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Resoluções do CONAMA

No documento Luiz André de Carvalho (páginas 50-55)

Como mencionado anteriormente, não há lei federal abordando a poluição sonora urbana. Com raras exceções, os projetos de lei que tramitaram, ou ainda tramitam no Congresso Nacional, seguem a tendência de legislações estaduais e municipais que positivaram o teor protetivo da Resolução CONANA n° 1/90. Esta resolução define que a emissão de ruídos, em decorrência de quaisquer atividades, deve obedecer aos critérios aceitáveis da norma NBR 10.151 da ABNT, considerando os níveis superiores a essa norma técnica como prejudiciais à saúde e ao sossego público.

A referida Resolução do Conselho Nacional do Meio Ambiente - CONAMA vem a suprir a falta de uma norma federal emanada do Congresso Nacional. Cabe ao CONAMA, órgão consultivo e deliberativo do Ministério do Meio Ambiente, a competência dada pela Lei n° 6.938/91, Art. 6°, II, citada abaixo:

Art. 6° Os órgãos e entidades da União, dos Estados, do Distrito Federal, dos Territórios e dos Municípios, bem como as fundações instituídas pelo Poder Público, responsáveis pela proteção e melhoria da qualidade ambiental, constituirão o Sistema Nacional do Meio Ambiente - SISNAMA, assim estruturado:

30 [...]

II - órgão consultivo e deliberativo: o Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA), com a finalidade de assessorar, estudar e propor ao Conselho de Governo, diretrizes de políticas governamentais para o meio ambiente e os recursos naturais e deliberar, no âmbito de sua competência, sobre normas e padrões compatíveis com o meio ambiente ecologicamente equilibrado e essencial à sadia qualidade de vida; [...]

Pode-se perceber que o Decreto n° 99.274/90, que regulamentou a Lei n° 6.938/81, atribui uma multa diária (entre 61,70 até 6.170,0 BTN) proporcional à degradação ambiental causada a quem descumprir as Resoluções do CONAMA (Art. 34, II), e multas de 308,50 a 6.170,0 BTN a quem causar poluição de qualquer natureza, que possa trazer danos à saúde ou ameaçar o bem-estar (Art. 35, II).

Da mesma forma que em outras áreas, o CONAMA editou várias resoluções que tratam do ruído associadas a diversas fontes, que serão abordadas mais adiante oportunamente. Todavia, duas delas merecem destaque: as Resoluções n° 1 e 2 de 1990.

3.2.1 Resolução 01/90.

A Resolução n° 1 de 1990 foi a primeira a discutir a poluição sonora urbana e permanece como o mais importante referencial nesse sentido, pois tem por objetivo instituir normas, critérios e padrões referentes à emissão de ruídos. Os critérios por ela estabelecidos deverão ser obedecidos no interesse da preservação da saúde e do sossego públicos.

No que se refere à fonte de emissão de ruídos, de forma genérica, a resolução é abrangente para quaisquer atividades, sejam elas industriais, comerciais, sociais ou recreativas, inclusive as de propaganda política. Note-se que o rol é exemplificativo, e não exaustivo. Apenas excetua-se, de forma explícita, a emissão de ruídos produzidos por veículos automotores e os produzidos no interior dos ambientes de trabalho, haja vista que tais assuntos são tratados, especificamente, por normas expedidas pelo Conselho Nacional de Trânsito - CONTRAN e pelo órgão competente do Ministério do Trabalho.

Essa resolução é de vital importância, uma vez que estabelece que os ruídos produzidos por quaisquer atividades como prejudiciais à saúde e ao sossego quando

31 extrapolarem os níveis estabelecidos pela norma NBR 10.151. Deste modo, os males advindos da emissão de ruídos é uma presunção normativa, da mesma forma que o fazem as legislações municipais.

A resolução também inclui como fontes de emissões de ruídos prejudiciais à saúde e ao sossego, os projetos de construção ou de reformas de edificações para atividades heterogêneas, sendo que o nível de som produzido por uma delas não poderá extrapolar os níveis estabelecidos pela norma NBR 10.152 (ABNT, 1987).

Dois aspectos essenciais são estabelecidos: os níveis máximos de pressão sonora em áreas habitadas fornecidos pela NBR 10.151, os quais são determinados em função do horário e do uso e ocupação do solo, bem como os da NBR 10.152, que cuida dos níveis de conforto acústico interno para as diversas atividades humanas.

Assim sendo, as entidades e órgãos públicos competentes, nas esferas federais, estaduais e municipais, no uso do respectivo poder de polícia, deverão dispor sobre a emissão ou a proibição da emissão de ruídos produzidos por qualquer meio ou de qualquer espécie conforme o seu parecer. Eles deverão compatibilizar o exercício das atividades com a preservação da saúde e do sossego público, considerando-se, para esse fim, os locais, horários e a natureza das atividades emissoras.

A ambição da resolução é de compatibilizar todas as normas reguladoras da poluição sonora, com aquelas emitidas a partir da sua publicação. Não obstante à tentativa de padronização nacional, as diversas legislações que surgiram após a publicação da Resolução CONAMA n° 01/90 não seguiram os critérios por ela estabelecidos, aumentando-se os níveis de pressão sonora da NBR 10.151, tornando-os mais permissivos, excetuando a propaganda eleitoral, bem como outras atividades poluidoras, e estabelecendo métodos próprios de medição. Embora a NBR 10.151 seja citada em muitas dessas legislações, um olhar atento revela a inobservância da mesma. Para maiores detalhes dessa resolução, ver o anexo B desta Tese.

3.2.2 Resolução 02/90.

A Resolução CONAMA nº 02/90 instituiu o Programa Nacional de Educação e Combate à Poluição Sonora – SILÊNCIO.

Os vários aspectos inquietantes relativos à vida nos grandes centros urbanos são enumerados no decorrer dessa resolução: os problemas de poluição sonora agravam-se

32 ao longo do tempo nas áreas urbanas e o som em demasia é uma séria ameaça à saúde, ao bem-estar público e à qualidade de vida; cada vez mais, o homem vem sendo submetido a condições sonoras hostis no seu meio ambiente, apesar de ter garantido o direito de conforto ambiental; o crescimento demográfico descontrolado, ocorrido nos centros urbanos, ocasiona uma concentração de diversos tipos de fontes de poluição sonora; torna-se essencial o estabelecimento de normas, métodos e ações para controlar o ruído excessivo que possa intervir na saúde e bem-estar da população.

O referido Programa Silêncio tem como escopos: capacitar técnica e logisticamente o pessoal dos órgãos de meio ambiente estaduais e municipais em todo o país; divulgar, junto à população, matéria educativa e de conscientização sobre os efeitos prejudiciais causados pelo ruído; inserir o tema “Poluição Sonora” nos currículos escolares de Ensino Médio; estimular a fabricação e o uso de máquinas e de equipamentos com níveis mais baixos de ruído operacional; incentivar a capacitação da polícia civil e militar no combate à poluição sonora urbana; estabelecer convênios, contratos e atividades afins com órgãos e entidades que possam cooperar para o desenvolvimento do programa

Conforme o Art. 3° da Resolução, a competência pela coordenação do programa é do IBAMA, cabendo aos estados e municípios, em conformidade com o Programa Silêncio, o seguinte: a implementação dos programas de educação e controle da poluição sonora; determinar as sub-regiões e as áreas de implementação previstas e estabelecendo, sempre que necessário, os limites máximos de emissão mais rígidos, fixados tanto em nível Estadual quanto em nível Municipal.

Os órgãos de meio ambiente são os responsáveis por implementar o Programa Silêncio, segundo dispõe a Lei 6.938/81, da Política Nacional do Meio Ambiente, nos §§1° e 2° do Art. 6°:

Art. 6º - [...]

§ 1º Os Estados, na esfera de suas competências e nas áreas de sua jurisdição, elaboração normas supletivas e complementares e padrões relacionados com o meio ambiente, observados os que forem estabelecidos pelo CONAMA.

§ 2º Os Municípios, observadas as normas e os padrões federais e estaduais, também poderão elaborar as normas mencionadas no parágrafo anterior. [...]

33 A diretoria do Programa Silêncio do IBAMA atribuiu uma falta de continuidade desse programa, e destaca dentre as principais causas, a mudança do executivo municipal de quatro em quatro anos. O insucesso deu-se tanto pela falta de coordenação do IBAMA, responsável pelo Programa Silêncio, como pela falta de adesão dos municípios.

Um dos objetivos do Programa Silêncio é o de inserir o tema “poluição sonora” nos cursos secundários da rede oficial e privada de ensino, através de um Programa de Educação Nacional.

Em 27 de abril de 1999, surgiu a Lei n° 9.795, que dispõe sobre a educação ambiental e institui a Política Nacional de Educação Ambiental.

A teor do Art. 3°, as obrigações são:

Art. 3° Como parte do processo educativo mais amplo, todos têm direito à educação ambiental, incumbindo:

I - ao Poder Público, nos termos dos Arts. 205 e 225 da Constituição Federal, definir políticas públicas que incorporem a dimensão ambiental, promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino e o engajamento da sociedade na conservação, recuperação e melhoria do meio ambiente;

II - às instituições educativas, promover a educação ambiental de maneira integrada aos programas educacionais que desenvolvem;

III - aos órgãos integrantes do Sistema Nacional de Meio Ambiente - SISNAMA, promover ações de educação ambiental integradas aos programas de conservação, recuperação e melhoria do meio ambiente;

IV - aos meios de comunicação de massa, colaborar de maneira ativa e permanente na disseminação de informações e práticas educativas sobre meio ambiente e incorporar a dimensão ambiental em sua programação;

V - às empresas, entidades de classe, instituições públicas e privadas, promover programas destinados à capacitação dos trabalhadores, visando à melhoria e ao controle efetivo sobre o ambiente de trabalho, bem como sobre as repercussões do processo produtivo no meio ambiente;

VI - à sociedade como um todo, manter atenção permanente à formação de valores, atitudes e habilidades que propiciem a atuação individual e coletiva voltada para a prevenção, a identificação e a solução de problemas ambientais.

No documento Luiz André de Carvalho (páginas 50-55)