo, agregando novos temas, novas metodologias para a sala de aula.

Referências

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