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IV. Assédio Moral nas Normas do Direito Brasileiro

4.2 Responsabilidade

Assim também entende Diniz:

O empregador ou comitente somente será objetivamente responsável se;.d) existir relação de emprego ou dependência entre o causador do ato danoso e o patrão, amo ou comitente. Não será necessário, para eximi-lo da responsabilidade ou negligencia de sua parte, visto que a sua responsabilidade é objetiva. (Diniz, 2003, p. 472-473).

Em relação à espécie mista, será quando o empregador juntamente com outros funcionários praticarem o assédio moral. Neste caso o empregador responderá solidariamente ao seu funcionário pelos danos causados a outrem.

Concluímos que o dever de reparar o dano do assédio moral dependerá da espécie praticada, isso quer dizer que quando for vertical ascendente o dever de reparar será do empregado, na vertical descendente e horizontal o dever de reparar será somente do empregador, em relação a espécie mista será responsável empregador solidariamente com o empregado que praticou o ato.

4.2 Responsabilidade.

Todos os indivíduos são responsáveis por suas condutas praticadas na sociedade. A responsabilidade é um fato social, pois se não existisse responsabilidade não seria possível a convivência em sociedade e podemos dizer que existem duas responsabilidades, a moral e a jurídica, que de acordo com a conduta praticada pelo agente se unificam.

A responsabilidade jurídica busca por meio das normas expressas, garantir a harmonia, a paz entre os homens, visa proteger os bens jurídicos essências para a vida do homem, como exemplo a vida, portanto só será responsável juridicamente aquele que tentar ou causar um prejuízo ao direito de outrem.

A responsabilidade moral ocorre quando o ato praticado fere as normas morais da sociedade, sendo mais ampla do que o direito que visa apenas manter a ordem na sociedade, quando é infringido o direito de alguém e, há um prejuízo. Mas para o caso em questão temos que analisar a responsabilidade do agressor na área penal, civil e trabalhista.

A responsabilidade penal em relação ao assédio moral é inexistente, já que não existe nenhuma tipificação no seu código, porém dependendo da conduta do agente pode ser tipificada como crime no Código Penal, como exemplos temos: a injúria, difamação, maus tratos, constrangimento ilegal, etc., e como sanção pela conduta do agente aplicação da penalização de privação da liberdade.

O art. 139 que tipifica a difamação e o art. 140 que tipifica a injúria (ambos inseridos no capítulo dos Crimes contra a Honra); o art. 136 que dispõe sobre os maus tratos (inserido no capitulo dos crimes de Periclitação da Vida e da Saúde) e o art. 146 que traz do constrangimento ilegal (no capitulo dos Crimes contra a Liberdade Individual), todos cominados com penas restritivas à liberdade. (Rufino, 2007,p. 102)

José de Aguiar Dias nos ensina que responsabilidade penal é;

[...] uma turbação social, determinada pela violação da norma penal. Mas, como o problema aqui é aplicar uma pena, não pode deixar de suscitar a dupla questão da existência da lei moral. [...] Como a pena tem por objetivo a defesa da sociedade, há de um lado, domínios onde se reprime o ato, sem indagação sobre responsabilidade moral do agente, como sucede nas contravenções e delitos de imprudência, onde se pune a falta de senso social e não a de pena, o resultado do ato, ao lado do grau de culpabilidade, como mas medidas de segurança. (Dias 2006, p 11)

Certamente podemos concluir que o agente ativo do assédio moral só será responsabilizado penalmente quando praticar uma das condutas expressas no Código Penal, pois como já foi dito não existe nenhuma lei penal que qualifique assédio moral como crime.

A responsabilidade civil está fundamentada nos artigos 1° inciso III, e no artigo 5° inciso X ambos da Constituição Federal de 1988, juntamente com o artigo 186 do Código Civil Brasileiro, mas para que o sujeito ativo possa ser responsabilizado civilmente pelo assédio moral é necessário a efetividade dos dois artigos da Constituição Federal, pois o texto constitucional protege a dignidade e o direito de personalidade do indivíduo, e no caso de estar infringindo um desses direitos deve ser indenizado, portanto o mal causado pelo agente do assédio moral tem que ser reparado.

O Código Civil, em seu artigo 186, deixa claro o direito de reparação em relação aos danos sofridos pelas vítimas que tem sua intimidade, sua dignidade, e sua honra violadas no ambiente de trabalho pelo agressor direto ou indireto, isso quer dizer que os danos psíquicos e físicos causados a vítima de assédio moral, devem ser indenizados, tanto os morais como os matérias.

Também não podemos esquecer o artigo 187 do Código Civil, que se refere ao excesso de poder do titular, portanto se o empregador se exceder ao utilizar seu poder, seu direito, ele será responsabilizado pelo ato abusivo praticado contra o empregado se este causar prejuízo.

Art. 186. – Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito.

Art.187- Também comete ato ilícito o titular de um direito, ao se exercê-lo, excede manifestamente os limites pelo ou fim econômico ou social, pela boa-fé ou pelos bons costumes.

Á responsabilidade trabalhista não está regularizada ainda nas leis trabalhistas, mas é fato que existe um projeto de lei específico para solucionar esse mal que atinge vários trabalhadores no Brasil.

É possível dentro do próprio direito trabalhista apoiar as vítimas do assédio moral, utilizando os princípios trabalhistas, para que a vítima desse fenômeno consiga obrigar o sujeito ativo a reparar o prejuízo causado ao aplicar princípios trabalhistas da: razoabilidade,

da boa-fé, da não discriminação, da dignidade do trabalhador e da norma mais favorável.

Contudo podemos dizer que estes princípios preenchem as lacunas existentes pela falta de uma legislação especifica.

Os princípios da razoabilidade visam a manter uma relação justa, e razoável entre empregador e empregado, não sendo permitido abuso por parte do empregador, que só poderá punir o empregado nos limites da razão.

Ao limitar faculdades, o princípio tem em mira, principalmente, o controle da margem de arbitrariedade conferida pelo sistema jurídico às partes, notadamente ao empregador, munido que está do poder diretivo – que mantém o trabalhador sob sua subordinação jurídica. ( Glockner, 2004.p 34)

Estes proibem que o empregador se utilize de sua superioridade em relação ao empregado para ser arbitrário.

Princípio da boa-fé, estabelece que empregador e empregado ao celebrarem o contrato devem atuar de forma idônea, cumprindo todo o acordo estabelecido.

Refere-se à conduta da pessoa que considera cumprir realmente o seu dever.

Pressupõe uma posição de honestidade e honradez no comércio jurídico, porque contém implícits a plena consciência de não enganar, não prejudicar, nem causar danos. (Glockner, 2004, p.35).

Portanto tem que ocorrer respeito mútuo entre as partes que pactuaram o contrato, sendo obrigadas a cumprirem suas tarefas do acordo para não causarem nenhum dano e prejuízo a outra parte.

Princípio da não discriminação visa estabelecer que todos os trabalhadores que estão na mesma condição deverão ser tratados de forma igual independente da raça, sexo, cor, sem nenhum favorecimento a determinados funcionários.

Princípio da dignidade do trabalhador, visa proteger a dignidade do trabalhador, para que este não seja tratado como um objeto, e submetido a péssimas condições de trabalho, como também proteger a honra e exigir respeito ao trabalhador.

Princípio da proteção, visa proteger o empregado, já que este é hipossuficiente na relação trabalhista.

Princípio da norma mais favorável, visa aplicar a norma mais favorável ao trabalhador quando ocorrer divergências na relação trabalhista, quando possível aplicar mais de uma norma.

Assim define:

Ao contrário do direito comum. Em nosso direito entre várias normas sobre a mesma matéria, a pirâmide que entre elas se constitui terá no vértice não a Constituição Federal, ou a lei federal, ou as convenções coletivas ou a regulamento de empresa, de modo invariável e fixo. O vértice da pirâmide da hierarquia das normas trabalhista dentre as diferentes em vigor. (Nascimento, 1977, p.23 apoud Glockner, 2004 .p. 42)

Estes princípios estabelecem uma nova pirâmide hierárquica das normas trabalhistas, diferente das demais normas, pois nelas as normas hierárquicas serão sempre as mais favoráveis ao trabalhador, e não as constitucionais conforme a regra geral.

A CLT em seus artigos 482 e 483 também proíbe o assédio moral.

Art. 482 – constituem justa causa para rescisão do contrato de trabalho pelo ofensa física, na mesma condição, salvo em caso de legítima defesa, própria ou de outrem.

[...]

k) ato lesivo da honra ou de boa fama ou ofensivo físico praticado contra o empregador e superiores hierárquicos, salvo em caso de legitima defesa, própria ou de outrem;

Essse artigo visa proteger apenas o assédio moral na forma vertical ascendente, aquele praticado contra o empregador ou o superior hierárquico, e como pena o próprio artigo estabelece que o empregado deve ser demitido por justa causa ao cometer a conduta.

Analisando o artigo 483, que tem o seguinte texto:

Art. 483 – O empregado poderá considerar rescindido o contrato e pleitear a devida indenização quando:

a) forem exigidos serviços superiores às suas forças, defesos por lei, contrários aos bons costumes, ou alheios ao contrato;

b) for tratado pelo empregador ou por seus superiores hierárquicos com rigor excessivo;

c) correr perigo manifesto de mal considerável;

d) não cumprir o empregador as obrigações do contrato;

e) praticar o empregador ou seus preposto, contra ele ou pessoa de sua família, ato lesivo de honra ou fama;

f) o empregador ou seu preposto ofenderem-nos fisicamente, salvo em caso de legítima defesa, própria ou de outrem;

g) o empregador reduzir o seu trabalho, sendo este por peça ou tarefa, de forma a afetar sensivelmente a importância dos salários.

Se o empregador realizar qualquer uma das condutas previstas no artigo 483 da CLT, já estará praticando o assédio moral, pois a alínea “a”, fere o principio da boa fé, já em relação a alínea “b”, o empregador estará sendo arbitrário e desrespeitoso com seu empregado.

O empregador que praticar a conduta da alínea “c”, estará desrespeitando um direito do empregado previsto nas normas de segurança do trabalho, colocando a saúde do trabalhador em risco; já em relação a alínea “d”, o empregador ao realizar a conduta estará desrespeitando o contrato, pois, as obrigações são mútuas, e por último as alíneas “e”, “f”e

“g” ferem o princípio da dignidade do trabalhador.

Contudo, o artigo 483 protege contra a prática de assédio moral na forma vertical descendente, que é aquela praticada pelo empregador ou pelo superior hierárquico, contra o empregado subordinado, portanto o empregado poderá requerer ao agente do assédio moral a devida reparação do dano causado.

Vale ressaltar que apenas a prática de um desses atos ilícitos não se configura como assédio moral, pois a ocorrência desse mal deve ser praticada de forma repetitiva, reiterada e abusiva por parte do empregador, causando prejuízo ao empregado.

Os artigos 482 e 483 da CLT não coíbem todas as formas de assédio moral, pois esses dispositivos legais protegem apenas o assédio moral de forma vertical descendente e ascendente, restando ainda sem solução o assédio moral de forma horizontal e mista, que mostra a necessidade da promulgação do projeto de lei específico como também a efetividade dos artigos 1° e 5º da Constituição Federal para coibirem todas as formas desse crime.

A vítima de assédio moral pode usar em sua defesa os artigos 1°, incisos III e IV e 5° ,incisos V e X da Constituição Federal, os artigo 482 e 483 da Consolidação das Leis Trabalhista, bem com os princípios trabalhistas da: razoabilidade, da boa-fé, da não discriminação, da dignidade do trabalhador, da proteção e da norma mais favorável, os artigos 186, 187, 932 incisos III, 933 e 942 do Código Civil, e por último os artigos 136;139;146 do Código Penal em que a conduta tipificada no tipo penal for praticada pelo agente. As três esferas jurídicas podem ser utilizadas na defesa da vítima sem que haja prejuízo da pena em cada uma delas, pois há autonomia entre as esferas.

Concluímos que, com a falta de uma legislação específica, a vítima de assédio moral poderá utilizar da proteção da Constituição Federal, bem como dos princípios gerais, das normas infraconstitucionais, para pleitear na justiça do trabalho a reparação do dano sofrido.

No documento ASSÉDIO MORAL NO AMBIENTE DE TRABALHO (páginas 41-47)

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