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CAPÍTULO I – Regimes da Arbitragem Voluntária da China

3. Responsabilidade civil do árbitro na LAVHK

                                                                                                               

129 LUO, Guoqiang ainda indica que «de acordo com a prática judicial da China, nos casos em que não

esteja previsto o valor da indemnização, esta corresponde, normalmente, ao valor daquilo que se tenha obtido ilegalmente. Neste sentido, o valor da indemnização que o árbitro deve pagar às partes pelos prejuízos económicos diretamente causados, deve limitar-se ao montante da remuneração que lhe foi paga. Além disso, todo o valor recebido, a título de corrupção, deve ser apreendido ou restituído, nos termos gerais do direito.

A prescrição da responsabilidade arbitral dos árbitros não está especificadamente prevista nos Princípios Gerais do Direito Civil da China, pelo que o prazo de prescrição da responsabilidade arbitral segue a regra geral, é de dois anos a contar do momento em que as partes conhecem ou devam conhecer do facto que determina a violação dos seus direitos». (Fonte: Análise e Construção de um Novo Regime de Responsabilidade Arbitral da China, in “Perspectiva do Direito”, n.12 (Jan.2003), Macau, pp. 145 e

Enquanto regime da common law, o regime de arbitragem de Hong Kong mostra-se diferente, em alguns aspetos, na questão relacionada com a responsabilidade civil do árbitro, no ordenamento jurídico da China.

Nos países de civil law, não se aplica à conduta judicial do árbitro e do juiz, imunidade absoluta, assim estes são responsáveis pelas suas ações ilícitas ou delitos130.

Já nos países de common law, o árbitro e o juiz não são responsabilizados civilmente pelos seus atos e erros, devido à consagração e atribuição da imunidade judicial131.

A atual Lei da Arbitragem Voluntária de Hong Kong, doravante “LAVHK”, baseia-se na revisão e alteração das leis de arbitragem de 1996 e 2011, e ainda na seção 29 da English Arbitration Act 1996132 e na seção 104, que atribui imunidade judicial ao árbitro, justificando assim a disposição «the same

as those that apply to judges in courts and that, unless a degree of immunity is afforded, the finality of the arbitral process would be undermined by the prospect of a losing party attempting to reopen the issues by suing the arbitrator»133.

(sublinhado nosso).Ora, esta influência levou a que o atual regime de arbitragem

de Hong Kong também conceda imunidade judicial ao árbitro. Porém, há que ter em conta que esta imunidade judicial não é absoluta, logo perante certas circunstâncias e condições, o árbitro poderá ser responsabilizado, no âmbito do exercício das suas funções judicias.

À luz da seção 104134, o árbitro deve assumir a sua responsabilidade,                                                                                                                

130 Cf. HAUSMANINGER, Christian, Civil Liability of Arbitrators - Comparative Analysis and

Proposals for Reform, 7 J. INT‘L ARB. 5, 48, 1990, p.13.

131 Cf. NOLAN, Dennis R. e Abrams, Roger I., Arbitral Immunity..., 1989, p.238.

132 Hong Kong Institute of Arbitrators, Report of Committee on Hong Kong Arbitration Law, 2003, veja-

se o parágrafo 8.37.

133 Hong Kong Institute of Arbitrators, Report of Committee on Hong Kong Arbitration Law, 2003, veja-

se o parágrafo 8.34.

134 Section 104 do Cap 609 - Arbitration Ordinance de Hong Kong

(Arbitral tribunal or mediator to be liable for certain acts and omissions)

(1) An arbitral tribunal or mediator is liable in law for an act done or omitted to be done by— (a) the tribunal or mediator; or

(b) an employee or agent of the tribunal or mediator, in relation to the exercise or performance, or the purported exercise or performance, of the tribunal’s arbitral functions or the mediator’s functions only if it is proved that the act was done or omitted to be done dishonestly.

“only if it is proved that the act was done or omitted to be done dishonestly” (sublinhado nosso). Ora, esta responsabilidade poderá resultar de um ato, por ação ou omissão. Veja-se, por exemplo, o caso em que o árbitro viola o dever de confidencialidade, ou o caso em que não divulga a sua relação familiar com alguma das partes contratantes. Acrescenta-se que a LAVHK prevê que o árbitro possa ser responsabilizado, mesmo que apenas seja na declaração do exercício da sua função arbitral.

Salienta-se ainda que a LAVHK dispõe de um requisito legal rígido, a relevante desonestidade do árbitro no decorrer do exercício das suas funções. A este respeito veja-se a exigência de ma fé (bad faith) do árbitro no English

Arbitration Act 1996.

Ora, embora o legislador da LAVHK não exteriorize o significado da palavra “dishonestly”, a doutrina apresenta algumas definições para a mesma, neste sentido, repare-se no defendido pelo autor John Thurston, segundo o qual “dishonestly” é retratado como “not acting as an honest person would in the circumstances”135. Por outro lado, para Lord Hutton, «Dishonesty requires

knowledge by the defendant that what he was doing would be regarded as dishonest by honest people, although he should not escape a finding of dishonesty because he sets his own standards of honesty and does not regard as dishonest what he knows would offend the normally accepted standards of honest conduct.»136

De acordo com a LAVHK, o árbitro não só é responsável pelos seus atos ilícitos, como também pelos atos desonestos praticados pelos funcionários e agentes do tribunal arbitral, possuindo uma responsabilidade solidária. Logo, caso os funcionários e agentes do tribunal arbitral não sejam responsabilizados por atos ilícitos, o árbitro também não será.

                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                   

(2) An employee or agent of an arbitral tribunal or mediator is liable in law for an act done or omitted to be done by the employee or agent in relation to the exercise or performance, or the purported exercise or performance, of the tribunal’s arbitral functions or the mediator’s functions only if it is proved that the act was done or omitted to be done dishonestly.

(3) In this section, mediator means a mediator appointed under section 32 or referred to in section 33.

135 THURSTON, John, A Practitioner's Guide to Trusts, Tottel Publishing, West Sussex, 2013, p.150. 136 In Twinsectra Ltd v Yardley, (2002) 2 All ER, p. 387.

Ora, como vimos, o árbitro deve assumir a sua responsabilidade durante o seu mandato, nos termos da LAVHK, porém, esta apenas dispõe que o mesmo deve ser responsabilizado por seus atos ilícitos, não explicando quais as responsabilidades em questão, nem como assumir a extensão de responsabilidade. Por isso, o regime de arbitragem de Hong Kong não é autossuficiente no processo de identificação da responsabilidade do árbitro, precisando, neste sentido, de outras legislações que o complementem. Acrescenta-se que a extensão da responsabilidade do árbitro é uma posição bastante abrangente, dado que pode responsabilizar por culpa, os funcionários e agentes do tribunal arbitral.

CAPÍTULO II - Regime da Arbitragem Voluntária de Portugal

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