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Responsabilidade objetiva no Código Civil

No documento DIREITO CIVIL PROF. PATRÍCIA STRAUSS (páginas 93-103)

SOBRE PAGAMENTO

DEPÓSITO VOLUNTÁRIO

E) Apólice ou bilhete de seguro: É o instrumento do contrato

4. Responsabilidade objetiva no Código Civil

→ Responsabilidade objetiva no Código Civil: Casos de responsabilidade objetiva no CC:

Abuso de direito (art. 187);

Por fato de terceiro (artigo 932/933/934);

Por fato de animal (artigo 936);

Pela ruína de edifício ou construção (artigo 937);

Por objeto caídos ou lançados de prédio (artigo 938).

Responsabilidade civil por atos de terceiros ou responsabilidade civil indireta:

Artigo 932:

Pais, por filhos menores que estiverem sob sua autoridade e em sua companhia.

Muito importante!

Enunciado 450 das Jornadas de Direito Civil: “Considerando que a responsabilidade dos pais pelos atos danosos praticados pelos filhos menores é objetiva, e não por culpa presumida, ambos os genitores, no exercício do poder familiar, são, em regra, solidariamente responsáveis por tais atos, ainda que estejam separados, ressalvado o direito de regresso em caso de culpa exclusiva de um dos genitores.”

O tutor e o curador, pelos pupilos e curatelados, que se acharem nas mesmas condições;

O empregador ou comitente, por seus empregados, serviçais e prepostos, no exercício do trabalho que lhes competir, ou em razão dele;

* Importante lembrar que não é necessário que haja vínculo empregatício. * Lembrando que se o empregador for um FORNECEDOR e houver relação de consumo, possivelmente teremos a aplicação do CDC e não do CC.

Os donos de hotéis, hospedarias, casas ou estabelecimentos onde se albergue por dinheiro, mesmo para fins de educação, pelos seus hóspedes, moradores e educandos;

*Este é o caso do hóspede que CAUSA dano a terceiros.

Os que gratuitamente houverem participado nos produtos do crime, até a concorrente quantia.

O artigo 933 do CC prevê expressamente que a responsabilidade é objetiva, já que informa que os terceiros serão responsabilizados, ainda que não HAJA CULPA por parte deles.

No entanto, a jurisprudência e a doutrina entendem que para que haja a condenação dos pais, é necessária a comprovação da culpa dos filhos. Para que tutores e curadores sejam responsabilizados, é necessária a comprovação de culpa dos tutelados/curatelados. O mesmo ocorre com empregador/empregado, etc. Neste último caso, é importante destacar que a prova de culpa do empregado somente é necessária em relações reguladas pelo CC. Se for uma relação de consumo, a responsabilidade civil dos fornecedores de produto/serviço é regulada pelo CDC, NÃO SENDO NECESSÁRIA A COMPROVAÇÃO DA CULPA DO EMPREGADO.

De acordo com o artigo 934 se o empregador, por exemplo, pagar a indenização, terá Direito de Regresso contra o empregado que causou o dano. Há uma exceção: Relações entre ascendentes e descendentes incapazes não

haverá direito de regresso. Assim, o ascendente não tem regresso contra o descendente, se este for incapaz.

Um ponto muito importante diz respeito à solidariedade entre todos os sujeitos do artigo 942, já que o parágrafo único informa que são solidariamente responsáveis com os autores os co-autores e as pessoas designadas no artigo 932.

Observação!

Responsabilidade do incapaz (Artigo 928 do CC)

De acordo com o artigo, a responsabilidade do incapaz é subsidiária. Assim, primeiro respondem os responsáveis pelo incapaz. Se estas pessoas não tiverem condições financeiras ou não forem obrigadas a tanto, então se irá responsabilizar o incapaz. Mesmo assim, de acordo com o parágrafo único, a indenização deverá ser equitativa e, se privar o incapaz ou as pessoas que dele dependam do seu sustento, então tal indenização não terá lugar.

Devido ao parágrafo único do 942, ainda há discussões que tratam sobre a responsabilidade do incapaz ser ou não subsidiária. No entanto, a jurisprudência e a doutrina dizem que sim, em decorrência do artigo 928, ela será SUBSIDIÁRIA, NÃO TENDO APLICAÇÃO O PARÁGRAFO ÚNICO DO ARTIGO 942.

→ Responsabilidade civil por fato de animal:

Está disciplinada no artigo 936 do CC: O dono, ou detentor, do animal ressarcirá o dano por este causado, se não provar culpa da vítima ou força maior. Há somente duas excludentes nas quais o dono/detentor não será responsabilizado: culpa da vítima e força maior.

→ Responsabilidade civil do dono de edifício ou construção pela sua ruína: O dono de edifício ou construção responde pelos danos que resultarem de sua ruína, se esta provier de falta de reparos, cuja necessidade fosse manifesta, consoante artigo 937 do CC. Para que haja a configuração, é necessário se estabelecer que o imóvel necessitava de reparos de forma manifesta. A

responsabilidade é do dono do edifício ou da construção (construtora, por exemplo).

Responsabilidade por objetos caídos ou lançados do prédio (defenestramento):

Segundo o artigo 938 do CC: Aquele que habitar prédio, ou parte dele, responde pelo dano proveniente das coisas que dele caírem ou forem lançadas em lugar indevido. Ponto muito importante a ser verificado que a responsabilidade é de quem HABITA o prédio. Assim, seriam responsáveis o locatário, comodatário, proprietário...enfim, quem estiver habitando o prédio.

Caso não se saiba de onde partiu o objeto caído ou lançado, os tribunais têm entendido pela responsabilização do condomínio que, após (e caso) identificado o responsável, poderá ajuizar regresso contra o ofensor.

→ Responsabilidade objetiva no contrato de transporte:

No artigo 750 do CC é tratada sobre a responsabilidade objetiva do transportador de coisas: A responsabilidade do transportador, limitada ao valor constante do conhecimento, começa no momento em que ele, ou seus prepostos, recebem a coisa; termina quando é entregue ao destinatário, ou depositada em juízo, se aquele não for encontrado. Também o artigo 734: O transportador responde pelos danos causados às pessoas transportadas e suas bagagens, salvo motivo de força maior, sendo nula qualquer cláusula excludente da responsabilidade. No caso específico deste contrato, não cabe nem mesmo a quebra do nexo causal por culpa exclusiva de terceiro, por força do artigo 735: A responsabilidade contratual do transportador por acidente com o passageiro não é elidida por culpa de terceiro, contra o qual tem ação regressiva.

Contudo, se o transporte for de cortesia ou por amizade, a responsabilidade será subjetiva, consoante artigo 736: Não se subordina às normas do contrato de transporte o feito gratuitamente, por amizade ou cortesia. Não se considera

gratuito o transporte quando, embora feito sem remuneração, o transportador auferir vantagens indiretas.

→ Responsabilidade civil e criminal – artigo 935:

Conforme artigo 935: A responsabilidade civil é independente da criminal, não se podendo questionar mais sobre a existência do fato, ou sobre quem seja o seu autor, quando estas questões se acharem decididas no juízo criminal.

Como regra, podemos pensar que as esferas cível e criminal não se comunicam. No entanto, se no criminal foi decidido sobre existência de fato e/ou autoria, então haverá dependência entre as esferas cível e criminal.

→ Responsabilidade por demanda de dívida:

Há 3 artigos que tratam sobre o tema, na parte de responsabilidade civil. Artigos 939, 940 e 941:

Art. 939. O credor que demandar o devedor antes de vencida a dívida, fora dos casos em que a lei o permita, ficará obrigado a esperar o tempo que faltava para o vencimento, a descontar os juros correspondentes, embora estipulados, e a pagar as custas em dobro.

Art. 940. Aquele que demandar por dívida já paga, no todo ou em parte, sem ressalvar as quantias recebidas ou pedir mais do que for devido, ficará obrigado a pagar ao devedor, no primeiro caso, o dobro do que houver cobrado e, no segundo, o equivalente do que dele exigir, salvo se houver prescrição.

Art. 941. As penas previstas nos arts. 939 e 940 não se aplicarão quando o autor desistir da ação antes de contestada a lide, salvo ao réu o direito de haver indenização por algum prejuízo que prove ter sofrido.

De acordo com o artigo 941, se o autor desistir da ação antes da contestação, as punições dos artigos 939 e 940 não serão aplicadas

5. Elementos da responsabilidade civil

Os elementos da responsabilidade civil são também chamados de pressupostos do dever de indenizar. O tema não é pacífico na doutrina.

Para a responsabilidade subjetiva, que é a regra em nosso Código Civil (Artigo 927, “caput”), é necessária a configuração de quatro elementos ou pressupostos de responsabilidade.

Conduta humana;

Culpa genérica ou “lato sensu”;

Nexo causal e

Dano.

Se a responsabilidade for objetiva (artigo 927, parágrafo único, por exemplo) então precisamos de 3 elementos:

Conduta humana;

nexo causal e

dano.

Vamos à análise dos elementos: → Conduta humana:

Pode ser causada por uma ação (conduta positiva) ou uma omissão (conduta negativa). Tais ações ou omissões poderão ser dolosas (com intenção) ou culposas (sem intenção) mas agindo com imprudência, imperícia e negligência.

Observação: sobre OMISSÃO.

Um ponto importante com relação à omissão, é que entende a doutrina que é necessário que se tenha o dever jurídico de praticar determinado ato (omissão genérica) bem como a prova de que a conduta não foi praticada (omissão específica).

Exemplo: veículo furtado dentro de condomínio. Entendem os tribunais que não há responsabilidade do condomínio, já que não tinha o dever jurídico de impedir o ilícito.

→ Culpa:

A culpa somente é necessária quando a responsabilidade for do tipo subjetiva. Aqui envolve dolo (intenção) e culpa (sem intenção, porém com imprudência, negligência ou imperícia).

→ Dolo:

Intenção do agente em causar dano. O dolo dentro da responsabilidade civil recebe, segundo a doutrina, o mesmo tratamento da culpa gravíssima ou grave. No dolo o agente quer a conduta E quer o resultado. Agindo com dolo, a indenização a ser paga para a vítima deve ser plena.

→ Culpa “stricto sensu” ou em sentido estrito:

Não há a intenção de violar um dever jurídico. Na culpa o agente quer a conduta, mas não quer o resultado.

Há três modalidades de culpa:

Imprudência: Ausência de cuidado + ação. Exemplo: Dirigir veículo em alta velocidade.

Negligência: Falta de cuidado + omissão: Exemplo: empregado que é colocado para trabalhar na empresa sem treino. Empresa foi negligente.

Imperícia:Falta de qualificação para desempenhar determinada função.

Muito importante!

Para o Direito Civil, pouco importa se houve dolo ou culpa, teremos a configuração dos elementos de responsabilidade civil. No entanto, no momento de FIXAR a indenização, então teremos a quantificação também sendo levado em conta o dolo ou a culpa do causador do dano.

Observação: sobre CULPA PRESUMIDA.

Muito se falou e ainda se fala na doutrina sobre a presunção de culpa, em casos como o da “culpa in vigilando” (pais responsáveis pelos filhos), “culpa in elegendo” (patrão por ato de empregado) ou “culpa in custodiendo” (falta de cuidado com relação a um animal).

Entende a doutrina que tais classificações não são mais utilizadas, já que o CC/2002 estipulou responsabilidade OBJETIVA para tais tipos de situações e, assim, não se falando mais no elemento culpa.

A partir de tais conclusões, se entende cancelada a Súmula 341 do STF.

Ainda que a culpa não deve ser levada em conta, quando se discute responsabilidade objetiva, os tribunais têm entendido, quando para a FIXAÇÃO da indenização (e não a configuração) que se a vítima concorreu, de alguma forma, para o dano, ainda que a responsabilidade do agente seja averiguado pelo âmbito objetivo, se poderá utilizar os artigos 944 e 945 para a fixação da indenização (que preveem risco concorrente e culpa concorrente).

→ Nexo de causalidade

Elemento que coloca em conjunto a relação de causa e efeito entre a conduta e o dano suportado por alguém. É uma ligação entre conduta e dano.

Para a doutrina, o nexo causal seria formado:

Na responsabilidade subjetiva:nexo causal seria formado pela culpa genérica. Na responsabilidade objetiva: nexo causal seria formado pela conduta, cumulada com a previsão legal de responsabilidade objetiva ou pela atividade de risco (artigo 927, parágrafo único do CC).

Há várias teorias que tratam sobre o nexo causal:

Teoria da equivalência das condições ou do histórico dos antecedentes: Todos os fatos relativos ao evento danoso geram responsabilidade civil. Não é adotada pelo CC.

Teoria da causalidade adequada: Na presença de diversas causas, se identifica qual que, potencialmente, gerou o evento dano. Somente o fato danoso gera a responsabilidade civil. Ganha relevo aqui as causas, o grau de culpa dos envolvidos, os fatos concorrentes. Esta teoria está consagrada nos artigos 944 e 945 do CC, sendo a que prevalece na nossa doutrina.

Obs.: Causalidade alternativa: Quando há um grupo e não se consegue identificar qual pessoa do grupo causou dano a outra pessoa. Então, temos que o grupo responde. Exemplo: Artigo 938 quando o condomínio responde por um objeto lançado ou caído de um prédio, se não for possível identificar de onde caiu o objeto.

Teoria do dano direto e imediato ou teoria da interrupção do nexo causal: Havendo interrupção do nexo causal, teremos a irresponsabilidade do agente. Ganha relevo aqui as excludentes totais de responsabilidade, já que o dano ocorrido não será de responsabilidade do causador. Está no artigo 403 do CC, quando se trata sobre perdas e danos.

→ Dano

Um dos elementos de configuração da responsabilidade civil é o dano. Na Súmula 37 do STJ (do ano de 1992) já se falava na possibilidade de cumulação de danos morais com danos materiais. Já no ano de 2009, o STJ editou a Súmula 387, permitindo a cumulação de danos estéticos e morais: Súmula 37 do STJ: “É lícita a cumulação das indenizações de danos estético e dano moral.”

A doutrina divide, tradicionalmente os danos em:

Danos clássicos ou tradicionais: Materiais e morais

Danos novos ou contemporâneos: Danos estéticos, danos morais coletivos, danos sociais e danos por perda de uma chance.

Danos patrimoniais ou materiais: Constituem prejuízos ou perdas que a pessoa sofreu.

Podemos ter danos emergentes/positivos ou lucros cessantes ou negativos. Emergentes ou positivos: o que efetivamente se perdeu. Exemplo: Artigo 948, I do CC, para o caso de homicídio, em que familiares deverão ser reembolsados pelas despesas do funeral, etc.

Lucros cessantes/negativos: o que razoavelmente se deixou de lucrar. Exemplo: Taxista que pleiteia lucros cessantes pela batida em seu carro. Dano material reflexo: Os parentes entram solicitando direito próprio. Outro exemplo de lucro cessante é o caso dos alimentos indenizatórios (alimentos devidos aos dependentes do falecido) levando-se em conta a duração da vida provável daquele que faleceu (atualmente, referem-se os tribunais, aos 74 anos): 2/3 do salário da vítima por mês + FGTS, 13° salário e eventuais horas extras até o limite da vida provável da vítima.

→ Se a vítima faleceu após a idade média, então se faz um cálculo da vida provável da vítima, de acordo com as condições.

→ Debate:

Se a vítima for menor, é possível que os pais peçam indenização a título de lucros cessantes? Sim, Súmula 491 do STF: É indenizável o acidente que cause a morte de filho menor, ainda que não exerça trabalho remunerado. Tal entendimento é, em geral, aplicável para familiares de baixa renda que talvez contavam com o auxílio financeiro do filho. O dano material por esses casos é tido como presumido “in re ipsa”. Neste caso, o cálculo é feito entre 14 anos até 24/25 anos, período em que se entendeu estaria o menor auxiliando nas despesas da casa.

→ Danos morais:

Previsão na CF, artigo 5°, V e X. Os danos morais são entendidos como sendo aqueles que lesam os direitos da personalidade (Artigo 11 – 21 do CC). No dano moral há uma compensação pelos danos suportados.

Importante destacar que, além da compensação em dinheiro, também é possível uma compensação “in natura” para os danos morais, como retratação pública ou outro meio.

Classificação dos danos morais (segundo Flávio Tartuce): A) Quanto ao sentido:

1 - Dano moral em sentido próprio: aquilo que a pessoa sente, causando a ela dor, tristeza, humilhação etc.

2 - Dano moral em sentido impróprio: não necessita de prova do sofrimento para sua caracterização. A simples ofensa ao direito da personalidade, já seria suficiente para a configuração de dano moral.

No documento DIREITO CIVIL PROF. PATRÍCIA STRAUSS (páginas 93-103)

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