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Privacidade versus informação

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Academic year: 2021

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(1)

UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA

TALES DAROS

PRIVACIDADE VERSUS INFORMAÇÃO: A PRESERVAÇÃO DA DIGNIDADE

DA PESSOA HUMANA FRENTE À GARANTIA CONSTITUCIONAL

DA DIVULGAÇÃO DA INFORMAÇÃO

Tubarão,

2010

(2)

TALES DAROS

PRIVACIDADE VERSUS INFORMAÇÃO: A PRESERVAÇÃO DA DIGNIDADE

DA PESSOA HUMANA FRENTE À GARANTIA CONSTITUCIONAL

DA DIVULGAÇÃO DA INFORMAÇÃO

Monografia

apresentada

à

disciplina

de

Metodologia da Pesquisa Jurídica, do Curso de

Direito, como requisito parcial à obtenção do

título de Bacharel em Direito.

Orientador: Prof. José Paulo Bittencourt Júnior, Esp.

Tubarão,

2010

(3)

TALES DAROS

PRIVACIDADE VERSUS INFORMAÇÃO: A PRESERVAÇÃO DA DIGNIDADE

DA PESSOA HUMANA FRENTE À GARANTIA CONSTITUCIONAL

DA DIVULGAÇÃO DA INFORMAÇÃO

FOLHA DE APROVAÇÃO

Esta monografia foi julgada adequada à

obtenção do título de Bacharel em

Direito e aprovada em sua forma final

pelo Curso de Direito.

Universidade do Sul de Santa Catarina.

Tubarão, 22 de novembro de 2010.

EXAMINADOR:

a) Trabalho escrito _______________________ (______) (nota máxima 10,0)

b) Apresentação oral _____________________ (______) (nota máxima 4,0)

c) Argüição

______________________________ (______) (nota máxima 6,0)

EXAMINADOR:

a) Trabalho escrito

_______________________ (______) (nota máxima 10,0)

b) Apresentação oral _____________________ (______) (nota máxima 4,0)

c) Argüição

______________________________ (______) (nota máxima 6,0)

ORIENTADOR:

____________________________________________

Professor Eron Pinter Pizolatti

, ______

______________________________________________

Professor Ronaldo Amorim Sant’Anna, Mst.

______________________________________________

Professor José Paulo Bittencourt Júnior, Esp.

(4)

DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho ao tio Val (in

memoriam).

(5)

AGRADECIMENTOS

A Deus, ser supremo e de energia inesgotável, aonde busquei e busco

diariamente toda a inspiração da minha vida.

Aos meus avós maternos, Sebastião Lourenço de Lima e Zelma

Zandonadi de Lima, almas límpidas e puras, que dedicaram suas vidas em torno da

construção de sua família e sempre impuseram à todos o real valor do trabalho, da

honestidade, da compaixão, do caráter e do amor incondicional.

À minha tia, Gisele de Lima, que nas horas mais difíceis demonstrou-me

que grandes conquistas só triunfariam quando superadas as maiores dificuldades.

Ao meu tio, Carlos Ivan de Lima, homem de imensurável valor, e que

solenemente guia-me a cada obstáculo superado, com um sorriso regado de mérito

e orgulho.

Aos meus pais, Leonel João Daros e Gislene Regina de Lima, que mesmo

na ausência, fizeram sua parte, sem os quais eu não estaria aqui.

Ao meu anjo Dih, que mesmo na distância soube-me aconchegar com a

melodia de sua voz transpondo palavras afetivas e carinhosas, trazendo-me

equilíbrio e determinação.

Aos meus amigos, em especial à Larissa, a irmã que eu não tive.

Ao professor Antônio Minguetti, mestre que esteve ao meu lado quando

eu mais achei que tudo estava perdido, ensinamentos que levarei para a vida toda.

A meu orientador, professor José Paulo Bittencourt Júnior, que com

grande maestria sempre me trouxe a chave das portas quando elas se fechavam.

Aos meus mestres, que durante essa jornada acadêmica trouxeram-me

uma percepção singular acerca de quão importante é o Direito, trazendo-me um

dinamismo em observar o mundo de outro plano.

A todos que de certa maneira colaboraram para que este sonho se

tornasse realidade.

(6)

“Age de tal maneira que uses a humanidade, tanto na tua pessoa como na de

qualquer outro, sempre e simultaneamente como fim e nunca simplesmente como

meio” (Kant).

(7)

RESUMO

Analisa os limites impostos pelo interesse público à livre manifestação do

pensamento mostrando as repercussões da violação à honra, já que a imprensa, de

forma grave, invade e viola preceitos constitucionais que dizem respeito aos direitos

de personalidade. Busca-se, dessa forma, compreender os limites que devem ser

obedecidos pela imprensa diante da proteção dos direitos de personalidade. Assim

sendo, o estudo tem como objetivo conhecer a linha divisória entre o direito à

informação e o direito à inviolabilidade da vida privada. Adota o método de

abordagem indutivo amparado pelo método de procedimento monográfico, sendo

que o diálogo com o campo do estudo foi construído envolvendo as técnicas de

pesquisa bibliográfica, por consulta a fontes secundárias (doutrina) e por exame às

fontes primárias (legislação e jurisprudência). Os resultados da pesquisa mostram

que o direito à informação e o direito à privacidade pertencem a uma parte da

realidade do direito constitucional brasileiro que se mostra conflituosa e, por

conseguinte, pode resultar em embates no judiciário. Das conclusões alcançadas

destaca-se que a atual norma constitucional brasileira, que trouxe os princípios e

garantias fundamentais como pilares centrais do Estado Democrático de Direito, veio

ao encontro das transformações pelas quais a sociedade contemporânea passa, e

isso pressupõe o respeito ao princípio da dignidade humana, que deve ser

preservado por amor à democracia, à igualdade e à solidariedade, bem como por

respeito ao ordenamento jurídico pátrio como condição principal para que se

construa uma sociedade melhor, mais justa, livre e isenta de desigualdades.

Palavras-chave: Princípios constitucionais. Direito à informação. Direito à

privacidade. Veículo de comunicação. Ética na informação.

(8)

ABSTRACT

It analyses the limited imposed by public interest to free manifestation of thoughts

showing the repercussions of honor violation, provided that the press, in a serious

way, invades and violates constitutional precepts related to personality rights. This

way, a search takes place to understand the limits to be obeyed by the press before

the protection of personality rights. Therefore, the study has the goal of knowing the

dividing line between the right to information and the right to respect for private life. It

uses the inductive approach method supported by the monographic procedure

method, providing that the dialog with the study field was built involving bibliographic

research techniques, by secondary sources query (doctrines) and by primary sources

examination (legislation and jurisprudence). The results of the research show that the

right to information and the right of privacy belong to a part of the Brazilian

constitutional law reality that reveals itself as conflictual and, consequently, can

generate shock of ideas in the judiciary. Among the conclusions achieved, the one

that stands out is that the actual Brazilian constitutional rule, that brought the

fundamental principles and assurance as central pillars of the Democratic State of

Law, meets the transformations which the contemporary society is going through and

this presupposes respect to the principle of human dignity, that should be preserved

under the love to democracy, equality and solidarity, as well as under respect to

national juridical ordainment as main condition to the construction of a better society,

fairer, free and without inequalities.

Key-words: Constitutional principles. Right to information. Right of privacy. Means of

transportation. Ethics in information.

(9)

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ... 11

2 DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS ... 14

2.1 PERSPECTIVA HISTÓRICA: DOS DIREITOS NATURAIS DO HOMEM AOS

DIREITOS FUNDAMENTAIS CONSTITUCIONAIS ... 14

2.1.1 Perspectiva histórica dos direitos fundamentais frente às Constituições

da República Federativa do Brasil ... 19

2.2 DIREITOS FUNDAMENTAIS X GARANTIAS INDIVIDUAIS ... 21

2.3 CONCEITO DE DIREITOS FUNDAMENTAIS E DIREITOS HUMANOS ... 22

2.4 CLASSIFICAÇÃO DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS (1ª A 4ª GERAÇÃO) ... 24

2.4.1 Direitos fundamentais da primeira geração ... 25

2.4.2 Direitos fundamentais da segunda geração ... 26

2.4.3 Direitos fundamentais da terceira geração ... 27

2.4.4 Direitos fundamentais da quarta geração ... 28

2.5 PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS, COM ESPECIAL ATENÇÃO AO PRINCÍPIO DA

DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA ... 29

3 DIREITOS E DEVERES INDIVIDUAIS ... 33

3.1 DOS DIREITOS DA PERSONALIDADE ... 33

3.1.1 Do direito à intimidade ... 33

3.1.2 Do direito à vida privada ... 34

3.1.3 Do direito à honra ... 35

3.1.4 Do direito à imagem ... 36

3.1.5 Do direito à privacidade ... 37

3.2 DOS DIREITOS À COMUNICAÇÃO E À INFORMAÇÃO ... 39

3.2.1 Do direito à liberdade de comunicação, evolução histórica e noção ... 39

3.2.2 Meios de comunicação social ... 41

3.2.3 Do direito à informação ... 43

3.2.4 Liberdade de informação em geral ... 44

3.2.5 Liberdade de manifestação do pensamento ... 45

4 LIMITES À LIBERDADE DE IMPRENSA FRENTE AOS DIREITOS DA

PERSONALIDADE ... 48

(10)

4.2 COLISÕES DE DIREITOS FUNDAMENTAIS, EQUILÍBRIO HARMÔNICO NA

SOLUÇÃO ... 53

4.3 LIMITES À LIBERDADE DE IMPRENSA, FRENTE À VIOLAÇÃO DA

DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA ... 58

4.4 RESPONSABILIDADE POR DANOS AOS DIREITOS PERSONALÍSSIMOS ... 61

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 75

REFERÊNCIAS ... 79

ANEXOS ... 85

Anexo A – Lei nº 5.250/67, 30 de abril de 2009 – Lei de imprensa ... 86

Anexo B – Matéria de capa do jornal Folha de São Paulo, de 25 de outubro de

2010 ... 104

(11)

1 INTRODUÇÃO

Em países que alcançaram o status de Estado Democrático de Direito,

não são raros os conflitos entre normas, entre princípios ou entre princípios e

normas constitucionais. Nesse sentido, o estudo busca verificar, na diplomacia maior

da Carta Política, o que ocorre entre a liberdade de imprensa e a inviolabilidade da

vida privada ou, noutros termos, o campo de exame delimitado para o estudo incide

sobre questões relacionadas ao direito à privacidade e o direito à informação diante

da preservação da dignidade da pessoa humana e da garantia constitucional da

divulgação da informação.

Nesse sentido, é importante observar não ser incomum que, ao se abrir

as páginas de um jornal ou ao assistir-se a um noticiário televisivo, matérias

envolvendo personagens formadoras de opinião, pessoas públicas, tenham

expostas a sua imagem, a vida privada, a honra ou a intimidade. Note-se, esses

eventos são contrários aos direitos invioláveis garantidos pelo art. 5º, inc. X, da

Carta.

1

Nessa esteira, por extensão, consequentemente, vêm os escândalos

motivados por um sem número de fatos que vão desde a negligência, imprudência

ou imperícia de agentes do Estado, até a usurpação dos valores postos à

individualidade como, relacionamentos extraconjugais, envolvimento com o

narcotráfico, dentre outros inúmeros exemplos.

Por esse conceito é que o estudo tem como objeto os limites impostos

pelo interesse público à livre manifestação do pensamento mostrando as

repercussões da violação à honra, já que a imprensa (falada ou escrita), de forma

grave, invade e viola preceitos constitucionais que dizem respeito aos direitos de

personalidade. Assim sendo, busca-se compreender os limites que devem ser

obedecidos pela imprensa diante da proteção dos direitos de personalidade.

A liberdade de imprensa informa que um Estado é Democrático e de

Direito porque o Estado assegura liberdade de expressão a todos os seus cidadãos.

1

BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil, de 05 de outubro de 1988. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituiçao.htm>. Acesso em: 09 nov. 2010.

(12)

Referentemente, segundo o art. 5º, inc. IX, da Constituição Federal de 1988, é livre a

manifestação de comunicação, independente de licença ou censura

2

.

Nesse mesmo eixo segue o inc. XIV, artigo retro, que assegura sigilo à

fonte reveladora ao mesmo tempo em que assegura, a todos, o direito à

informação

3

. Diante do embate entre ambos os dispositivos citados, a imprensa,

como veículo transmissor da informação, quando administrada por mentes falhas,

pode tornar-se uma arma poderosa e legitimada à invadir a privacidade e denegrir a

imagem do cidadão.

Em face do exposto restam algumas perguntas difíceis de silenciar, dentre

as quais elegeram-se as seguintes à pesquisa: Quais limites estabelecem a linha

divisória entre o direito à informação e o direito à inviolabilidade da vida

privada? Até que ponto o direito à privacidade do indivíduo é respeitado na

divulgação da informação? Quais os objetivos do veículo de informação, seus

deveres e obrigações perante a ética na informação?

A importância do estudo está no fato de o tema ser objeto de debate por

conta do conflito que há entre normas constitucionais, uma vez que a tese levantada

pelos dois setores são antagônicas e, portanto, resultam entendimentos diferentes.

Dessa fora, o interesse em estudar o assunto se deve à curiosidade despertada em

observação a questões inerentes a realidade fática.

Sabe-se que problemas relacionados têm merecido atenção de técnicos e

especialistas que se dedicam ao setor de interesse do estudo. Assim sendo,

pretende-se que a discussão acerca do tema possa render contribuições para o esclarecimento

de aspectos controversos, bem como um novo ponto de vista acerca do assunto.

Nessa perspectiva, a relevância teórica se respalda na probabilidade de

se clarificar questões doutrinárias e jurisprudenciais relativamente aos problemas de

pesquisa acima formulados. E, noutra instância, deixar contribuições tanto para o

meio acadêmico quanto para o meio jurídico e a sociedade em geral.

Para dar ação à pesquisa foram determinados os seguintes objetivos:

geral – conhecer a linha divisória entre o direito à informação e o direito à

inviolabilidade da vida privada. Específicos: a) comparar os princípios constitucionais

referente ao conflito constitucional estabelecido; b) identificar até que ponto o direito

a privacidade do indivíduo é respeitado na divulgação da informação; c) demonstrar

2

BRASIL, loc. cit. 3

(13)

os objetivos reais dos veículos de comunicação, seus deveres e obrigações perante

a ética da informação.

Referentemente ao delineamento metodológico, informa-se que o estudo

foi construído com base no método de abordagem indutivo conjugado ao método de

procedimento monográfico, segue amparado por técnicas tipicamente utilizadas em

pesquisas de natureza bibliográfica para o estabelecimento de diálogo com o campo

do estudo. Com base no desenho metodológico traçado, o estudo resultou numa

estrutura de cinco capítulos, através dos quais pretende-se atingir os objetivos acima

pautados e superar algumas das limitações particulares aos trabalhos científicos.

(14)

2 DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS

Os direitos fundamentais do homem foram atribuídos de forma natural e

evolutiva, na medida em que o convívio social se fazia necessário ao

desenvolvimento da sociedade como um todo. Destes, o princípio da dignidade

humana assume relevo ímpar, por se tratar os direitos fundamentais como

conseqüência da dignidade do ser.

2.1 PERSPECTIVA HISTÓRICA: DOS DIREITOS NATURAIS DO HOMEM AOS

DIREITOS FUNDAMENTAIS CONSTITUCIONAIS

Os direitos individuais do homem eclodiram no terceiro milênio a.C., na

região do Egito antigo e Mesopotâmia, através de algumas normas que relativizavam

a influência do Estado frente a questões individuais do ser humano. O código de

Hammurabi, por volta de 1690 antes de Cristo, é a compilação mais antiga de

normas tratando de direito comum a todos os homens, tais como a vida, a

propriedade, a honra, a dignidade, a família e a conseqüente hegemonia desses

princípios em relação ao Estado. Mais tarde, por volta de 500 antes de Cristo,

uniu-se a esuniu-se rol de direitos personalíssimos a igualdade entre os homens, propagado

pelas idéias de Buda.

4

Na Grécia antiga, em razão de vários estudos, destacou-se a necessidade

da igualdade e liberdade dos cidadãos, e como estes podiam contribuir ao

desenvolvimento da polis perante a política. Ainda na Grécia diversos pensadores,

principalmente sofistas e estóicos, implantaram na sociedade a crença da existência

de um direito natural não escrito e imutável, superior às leis escritas.

5

Não obstante, foi na Roma antiga que se firmou com realce a tutela dos

direitos individuais em relação ao Estado, trazendo a estes valores imperiosos e

4

MORAES, Alexandre. Direitos humanos fundamentais: comentários aos arts. 1º a 5º da Constituição da República Federativa do Brasil. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2000, p. 24-25. 5

WEBER, Tadeu. Ética, direitos fundamentais e obediência à Constituição. In: SARLET, Ingo Wolfgang (Org.); MICHELMAN, Frank I.; MACHADO, Jónatas E. M. et. al. A eficácia dos direitos fundamentais. Porto Alegre: Livraria do dvogado, 1998, p. 38.

(15)

incontestáveis, por meio da lei das doze tábuas, que consagrou à nossa realidade

atual direitos como a liberdade, a propriedade e o amparo aos direitos do cidadão.

6

Posteriormente os direitos humanos foram avigorados pela forte influência

trazida pelo cristianismo, sob a idéia de igualdade entre os homens,

independentemente de origem, raça, sexo ou credo, e como estes são de extrema

relevância perante a preservação da dignidade da pessoa humana, dignidade esta

que fundamenta a verdadeira razão de ser na essência do indivíduo em um moderno

estado constitucional de direito.

7

A partir do século XVI as doutrinas jusnaturalistas foram de fundamental

teor na solidificação dos direitos fundamentais, de particular e irrefutável importância

foi o pensamento de Santo Tomás De Aquino, que além de pregar a concepção

cristã de igualdade entre os homens perante Deus, ainda trazia a concepção de

duas ordens distintas, formadas pelo direito natural e o direito positivo, a primeira

trazida como expressão da racionalidade humana e a segunda como uma forma de

reprimir os casos de desobediência por parte dos governantes em relação a este

direito natural, com o exercício do direito de resistência por parte da população.

8

No séculos XVII e XVIII, em paralelo ao cume da doutrina jusnaturalista

atingida por conta das teorias contratualistas, o direito natural culminou de uma vez

por todas no movimento iluminista, este com total inspiração jusracionalista, e por

idealizadores como Thomas Hobbes (1588 – 1679) e mais tarde por John Locke

(1632-1704), ambos formadores da base da doutrina individualista e jusracionalista,

traziam consigo a idéia de que os homens, por conta de sua razão e vontade, têm o

poder de organizar o Estado e a sociedade,tendo os governados total vinculação na

relação autoridade-liberdade. Tal movimento vingou no constitucionalismo, a

significância dos direitos de liberdade do indivíduo e o limite imposto ao poder

estatal perante estes.

9

Na lição de Perez Luño, “com Locke a defesa dos direitos naturais à vida,

à liberdade e à propriedade converteu-se na finalidade precípua da sociedade civil e

em princípio legitimador do governo.”

10

Grandes nomes marcaram a difusão da idéia jusnaturalista, base do

6 MORAES, 2000, p. 24-25. 7 SARLET, 1998, p. 39. 8 Ibid., p. 39. 9 Ibid., p. 40. 10

(16)

movimento iluminista pelo mundo todo, na França Rousseau (1712 – 1778), Thomas

Paine (1737-1809) na América, este com destaque a popularização em sua obra da

expressão “direitos do homem” ao invés do remoto “direitos naturais”, e, na

Alemanha o irrefutável Kant (1724–804), que para muitos doutrinadores foi o marco

destaque desta fase histórica dos direitos humanos.

11

Ingo Wolfgang Sarlet separa, em seus ensinamentos, a imagem dos

ensinamentos de Kant trazido por Luño, que assim destaca-se:

Para Kant, todos os direitos estão abrangidos pelo direito de liberdade, direito natural por excelência, que cabe a todo homem em virtude de sua própria humanidade, encontrando-se limitado apenas pela liberdade coexistente dos demais homens.12

Os direitos fundamentais do homem, em sua fase de nascimento,

transpuseram inúmeras etapas de concretização em relação à significância e

relevância perante à sociedade, o mesmo adveio, com relação ao seu ajuste perante

a esfera do direito positivo, para isto, inúmeras foram as codificações elaboradas ao

longo do tempo até chegar a magnificência da Declaração Dos Direitos do Homem,

assinada em Paris em 1948.

Dentre estas, as de maior realce e consideradas o berço dos direitos

fundamentais foram elaboradas na Inglaterra, onde pode-se frisar a Magna Charta

Libertatum, de 1215, a Petition of Right, de 1628, o Habeas Corpus Act, de 1679, o

Bill of Rights, de 1689, e o Act of Seattlemente, de 1701.

13

Todas referidas traziam consigo valores que mais tarde eclodiriam em

grandes princípios do direito moderno, como o devido processo legal, a

proporcionalidade entre delito e sanção, o livre acesso à justiça, a liberdade de

entrada e saída do país de origem e o reforço do imponível princípio da legalidade.

Em seguida e não menos relevante, na linha de reconhecimento dos

direitos fundamentais do homem, a Revolução dos Estados Unidos da América

trouxe legados como a Declaração de Direitos da Virgínia e a Declaração de

Independência dos Estados Unidos Da América, de 1776, simultâneo a Constituição

dos Estados Unidos da América, de 1787.

14

Estas, além de reforçarem princípios fundamentais citados anteriormente

11 SARLET, 1998, p. 41. 12 Ibid., p. 41. 13 MORAES, 2000, p. 24-25. 14 Ibid., p. 27.

(17)

com relação às codificações inglesas, proclamaram direitos humanos como o direito

à vida, à liberdade e à propriedade, bem como a limitação dos direitos estatais

perante os individuais, merecendo grifo à Declaração de Direitos da Virgínia que

apregoou em sua seção I,o direito à liberdade de imprensa.

A glorificação dos direitos fundamentais do homem perante o direito

positivo, contudo, coube à França, que em 1789, por meio de sua assembléia

nacional promulgou a Declaração dos Direitos Humanos Fundamentais, legado este

que transmitiu à sociedade moderna inúmeros direitos vitais ao ser humano, que

consagraram-se com a publicação da Constituição Francesa por volta de 1793,que

além de trazer novas formas de controle estatal, regulamentou de forma expressa os

direitos fundamentais do homem, merecendo destaque a igualdade, a liberdade, a

livre manifestação de pensamento, a liberdade de imprensa,a presunção de

inocência, o devido processo legal, entre outros.

15

Diante de mensurável valor histórico ao positivismo dos direitos

fundamentais do homem, cabe-se a transcrição do preâmbulo deste extraordinário

legado:

O povo francês, convencido de que o esquecimento e o desprezo dos direitos naturais do homem são as causas das desgraças do mundo, resolveu expor, numa declaração solene, esses direitos sagrados e inalienáveis, a fim de que todos os cidadãos, podendo comparar sem cessar os atos do governo com a finalidade de toda a instituição social, nunca se deixem oprimir ou aviltar pela tirania; a fim de que o povo tenha sempre perante os olhos as bases da sua liberdade e da sua felicidade, o magistrado a regra dos seus deveres, o legislador o objeto da sua missão. Por conseqüência, proclama, na presença do Ser supremo, a seguinte declaração dos direitos do homem e do cidadão.16

A efetivação de tais direitos por conta de tão solene glorificação, manteve

a linhagem de preocupação do legislador com relação à valoração dos direitos

fundamentais do homem mesmo diante do constitucionalismo liberal do século XIX,

tendo como exemplos a Constituição espanhola, em 1812, a Constituição

portuguesa em 1822, a Constituição belga em 1831 e a Declaração francesa em

1848, todas aprimorando a herança deixada pela corte francesa no século XVIII, e

encabeçando uma nova forma de direitos fundamentais direcionada à parte social

como um todo; ênfase à Constituição portuguesa, que trouxe à tona o direito a

inviolabilidade de domicílio,à livre comunicação de pensamentos e à inviolabilidade

15

MORAES, 2000, p. 28. 16

(18)

da comunicação de correspondência.

17

Ao século XX, reserva-se mediante legados como a Constituição

mexicana em 1917, a Constituição de Weimar, em 1919, a Declaração Soviética dos

Direitos do Povo Trabalhador e Explorado de 1918, seguida pela Constituição

Soviética no mesmo ano e por final a Carta do Trabalho, editada pelo Estado

Fascista italiano em 1927; a intensa preocupação destas em estender os direitos

fundamentais do homem ao meio social como um todo, abrangendo religião, direitos

socioeconômicos, direitos dos trabalhadores e incumbindo total responsabilidade do

Estado à pureza, à saúde e o desenvolvimento social da família.

18

A evolução histórica de proteção dos direitos humanos, trouxe ao mundo

moderno a necessidade primordial e eficaz da preservação destes frente à

comunidade internacional como um todo, para tanto, inicia-se por meio de

declarações sem caráter vinculativo, que mais tarde se tornariam tratados

internacionais na intenção de obrigar os países que assim aderissem, ao

cumprimento das normas neles estabelecidas.

Destarte, elaborou-se a partir da previsão da carta da ONU em 1944, a

necessidade da formação de uma comissão dos Direitos Humanos, visando a prévia

necessidade dos estados membros na preservação destes, assim, sob a presidência

de Eleonor Roosevelt, brota a Declaração Universal Dos Direitos Do Homem que

conforme preceitua Moraes:

[...] a Declaração Universal dos Direitos do Homem afirmou que o reconhecimento da dignidade humana inerente a todos os membros da família humana e de seus direitos iguais e inalienáveis é o fundamento da liberdade da justiça e da paz no mundo, bem como que o desprezo e o desrespeito pelos direitos da pessoa resultaram em ato bárbaros que ultrajaram a consciência da Humanidade e que o advento de um mundo em que as pessoas gozem de liberdade de palavra, de crença e de liberdade de viverem a salvo do temor e da necessidade tem sido a mais alta aspiração do homem comum.19

Composta de 30 artigos, a Declaração Universal dos Direitos do Homem,

foi adotada e proclamada pela Resolução nº 217 A (III) da Assembléia Geral da

ONU, que em 10 de dezembro de 1948 ratificou a valoração enquadrada à

dignidade e valor da pessoa humana, bem como na igualdade de direitos entre

ambos os sexos, visando à evolução da sociedade como um todo em um estado de

17 MORAES, 2000, p. 28. 18 Ibid., p. 30-31. 19 Ibid., p. 36.

(19)

vasta liberdade.

20

Vale ressaltar dentre inúmeros princípios valorados, os preceitos

norteadores do presente estudo, a inviolabilidade à honra, à imagem e à vida

privada.

Conclui Piovesan, a Declaração “vem a atestar o reconhecimento

universal dos direitos humanos fundamentais, consagrando um código comum a ser

seguido por todos os estados”.

21

O Brasil aderiu à Declaração Universal dos Direitos Humanos na própria

data de sua retificação pela ONU, ostentando assim a estimação frente à dignidade

da pessoa humana na conservação de seus preceitos fundamentais.

2.1.1 Perspectiva histórica dos direitos fundamentais frente às Constituições

da República Federativa do Brasil

O Brasil, desde a política imperial, sempre tratou de reverenciar em suas

Constituições a importância com relação à significância do tema, direitos

fundamentais do seres humanos.

A Constituição do império, declarada em 25 de março de 1824, trazia um

título inteiro de teor relacionado à garantia de direitos civis e políticos de cidadãos

brasileiros, em seus 35 incisos do artigo 179 da referida Carta Magna, já se

consagravam direitos e garantias individuais, como: o princípio da igualdade e

legalidade, livre manifestação de pensamento, inviolabilidade de domicílio, liberdade

religiosa, respeito á dignidade do preso, inviolabilidade de correspondências, direito

de petição, dentre outros, que sem sombra de dúvidas já demonstravam a

relativização do poder do estado frente aos interesses individuais.

22

A intitulação de um rol de direitos fundamentais, abordado na fase

imperial, foi novamente declarada pela primeira constituição republicana em 1891,

que, além dos direitos e garantias individuais trazidos pela carta anterior, abordou

em seu artigo 72 princípios importantes como a ampla defesa, a abolição da pena de

20

MORAES, 2000, p. 36. 21

PIOVESAN, Flávia. Direitos humanos e direito constitucional internacional. São Paulo: Max Limonad, 1996, p. 176.

22

(20)

morte, a instituição de júri, o habeas corpus, dentre outras garantias sociais e

socioeconômicas.

23

A praxe das constituições brasileiras preverem um capítulo a respeito de

garantias e direitos foi mantida pela carta de 1934, que em seus 38 incisos do artigo

113 vislumbrou um rol de direito fundamentais, dentre os principais e tão relevantes

quanto os demais, a irretroatividade da lei penal,o ato jurídico perfeito e a coisa

julgada, o direito adquirido, os direitos do autor na reprodução de obras literárias,

artísticas e científicas, a assistência judiciária gratuita, o mandado de segurança e a

ação popular.

24

A Constituição de 1937, apesar de promulgada em meio a características

políticas ao período, além da repetição dos direitos fundamentais clássicos, trouxe

inovações, prevendo 17 incisos em seu artigo 222 que realçava; a impossibilidade

da aplicação de penas perpétuas, a criação de um tribunal competente para julgar

crimes que atentassem contra existência, a segurança e a integridade do Estado e a

guarda e emprego da economia popular.

25

Porém, a Constituição de 1946 reproduziu o que promulgado até então

pelas outras constituições com relação aos direitos e garantias fundamentais, exceto

no caput de seu artigo 141, onde frisou uma nova redação, que após seria utilizada

pelas cartas que assim a sucederiam, inclusive a atual, proclamando de antemão a

garantia à inviolabilidade dos direitos relativos à vida, à liberdade, à segurança

individual e à propriedade, e tratou de absorver, em decorrência da tendência do

momento, direitos sociais relativos aos trabalhadores e empregados, bem como

trouxe a concessão de mandado de segurança, o contraditório, dentre outros.

26

A Constituição de 1967, seguiu a tradição brasileira de enumeração

exemplificativa com relação aos direitos vitalícios, continuando com o legado,

trazendo à tona, além dos direitos e garantias individuais já firmados pelas suas

precursoras, novidades como: sigilo das comunicações telefônicas e telegráficas,

respeito à integridade física e moral do detento e do presidiário, previsão de

competência mínima para o tribunal do júri,entre outras.

27

Emanada de um período de forte autoritarismo que traçou os

21 anos do

23 MORAES, 2000, p. 33. 24 Ibid., p. 33. 25 Ibid., p. 33. 26 Ibid., p. 33. 27 Ibid., p. 33-34.

(21)

regime militar no nosso país, a Magna Carta de 1988, resultado de uma

redemocratização do país após o período militarista, trouxe aos cidadãos brasileiros

muito mais que um tracejar de preceitos pátrios inerentes a um fidedigno Estado

Democrático de Direito, a principiar pela positivação dos direitos fundamentais logo

em seguida do seu preâmbulo, trazendo assim maior rigor lógico à notabilidade

destes frente à ordem constitucional e jurídica, bem como a inserção da terminologia

“direitos e garantias fundamentais”, que nas cartas precedentes traziam “direitos e

garantias individuais”, além de auferir a estes aplicabilidade imediata, qualificação

esta que excluiu o cunho programático imposto pelas constituições anteriores.

28

2.2 DIREITOS FUNDAMENTAIS X GARANTIAS INDIVIDUAIS

Trouxe-nos a Carta Magna de 1988 um título inteiro de teor, Direitos e

Garantias Fundamentais, porém em momento algum abordou o legislador quais as

diferenças existentes entre direitos e garantias, e qual a melhor solução a ser

adotada pelo aplicador do direito quando do embate entre estas.

Diversos doutrinadores diferenciam direitos de garantias fundamentais a

principiar, é indispensável trazer a lição do mestre Barbosa, citado por Moraes, que

traz a separação das disposições de caráter declaratório, as quais estampam nas

leis direitos reconhecidos, das disposições assecuratórias, que são as que agem de

forma à propiciar segurança ao cumprimento dos direitos declarados, em relação ao

poder.

29

Moraes ainda destaca a imagem da doutrina de Canotilho

Para Canotilho, rigorosamente, as clássicas garantias são também direitos, embora muitas vezes se salientasse nelas o caráter instrumental de proteção dos direitos. As garantias traduzem-se quer no direito dos cidadãos a exigir dos poderes públicos a proteção dos seus direitos, quer no reconhecimento de meios processuais adequados a essa finalidade.30

A mesma discrepância traz Miranda, ao relacionar direitos como bens de

caráter individual e garantias como meios de assegurar tais direitos:

28

SARLET, 1998, p. 65-69. 29

MORAES, Alexandre. Direito constitucional. 20. ed. São Paulo: Atlas, 2006, p. 28. 30

(22)

Clássica e bem atual é a contraposição dos direitos fundamentais, pela sua estrutura, pela sua natureza e pela sua função, em direitos propriamente ditos ou direitos e liberdades, por um lado, e garantias por outro lado. Os direitos representam por si só certos bens, as garantias destinam-se a assegurar a fruição desses bens; os direitos são principais, as garantias acessórias e, muitas delas adjetivas(ainda que possam ser objeto de um regime constitucional substantivo); os direitos permitem a realização das pessoas e inserem-se direta e imediatamente, por isso, as respectivas esferas jurídicas, as garantias só nelas se projetam pelo nexo que possuem com os direitos; na acepção jusracionalista inicial, os direitos declaram-se, as garantias estabelecem-se.31

Dessa forma, cumpre-se a anotação de que direitos são bens da vida,

essencialmente tudo que o indivíduo pode gozar, é um direito, e estes possuem

caráter totalmente autônomo em relação às garantias, que, trazem postura

instrumental e acessória e visam assegurar o gozo desse direito por meio de

instrumentos previstos na norma jurídica.

2.3 CONCEITO DE DIREITOS FUNDAMENTAIS E DIREITOS HUMANOS

No decorrer da história, inúmeras foram as terminologias utilizadas na

definição dos direitos fundamentais e direitos humanos, apesar da doutrina

freqüentemente tratar ambos como sinônimos, é clara sua distinção utilizando-se de

argumentos objetivos e conclusivos.

Sarlet, inspirado na doutrina de Canotilho, destaca, “o termo direitos

fundamentais se aplica para aqueles direitos do ser humano, reconhecidos e

positivados na esfera do direito constitucional de determinado estado

32

.”

O qualificativo fundamental é explanado por José Afonso Da Silva como:

[...] trata de situações jurídicas sem as quais a pessoa humana não se realiza, não convive e, às vezes, nem mesmo sobrevive; fundamentais do homem no sentido de que a todos, por igual, devem ser, não apenas formalmente reconhecidos, mas concreta e materialmente efetivados.33

Assim, cumpre salientar o fato de que, os direitos fundamentais vêm a ser

uma positivação da norma jurídica frente a uma sociedade democrática de direito,

31

MIRANDA, Jorge. Manual de direito constitucional. 4. ed. Rio de Janeiro:Coimbra, 1990, p. 138. 32

SARLET, 1998, p. 31. 33

SILVA, Afonso José. Curso de direito constitucional positivo. 29. ed. São Paulo: Malheiros, 2007, p. 178.

(23)

que assevera a preservação e valoração da dignidade do indivíduo acima de

qualquer direito; diversamente dos direitos humanos que, guiado por Jorge Miranda,

Sarlet anota:

[...]a expressão direitos humanos guardaria relação com os documentos de direito internacional, por referir-se àquelas posições jurídicas que se reconhecem ao ser humano como tal, independentemente de sua vinculação com determinada ordem constitucional, e que, portanto, aspiram à validade universal, para todos os povos e tempos, de tal sorte que revelam um inequívoco caráter supra nacional(internacional).34

Moraes registra a ótica de José Castan Tobeñas, que define direitos

humanos como:

[...] aqueles direitos fundamentais da pessoa humana - considerada tanto em seu aspecto individual como comunitário – que correspondem a esta em razão de sua própria natureza (de essência ao mesmo tempo corpórea, espiritual e social) e que devem ser reconhecidos e respeitados por todo poder e autoridade, inclusive as normas jurídicas positivas, cedendo, não obstante, em seu exercício, ante as exigências do bem comum.35

Desse modo, cumpre-se ressaltar a estimação devidamente proposta a tal

direito, visto que, trata-se o mesmo de valores intrínsecos na personalidade do

indivíduo sem os quais impossível assegurar o amparo a dignidade da pessoa

humana.

Diante do exposto, constata-se que as expressões, direitos fundamentais

e direitos humanos possuem acepções diferentes, porém, reconhecer tal diversidade

não significa desprezar a afetuosa relação existente entre ambos, sendo que, os

direitos personalíssimos garantidores da dignidade do indivíduo só serão

reverenciados internacionalmente, quando de sua necessária positivação por meio

da institucionalização da norma jurídica que realizar-se-á por conta da

materialização constitucional presente em uma sociedade democrática de direito que

garante e abriga de forma intransponível a dignidade da pessoa humana.

36

Desse modo, a doutrina moderna, no escopo de perpetrar a concepção

de que os direitos humanos por si constituem caráter fundamental, tem destacado o

uso da expressão direitos fundamentais do homem, relevando assim, a nítida

intenção em ressaltar a importância de certos valores e reivindicações essenciais de

todos os seres humanos, por conta do reconhecimento dos mesmos diante da

34 SARLET, 1998, p. 31. 35 MORAES, 2000, p. 40. 36

(24)

fundamentalidade material, ensejando assim uma veneração e garantia de

cumprimento por parte do estado à nível internacional.

37

Nesse sentido Silva registra:

Direitos fundamentais do homem constitui a expressão mais adequada a este estudo, porque, além de referir-se a princípios que resumem a concepção do mundo e informam a ideologia política de cada ordenamento jurídico, é reservada para designar, no nível do direito positivo, aquelas prerrogativas e instituições que ele concretiza em garantias de uma convivência digna, livre e igual de todas as pessoas

.

38

Como melhor técnica, trazemos o conceito de Luño, apresentado por

Moraes. Segundo aquele autor, os direitos fundamentais do homem são:

[...] um conjunto de faculdade e instituições que, em cada momento histórico, concretizam as exigências da dignidade, da liberdade e da igualdade humanas, as quais devem ser reconhecidas positivamente pelos ordenamentos jurídicos em nível nacional e internacional.39

Portanto incumbe-se realçar a devida importância de instituir um

conceito que compreenda a real valoração dos direitos personalíssimos do

indivíduo, envolvendo este não só o esclarecimento dos devidos valores

intransponíveis na pessoa, como também sua positivação perante o sistema

governamental.

2.4 CLASSIFICAÇÃO DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS (1ª A 4ª GERAÇÃO)

Os direitos fundamentais do homem, no decorrer de sua existência

transpuseram por distintas transformações, relativas ao seu conteúdo, titularidade e

efetividade.

40

Preliminarmente, cabe-se destacar o surgimento de três gerações,

respectivamente relacionadas à liberdade, à igualdade e à fraternidade, que,

conjugadas formam o idealismo revolucionário dos franceses no séc. XVIII. A

doutrina moderna, com a devida maturação, da relação do fenômeno jurídico e a

sociedade em si, instituiu a existência de uma quarta, havendo ensinamentos de até

37 SARLET, 1998, p. 33. 38 SILVA, 2007, p. 178. 39 MORAES, 2000, p. 40. 40

(25)

mesmo uma quinta geração.

41

2.4.1 Direitos fundamentais da primeira geração

Marcado pelo pensamento individualista liberal-burguês do séc. XVIII

surge, a limitação da influência estatal na vida singular do indivíduo.

Nesse sentido Sarlet empunha a lição de Paulo Bonavides, “direitos de

resistência ou de oposição perante o estado”.

42

Sendo estes de cunho intransponível

por parte do poder público, correspondendo a individualidade de cada ser humano,

nesse entendimento a lição de Mota e Barchet, “São os direitos individuais que

consagram as liberdades individuais, impondo limitações ao poder de legislar do

estado. Necessariamente estão inseridos no texto constitucional e decorrem da

evolução do direito natural[...]”.

43

Salienta-se a inclusão a esses direitos uma série de liberdades

relacionadas a manifestação do pensamento coletivo, bem como direitos políticos e

da sociedade impor sua decisão de forma democrática em relação ao seus

representantes, nesse sentido Sarlet leciona:

Assumem particular relevo no rol desses direitos, especialmente pela sua notória inspiração jusnaturalista, os direitos à vida, à liberdade, à liberdade, à propriedade e à igualdade perante a lei. São posteriormente complementados por um leque de liberdades, incluindo assim as denominadas liberdades de expressão coletiva(liberdades de expressão, imprensa, manifestação, reunião, associação, etc.) e pelos direitos de participação política, tais como o direito de voto e a capacidade eleitoral passiva[...].44

Em suma, o mesmo autor ainda destaca a lição de Bonavides, “cuida-se

dos assim chamados direitos civis e políticos, que, em sua maioria, correspondem a

fase inicial do constitucionalismo ocidental.’’

45

Assim, atribui-se a esta geração, como o embrião formador da essência

41

MOTTA, Sylvio; BARCHET Gustavo. Curso de direito constitucional. 2. ed. Rio de Janeiro: Campus Jurídico, 2009, p. 94.

42

BONAVIDES apud SARLET, 1998, p. 48. 43

MOTTA; BARCHET, op. cit., p. 94. 44

SARLET, 1998, p. 48. 45

(26)

personalíssima de cada indivíduo, âmago este que resguarda a dignidade da pessoa

humana.

2.4.2 Direitos fundamentais da segunda geração

Os direitos fundamentais da primeira geração apesar de consagrar

formalmente a individualidade do ser humano não se ocuparam em absorver a

garantia de seu efetivo gozo, decorrendo-se assim já no séc. XIX a imposição ao

comportamento funcional do estado na realização da justiça social, caracterizados

pelo direito do indivíduo de postular perante o poder público prestações sociais,

como assistência social, saúde, educação, trabalho, etc.

46

Leciona Silva, acerca dos direitos sociais:

[...]prestações positivas proporcionadas pelo Estado direta ou indiretamente, enunciadas nas normas constitucionais que possibilitam melhores condições de vida aos mais fracos, direitos que tendem a realizar a igualização das situações sociais desiguais. São, portanto, direitos que se ligam a idéia de igualdade. Valem como pressupostos do gozo dos direitos individuais na medida em que criam condições materiais mais propícias ao auferimento da igualdade real, o que, por sua vez proporciona condição mais compatível com o exercício efetivo da liberdade.47

Moraes, ao enfatizar os direitos fundamentais da segunda geração,

tratou-os como direitos sociais, econômicos e culturais, e anotou a lição de

Themistocles Brandão Cavalcanti:

[...] o começo do nosso século viu a inclusão de uma nova categoria de direitos nas declarações e, ainda mais recentemente, nos princípios garantidores da liberdade das nações e das normas de convivência internacional. Entre os direitos chamados sociais, incluem-se aqueles relacionados com o trabalho, o seguro social, a subsistência, o amparo à doença, à velhice, etc.48

Porém, a concretização desses direitos somente se efetivaria se o ente

estatal, disposto de prerrogativas próprias, cedesse à postura inerte concebida nos

direitos de primeira geração e transpusesse a atuar de forma ativa afim de,

consumar a igualdade formalizada em época

anterior, em igualdade material, real,

46 SARLET, 1998, p. 49. 47 SILVA, 2007, p. 286-287. 48

(27)

efetiva.

49

Deste modo, compete-se a tal geração, a devida significância, frente à

garantia de que os direitos personalíssimos trazidos pela primeira geração sejam

efetivamente usufruídos de forma igualitária entre todos os homens.

2.4.3 Direitos fundamentais da terceira geração

A conseqüente evolução natural da sociedade como um todo,

desencadeou a necessidade de uma norma jurídica influenciável no campo coletivo,

que abrangesse interesses gerais e comuns a cada ser formador da “polis”

50

.

Sarlet, inspirado na doutrina de Celso Lafer, confere ao terceiro lema

formador do movimento ideológico revolucionária francês o seguinte:

Também denominados de direitos de fraternidade ou de solidariedade, trazem como nota distintiva o fato de se desprenderem em princípio, da figura do homem-indivíduo como seu titular, destinando-se à proteção de grupos humanos (família, povo, nação), e caracterizando-se, conseqüentemente como direitos de titularidade coletiva ou difusa.51

Essa essência indeterminável abrange intrinsecamente os direitos ao

meio ambiente equilibrado, uma saudável qualidade de vida, ao progresso, à paz, à

autodeterminação dos povos e a outros direitos inerentes ao bem comum, não seria

contraditório afirmar-se que, o direito a comunicação encontra nessa dimensão

evolutiva do direito, seu respaldo jurídico.

52

O Senhor Ministro Celso De Melo proclamou em sessão solene:

[...]os direitos de terceira geração, que materializam poderes de titularidade coletiva atribuídos genericamente a todas as formações sociais, consagram o princípio da solidariedade e constituem um momento importante no processo de desenvolvimento, expansão e reconhecimento dos direitos humanos, caracterizados enquanto valores fundamentais e indisponíveis, pela nota de uma essencial inexauribilidade.53

Com relação a positivação dessas normas faz-se necessário uma análise

de que, ressalvadas exceções, ainda há muito de se evoluir no que tange à

49

MOTTA; BARCHET, 2009, p. 95. 50

SILVA, De Plácido e. Vocabulário jurídico. 25. ed. rev. e atual. Rio de Janeiro, 2004, p. 378. 51

SARLET, 1998, p. 50. 52

MORAES, 2006, p. 26-27. 53

(28)

constitucionalidade dessa garantia suprema, seguindo assim a pós-evolução iniciada

pelo direito internacional, que consagra esse legado por conta de inúmeros tratados

e outros documentos transnacionais nesta seara.

54

Desse modo, conclui-se a significância trazida por este período evolutivo,

frente à preocupação com o interesse comum, este solidário a todos.

2.4.4 Direitos fundamentais da quarta geração

Concernente ao desenvolvimento social, que ocorre de forma natural e

incoercível, a norma jurídica intuindo uma harmoniosa relação junto à evolução

científica, tecnológica e social que vise primordialmente à preservação da dignidade

da pessoa humana, concebeu a formação do quarto plano evolutivo dos direitos

fundamentais.

Desse entendimento parte-se a lição de Motta e Barchet:

Essa geração se ocupa do redimensionamento de conceitos e limites biotecnológicos, rompendo a, cada nova incursão científica, paradigmas e, por fim operando mudanças significativas no modo de vida de toda a humanidade. Urge a necessidade de seu reconhecimento para que não fique o mundo jurídico apartado da evolução científica.55

Sarlet sucinto e objetivo, guiado na doutrina do notável professor Paulo

Bonavides, sustenta, “que esta é o resultado da globalização dos direitos

fundamentais, no sentido de uma universalização no plano institucional,

correspondente a derradeira fase de institucionalização do Estado Social”.

56

A positivação dessa norma jurídica, assim como na terceira geração

encontra problemáticas no campo de constitucionalização, embora sua

internacionalização já encontrar-se em um campo mais estável e sólido, a partir da

Declaração Universal da ONU. Constata-se a existência de uma nova fase,

caracterizada pela universalidade simultaneamente abstrata e concreta, com o

reconhecimento de direitos inerentes a todos os homens, de forma geral e

individual.

57

54 SARLET, 1998, p. 51. 55 MOTTA; BARCHET, 2009, p. 96. 56

SARLET, op. cit., p. 53. 57

(29)

Oportunamente com relação a essa universalidade, registra o Prof.

Bonavides:

[...] procura, enfim, subjetivar de forma concreta e positiva os direitos da tríplice geração na titularidade de um indivíduo que antes de ser homem deste ou daquele país, de uma sociedade desenvolvida ou subdesenvolvida, é pela condição de pessoa um ente qualificado por sua pertinência ao gênero humano, objeto daquela universalidade.58

Com o desenvolvimento técnico científico, cada vez mais incontrolável,

permeou a doutrina a existência de uma quinta geração, que abrangeria os direitos

inerentes da evolução da sociedade em geral, evitando assim a existência de um

abismo entre o campo jurídico e a sociedade cada vez mais pródiga.

Assim, cumpre-se estabelecer a necessidade imperial de manter a norma

jurídica essa relação singular com a evolução da sociedade como um todo,

garantindo a tão necessária busca pelo progresso, regida por uma norma condizente

e eficaz, prudentemente direcionada à preservação da dignidade da pessoa

humana.

2.5 PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS, COM ESPECIAL ATENÇÃO AO PRINCÍPIO DA

DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA

A base de um Estado Democrático de Direito, consiste em uma prima

concepção constitucional, de princípios abstratos pertinentes à formação do Estado

em geral, de antemão cumpre-se ressaltar que o tema disposto neste subtítulo

comporia uma infinidade de trabalhos científicos, restringindo-se este estudo a uma

análise sintética de princípios fundamentais, permitindo-se um maior realce ao

princípio da dignidade da pessoa humana.

O âmago da concepção de princípio, trazida por Luís-Diez Picazo trazido

por Bonavides, que a palavra princípio deriva da linguagem geométrica, “onde

designa as verdades primeiras”.

59

Também traz o mestre Bonavides uma extraordinária conceituação de

princípios, utilizando-se do vocábulo formado por Clement, “Princípio de direito é o

pensamento diretivo que domina e serve de base à formação das disposições

58

BONAVIDES apud SARLET, 1998, p. 58. 59

PICAZO apud BONAVIDES, Paulo. Curso de direito constitucional. 22. ed. São Paulo: Malheiros, 2008, p. 255.

(30)

singulares de Direito de uma instituição jurídica, de um código, ou de todo um Direito

Positivo.”

Em

outra explanação, Bonavides emprega a conceituação trazida por

Crisafulli:

Princípio é, com efeito, toda norma jurídica, enquanto considerada como determinante de uma ou de muitas subordinadas, que a pressupõem, desenvolvendo e especificando ulteriormente o preceito em direções mais particulares (menos gerais), das quais determinam, e portanto resumem, potencialmente, o conteúdo: sejam pois, estas efetivamente postas, sejam, ao contrário apenas dedutíveis do respectivo princípio geral que as contém.60

Atraído à seara constitucional, Silva utiliza-se da definição ordenadora

trazida pelo constitucionalista Jorge Miranda com relação aos princípios

fundamentais, bem como de sua aplicação imediata, frente à capacidade de afeiçoar

as relações político-constitucionais, lecionando o último que, “[...]a ação imediata dos

princípios consiste, em primeiro lugar, em funcionarem como critério de interpretação

e de integração, pois são eles que dão coerência geral ao sistema.”

61

Em uma nação, onde a democracia e o direito são os instrumentos

formadores do estado, o princípio da dignidade da pessoa humana é postulado no

texto constitucional, subseqüentemente aos princípios definidores da forma e

estruturação da entidade estatal, realçando-se assim a sua significância desde sua

origem.

Nesse sentido, Sarlet explana em uma paráfrase fantástica, inspirada em

Bleckmann, relacionando-se à posição firmada pelo constituinte,“[...]reconheceu

expressamente que é o Estado que existe em função da pessoa humana, e não o

contrário, já que o homem constitui a finalidade precípua, e não meio da atividade

estatal.”

62

Além disso, segue por conta da proposta formulada pelo Professor Vieira

De Andrade, da Universidade de Coimbra, identificando a incondicional relação

existente entre o princípio da dignidade da pessoa humana e os direitos

fundamentais atribuindo a estes, formação em conseqüência de uma manifestação

da valoração da dignidade do ser humano, e sua efetivação se fará quando do

devido reconhecimento e positivação destes.

63

60

BONAVIDES, 2008, p. 257. 61

MIRANDA apud SILVA, 2006, p. 95-96. 62

SARLET, 1998, p. 100. 63

(31)

Nesse sentido conclui:

Em primeiro lugar, parece oportuna a menção – de modo especial à luz de nosso direito constitucional positivo – de que se revela no mínimo passível de discussão a qualificação do princípio da dignidade da pessoa humana, considerando em si mesmo, como um autêntico direito fundamental autônomo, em que pese sua importante função, seja como elemento referencial para a aplicação e interpretação dos direitos fundamentais (mas não só destes), seja na condição de fundamento para a dedução de direitos fundamentais decorrentes.64

Assim, firmado o entendimento dessa íntima relação, Moraes conceitua o

termo dignidade da seguinte forma:

[...] a dignidade é um valor espiritual e moral inerente a pessoa, que se manifesta singularmente na autodeterminação consciente e responsável da própria vida e que traz consigo a pretensão ao respeito por parte das demais pessoas, constituindo-se um mínimo invulnerável que todo estatuto jurídico deve assegurar [...].65

Sarlet incorpora à terminologia dignidade, como qualidade intrínseca do

indivíduo, algo que unicamente existe dotada de irrenunciabilidade e

inalienabilidade, constituindo assim elemento qualificador do ser humano, não se

cogitando a possibilidade de determinado indivíduo auferir ambição com relação a

esta.

66

Para Silva, ”a dignidade da pessoa humana é um valor supremo que atrai

o conteúdo de todos os direitos fundamentais do homem, desde o direito à vida.”

67

E ainda, utilizando-se da concepção de Gomes Canotilho e Vital Moreira,

pronuncia:

Concebido como referência constitucional unificadora de todos os direitos fundamentais, o conceito de dignidade da pessoa humana obriga a uma densificação valorativa que tenha em conta o seu amplo sentido normativo-constitucional e não uma qualquer idéia apriorística do homem, não podendo reduzir-se o sentido da dignidade humana à defesa dos direitos pessoais tradicionais, esquecendo-a no caso nos casos de direitos sociais, ou invocá-lo para construir ‘teoria do núcleo da personalidade’ individual, ignorando-a quando se trate de garantir as bases da existência humana.68

Sarlet, conclui em uma citação objetiva e de completude imensurável que,

“[...] que o princípio da dignidade da pessoa humana constitui o reduto intangível de

64 SARLET, 1998, p. 98. 65 MORAES, 2000, p. 60. 66

SARLET, op. cit., p. 104. 67

SILVA, 2006, p. 105. 68

(32)

cada indivíduo e, neste sentido, a última fronteira contra quaisquer ingerências

externas.”

69

Com relação ao âmbito abrangido pelo princípio da dignidade da pessoa

humana, Sarlet, com base em grandes juristas alemães como, Höfling e Maunz-

Sippelius, acrescentou:

Também a garantia da identidade(no sentido de autonomia e integridade psíquica e intelectual) pessoal do indivíduo constitui umas das principais expressões do princípio da dignidade da pessoa humana, concretizando-se, dentre outros aspectos, na liberdade de consciência, de pensamento, de culto, na proteção da intimidade, da honra, da esfera privada, enfim, de todo que seja associado ao livre desenvolvimento de sua personalidade, bem como ao direito de autodeterminação sobre os assuntos que dizem respeito à sua esfera particular, assim como à garantia de um espaço privativo no âmbito do qual o indivíduo se encontra resguardado contra ingerências na sua esfera pessoal.70

Nesse mesmo sentido Moraes dissipa:

O direito à vida privada, à intimidade, à honra, à imagem, dentre outros, aparecem como conseqüência imediata da consagração da dignidade da pessoa humana como fundamento da República Federativa do Brasil. Esse fundamento afasta a idéia de predomínio das concepções transpessoalistas de Estado e Nação, em detrimento da liberdade individual.71

A dignidade da pessoa humana é valor intrínseco à personalidade do

indivíduo, direito fundamental constituído e positivado de relevância singular em um

Estado Democrático de Direito que priva pela essencialidade da pessoa, no escopo

da mantença da ordem social, econômica e política.

69

SARLET, op. cit., p. 112. 70

SARLET, 1998, p. 108. 71

(33)

3 DIREITOS E DEVERES INDIVIDUAIS

Em decorrência da evolução jurídica no âmbito privado do indivíduo, bem

como da comunicação social, na plenitude de um seguro desenvolvimento da

sociedade; os direitos fundamentais inerentes a personalidade, à informação e a

liberdade compreendem por si uma natureza conflitante.

3.1 DOS DIREITOS DA PERSONALIDADE

Os direitos da personalidade constituem, o conjunto de direitos individuais

em torno da esfera privada do indivíduo, em caráter direto, como no caso da

privacidade, ou indireto, como no direito à honra.

3.1.1 Do direito à intimidade

A intimidade do indivíduo constitui um plano de individualidade de cada

ser humano, constituído pelas relações mais íntimas concernentes a um ser

humano.

Moraes emprega o irrefutável comentário de Manoel Gonçalves Ferreira

Filho acerca da intimidade, “Assim, intimidade relaciona-se às relações subjetivas e

de trato íntimo da pessoa, suas relações familiares e de amizade [...].”

72

Com relação a reserva trazida à esta esfera pessoal do indivíduo, Paulo

José da Costa Junior guiado pelo jurista italiano Pugliesi, ressalta “[...] não é o direito

de ser reservado, ou de comportar-se com reserva, mas o direito de manter

afastados dessa esfera de reserva olhos e ouvidos indiscretos, e o direito de impedir

a divulgação de palavras, escritos e atos realizados nessa esfera [...].”

73

72

FERREIRA FILHO apud MORAES, 2006, p. 48. 73

COSTA JUNIOR, Paulo José da. O direito de estar só: a tutela penal do direito à intimidade. 3. ed. São Paulo: Siciliano Jurídico, 2004, p. 54.

(34)

Desse modo, cumpre-se ressaltar que a intimidade é

um sentimento que

germina no âmago pessoal de cada indivíduo, nos ensinamentos de Miguel

Urabayen, “o coração do coração de cada pessoa”.

74

E ainda, a conclusão apresentada pelo jurista Jean Carbonnier, “a

intimidade se caracteriza como a esfera secreta da vida do indivíduo na qual este

tem o poder legal de evitar os demais.”

75

Em harmonia segue a lição de Adriano de Cupis, retocada por José

Afonso Da Silva, “[...] o modo de ser da pessoa que consiste na exclusão do

conhecimento de outrem de quanto se refira à pessoa mesma. Abrange nesse

sentido mais restrito, a inviolabilidade do domicílio, o sigilo da correspondência, o

segredo profissional.”

76

Assim, tem-se que a intimidade da pessoa humana, é um direito

composto por caracteres próprios, não sendo admissível sua relação ou comparação

com os demais, visto sua unicidade e subjetividade.

3.1.2 Do direito à vida privada

A intromissão alheia na vida do indivíduo é composta por um plano

exterior e mais abarcante que o âmbito íntimo pessoal, constituindo uma extensão

deste, bem como sua valoração frente à sociedade civil.

Nesse sentido, Pedro Frederico Caldas, traz a lição de Costa Junior, “Na

proteção da vida privada, ao contrário, cogita-se da inviolabilidade da personalidade

dentro do seu retiro, necessário ao seu desenvolvimento e evolução, em seu mundo

particular, à margem da vida exterior.”

77

Na concepção de Dotti:

[...] a vida privada abrange todos os aspectos que por qualquer razão não gostaríamos de ver cair no domínio público; é tudo aquilo que não deve ser objeto do direito à informação nem da curiosidade da sociedade moderna que, para tanto, conta com aparelhos altamente sofisticados.78

74

URABAYENA apud DOTTI, René Ariel. Proteção da vida privada e liberdade de informação: possibilidade e limites. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1980, p. 68.

75

CARBONNIER apud DOTTI, 1980, p. 69. 76

SILVA, 2007, p. 207. 77

CALDAS, Pedro Frederico. Vida privada, liberdade de imprensa e dano moral. São Paulo: Saraiva, 1997, p. 54.

78

Referências

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