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5.7. A Reserva Extrativista Marinha da Ponta do Corumbau na Opinião dos Locais

Quando questionados sobre formas de participação na Reserva Extrativista Marinha da Ponta do Corumbau (Figura 27), 45% dos nativos em Cumuruxatiba, 90% em Corumbau e 65% em Caraíva, responderam que participam da Resex como cadastrados principais ou secundários, freqüentando as reuniões e como representantes no Conselho Deliberativo. Observou-se em Corumbau uma elevada participação das mulheres em reuniões da Resex e em Caraíva verificou-se a participação de não cadastrados nas reuniões. Os demais, declararam não participar da Resex por falta de convite, falta de informação (como no caso das mulheres em Cumuruxatiba), incompatibilidade com os horários das reuniões, dificuldade de participar em reuniões nas outras vilas ou descrédito na gestão da Resex. Destaca-se em Cumuruxatiba (1) um relato de uma entrevistada que declara já ter sido interrogada por diversas pesquisas.

(1) “Vou na reunião, como cadastrado secundário, mas nem fico até o final porque demora muito... mais de 1 hora...”

“Nunca convidaram, nunca falaram nada, eu achava que era mais para os pescadores (homens). Às vezes respondo essas perguntas que fazem...”

(2) “Sou fundador, cadastrado principal, dou sugestões na reunião e procuro incentivar o povo para cobrar os direitos que nós temos.

“Quando chamam, eu vou... não chamam mais...”

(3) Não estou indo mais nas reuniões da Resex, porque tem desunião e gera discussões.

“Não me interesso e neste horário estou em casa cuidando das coisas... se fosse um horário melhor iria... 17:00 horas.”

Desta forma, a participação dos moradores das comunidades estudadas nas discussões sobre a Resex mostra-se relacionada ao tipo de informação e integração que o indivíduo teve com o processo de criação desta Unidade de Conservação e na confiança e paciência quanto à colocação em prática do que está planejado. Apresentam-se como entraves ao processo participativo: a longa distância entre os locais de reunião, incompatibilidade dos horários das reuniões com atividades cotidianas (principalmente com as mulheres), falta de informações

sobre o processo de criação e gestão de uma Reserva Extrativista, baixo impacto dos resultados da Resex e o desestímulo à participação nas reuniões.

Quando questionados se os entrevistados conheciam o motivo pelo qual foi criada a Resex (Figura 28), 50% dos nativos em Cumuruxatiba (1), responderam afirmativamente a esta questão, elevando-se para 80% em Corumbau (2) e 60% em Caraíva (3). Foram alegados os motivos da preservação do recurso pesqueiro diante da crescente exploração pelos “barcos de fora” (barcos da pesca industrial), associando-os à melhoria da qualidade de vida da comunidade extrativista e à restrição das áreas de pesca aos cuidados dos nativos.

(1) “Para preservar a natureza. O pessoal pegava muito peixe, camarão, lagosta, tirava coral, mergulhava muito...”

“Foi idéia do povo de Corumbau... que os barcos de fora estavam acabando com a nossa riqueza... aí veio o IBAMA e criou!”

(2) “Criaram porque uns anos atrás vinham muitos barcos de fora... juntavam 100 barcos acabando com tudo. O pessoal daqui se reuniu e conseguiram acabar com os barcos de fora.

“Para termos o direito de pescar dentro dessa área com mais segurança, mais liberdade e saber valorizar aquilo que nós temos de mais importante, que são nossas área de pesca... garantir a sustentabilidade para nossa família em geral, filhos, netos... para futuramente essa nova geração ainda poder sobreviver aqui dentro dos nossos lugares”.

(3) “Pra preservar nosso pesqueiro”.

“Foi feita pra dar condições aos nativos do local. Nós é que somos donos da Resex, nós que temos que tomar conta dela”.

De maneira geral, a criação da Resex representou melhorias na vida dos extrativistas pela restrição aos “barcos de fora” e por constatarem uma nítida recuperação dos recursos marinhos, entretanto, os extrativistas clamam por mais ação fiscalizadora. Em Cumuruxatiba (1), a importância da Resex para os entrevistados esteve associada à esperança da preservação dos recursos marinhos através de restrições nas áreas de pesca, em favor do futuro da comunidade. No entanto, a ineficácia na ação fiscalizadora e as poucas visitas dos representantes do órgão gestor IBAMA são sentidas pelos extrativistas. Em Corumbau (2), foram relatadas frases otimistas em relação à Resex, frente à constatação da recuperação da

fauna marinha (principalmente do camarão) e uma maior tranqüilidade dos moradores da vila após a retirada do porto de desembarque pesqueiro. Também transpareceram dúvidas com relação aos resultados esperados e com relação à prática do plano de manejo que está sendo concebido. Em Caraíva (3), a Resex também significou a aquisição de mais informação e conquista da cidadania. Relatos retratando o descrédito com relação a Resex também ocorreram nesta comunidade.

(1) “Melhorou um pouco a fiscalização, mas ainda tem muita gente pescando por fora”.

“Muita coisa... Veio um povo sincero... a gente aqui não tinha conhecimento de nada e eles... a CI, o IBAMA... jogaram no ar... fez o povo acreditar dos direito que assistia a gente, que a colônia não dava essa explicação...”

“Acho que o presidente da Resex tinha que morar aqui na Resex. Ele não sabe o que a gente está precisando... o que os pescadores querem. Foi boa porque os barcos de fora não tão vindo mais pescar na nossa área... esses não deixavam benefício nenhum para a cidade”.

(2) “Melhorou porque os barcos de fora não entram mais para pescar na Reserva, mas por enquanto não vi benefício... esses homens do IBAMA não trazem benefício nenhum... Fazem projeto e dizem que foram eles que fizeram... dizem que para ter benefício pro pescador tem que fazer outro projeto”.

“Agora tem mais tranqüilidade... antigamente tinha mais zoada de barco e bebedeira dos pescadores que vinham descarregar aqui em Corumbau... foi bom a Resex”.

(3) “Acho que é bom. A maioria dos nativos já não vem pescando mais... robalo... eu nunca mais pesquei”.

“Tem um objetivo bom, só que tem altos e baixos... sabe que a gente põe fé e depois fica frio de novo, devido à fiscalização... tem pessoal de fora pegando robalo, desrespeitando... falta fiscalização. Antes da Resex, só as pessoas de fora tinham acesso às autoridades competentes e agora com a Resex, os nativos estão tendo também”.

“Meio de conhecimento... de dar valor para informar a comunidade, de conhecer os direitos... Acreditei muito nela...”

Com relação ao percentual de conhecimento sobre o Plano de Utilização em vigor (Plano de Manejo - Fase 1) 81% dos entrevistado em Cumuruxatiba, 70% em Corumbau e 55% em Caraíva responderam que não conhecem as normas que regulamentam o funcionamento da Resex (Figura 29). Apenas 14% dos extrativistas em Cumuruxatiba e 20%, tanto em Corumbau como em Caraíva, declararam ter conhecimento sobre as regras de uso. Outros, responderam que conhecem mais ou menos essas normas: 5% em Cumuruxatiba, 10% em Corumbau e 25% em Caraíva. Constata-se, portanto, que a população extrativista entrevistada em Cumuruxatiba apresentou menor índice de informação com relação ao Plano de Manejo - Fase 1, enquanto a população de Corumbau e Caraíva mostra-se um pouco mais informada.

Na Figura 30 pode-se visualizar o percentual de entrevistados que declararam ter recebido instruções sobre o funcionamento da Resex. Esse percentual atingiu apenas 14% dos entrevistados em Cumuruxatiba (1), 25% em Corumbau (2) e 45% em Caraíva (3). Estas informações sugiram durante o processo de criação da Resex, em conversas com pessoas na comunidade e nas reuniões com os representantes do IBAMA e da ONG "Conservação Internacional" (CI). O restante dos entrevistados declararam não ter recebido instruções sobre as normas da Resex, muitas vezes, por não terem sido avisados das datas das reuniões ou por incompatibilidade das atividades cotidianas com os horários das mesmas.

(1) “Veio o pessoal do IBAMA dar palestra na reunião”.

“Teve a reunião e eu não fui porque estava pescando... outras vezes não fui porque não sabia... moro aqui no Morro da Fumaça... quando botam no rádio o aviso da reunião, fico sabendo”.

(2) “Participei da criação das normas e tenho cópia do Plano de Manejo”.

“Quem sempre explica isso aí é Ronaldo e Guilherme, nas reuniões que tem aí... de cabeça até esqueci um pouco”.

(3) “Os cabeças de reunião davam uma ata pra gente ler em casa”. “Nas reuniões eu fico ouvindo, mas ainda não entrou na cabeça...”

De acordo com o Plano de Manejo - Fase 1, da Resex do Corumbau (IBAMA/CNPT & CI, 2002 - Anexo III), no total, foram realizadas 38 reuniões para discussão e planejamento do referido documento. Muitos extrativistas entrevistados se mostraram participativos e informados quanto ao objetivo central da Resex (Figuras 27 e 28), entretanto, a grande parte se mostrou desinformado quanto à sua regulamentação (Figuras 29 e 30).

Cumuruxatiba Corumbau Caraíva Sim 45% Não 55% Sim 90% Não 10% Sim 65% Não 35%

Figura 27: Percentual de indivíduos que participam na Reserva Extrativista Marinha da Ponta do Corumbau.

Cumuruxatiba Corumbau Caraíva

Sim 50% Não 50% Sim 80% Não 20% Sim 60% Não 40%

Cumuruxatiba Corumbau Caraíva Sim 14% Não 81% Mais ou menos 5% Sim 20% Não 70% Mais ou menos 10% Sim 20% Não 55% Mais ou menos 25%

Figura 29: Percentual de indivíduos que conhecem as normas da RESEX (Plano de Manejo - Fase 1).

Cumuruxatiba Corumbau Caraíva

Sim 14% Não 86% Sim 25% Não 75% Sim 45% Não 55%