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Inicialmente, cabe recordar que a gestão dos resíduos sólidos oriundos dos portos já era tema de normativas infralegais anteriores à Política Nacional de Resíduos Sólidos. A Resolução CONAMA nº 5/93 já tratava do gerenciamento de resíduos sólidos gerados nos portos, aeroportos, terminais ferroviários e rodoviários; a Resolução CONAMA nº 6/91, dispõe sobre o tratamento de resíduos sólidos provenientes de estabelecimentos de saúde, portos e aeroportos; e Resolução ANVISA RDC nº 56/2008, versa sobre o Regulamento Técnico de Boas Práticas Sanitárias no Gerenciamento de Resíduos Sólidos nas áreas de Portos, Aeroportos, Passagens de Fronteiras e Recintos Alfandegados. Estas normativas não

104 são leis propriamente ditas oriundas de processo legislativo, contudo serviram de base para regular esta matéria.

A Agência Nacional de Transportes Aquaviários (ANTAQ) publicou em 05 de agosto de 2011 a Resolução nº 2.190 no qual aprova a norma para disciplinar a prestação de serviços de retirada de resíduos de embarcações. Resumidamente, ela disciplina a prestação de serviços de retirada de resíduos de embarcações, a partir do seu acondicionamento a bordo, seu transbordo para terra e transporte para destinação em local apropriado.

De maneira resumida, a Resolução tratada estabelece que a retirada de resíduos das embarcações deve ser realizada por empresas privadas cadastradas em cada porto. Ou seja, há um ―cadastramento‖ prévio de empresas que operem no porto perante a ―autoridade controladora do porto‖ 105.

A norma não estabelece outra conformidade ambiental para o prestador de serviço portuário, exceto por implantar e registrar sobre a prestação das atividades nas instalações. Esses registros têm como objetivo atender as demandas por informações oriundas de diversos agentes públicos106, como Ministério da Saúde, ANVISA, VIGIAGRO, Marinha do Brasil, Ministério Público Federal, e Organização Marítima Internacional. Esse registro visa atender a demanda da Organização Marítima Internacional – IMO, que instituiu o GISIS, já elucidado anteriormente.

As empresas podem se credenciar para todas as etapas de retirada de resíduos das embarcações, conforme estabelece o art. 3º, § 1º da Resolução ANTAQ, a saber: i) coleta, acondicionamento e segregação dos resíduos a bordo da embarcação; ii) transbordo ou remoção para terra; iii) armazenagem temporária, quando couber, em área dedicada a essa função, dentro ou fora da instalação portuária, sempre sob responsabilidade do prestador do serviço; iv) transporte em veículo adequado; v) destinação em local apropriado.

Para a retirada de resíduos de embarcações com emprego de embarcações, somente poderão ser credenciadas empresas brasileiras de navegação autorizadas pela ANTAQ a operar ―navegação de apoio portuário‖ Este credenciamento junto à ANTAQ é regulado pela Resolução ANTAQ nº 1.766/2010 e pelo Anexo I da Resolução ANTAQ nº 2.190/2011. A

105 Responsável perante a ANTAQ pelo controle e fiscalização da prestação do serviço de coleta de resíduos de embarcação,

gestão das informações sobre esse serviço e aplicação da legislação pertinente, sendo: nos portos públicos, a Autoridade Portuária; nos TUP, nas ETC e nas IP4, os respectivos responsáveis por essas instalações. (Perguntas e Respostas Sobre a Norma de Resíduos de Embarcações. Resolução ANTAQ Nº 2.190 de 28 de Julho de 2011)

106 ―Art. 20. Compete à autoridade controladora: II - manter o registro das operações de retirada de resíduos de embarcações

105 prestação de serviços de retirada de óleo lubrificante usado na embarcação depende ainda de autorização junto a Agencia Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP).

Necessário que as empresas que atuem no gerenciamento de resíduos sólidos possuam a respectiva licença ambiental emitida pelo órgão competente ou outro ato de habilitação necessário, conforme estabelece o art. 3º, parag. 4º da Resolução ANTAQ nº 2.190/2011. E ainda executar procedimentos em conformidade com a RDC ANVISA nº 56/2008 e dispor de Autorização de Funcionamento válida conforme definido na legislação sanitária vigente, de acordo com o art. 90 da Resolução RDC ANVISA nº 56/2008.

Para o credenciamento das empresas são solicitados em regra, os seguintes documentos: i) Formulário 'Cadastro de Prestador de Serviço para Retirada de Resíduos de Embarcação'; ii) Certificado do Cadastro Técnico Federal - IBAMA; iii) Licença Ambiental emitida pelo órgão estadual de meio ambiente; iv) Cópia da Licença de Operação (LO) emitida pelo órgão ambiental competente, quando cabível, e suas condicionantes para a retirada de resíduos, incluindo-se o licenciamento do transporte, do terminal onde ocorrerá o desembarque e licenciamento da empresa responsável pelo local de destinação final dos resíduos; v) Cópia da Autorização de Funcionamento de Empresa (AFE), emitida pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA); vi) Seguro Ambiental do prestador de serviços, englobando o ressarcimento dos custos de atendimento às emergências e danos causados por vazamentos, derramamentos e contaminações; vii) Cópia do Termo de Autorização emitido pela ANTAQ para operar como empresa brasileira de navegação, na navegação de apoio portuário, no caso de retirada de resíduo por embarcação.

A Figura 5 a seguir exibe o formulário ―Cadastro de Prestador de Serviço para Retirada de Resíduos de Embarcação‖, previsto na Resolução em tela, e permite visualizar as informações solicitadas.

106 Figura 5: Formulário para ―Cadastro de Prestador de Serviço para Retirada de Resíduos de Embarcação‖ Resolução ANTAQ

nº 2.190/2011 – Anexo II

Fonte: Resolução ANTAQ 2.190/2011 – Anexo II

A retirada dos resíduos de bordo é previamente solicitada à autoridade controladora, pelo comandante ou agente marítimo, por ocasião do encaminhamento de notificação de chegada da embarcação à instalação portuária. Nesta ocasião, a embarcação apresenta um ―manifesto de resíduos‖, onde discrimina estimadamente tipologias e quantidades que deverão ser retiradas.

A contratação das empresas para retirada de resíduos da embarcação é de responsabilidade do comandante da embarcação, conforme estabelece o art. 5 da norma, no qual poderá realizá-la de forma direta ou através de seu agente marítimo. No caso de portos que não recebem determinado resíduo, o comandante poderá optar por outro porto que esteja em sua rota ou contratar empresa credenciada em outro porto, que atenda aos critérios estabelecidos no porto de coleta.

O armador ou seu preposto é o responsável perante as autoridades competentes pela entrada de qualquer produto estranho ao processo adotado ou saída de resíduo diferente

107 daquele discriminado e cuja coleta tenha sido autorizada. A partir da contratação, presume-se que toda responsabilidade pela gestão do resíduo passa a ser da empresa contratada, inclusive, a corresponsabilidade107 pelo recebimento indevido de resíduos diferentes daquele discriminado.

Ao retirar o resíduo da embarcação, a empresa contratada emite ―Certificado de Retirada de Resíduos das Embarcações‖ (Figura 6) que deve informar, dentre outras dados, a quantidade solicitada e retirada de cada tipo de resíduos e o responsável pelo local do destino final. O tipo de resíduo retirado conforme classificação da IMO. Ora é a descrição adotada pela Resolução ANTAQ 2.190/2011 e, como elucidado, compatível com a classificação adotada pela MARPOL 73/78.

Figura 6: Modelo padrão para retirada de Resíduos conforme Resolução ANTAQ 2.190/2011 – AnexoIII

Fonte: Resolução ANTAQ nº 2.190/2011 – Anexo III

107 ―Art. 7º O armador ou seu preposto é o responsável perante as autoridades competentes pela entrada de qualquer produto

estranho ao processo adotado ou saída de resíduo diferente daquele discriminado e cuja coleta tenha sido autorizada. § 1º A empresa coletora de resíduos é corresponsável pelo recebimento indevido de resíduo diferente daquele discriminado e cuja coleta tenha sido autorizada.‖

108 O surto da pandemia de gripe aviária, altamente letal, demandou das instalações portuárias processar os resíduos de taifa (consumo de bordo) e enfermaria por meio de autoclaves, já que esses resíduos foram considerados altamente perigosos. A Resolução ANTAQ nº 2.190 de 28 de Julho de 2011, ora a Norma de Retirada de Resíduos de Embarcações, em sua introdução, assevera que uma avaliação feita na ocasião mostrou que não havia um controle adequado da retirada de resíduos das embarcações. Contudo nem todos os portos adquiriram a autoclave ou não estão em pleno funcionamento pela falta de licenças ambientais, como ocorre no Porto de Recife.

Para tanto, SCHINDLER (2007) aponta algumas recomendações para a gestão de resíduos gerados pelos navios, tais como:

A entrega de notificação prévia dos resíduos a serem descarregados;

O pagamento de uma tarifa obrigatória, com o intuito de custear as instalações necessárias para recepção desses resíduos; e

A saída da embarcação do porto atracado deve estar condicionada à entrega dos resíduos nos locais de recepção construídos especialmente para eles.

Nesta linha, o Grupo Executivo Interministerial para Implantação do Plano Brasileiro de Contingência da Pandemia de Influenza elaborou o Plano Brasileiro de Preparação para Enfrentamento de uma Pandemia de Influenza (Ministério da Saúde, 2012), definiu o tratamento de resíduos oriundos das embarcações como uma das medidas a serem implementadas de imediato:

Objetivos:

Proteger a saúde de passageiros, tripulantes, pessoal de solo e do público em geral nos portos, aeroportos e fronteiras brasileiras;

Manter o funcionamento dos portos, aeroportos e fronteiras e minimizar transtornos nos fluxos de passageiros, tripulantes, cargas, mala postal e suprimentos procedentes do exterior.

Ações:

Realizar o controle sanitário do viajante e inspeção de cargas e bagagens, quando indicado (fase de contenção);

Orientar e fiscalizar as medidas de limpeza e desinfecção em embarcações, aeronaves e meios de transportes terrestres coletivos de passageiros e nas dependências dos portos, aeroportos ou passagens de fronteiras;

Avaliar riscos sanitários, orientar e realizar ações de informação e educação em saúde em portos, aeroportos e passagens de fronteiras;

Orientar e fiscalizar gerenciamento de resíduos sólidos em embarcações, aeronaves e meios de transportes terrestres coletivos de passageiros e nas dependências dos portos, aeroportos e passagens de fronteiras, conforme medidas definidas considerando o contexto epidemiológico;

109

Executar, no âmbito do PAF, as medidas de vigilância epidemiológica para a prevenção e controle frente a detecção de casos suspeitos ou confirmados, incluindo a avaliação da adequação da história clínico-epidemiológica à definição de caso suspeito, a verificação da lista de passageiros e tripulantes e a identificação dos contatos próximos, a orientação aos demais viajantes e trabalhadores portuários, aeroportuários e fronteiriços conforme operacionalização descrita no Protocolo Operacional de Vigilância Sanitária em Portos, Aeroportos e Fronteiras;

Implementar as medidas de contenção contra a entrada e disseminação da doença, enquanto não ocorrer a transmissão sustentada do agente da doença no Brasil;

Indicar à Receita Federal, com antecedência mínima de 24 horas, as rotas, as linhas e os vôos classificados como de risco para a entrada de casos suspeitos, em função da sua origem, escalas e conexões envolvidas, a fim da seleção das bagagens acompanhadas para inspeção;

Capacitar, em parceria com a Receita Federal e o MAPA, as equipes operacionais em áreas portuárias, aeroportuárias e fronteiriças visando a disseminação dos procedimentos operacionais descritos neste plano e o treinamento para a atuação conjunta.

Os resíduos de bordo, como outros resíduos, serão gerados e atualmente não existe qualquer tecnologia que permita a extinção deste lixo. O aumento da movimentação portuária tende por lógica aumentar a geração deste material. De tal modo, os procedimentos, nem sempre simples como observado, devem ser estabelecidos e implementados para que os comandantes dos navios, e demais embarcações, sejam estimulados a descarregar os resíduos nos portos e não em oceanos e a costa brasileira.

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