• Nenhum resultado encontrado

RESPONSABILIDADE POR DANOS AOS DIREITOS PERSONALÍSSIMOS

No documento Privacidade versus informação (páginas 60-105)

168

GUIRELLO, Mariana.Liberdade de imprensa prevalece sobre privacidade. Disponível em: <http://www.conjur.com.br/2010-nov-07/liberdade-imprensa-prevalece-privacidade-carlos-britto>. Acesso em: 09 nov. 2010.

Os direitos personalíssimos, quais sejam, a intimidade, a honra, a

imagem, a privacidade e vida íntima de forma geral, integram juntamente com outros

direitos fundamentais como o direito à informação e a livre expressão, a essência

sublime do ser humano, sua personalidade e dignidade frente à massa social.

O operador do Direito, quando do conflito entre estes, e conseqüente

ponderação dos mesmos, atribuirá de forma coercitiva à sanção pertinente e

justificável ao direito preponderado, ou seja, que teve seu interesse suprimido de

forma harmônica visto à significância do direito conflitado, conforme trabalhado de

forma exaustiva no tópico 4.2.

Preliminarmente, cabe à transcrição do artigo 5º inciso IV do papiro

supremo, que veda o anonimato quando da manifestação de pensamento, como

uma forma de possibilitar a responsabilização do indivíduo exteriorizador de idéias

indevidas, assim: “Art. 5º Todos são iguais [...] IV – é livre a manifestação do

pensamento, sendo vedado o anonimato”

.169

Nesse sentido Vicente e Alexandrino destacam:

Note-se que a garantia do sigilo da fonte não conflita com a vedação ao anonimato. O jornalista(ou profissional que trabalhe com divulgação de informações) veiculará a notícia em seu nome, e está sujeito a responder pelos eventuais danos indevidos que ela cause. Assim, embora a fonte possa ser sigilosa, a divulgação da informação não será feita de forma anônima, de tal sorte que não se frustra a eventual responsabilização de quem a tenha veiculado – e a finalidade da vedação ao anonimato é exatamente possibilitar a responsabilização da pessoa que ocasione danos em decorrência de manifestações indevidas.170

Completa Bulos, “Na realidade, o tema pertinente à vedação ao

anonimato deriva da necessidade ético-jurídica de investigar as condutas funcionais

lesivas ao interesse público, justamente para obrigar o sujeito a assumir a autoria do

pensamento manifestado.”

171

Imprescindível é a anotação trazida pelo artigo 220 da nossa carta, que

dispõe acerca da incondicionalidade atribuída à comunicação social, livre de

qualquer censura de natureza, política ou artista, tutelando a garantia já imposta na

inserção do artigo 5º, inciso IX.

169

BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil, de 05 de outubro de 1988. Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituiçao.htm>. Acesso em: 09 nov. 2010. 170

PAULO, Vicente; ALEXANDRINO, Marcelo. Direito constitucional descomplicado. 2. ed. Rio de Janeiro: Impetus, 2008, p. 119.

171

Art. 220. A manifestação do pensamento [...]:

§ 1º - Nenhuma lei conterá dispositivo que possa constituir embaraço à plena liberdade de informação jornalística em qualquer veículo de comunicação social, observado o disposto no art. 5º, IV, V, X, XIII e XIV.172

Com relação a tão solene garantia, que foi matéria apresentada como

capa da revista Veja, em 29 de setembro de 2010 (anexo C), faz-se rememorar que

é inconcebível haver em uma sociedade livre e democrática alguma espécie de

censura.

De forma extraordinária Moraes insere:

O texto constitucional repele frontalmente a possibilidade de censura prévia. Essa previsão, porém, não significa que a liberdade de imprensa é absoluta, não encontrando restrição nos demais direitos fundamentais, pois a responsabilização posterior do e/ou responsável pelas notícias injuriosas, difamantes, mentirosas sempre será cabível, em relação a eventuais danos materiais e morais.173 (grifou-se)

E complementa:

A liberdade de imprensa em todos os seus aspectos, inclusive mediante a vedação de censura prévia, deve ser exercida com a necessária responsabilidade que se exige em um Estado Democrático de Direito, de modo que o desvirtuamento da mesma para o cometimento de fatos ilícitos, civil ou penalmente, possibilitará aos prejudicados plena e integral indenização por danos materiais e morais, além do efetivo direito de resposta.174

Assim, no dinamismo tecnológico do século XXI, o direito à informação é

inundado pela conseqüente evolução dos meios de comunicação, que não perdem

sua significância frente ao regime democrático adotado pela nossa nação, nesse

sentido Bulos profere:

Em face da necessidade de convivência dos diferentes valores protegidos constitucionalmente, temos que as garantias da liberdade de pensamento e de informação são relativas, haja vista que o seu exercício não poderá vulnerar outros valores constitucionalmente protegidos – tais como a inviolabilidade da honra, da intimidade e da vida provada -, sob pena de responsabilização civil e criminal, conforme o caso.175

O fato é que a liberdade de informar e ser informado é conexa, quando a

manifestação se diz de interesse público ou geral, não sendo relevado seu

172

BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil, de 05 de outubro de 1988. Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituiçao.htm>. Acesso em: 09 nov. 2010. 173

MORAES, Alexandre. Direito constitucional. 17. ed. São Paulo: Atlas, 2005, p. 46. 174

distorcimento à fatos íntimos e de caráter privado de determinado indivíduo. Bulos

atribui:

[...] o direito fundamental de acesso à informação, como ocorre com todos os demais, não é absoluto. Ele se refere essencialmente, a informações que possam ser de interesse público ou geral, não cabendo dele cogitar quando se trate de informações que digam respeito exclusivamente à intimidade e a vida privada do indivíduo, as quais são objeto de proteção constitucional expressa (art. 5º, X). 176

Branco clareia-nos com um conceito de notícias de relevância pública:

O conceito de notícias de relevância pública enfeixa as notícias relevantes para decisões importantes do indivíduo na sociedade. Em princípio, notícias necessárias para proteger a saúde ou a segurança pública, ou para prevenir que o público seja iludido por mensagens ou ações de indivíduos que postulam a confiança da sociedade têm, prima facie, peso apto para superar a garantia da privacidade.177

E complementa de forma adequada, “Nesse contexto de ponderação

entre o interesse público na notícia e a privacidade do indivíduo, compreende-se que

pessoas públicas ou envolvidas em assuntos públicos detenham menor pretensão

de retraimento da mídia.”

178

Nesse mesmo contexto Barroso acrescenta:

[...] no campo do direito de privacidade, a doutrina e a jurisprudência costuma identificar um elemento decisivo na determinação da intensidade de sua proteção: o grau de exposição pública da pessoa, em razão de seu cargo ou atividade, ou até mesmo de alguma circunstância eventual. A privacidade de indivíduos de vida pública – políticos, atletas, artistas – sujeita-se a parâmetro de aferição menos rígidos do que os de vida estritamente privada. Isso decorre, naturalmente, da necessidade de auto- exposição, de promoção pessoal ou do interesse público.179

E firma, “Remarque-se bem: o direito de privacidade existe em relação a

todas as pessoas e deve ser protegido. Mas o âmbito de que se deve interditar à

curiosidade do público é menor no caso das pessoas públicas.”

180

Nesse sentido já decidiu o Superior Tribunal de Justiça, acerca da

personalidade pública do ofendido ser alargada:

RECURSO ESPECIAL. RESPONSABILIDADE CIVIL. DANOS MATERIAIS E MORAIS. ENTREVISTA DE ADVOGADO. REFERÊNCIA A JULGADOS. 1. O dano moral deve ser visto como violação do direito à dignidade,

175 BULOS, 2010, p. 974. 176 Ibid., p. 117. 177

MENDES; COELHO; BRANCO, 2009, p. 426. 178 Ibid., p. 426. 179 BARROSO, 2007, p. 76. 180 BARROSO, 2007, p. 76.

estando nela inseridos a inviolabilidade da intimidade, da vida privada, da honra e da imagem. Dessa forma, havendo agressão à honra da vítima, é cabível indenização. 2. Críticas à atividade desenvolvida pelo homem público, in casu, o magistrado, são decorrência natural da atividade por ele desenvolvida e não ensejam indenização por danos morais quando baseadas em fatos reais, aferíveis concretamente. 3. Respaldado nas disposições do § 2º do art. 7º da Lei n. 8.906/94, pode o advogado manifestar-se, quando no exercício profissional, sobre decisões judiciais, mesmo que seja para criticá-las. O que não se permite, até porque nenhum proveito advém para as partes representadas pelo advogado, é crítica pessoal ao Juiz. 4. Recurso especial de Sérgio Bermudes conhecido e provido. Recurso especial da empresa CRBS S/A Cuiabana conhecido em parte e provido.181 (grifou-se)

Deliberou o Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro nesse sentido:

EMENTA: Apelação cível. Ação indenizatória por danos morais, em face de publicação supostamente ofensiva à honra do autor. Improcedência do pedido. Direito a liberdade de informação que não se contrapõe, "in casu", ao direito à honra, privacidade e imagem. Reportagem de cunho meramente informativo e narrativo. Dano moral não caracterizado. Recurso improvido, na forma do artigo 557, "caput", do CPC.182

E relacionando-se ao presente, acerca da incoerência existente entre o

direito à informação contemporâneo e a dignidade humana, Moraes dissipa:

Encontra-se em clara e ostensiva contradição com o fundamento constitucional da dignidade da pessoa humana (CF, art. 1º, III), com o direito à honra, à intimidade e à vida privada (CF, art. 5º, X) converter em instrumento de diversão ou entretenimento assuntos de natureza tão íntima quanto falecimentos, padecimentos ou quaisquer desgraças alheias, que não demonstrem nenhuma finalidade pública e caráter jornalístico em sua divulgação. (grifou-se)

E conclui:

Assim, não existe qualquer dúvida de que a divulgação de fotos, imagens ou notícias apelativas, injuriosas, desnecessárias para a informação objetiva e de interesse público(CF, art. 5º, XIV) que acarretem injustificado dano à

181

MATO GROSSO. REsp 531335. Recurso Especial 2003/0042513-0. Recorrente: Sérgio Bermudes. Recorrido: Evandro Stábile. O dano moral deve ser visto como violação do direito à dignidade[...]conhecido em parte e provido. Relatora: Ministra Nancy Andrighi. Disponível em: <http://www.stj.jus.br/SCON/jurisprudencia/toc.jsp?tipo_visualizacao=null&livre=dano+moral+inviol abilidade+da+vida+privada&b=ACOR>. Acesso em: 09 nov. 2010.

182

RIO DE JANEIRO. Apelação Cível n.0047119-71.2008.8.19.0001. Apelante: Luis Gustavo Braga de Farias. Apelado: Editora O Dia S/A. Apelação cível. Ação indenizatória por danos morais, em face de publicação supostamente ofensiva à honra do autor [...] Reportagem de cunho meramente informativo e narrativo. Dano moral não caracterizado. Recurso improvido. Relator: Carlos José Martins Gomes. Disponível em:

<http://www.tjrj.jus.br/scripts/weblink.mgw?MGWLPN=DIGITAL1A&PORTAL=1&PGM=WEBJRP10 3xNU&LAB=JURxWEB&N=201000132959&ORIGEM=1&ANOTIPO=201001&NUMERO=32959&E ME=1&PROCFOR=2010.001.32959&CNJ=0047119-71.2008.8.19.0001^N>. Acesso em 09 nov. 2010.

dignidade humana autoriza a ocorrência de indenização por danos materiais e morais, além do respectivo direito à resposta. (grifou-se)

Desse modo, não estando o fato noticiado qualificado como de interesse

social, e relevado as ponderações acerca da personalidade pública envolvida, cabe-

se a indenização moral e/ou material expressamente disposta no artigo 5º, inciso X

da Carta Magna, que postula:

Art. 5º Todos são iguais perante a lei [...]:

X - são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação.183

E, amparado no inciso V do mesmo artigo, que regula: “Art. 5º Todos são

iguais perante a lei [...] V - é assegurado o direito de resposta, proporcional ao

agravo, além da indenização por dano material, moral ou à imagem.

184

Com relação ao direito de resposta, nota-se que o mesmo não extingue a

medida repressiva indenizatória, nessa linha Bulos destaca:

O direito de resposta está orientado pelo critério da proporcionalidade, isto é, a resposta deve ser assegurada no mesmo meio de comunicação em que o agravo foi veiculado, e dever ter o mesmo destaque e a mesma duração (se em meio sonoro ou audiovisual) ou tamanho (se em meio escrito). Deve-se ressaltar que o direito de resposta não afasta o direito à indenização.185

Moraes, inspirado em Bielsa, complementa:

[...] fatos que, mesmo sem configurar crimes, acabam por afetar a reputação alheia, a honra ou o bom nome da pessoa, além também de vulnerarem a verdade, cuja divulgação é de interesse geral. O cometimento desses fatos pela imprensa deve possibilitar ao prejudicado instrumentos que permitam o restabelecimento da verdade, de sua reputação e de sua honra, por meio do chamado exercício do chamado direito de réplica ou de resposta.186

Tutela ainda o legislador, frente ao Código Civil no caput do artigo 20, a

indenização ao indivíduo que tem sua honra, boa fama ou respeitabilidade

afrontadas em decorrência de manifestação jornalística não autorizada, assim:

Art. 20. Salvo se autorizadas, ou se necessárias à administração da justiça ou à manutenção da ordem pública, a divulgação de escritos, a transmissão da palavra, ou a publicação, a exposição ou a utilização da imagem de uma pessoa poderão ser proibidas, a seu requerimento e sem prejuízo da

183

BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil, de 05 de outubro de 1988. Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituiçao.htm>. Acesso em: 09 nov. 2010. 184

BRASIL, loc. cit. 185

BULOS, 2010, p. 117. 186

indenização que couber, se lhe atingirem a honra, a boa fama ou a respeitabilidade, ou se se destinarem a fins comerciais.187

Assim caracterizado como ato ilícito, visto que traz danos patrimoniais e

extra-patrimoniais ao ofendido, garante ainda o diploma cível, frente à violação dos

artigos 186 e 187, seja pelo ato ilícito em si como no primeiro, ou no extrapolar de

direito auferido como no segundo, este, devidamente identificado com a liberdade de

imprensa, é devida a obrigação em reparar o dano causado, imposta pelo artigo 927,

caput, do mesmo diploma:

“Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou

imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral,

comete ato ilícito.”

188

“Art. 187. Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-

lo, excede manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico ou social,

pela boa-fé ou pelos bons costumes.”

189

Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo.

Parágrafo único. Haverá obrigação de reparar o dano, independentemente de culpa, nos casos especificados em lei, ou quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco para os direitos de outrem.190

Remetendo-se à esfera penal, o agente causador do dano incorre nos

delitos previstos no capítulo V do Código Penal

191

, que compreende os crimes contra

a honra do indivíduo, que ferem-lhe a dignidade, o decoro e a reputação frente a

sociedade, quais sejam a calúnia, a difamação e a injúria.

Desse modo, manifestada a notícia de caráter difamatório, tutela o Estado

o direito de o ofendido, sem custo algum, exercer seu direito de replicar as afrontas

que lhe feriram a personalidade e a dignidade, remarque-se bem, que o efetivo

direito de resposta não exime o ofensor da indenização moral e/ou material que

acaso venha a sofrer em virtude manifestação prosaica em relação à sua pessoa.

Paulo e Alexandrino trazem a reflexão de Moraes:

187

BRASIL. Lei nº. 10.406, de 10 de janeiro de 2002.

Institui o código civil.

Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/2002/L10406.htm>. Acesso em: 10 nov. 2010. 188

BRASIL, loc. cit. 189

BRASIL, loc. cit. 190

BRASIL, loc. cit. 191

“Art. 138 - Caluniar alguém, imputando-lhe falsamente fato definido como crime. Art. 139 - Difamar alguém, imputando-lhe fato ofensivo à sua reputação. Art. 140 - Injuriar alguém, ofendendo-lhe a dignidade ou o decoro”. BRASIL, loc. cit.

Conforme salienta Alexandre de Moraes, a liberdade de expressão deve ser exercida com responsabilidade e o seu desvirtuamento para o cometimento de fatos ilícitos, civil ou penalmente, possibilitará aos prejudicados plena e integral indenização por danos materiais e morais, além do efetivo direito de resposta.192

Bulos acrescenta um conceito conciso, porém formidável, em relação ao

dano moral, “Detectado pela mágoa profunda ou constrangimento de toda espécie,

que deprecia o ser humano gerando-lhes lesões extra patrimoniais”.

193

E acrescenta, relacionando intimamente com o objetivo do presente, “O

dano moral indenizável é o que atinge a esfera íntima da vítima, agredindo seus

valores, humilhando e causando dor.”

194

Da mesma ADPF

195

que declara a inconstitucionalidade da lei nº

5.250/67, extrai-se, acerca da valoração do princípio da proporcionalidade quando

da fixação do quantum indenizatório por parte do magistrado:

5.RESPONSABILIDADE CIVIL POR DANOS MORAIS E MATERIAIS. Sem embargo, a excessividade indenizatória é, em si mesma, poderoso fator de inibição da liberdade de imprensa, em violação ao princípio constitucional da proporcionalidade. A relação de proporcionalidade entre o dano moral ou material sofrido por alguém e a indenização que lhe caiba receber (quanto maior o dano maior a indenização) opera é no âmbito interno da potencialidade da ofensa e da concreta situação do ofendido. Nada tendo a ver com essa equação a circunstância em si da veiculação do agravo por órgão de imprensa, porque, senão, a liberdade de informação jornalística deixaria de ser um elemento de expansão e de robustez da liberdade de pensamento e de expressão lato sensu para se tornar um fator de contração e de esqualidez dessa liberdade. Em se tratando de agente público, ainda que injustamente ofendido em sua honra e imagem, subjaz à indenização uma imperiosa cláusula de modicidade. Isto porque todo agente público está sob permanente vigília da cidadania. E quando o agente estatal não prima por todas as aparências de legalidade e legitimidade no seu atuar oficial, atrai contra si mais fortes suspeitas de um comportamento antijurídico francamente sindicável pelos cidadãos. 196

Com relação aos critérios a serem observados pelo magistrado, de acordo

ao princípio da proporcionalidade decidiu o Superior Tribunal de Justiça:

DANO MORAL. REPARAÇÃO. CRITÉRIOS PARA FIXAÇÃO DO VALOR. CONDENAÇÃO ANTERIOR, EM QUANTIA MENOR.

Na fixação do valor da condenação por dano moral, deve o julgador atender a certos critérios, tais como nível cultural do causador do dano; condição

192 PAULO; ALEXANDRINO, 2008, p. 117. 193 BULOS, 2010, p. 552. 194 Ibid, p. 552. 195

Ação de Descumprimento de Preceito Fundamental. 196

BRASIL. ADPF 130/DF. Distrito Federal. Argüição de descumprimento de preceito fundamental. Relator: Min. Carlos Britto Julgamento: 30/04/2009 Órgão Julgador: Tribunal Pleno. Disponível em: <http://www.stf.jus.br/portal/jurisprudencia/listarJurisprudencia.asp?s1=proporcionalidade+ENTRE +LIBERDADE+DE+IMPRENSA+E+RESPONSABILIDADE+CIVIL+POR+DANOS+MORAIS+E+MA TERIAIS&base=baseAcordaos>. Acesso em: 09 de Nov. 2010.

sócio-econômica do ofensor e do ofendido; intensidade do dolo ou grau da culpa (se for o caso) do autor da ofensa; efeitos do dano no psiquismo do ofendido e as repercussões do fato na comunidade em que vive a vítima. Ademais, a reparação deve ter fim também pedagógico, de modo a desestimular a prática de outros ilícitos similares, sem que sirva, entretanto, a condenação de contributo a enriquecimentos injustificáveis.

Verificada condenação anterior, de outro órgão de imprensa, em quantia bem inferior, por fatos análogos, é lícito ao STJ conhecer do recurso pela alínea c do permissivo constitucional e reduzir o valor arbitrado a título de reparação. Recurso conhecido e, por maioria, provido.197

E, na tipificação da ilicitude do ato proferido de forma injuriosa, bem como

de sua devida responsablização, proferiu o Supremo:

EMENTA: INDENIZAÇÃO. Responsabilidade civil. Lei de Imprensa. Dano moral. Publicação de notícia inverídica, ofensiva à honra e à boa fama da vítima. Ato ilícito absoluto. Responsabilidade civil da empresa jornalística. Limitação da verba devida, nos termos do art. 52 da lei 5.250/67. Inadmissibilidade. Norma não recebida pelo ordenamento jurídico vigente. Interpretação do art. 5º, IV, V, IX, X, XIII e XIV, e art. 220, caput e § 1º, da CF de1988. Recurso extraordinário improvido. Toda limitação, prévia e abstrata, ao valor de indenização por dano moral, objeto de juízo de equidade, é incompatível com o alcance da indenizabilidade irrestrita assegurada pela atual Constituição da República. Por isso, já não vige o disposto no art. 52 da Lei de Imprensa, o qual não foi recebido pelo ordenamento jurídico vigente.198

Manifestando-se o Tribunal de Justiça do nosso estado deliberou, de

forma conexa à predominância da dignidade da pessoa humana quando em rota de

colisão ao direito à informação:

APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANO MORAL. DIVULGAÇÃO DE FOTOGRAFIA CONSTRANGEDORA EM LOCAL PÚBLICO SEM A AUTORIZAÇÃO DO APELANTE. COMENTÁRIOS JOCOSOS DE AMIGOS E COLEGAS DE TRABALHO. DANOS MORAIS CONFIGURADOS. REPERCUSSÃO NEGATIVA DA PERSONALIDADE. CONFLITO DE DIREITOS FUNDAMENTAIS. OBSERVÂNCIA AOS PRINCÍPIOS DA PROPORCIONALIDADE E RAZOABILIDADE. PREPONDERÂNCIA DO PRINCÍPIO DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA. IMPOSSIBILIDADE DA LIMITAÇÃO DA INDENIZAÇÃO PELA LEI DE IMPRENSA DIANTE DE SUA INCOMPATIBILIDADE COM A CONSTITUIÇÃO FEDERAL. QUANTIFICAÇÃO DOS DANOS MORAIS. PONDERAÇÃO DA GRAVIDADE DO DANO, CULPA DO OFENSOR E SITUAÇÃO ECONÔMICA DAS PARTES. RECURSO PROVIDO.

197

RIO DE JANEIRO. REsp 355392. Recurso especial 2001/0137595-0. Recorrente: Grupo de Comunicação Três S/A. Recorrido: Victor Augusto Duarte Fasano. Na fixação da condenação por dano moral [...] conhecido e, por maioria provido. Relatora: Nancy Andrighi. Disponível em: <http://www.stj.jus.br/SCON/jurisprudencia/toc.jsp?tipo_visualizacao=null&livre=dano+moral+honr a+imagem+intimidade&b=ACOR>. Acesso em: 10 nov. 2010.

198

RIO DE JANEIRO. REex 447584. Recurso extraordinário. Recorrente: Jornal do Brasil S/A. Recorrido: José Paulo Bisol. Publicação de notícia inverídica, ofensiva à honra e à boa fama da vítima [...] por isso já não vige o disposto no artigo 52 da Lei de Imprensa, o qual não foi recebido

No documento Privacidade versus informação (páginas 60-105)

Documentos relacionados