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1. ANÁLISE DOS NEGÓCIOS JURÍDICOS PROCESSUAIS

1.10 REQUISITOS DE CONFIGURAÇÃO

Os negócios jurídicos processuais, possuem requisitos de configuração e devem ser analisados no plano da existência, validade e eficácia.

1.10.1 Plano de existência

É certo que o negócio jurídico adentra o universo jurídico de fato, por meio de ato volitivo estabelecido entre as partes, e seu efeito legal se espalha, ensejando o ingresso desse negócio jurídico junto ao plano de existência.

O plano de existência exige o estudo de três elementos que a este se vinculam: gerais, categoriais e particulares.

O elemento geral, se subdivide em duas espécies, intrínseco e extrínseco. O intrínseco diz respeito a forma que o negócio jurídico processual deve ser celebrado, a qual obrigatoriamente deverá ser escrita e ser parte do processo judicial. Esta manifestação de vontade deve ser expressa, não podendo resultar do silêncio. Neste sentido, Flavio Luiz Yarshell51 ensina:

No negócio jurídico processual a declaração de vontade que lhe confere existência deve necessariamente ter a forma escrita. Ainda que ela seja eventualmente manifestada oralmente em audiência – ou em alguma outra oportunidade em que isso seja possível – ela deve ser reduzida a termo; ou quando menos, ela deve ser registrada em

50 Como a redefinição de sua forma ou da ordem de encademaneto dos atos. Acerca do tema, os

enunciados nº 257 e 258 do Fórum Permanente de Processualistas Civis: 257. “O art. 190 autoriza que as partes tanto estipulem mudanças do procedimento quanto convencionem sobre os seus ônus, poderes, faculdades e deveres processuais”. 258. “As partes podem convencionar sobre seus ônus, poderes, faculdades e deveres processuais, ainda que essa convenção não importe ajustes às especificidades da causa.”

51 YARSHELL, Flávio Luiz. Convenção das partes em matéria processual: rumo a uma nova Era? In:

CABRAL, Antonio do Passo, NOGUEIRA, Pedro Henrique (Coords). Negócios processuais. 2. ed. rev. atual. e ampl. Salvador. JusPodvm, 2016. p.77.

suporte que permita sua oportuna reprodução, sempre que isso seja necessário. A manifestação de vontade deve sempre ser expressa e não pode resultar a penas do silêncio.

No subelemento intrínseco estabelece-se o objeto do negócio jurídico processual, e deverá conter principalmente, estipulações de caráter instrumental, tal como, as circunstâncias negociais, por meio das quais são refletidas as conotações de matéria adjetiva, originárias da vontade consciente emitida pelas partes integrantes da convenção.

No que tange ao subelemento extrínseco, que diz respeito ao agente, que necessariamente deverá ser parte integrante da relação processual. Nesta esteria, importante destacar que o juiz não poderá ser considerado agente do negócio jurídico, embora ele faça parte deste, sua função é limitada ao controle da legalidade e posterior homologação ou não do negócio jurídico processual a ele apresentado.

Ainda sobre o subelemento extrínseco, necessário se faz a análise sobre o lugar que será celebrado o negócio jurídico. Levando em conta que a realização do negócio jurídico pode ocorrer em momento anterior ao ajuizamento da demanda, o local da celebração pode não ser o mesmo local onde tramita o processo judicial que dá ensejo ao negócio jurídico processual.

Assim, como último subelemento extrínseco, vamos analisar o tempo em que é celebrado o negócio jurídico processual, que pode ser consagrado em duas ocasiões diferentes: antes do início do processo judicial ou durante o seu trâmite em qualquer fase processual, inclusive na fase recursal.

Nas palavras de Flávio Luiz Yarshell52:

“O negócio pode ser anterior ao processo, para regular atividade processual extrajudicial, (por exemplo, para tratar de providencias de instruções preliminares) ou ainda, para reger o futuro e eventual processo judicial. Além disso, o negócio jurídico processual pode ser firmado durante o processo. Isso significa que em tese, pode ser celebrado em qualquer fase processual, desde que haja o quê, em

52 YARSHELL, Flávio Luiz. Convenção das partes em matéria processual: rumo a uma nova Era? In:

CABRAL, Antonio do Passo, NOGUEIRA, Pedro Henrique (Coords). Negócios processuais. 2. ed. rev. atual. e ampl. Salvador. JusPodvm, 2016. p.79 - 80

dado momento, convencionar. Até mesmo em fase recursal isso é possível, embora seja forçoso reconhecer que, nesse âmbito a margem para o exercício da autonomia da vontade tende a decrescer.”

Estudando o segundo elemento, temos o categorial, onde as regras processuais que serão solicitadas a gerar efeitos sobre o negócio jurídico processual passam a reger as consequências advindas daquele acordo voluntário.

Por último, analisaremos o elemento particular, que se caracteriza como decorrência do elemento categorial, uma vez que apenas no elemento particular analisamos os efeitos que as determinações constantes entre as partes geram e que não estão proibidas pelo ordenamento jurídico processual.

1.10.2 Plano de validade

Após a análise do plano da existência, que pressupõe objetivamente a existência do negócio processual jurídico no mundo jurídico, para que gere seus efeitos, devemos analisar a validade desse negócio processual.

O plano de validade do negócio jurídico é composto por três elementos, que são: sujeito, objeto e forma de exteriorização de da vontade.

No âmbito processual, o sujeito deve ter capacidade processual para estar em juízo, conforme artigos 70 do Código de Processo Civil53. Logo, só tem capacidade

para estar em juízo, quem tem capacidade plena de exercer seus direitos na esfera civil.

Nos termos dos artigos 71 e 72 do Código de Processo Civil, o incapaz deverá ser representado ou assistido pelos seus genitores, tutor, curador, com a hipótese de nomeação de curador especial pelo juiz, nas hipóteses previstas em lei54.

53 Art. 70. Toda pessoa que se encontre no exercício de seus direitos tem capacidade para estar em

juízo.

54 Art. 71. O incapaz será representado ou assistido por seus pais, por tutor ou por curador, na forma

da lei. Art. 72. O juiz nomeará curador especial ao: I - incapaz, se não tiver representante legal ou se os interesses deste colidirem com os daquele, enquanto durar a incapacidade;II - réu preso revel, bem como ao réu revel citado por edital ou com hora certa, enquanto não for constituído advogado. Parágrafo único. A curatela especial será exercida pela Defensoria Pública, nos termos da lei.

Neste sentido, Arruda Alvim 55 , ao explicar a distinção entre os institutos

jurídicos da capacidade processual e da legitimidade ad causam, aduz que a capacidade de estar em juízo não deve ser confundida com a legitimação para a causa, também definida em função de elementos fornecidos pelo direito substancial. Consiste em conferir o direito de ação ao possível titular ativo e contra o passivo da relação jurídica material.

Quanto ao objeto, deve este ser lícito e não ser contrário a norma processual cogente existente no ordenamento jurídico brasileiro.

Por fim, a forma de exteriorização da vontade do negócio jurídico processual traz a necessidade imperiosa de que o ato voluntário esteja embasado em forma prescrita ou não defesa em lei.

Corroborando o terceiro elemento, o artigo 190 do Código de Processo Civil estabelece que se houver inserção de cláusula abusiva em contrato de adesão, ou se alguma parte se encontrar em manifesta situação de vulnerabilidade, ocorrerá a invalidade do negócio jurídico.