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CAPÍTULO I – Regimes da Arbitragem Voluntária da China

2. Responsabilidade civil do árbitro na LAVCH

O tema da responsabilidade do árbitro não era um tema muito tratado na China,  quer na legislação, quer na prática judicial, antes da promulgação da Lei                                                                                                                

120 Cf. Departmente of Justice of Hong Kong, Consultation Paper-Reforem of the Law of Arbitration in

Hong Kong and Draft Arbitration Bill, 2007, p.1.

121 O diploma legal está disponível no seguinte site:

http://www.npc.gov.cn/wxzl/wxzl/2000-12/05/content_4624.htm

122 O diploma legal está disponível no seguinte site:

http://www.arbitration.org.tw/law01-en.php

123 O diploma legal está disponível no seguinte site:

http://www.legislation.gov.hk/blis_pdf.nsf/6799165D2FEE3FA94825755E0033E532/C05151C760F783 AD482577D900541075?OpenDocument&bt=0

124 A lei da arbitragem voluntária de Taiwan foi aprovada em 1998, e foi alvo de três revisões legislativas  

até ao momento. Porém, tal como a maioria dos legisladores das leis de arbitragem voluntária, o tema da responsabilidade do árbitro não foi tratado muito, o legislador da LAVTW não prevê nenhum conteúdo/disposição sobre a responsabilidade civil do árbitro, contribuindo para o facto, a circunstância da mesma ter sido elaborada com base na Lei-Modelo, a qual também não trata a questão. Por esta razão, a referida temática não foi analisada, na presente dissertação.

de Arbitragem Voluntária chinesa em 1994. Acrescenta-se que nem o tribunal chinês lidava com casos de arbitragem ou qualquer outro caso relativo a esta questão125.

A Lei da Arbitragem Voluntária de 1994, doravante “LAVCH”, para além de ser a primeira lei chinesa a estabelecer o primeiro regime moderno de arbitragem doméstica, com a definição sobre os direitos e as obrigações do árbitro, foi também a primeira lei a mencionar a questão da responsabilidade do árbitro no regime de arbitragem voluntária chinesa. Porém, isto não significa que a questão tenha sido corretamente tratada, pois de facto continuam a existir problemas sobre este tema, na prática jurídica. Assim, consideramos que o legislador da LAVCH não considerou seriamente o problema da responsabilidade aplicável ao árbitro, porque nada diz sobre a natureza da mesma.

Analisando este diploma legal, o único artigo que indica diretamente a responsabilidade do árbitro é o artigo 38.º, no qual se referem dois casos em que o árbitro pode ser responsabilizado legalmente: o primeiro é a violação das regras de impedimentos (artigo 34.º, nº 4), e o segundo é a violação dos deveres do árbitro (artigo 58.º, nº 6).

Há quem diga que isto significa que o regime de arbitragem voluntária chinesa adota o modelo de limitação da responsabilidade do árbitro126, já que estes são apenas responsabilizados juridicamente, no caso de violarem os referidos artigos, gozando da imunidade judicial. Assim, consideramos que o regime atual da responsabilidade do árbitro não é um de regime de responsabilidade civil bem construído, pois dado o seu carácter superficial e pouco organizado, não consegue apresentar respostas às dúvidas colocadas pela doutrina e pela prática judicial.

Ainda assim, de acordo com os artigos relevantes nesta matéria, o árbitro pode ser responsabilizado legalmente no caso de efetuar “encontro não

                                                                                                               

125 Cf. GAO, Fei, Teoria e Prática da Arbitragem Marítima da China, Editora da Universidade do Povo

da China, Beijing, 1998, p.177.

126 Cf. LUO, Guoqiang, Análise e Construção de um Novo Regime de Responsabilidade Arbitral da

autorizado com as partes ou os seus representantes, aceitação de refeições e ofertas das partes ou dos seus representantes” (artigo 34.º, nº4); e, no caso de “pedido de interesses e corrupção passiva, atuação fraudulenta e contrária à lei por motivos pessoais e decisão contrária à lei” (artigo 58.º, nº6). Estas presumíveis situações exigem obrigatoriamente uma violação grave e a má-fé, afastando-se assim da negligência do árbitro. Acrescenta-se que alguns destes atos podem ser cometidos por ação ou omissão.

Deve notar-se ainda que o direito chinês não prevê, claramente, a natureza jurídica do árbitro, nem a relação jurídica entre o árbitro e as partes. O que se traduz na prática judicial numa impossibilidade de determinar qual a responsabilidade do árbitro, isto é, se esta é civil, penal127, ou administrativa128.

No plano da responsabilidade civil, a lei da arbitragem voluntária chinesa não nega a possibilidade da existência da mesma. Contudo, também não a afirma, adotando uma atitude evasiva sobre essa questão, veja-se que a LAVCH não dispõe sobre a natureza de responsabilidade do árbitro, apresentando somente a possibilidade de este ser responsabilizado legalmente.

A doutrina corrente considera a relação entre o árbitro e as partes como uma relação que tem por base um contrato de mandato, implicando teoricamente a existência de uma relação contratual entre ambos, e consequentemente a responsabilidade civil do árbitro. Assim, face à afirmação da existência desta relação contratual, alguns autores chineses consideram que o árbitro pode ser responsabilizado, nos termos do artigo 106º, nº 1, de acordo com os Princípios                                                                                                                

127 Até 2011, a doutrina predominante na China ainda não considerava a possibilidade de se imputar a

responsabilidade penal para o árbitro, dado que nos termos do Código Penal da China, para a determinação da correspondente responsabilidade penal, as infrações em causa só constituem crimes quando o sujeito for “funcionário do Estado” ou “pessoal de sociedades comerciais ou empresas” (artigos 163.º, nº 1 e 385.º). E o árbitro é apenas considerado como funcionário das instituições de arbitragem, ligado a um contrato de árbitro. Além disso, não existiam expressamente quaisquer disposições sobre a responsabilidade penal do árbitro.

Porém, após as alterações ao Código Penal, atualmente, o árbitro é responsabilizado por decisão contrária aos factos e à lei, tal como acontece com os juízes, nos termos do artigo 399.º - 1.

128 Segundo a doutrina corrente, os árbitros não assumem responsabilidades administrativas, já que as

instituições de arbitragem que organizam a matéria de arbitragem e efetuam a supervisão da conduta dos árbitros, são organizações cívicas, ou seja, pessoas coletivas de direito privado, e não de direito público. Já, o árbitro, por seu turno, atua em nome próprio e não em nome destas instituições, não havendo uma relação administrativa com o Estado, logo não estando sujeito a nenhuma relação jurídica administrativa. Assim, a responsabilidade administrativa também não é aplicável ao árbitro.

Gerais do Direito Civil da China, isto é, do código civil chinês, veja-se que “O cidadão ou a pessoa coletiva que viole um contrato ou que falte ao cumprimento de outras obrigações incorrerá em responsabilidade civil”, em conjunto também com o disposto na lei da arbitragem chinesa.

Embora o artigo em causa justifique a responsabilidade civil do árbitro, o mesmo não apresenta uma resposta concreta sobre a natureza desta responsabilidade civil, isto é, se esta é contratual ou extracontratual. Neste sentido, as situações previstas no nº 4 do artigo 34.º e no nº 6 do artigo 58.º podem ser consideradas tanto como violações contratuais, como violações extracontratuais, dependendo assim da interpretação e do esclarecimento feito pelo legislador ou pelo intérprete competente, por forma a clarificar esta matéria.129

Como se vê, a lei chinesa adota uma atitude pouco rigorosa em relação à questão da responsabilidade do árbitro, nomeadamente, sobre a questão da natureza desta responsabilidade. Embora em certas circunstâncias, o mesmo assuma responsabilidade legal perante seus atos, podendo ser penal, administrativa ou civil. Ora, face a esta incerteza, a maioria dos casos termina com a atribuição da imunidade ao árbitro, ficando este isento de qualquer responsabilidade. Acrescenta-se que o tribunal chinês não pode tomar decisões sobre tipo de responsabilidade que o árbitro deve ou não assumir, com base nos citados artigos imprecisos.

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