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3. T ESES J URÍDICAS NOS P ROCESSOS A DMINISTRATIVOS D ISCIPLINARES

3.3. Respeito aos prazos e às providências necessárias

LOMAN, Art. 35 - São deveres do magistrado:

II - não exceder injustificadamente os prazos para sentenciar ou despachar;

III - determinar as providências necessárias para que os atos processuais se realizem nos prazos legais;

Infrações pelo não cumprimento desses deveres são relacionadas àquela prevista no inciso I (Seção 3.2). Nos casos apresentados nesta Seção 3.3, há situações em que magistrados excediam prazos com fins ligados à prática de ilícitos ou mesmo casos em que sua negligência resulta em danos irreparáveis às partes do processo.

Há casos de negligências patentes, de total desrespeito a prazos e ao devido processo legal, nos quais o Conselho tem sido uníssono em sancionar o magistrado.

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Exemplo vistoso está no PAD 0005953-86.2011.2.00.0000 (Relator Conselheiro Emmanoel Campelo, j. 170ª Sessão Ordinária), no qual o magistrado imputado, já condenado pelo CNJ em outras oportunidades, sequer apresentou defesa sobre distintos casos de manobras decisórias para propositalmente favorecer interesses. Esse tipo de caso, embora importante para marcar uma posição firme do Conselho em relação a patentes ilicitudes, não demonstra qualquer dificuldade em termos de subsunção da norma jurídica.

Interessa-nos especialmente entender as polêmicas, que dividem o Conselho de alguma forma. Há, neste sentido, a delimitação da diferença entre a negligência – que ensejaria uma sanção menos dura – e a má-fé – mais grave, em regra combinada com quebra do dever de independência. O PAD 0000786-54.2012.2.00.0000 (Relator Conselheiro Tourinho Neto, j. 165ª Sessão Ordinária) é exemplar. Apesar de a divergência ter sido manifestada por apenas um Conselheiro, ela demonstra a possibilidade de que condutas idênticas sejam avaliadas de forma mais ou menos gravosa. O CNJ tem tendido para a interpretação de que condutas equivocadas reiteradas podem ensejar a sanção grave, como ocorreu nesse caso, com a aposentadoria compulsória do magistrado. O divergente foi justamente o Relator Conselheiro Tourinho Neto, que avaliou que embora tenha havido negligência, não foi acompanhada de quebra dos deveres de independência e imparcialidade. Já a maioria do Conselho avaliou que não se trataram de erros isolados, frutos de negligência, mas, sim, de reiterados procedimentos equivocados com o fim de privilegiar determinadas partes.

A tese jurídica relativa a essas infrações de mais difícil definição possivelmente seja determinar se problemas identificados em certo Tribunal decorrem de deficiências

estruturais ou de inação imputável ao magistrado. Num dos casos em que há

divergência divulgada nos dados eletrônicos disponíveis, fica evidente a dificuldade do Conselho em definir a quem as deficiências devem ser imputadas:

A apuração refere-se a faltas funcionais relativas à negligência na condução de processos criminais, o que teria resultado na ocorrência de diversas prescrições. (...) Não obstante reconheça-se que a 2ª Auditoria Militar do Estado de Minas Gerais padece de deficiências estruturais, a causa principal ou a motivação da perda da pretensão punitiva do Estado se deu pela forma leniente, descompromissada e

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negligente com a qual os requeridos conduziram os processos criminais que tramitavam na serventia. A percepção desses problemas escapou às observações dos magistrados. (Ementa do PAD 0002789- 79.2012.2.00.0000, Relator Conselheiro Gilberto Martins, j. 166ª Sessão Ordinária).

A análise individual de cada processo, porém, demonstra que as prescrições encontradas são, em verdade, um sintoma de que as deficiências são antes estruturais do que propriamente imputáveis aos magistrados. (...) A percepção desses problemas, contudo, não escapou às observações dos magistrados. Há registros que demonstram que os magistrados continuamente alertavam os demais órgãos do sistema judicial acerca das carências estruturais de suas unidades judiciais. Neste ponto, uma das juízas do Tribunal, além de confirmar as carências de infraestrutura, aduziu que os magistrados requeridos sempre foram diligentes para buscar soluções administrativas, comunicando, sempre que possível, o Tribunal. (PAD 0002789-79.2012.2.00.0000, Relator Conselheiro Gilberto Martins, Ementa do voto vencido do Conselheiro Neves Amorin, j. 166ª Sessão Ordinária).

Esse caso gerou particular polêmica no Plenário: 6 Conselheiros aderiram à divergência, entre eles o Presidente e o Corregedor, fato incomum, como demonstrado na Seção 2.7. Prevaleceu, naquele momento, a visão dos 9 Conselheiros que entenderam que os magistrados poderiam ter agido para solucionar as situações, mesmo que reconheçam a fragilidade estrutural do Tribunal.

Há outros casos com temática semelhante que não são tão polêmicos. Pelas próprias circunstâncias descritas, pode ficar mais clara a conduta ilícita do magistrado, resultando em mais uniformes juízos de valor do Plenário. Exemplo límpido dessa situação pode ser encontrado no caso abaixo, decidido de forma unânime:

A deficiência de recursos humanos e materiais de muitos órgãos jurisdicionais pode explicar sua morosidade, mas não justificar situações de notória má administração de Vara Cível marcada pela

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negligência reiterada do magistrado no impulsionar e solucionar os processos que lhe estão confiados.

(...) adotando práticas heterodoxas e desidiosas, com nítido intuito de se ver livre, ao menos temporariamente, dos feitos, conforme consta dos relatórios da última correição a que se submeteu sua Vara. (Ementa do PAD 0002370-30.2010.2.00.0000, Relator Conselheiro Ives Gandra, j. 123ª Sessão Ordinária).

Há processos administrativos de possível negligência que, pelas consequências geradas, são punidos pelo CNJ. Exemplar neste sentido é o caso da magistrada do Estado do Pará que manteve presa por quase 30 dias uma mulher, menor de idade, numa cela provisória com outros 26 homens. Não precisam ser descritas as consequências (físicas e psicológicas) as quais esta mulher foi submetida, em fato noticiado à época da violação122. Mesmo que por negligência, sem nenhum objetivo ilícito com a prática, a magistrada foi apenada unanimemente com a aposentadoria compulsória: “Admitir a ausência de responsabilidade da magistrada neste evento seria de forma transversa, reconhecer a incompetência do Poder Judiciário em proteger os direitos e garantias fundamentais de qualquer cidadão, ainda que em situação de encarceramento” (Voto do Relator Conselheiro Gilberto Martins, PAD 0000788-29.2009.2.00.0000, j. 103ª Sessão Ordinária, p. 7).

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