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2.8 PROCESSO DE FORMAÇÃO DO MANTENEDOR

2.8.2 Requisitos de Experiência Prática

Para se obtiver uma concessão da licença a pessoa deve ter sido aprovada no curso de formação de mecânico de manutenção aeronáutica requerido para a habilitação solicitada em escola de aviação civil certificada segundo o RBAC nº 141. Após isso deverá ser submetido a um exame teórico para habilitação solicitada, baseado nos conteúdos abordados na seção anterior, pela agencia reguladora ANAC. Sendo aprovado nessas etapas, o mantenedor receberá uma licença emitida autorizando a exercer a função de mecânico auxiliar. Depois de passado tempo de experiência exigido, o mesmo poderá ser submetido a um exame prático para obter pôr fim a habilitação como mecânico de aeronaves.

Recentemente o regulamento brasileiro da aviação nº 65, que trata sobre as licenças, habilitações e regras gerais para despachante operacional de voo e mecânico de manutenção aeronáutica, foi revisada e aprovada conforme Resolução nº 469, de 16 de maio de 2018. Verificou-se, dentro das revisões efetuadas, a mudança no tempo de experiência prática exigido pela ANAC. O período para se comprovar o conhecimento prático adquirido foi reduzido pela metade, anteriormente eram necessários 03 anos para validar a experiência, agora é necessário apenas dezoito meses conforme RBAC 65:

O requerente de uma licença de mecânico de manutenção aeronáutica, ou habilitação associada, deve apresentar declaração de experiência profissional, conforme previsto na seção 65.90, que comprove experiência prática com os procedimentos, métodos, materiais, ferramentas, instrumentos e equipamentos utilizados na construção, manutenção ou alteração em células (no caso de solicitação de habilitação em célula), grupos motopropulsores (no caso de solicitação de habilitação em grupo motopropulsor) ou aviônicos (no caso de solicitação de habilitação em aviônico), em empresa aérea ou em empresa de manutenção certificada segundo o RBAC nº 121, RBAC nº 135 ou RBAC nº 145, pelo prazo mínimo de: (1) 18 (dezoito) meses, no caso da comprovação de experiência prática para uma única habilitação; ou (2) 30 (trinta) meses, no caso da comprovação da experiência prática concomitante para mais de uma habilitação (RBAC, 2018).

Sabendo que as legislações e regulamentações são importantes barreiras na prevenção de acidentes, uma vez que estabelecem padrões e procedimentos necessários à manutenção de um ambiente seguro e com riscos controlados. Vemos a recente mudança do

tempo necessário de experiência para se obtiver a CHT diante desse cenário de uma formação acadêmica enfraquecida que vimos na seção anterior, tornando-se menos rigoroso o processo para se obtiver uma habilitação e atuar como mecânico, assumindo toda a responsabilidade e sendo exposto a todo tipo de risco que abordamos em todo o trabalho, podendo até mesmo estar colocando em risco a segurança de voo, bens materiais e o mais inestimável, a vida de outras pessoas. Surge a pergunta será que estamos no caminho certo? Será que precisamos parar estudar, refletir e iniciar um novo processo visando à melhoria continua da segurança.

Assim como as legislações e regulamentos, as pessoas e as organizações também exercem um papel fundamental na prevenção de acidentes, conforme se observa na figura a seguir:

Figura 6 - Casualidade

3 CONCLUSÃO

O presente estudo buscou analisar quais fatores contribuintes presentes estão envolvidos no erro durante a manutenção de aeronaves de asas rotativas no Brasil, por meio de uma pesquisa bibliográfica. Com estes dados, procura-se evidenciar que os acidentes aeronáuticos resultam de vários eventos e nunca de uma causa. O meio aeronáutico não poderia funcionar sem a contribuição da manutenção, mas o erro de manutenção é uma ameaça para a segurança de voo.

A probabilidade de erro pode ser minimizada identificando e neutralizando condições de insegurança no processo de manutenção. Envolvendo atenção para o gerenciamento de fadiga, treinamento e formação acadêmica, utilização de ferramentas favoráveis e outras ações direcionadas aos fatores humanos associados ao erro de manutenção. Sabemos que o erro de manutenção é uma ameaça que pode ser reduzida, mas nunca totalmente eliminada.

A aviação brasileira ampliou-se muito no tocante à qualidade do serviço de manutenção prestado, podemos considerar que nossa mão-de-obra de manutenção efetua trabalhos muito eficientes quando contraposto a países mais desenvolvidos que possuem condições de trabalho superior a nossa. Não obstante, precisamos examinar todos os casos de forma mais ampla e profunda, com o objetivo de melhorar os índices de confiabilidade no processo de manutenção no Brasil.

Os desafios encontrados durante a revisão dos mais comuns tipos de erros humanos cometidos em manutenção de aeronaves foram muitos, buscou-se perceber os erros humanos, suas dificuldades, bem como a identificação e análise dos fatores de risco que mais condicionam o desempenho nesses ambientes. Fez-se também uma abordagem a formação e ao treino dos mantenedores, analisando os programas e princípios utilizados, com o objetivo de identificar uma falha latente do sistema da organização que está contribuindo para o erro de manutenção. O número de incidentes e acidentes no Brasil tem aumentado nos últimos anos, junto com os fatores contribuintes associados aos aspectos humanos direta ou indiretamente relacionados à manutenção. Um fator que pode contribuir para a segurança de voo é o aprimoramento da formação dos mecânicos.

Atualmente os aspectos humanos relacionados à segurança não têm sido abordados de maneira suficiente na grade curricular e na prática do ensino do mecânico de manutenção aeronáutica, que tem a segurança de voo como parte de suas atividades profissionais. O

ensino para a formação dos mecânicos de manutenção aeronáutica no Brasil, apesar do cumprimento dos regulamentos e do esforço para uma boa qualidade, possui deficiências que podem ser minimizadas ou sanadas, existe a desatualização dos conteúdos exigidos na grade curricular atual em relação à realidade da maioria das aeronaves em funcionamento.

Há falta de disciplinas que aumentem a agregação de valor como exemplo disciplinas que abordem tecnologias aplicadas em helicópteros, os helicópteros são mais vulneráveis a acidentes e severos incidentes que são na sua maioria de consequências fatais, devem existir módulos direcionados para helicópteros no Brasil sendo o nosso país um dos países com a maior frota de helicópteros do mundo. Deve ser feita uma análise mais aprofundada sobre a pertinência do detalhamento de suas especificidades no currículo e na formação dos técnicos. Há deficiências no currículo e na formação no idioma inglês, sendo este idioma fundamental para o uso dos manuais de manutenção para cumprimento das atribuições diárias do profissional. Somado a este cenário vemos a recente mudança do tempo necessário de experiência para se obtiver a CHT diminuindo e se tornando menos rigoroso

Neste contexto, visa se antecipar das falhas latentes detectadas, utilizando esse estudo como uma ferramenta para a gestão proativa dos órgãos reguladores e consequentemente para a diminuição do impacto dos acidentes aeronáuticos no processo de manutenção. Concluiu-se que a prevenção de acidentes e incidentes aeronáuticos se mostrou fragilizada nesse ponto, pois o mecânico deixa as escolas de formação sem a capacidade técnica. Verificamos a necessidade urgente atualização curricular nos estágios iniciais de formação. Necessitamos de efetuar mais estudos no processo de ensino-aprendizagem no curso de formação de mecânicos de manutenção aeronáutica com vista ao seu fortalecimento. Recomendamos que as empresas do setor e a ANAC procedam com pesquisas mais aprofundadas sobre este assunto, pois evidenciamos a necessidade de reformulação deste processo em prol da segurança na aviação civil.

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