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2. CONSIDERAÇÕES SOBRE O SIGILO FISCAL

2.1 Análise da legislação

2.1.2 Código Tributário Nacional (CTN)

2.1.2.1 Resolução SF 20/2012 (SEFAZ São Paulo)

Essa resolução dispôs sobre o acesso a informações protegidas por sigilo fiscal constantes de sistemas informatizados da Secretaria da Fazenda de São Paulo.

Ela detalhou o artigo 198 do CTN, exemplificando situações em que o sigilo deveria ser exercido. Nesse sentido, dispôs em seu artigo 2º que:

Artigo 2º – São protegidas por sigilo fiscal as informações sobre a situação econômica ou financeira do sujeito passivo ou de terceiros e sobre a natureza e o estado de seus negócios ou atividades, obtidas em razão do ofício para fins de arrecadação e fiscalização de tributos, tais como:

I – as relativas às operações de compras, vendas, débitos, créditos, apuração do imposto, arrecadação, rendas, rendimentos, patrimônio, dívidas e movimentação financeira ou patrimonial;

II – as que revelem negócios, contratos, relacionamentos comerciais, fornecedores e clientes;

III – as relativas a projetos, processos industriais, fórmulas, composição e fatores de produção;

IV – as relativas aos processos decorrentes do lançamento de ofício, salvo o teor das notificações dos órgãos autuantes e das intimações dos órgãos de julgamento publicadas na Imprensa Oficial ou em portal eletrônico próprio, bem como o conteúdo de suas decisões disponibilizadas na rede mundial de computadores ou sistema eletrônico de processamento de processos administrativos tributários da Secretaria da Fazenda;

V – as relativas aos trabalhos fiscais executados;

VI – as relativas aos dados obtidos junto a órgãos externos por meio de convênios de cooperação, na forma disposta nos artigos 198 e 199 da Lei Nº 5.172, de 25 de outubro de 1966;

VII – as relativas às consultas tributárias, salvo as respostas de interesse irrestrito publicadas na imprensa oficial ou disponibilizadas na rede mundial de computadores ou sistema eletrônico de processamento de processos administrativos tributários da Secretaria da Fazenda. (SÃO PAULO. Secretaria da Fazenda, Resolução nº 20, 2012, grifos do autor)

Todos os 7 incisos citados acima são relevantes, mas foram destacados os dois incisos que podem remeter diretamente à atividade de rastreamento de mercadorias e veículos. No caso, os incisos I e II desse artigo.

Mais importante do que destacar o que entra no conceito de sigilo fiscal, essa resolução também trouxe o entendimento da Secretaria da Fazenda daquilo que ela julga que não fere o sigilo fiscal. Nesse sentido, o §1º do artigo 2º, alterado pela Resolução SF nº 23, de 01/03/2018 (que acrescentou o inciso IX ao §1º) estipulou que:

§ 1º – Não estão protegidas pelo sigilo fiscal as informações:

I – cadastrais do sujeito passivo, assim entendidas as que permitam sua identificação e individualização, tais como nome, data de nascimento, endereço, filiação, qualificação e composição societária;

II – cadastrais relativas à regularidade fiscal do sujeito passivo, desde que não revelem valores de débitos ou créditos;

III – agregadas, que não identifiquem o sujeito passivo;

IV – cadastrais dos adquirentes de mercadorias, bens e serviços de transporte interestadual e intermunicipal participantes do Programa de Estímulo a Cidadania Fiscal do Estado de São Paulo - Nota Fiscal Paulista;

V – sobre as representações fiscais para fins penais; inscrições na Dívida Ativa da Fazenda Pública; e o parcelamento ou moratória, previstos no § 3º do artigo 198 da Lei nº 5.172, de 25 de outubro de 1966;

VI – requisição de autoridade judiciária no interesse da justiça;

VII – solicitações de autoridade administrativa no interesse da Administração Pública, desde que seja comprovada a instauração regular de processo administrativo, no órgão ou na entidade respectiva, com o objetivo de investigar o sujeito passivo a que se refere à informação, por prática de infração administrativa;

VIII – relativas de um sujeito passivo com relação a outro, quando em um mesmo processo houver mais de um interessado;

IX – constantes de sistemas informatizados, desde que se refiram a operações ou prestações realizadas por, no mínimo, 5 (cinco) sujeitos passivos e sejam mascarados os dados que possam identificá-los.

(SÃO PAULO. Secretaria da Fazenda, Resolução nº 20, 2012)

Em que pesem as exceções previstas, o §2º desse mesmo artigo restringiu que “as informações relacionadas no §1º deste artigo não estão protegidas por sigilo fiscal, mas sua divulgação, ressalvadas as hipóteses previstas nos artigos 198 e 199 da Lei Nº 5.172, de 25 de Outubro de 1966, caracteriza descumprimento do dever de sigilo funcional previsto no art. 241, inciso IV, da Lei nº 10.261, de 28 de outubro de 1968”. Trata-se aqui não de sigilo fiscal, mas de sigilo funcional, direcionado a todos os servidores que, da mesma forma, obtém acesso a determinadas informações por conta de seu ofício.

Ou seja, ainda que haja a previsão de exceções, a regra é pelo sigilo, sob pena de descumprimento de dever funcional.

Nessa mesma linha o artigo 7º estipula, finalmente, que:

Artigo 7º – O servidor que divulgar ou revelar informação protegida por sigilo fiscal, constante de sistemas informatizados, com infração ao disposto no art. 198 da Lei nº 5.172, de 25 de outubro de 1966 (Código Tributário Nacional), fica sujeito à penalidade de demissão a bem do serviço público prevista no art. 257, inciso III, da Lei nº 10.261, de 28 de outubro de 1968, observados o devido processo legal, a ampla defesa, o contraditório e que a decisão seja motivada e fundamentada.

Parágrafo único – Não havendo dolo ou na inexistência de prejuízo ao Estado ou a particulares, a conduta prevista no caput caracteriza-se, conforme a natureza e a gravidade do fato, como falta grave ou como procedimento irregular de natureza grave, em consonância com o que preceituam o artigo 254 e o inciso II do artigo 256, ambos da Lei nº 10.261, de 28 de outubro de 1968.

(SÃO PAULO. Secretaria da Fazenda, Resolução nº 20, 2012, grifos do autor)

Em outras palavras, a quebra de sigilo é tratada de forma grave e com muito rigor. As punições pelo bem jurídico protegido são, como se pode observar, extremamente severas.

Finalmente destaca-se o artigo 5º dessa resolução, que estipula uma salvaguarda ao sigilo, no sentido de que “não configura violação do sigilo fiscal quando disponibilizada informação que pode ser obtida por instrumento público de consulta” (SÃO PAULO. Secretaria da Fazenda, Resolução nº 20, 2012).