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CAPÍTULO 2: ESTRUTURA CONCEPTUAL

2.2 PROBLEMA SOCIAL: DESIGUALDADE DE GÉNERO

2.2.2 RESPONSABILIDADE SOCIAL DAS EMPRESAS

“Apesar das mulheres já estarem largamente envolvidas na vida profissional, este campo continua a registar significativas desigualdades de género”49, afirmam

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GUERREIRO, Maria das Dores, PEREIRA, Inês (2006), Responsabilidade Social das Empresas, Igualdade

Maria das Dores Guerreiro e Inês Pereira, identificando três tipos de segregação no trabalho: horizontal50, transversal51 e vertical52.

Mas também os homens são discriminados no meio profissional, pois “dispõem de licenças de paternidade muito mais curtas e são, frequentemente, pressionados para não as usufruírem”53. Isto sucede porque nem as empresas, nem a sociedade, aprovam que os homens passem a assumir papéis tradicionalmente atribuídos às mulheres no plano familiar. Com efeito, a maioria das respostas recolhidas junto dos entrevistados corresponde a esta realidade.

Relacionando este tema com os usos do tempo, estudos realizados sobre a ocupação deste recurso revelam que as mulheres se mantém as principais responsáveis pelas tarefas domésticas. A participação dos homens continua a ser inferior e de carácter mais especializado e supletivo. A explicação deste fenómeno está na dupla jornada de trabalho das mulheres (dentro e fora de casa) e no afastamento das tarefas domésticas pelos homens, dada a estigmatização profissional de que podem ser alvo.

Assim, conclui-se que “tanto mulheres como homens enfrentam problemas de conciliação entre o trabalho profissional e a vida familiar”54 – se elas correm o risco de serem socialmente conotadas como “más mães”, eles são rotulados de maus profissionais (e, porventura, “pouco homens”). As necessidades de conciliar trabalho e família “tendem a refletir-se na maior dificuldade de progressão de carreira por parte das mulheres, já que o modelo ideal-típico do profissional competente, dominante na maioria das organizações, continua a ser o do homem sem responsabilidades

50 A segregação horizontal consiste na concentração de homens e mulheres em profissões diferentes

fortemente “genderizadas”. Ou seja, as mulheres tendem para actividades-prolongamento das tarefas domésticas cuidadoras, muitas vezes mal remuneradas e socialmente pouco valorizadas.

51 A segregação transversal também concentra as mulheres, já não em profissões, mas em sectores de

actividade economicamente mais frágeis e publicamente menos reconhecidos, como a administração pública ou as PME.

52 A segregação vertical corresponde ao tema em análise neste trabalho, os denominados “tectos de

cristal” (barreiras invisíveis que dificultam a ascenção das mulheres ao topo das respectivas carreiras profissionais).

53 GUERREIRO, Maria das Dores, PEREIRA, Inês (2006), pág. 11. 54 GUERREIRO, Maria das Dores, PEREIRA, Inês (2006), pág. 12.

familiares, que ameacem a sua disponibilidade para o exercício de uma profissão”55. De novo, o conteúdo das 20 entrevistas realizadas corresponde a esta realidade.

Dado este desequilíbrio de género no mercado laboral, instituiram-se políticas de promoção da igualdade procurando: conseguir o mesmo peso de homens e mulheres em todas as categorias profissionais; criar processos equitativos de recrutamento; atingir uma progressiva atenuação da “genderização” de certas categorias profissionais; alcançar o mesmo valor das remunerações para homens e mulheres; obter igual acesso a ações de formação profissional e de educação ao longo da vida; estabelecer situações contratuais equivalentes para homens e mulheres; e assegurar o pleno gozo das licenças paternais por ambos os progenitores.

Os responsáveis pela concretização destas políticas em Portugal podem ser de natureza governamental (União Europeia, Governo, poder local e autárquico, CIG e CITE) ou advirem da sociedade civil (ONG’s, escolas, órgãos de comunicação social, empresas, famílias e os próprios indivíduos). Dentro do primeiro grupo, o Estado tem quatro papéis fundamentais nesta área: definir os quadros legais que regem família e trabalho; fiscalizar e prevenir a discriminação em função do género; criar serviços de apoio à conciliação trabalho-família e promover a formação para a igualdade, bem como divulgar boas práticas nesta área.

Embora seja um país mediterrânico, Portugal tem traços que o distinguem dos seus pares: a elevada percentagem de mulheres trabalhadoras a tempo inteiro, as políticas de reforço do Estado-providência (incentivadas por fundos comunitários nos anos 80) e o destaque dado à conciliação entre trabalho e família ao integrá-la na agenda política, colocaram o País em destaque face a Espanha, Itália ou Grécia. Contudo, “verifica-se que tem havido alguma dificuldade na efetivação do que é preconizado nas declarações de princípios e na legislação entretanto elaborada”56.

Nas empresas, públicas e privadas, “ainda se mantém problemas de ordem estrutural e cultural na implementação de normas e dispositivos de promoção da igualdade que permitam aos trabalhadores conciliar a vida profissional com a vida

55 GUERREIRO, Maria das Dores, PEREIRA, Inês (2006), pág. 12. 56

familiar”57. Nas famílias, “os papéis sociais femininos estão particularmente associados ao contexto familiar verificando-se que, mesmo inseridas no mercado de trabalho, continuam a ser as mulheres as principais responsáveis pelos afazeres domésticos”58.

Profissionalmente, é hoje inegável que as organizações tendem a ser mais flexíveis, desreguladas e individualizadas das condições de trabalho, devido ao próprio funcionamento da economia globalizada. Portugal tem, a este nível, uma composição muito heterogénea, pois se 95% das empresas são de pequena ou média dimensão, com estas coexistem sectores económicos altamente modernizados e competitivos. Esta disparidade vai traduzir posições muito diferentes quanto à igualdade entre homens e mulheres no mercado laboral: “Se, nalguns casos, o próprio tópico da igualdade de género tende a impor-se na agenda organizacional conduzindo a novas estratégias e a organizações ‘amigas da família’, noutros casos, as tendências segmentadoras e discriminatórias continuam a ter forte presença na sociedade portuguesa”59.

As organizações influenciam a promoção da igualdade de várias maneiras: pela aplicação e cumprimento da lei promovem-se processos de recrutamento e progressão na carreira não discriminatórios; assegura-se um gozo efetivo das licenças de parentalidade para ambos os cônjuges; e garante-se que homens e mulheres recebem o mesmo ordenado. Através do desenvolvimento de culturas organizacionais promotoras da autonomia e responsabilizadoras dos trabalhadores incentiva-se a não discriminação de mulheres e homens a nível de recrutamento, funções, carreiras, remunerações, formação e conciliação entre família e trabalho. Pela criação de serviços inovadores que apoiem a vida familiar dos trabalhadores promovem-se a flexibilidade no uso do tempo e do espaço. E, ao incluir mulheres e homens em lugares tradicionalmente “desadequados” ao seu sexo, quebram-se mitos.

No sentido inverso, as boas práticas empresariais na área da Igualdade também se refletem positivamente nas organizações, incentivando a criatividade e motivação dos trabalhadores, facilitando a introdução de novos métodos de trabalho e

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GUERREIRO, Maria das Dores, PEREIRA, Inês (2006), pág. 16.

58 GUERREIRO, Maria das Dores, PEREIRA, Inês (2006), pág. 18. 59 GUERREIRO, Maria das Dores, PEREIRA, Inês (2006), pág. 21.

tecnologias, reduzindo os custos (ao fixar recursos humanos qualificados), aumentando a produtividade, alargando o leque de potenciais colaboradores (pela atratividade projetada no mercado), reduzindo os conflitos laborais e valorizando a imagem da empresa.

Dada a importância que a Sociologia das Organizações tem no tema em análise, em anexo sumariza-se um guião desenvolvido por uma equipa de especialistas, destinado a implementar planos de igualdade em empresas60.