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Foto 7 – Aula de Ballet

2 GESTÃO COMPARTILHADA ENTRE ESTADO E SOCIEDADE CIVIL

2.1 Responsabilidade Social

Conceber uma cultura de cidadania passa por um aprendizado de direitos e responsabilidades, implica uma perspectiva renovada da democracia, da política, pela ampliação dos espaços de participação na gestão pública, pelo compartilhamento de responsabilidades do Estado com a sociedade, propiciando maior legitimidade, governabilidade e sustentabilidade das ações empreendidas.

Freire (2007) argumenta que a cidadania deve ser o principal foco da política:

A política não será entendida tão somente como jogo de forças sociais e interesses, mas também como busca negociada de interesses particulares visando o bem comum, como produto de um consenso possível. O foco principal da política está no exercício da cidadania, podendo ocorrer de forma mais ou menos consciente, o que permite qualificar a ação política como mais ou menos ética. Ao fim, estabelece a política como chamamento para a atividade consciente e ativa, objetivando fazer cidadãos participativos (FREIRE, 2007, p 05).

Mclagan e Nel (2000) referem-se aos dias atuais como a nova era da participação com o desafio de emocionar e envolver pessoas, elevando a questão da participação ao nível da opção social e filosófica. Para esses autores:

[...] a era da participação demanda uma mudança no que pensamos ser. Os seres humanos não são completamente racionais: não somos unidades cujo comportamento pode ser previsto por teorias econômicas. Não somos fenômenos de causa e efeitos. A crença de que podemos construir uma mudança na organização do esforço humano, torna-se, em si mesma, uma interferência na condição da participação (McLAGAN e NEL, 2000, p.36).

Já Maximiano (2000) também expressa esse entendimento e sugere que o que muda, essencialmente, na gestão participativa são o envolvimento do grupo nas decisões e o aumento de sua autonomia. Maranhão (2007) analisa a responsabilidade social sob o seguinte aspecto:

Não basta aos cidadãos terem responsabilidade civil. Não basta às empresas terem responsabilidade social. Não basta aos governos terem responsabilidade fiscal. Para o país voltar a crescer, é preciso o compromisso de todos para com a responsabilidade política, expressão de uma verdadeira cultura de cidadania (MARANHÃO, 2007, p. 01).

Em relação à participação popular no domínio das políticas públicas brasileiras, há, desde a década de 1980, no contexto das lutas pela abertura democrática, um clima nacional favorável a participação e, na mesma proporção, contrária ao autoritarismo.

O Governo do Estado do Ceará elaborou o Plano Plurianual do Estado (2008- 2011) que traz em seu bojo uma determinante democrática, quando prevê a participação e a inclusão sem descuidar do meio ambiente e da sustentabilidade e a redução extrema das vulnerabilidades

2.1.1 Participação

Em vista do uso e do apelo generalizado à ideia de participação, nos últimos anos, no sentido da participação política, como processo, nos espaços decisórios das políticas públicas, este apelo generalizado à participação parece esconder diferenças cruciais acerca dos sentidos da democracia. À luz do referencial teórico ancorado em autores como Bandeira e Silva Neta (2008) e Magalhães (2002), que vêm se debruçando sobre o tema, apresentam-se aqui alguns problemas, limites e desafios no que se refere à participação. Entre tantos autores que abordam o tema participação, preferiu-se Bandeira e Silva Neta (2008, p.16) que abordam o tema participação como sendo uma ferramenta para uma boa governança:

[...] o desenvolvimento participativo, com seu foco central na melhoria da qualidade da participação pelas sociedades locais, facilitando o atingimento do desenvolvimento sustentável e auto-suficiente e da justiça social, é uma forma importante de desenvolvimento orientado para as pessoas. A boa governança12 proporciona a base para o desenvolvimento participativo, na

12 A palavra governança tem origem no grego, no termo KUBERNA, que significa dirigir, conduzir.

medida em que propicia ao governo as funções necessárias para promover a participação e criar um ambiente favorável para os processos participativos (BANDEIRA e SILVA NETA, 2008, p. 16).

A conquista por espaços de participação tem crescido, principalmente, a partir da expansão dos movimentos sociais na década de 1980, contudo, ainda existe um longo caminho a ser percorrido, uma vez que a participação possibilita uma maior democratização nas tomadas de decisão e, assim, uma melhor governança no desenvolvimento dos programas, projetos e ações das políticas públicas. Como destaca Bandeira e Silva Neta (2008, p. 22):

Os mecanismos participativos mais adequados para esse objetivo parecem ser aqueles que possibilitam uma interação permanente entre os diferentes segmentos da sociedade civil e entre eles e as várias instâncias da administração pública, facilitando os processos de capacitação e de aprendizado coletivo e constituindo-se em instrumentos potentes para a formação de consensos e para a articulação de atores sociais.

A interação entre os diferentes entes da administração pública e da sociedade civil, no que tange à administração pública, é vista por Bandeira e Silva Neta (op. cit.) como uma aprendizagem permanente: trabalhar em grupo, sentar numa mesa de negociação, realizar articulações, contribuir para a formação de consenso, mobilização e participação.

Magalhães (2002, p. 01) faz uma reflexão sobre a consolidação da convivência democrática:

A organização de interesses e a ação coletiva elementos centrais para a consolidação da convivência democrática e para a garantia de soluções perenes para os problemas sociais, não são, muitas vezes, potencialmente capazes de instituir novas arenas de negociação.

Como aponta Pandolfi (1999, p.45), “a despeito da implantação de um Estado de direito, os direitos humanos ainda são violados e as políticas públicas voltadas para o controle social permanecem precárias. ”

Assim, pode-se concluir que refletir sobre a importância das políticas públicas remete a um aprendizado sobre os direitos e os deveres de cada cidadão, para que possam ser implantadas ações capazes de solucionar os problemas referentes a

a maneira como uma Organização é dirigida, administrada ou controlada. <http://www.Academiadegovernanca.com.br/site/base_o_que_e_governanca_corporativa.asp>. Pesquisa on-line 12/05/2009.

assistência social, não como paliativos, mas, que possa perceber as causas e atuar sobre as mesmas.

2.1.2 Cidadania

O desafio da pesquisa ora apresentada é, portanto, o de analisar os impactos de prática participativa de cogestão observando se estes apontam para uma qualidade de cidadania, se instituem o cidadão como criador de direitos para abrir novos espaços de participação sócio-política, bem como, perceber os aspectos que se configuram como barreiras que precisam ser superadas.

Para Carvalho (2007), na retórica política do conceito, „cidadania‟ já substituiu o próprio termo povo como segue a citação:

A cidadania, literalmente, caiu na boca do povo. Mais ainda, ela substituiu o próprio povo na retórica política. Não se diz mais „o povo quer isso ou aquilo‟, diz-se „a cidadania quer‟. Cidadania virou gente. No auge do entusiasmo cívico, chamamos a Constituição de 1988 de Constituição Cidadã (CARVALHO, 2007, p. 07).

Por toda história de obediência do povo brasileiro, a conquista dos direitos e deveres faz parte da luta cotidiana. Porém, a Constituição de 1988 já é chamada constituição cidadã, pois em seu bojo está elencado „o dever ser‟ dos direitos e deveres dos cidadãos.

Carvalho (2007, p.19) aponta, ainda, que “o fator mais negativo para a cidadania foi a escravidão”, uma vez que, a escravidão era a negação de todos os direitos e a falta do reconhecimento de que todos são iguais diante a lei.

[...] Pensava-se que o fato de termos reconquistado o direito de eleger nossos prefeitos, governadores e presidente da República seria garantia de liberdade, de participação, de segurança, de desenvolvimento, de emprego, de justiça social. De liberdade, ele foi. A manifestação do pensamento é livre, a ação política e sindical é livre. De participação também. O direito do voto nunca foi tão difundido. Mas as coisas não caminharam tão bem em outras áreas. Pelo contrário. Já 15 anos passados desde o fim da ditadura, problemas centrais de nossa sociedade, como a violência urbana, o desemprego, o analfabetismo, a má qualidade da educação, a oferta inadequada dos serviços de saúde e saneamento, e as grandes desigualdades sociais e econômicas ou continuam sem solução, ou se agravam, ou, quando melhoram, é em ritmo muito lento. Em consequência, os próprios mecanismos e agentes do sistema democrático, como as eleições, os partidos, o Congresso, os políticos, se desgastam e perdem a confiança dos cidadãos (CARVALHO 2007, p. 07).

pois, segundo Carvalho (2007), a ausência de uma população educada tem sido sempre um dos principais obstáculos à construção da cidadania civil e política. Assim sendo, existe uma crise dos valores morais e éticos, para que seja garantida uma melhor qualidade de vida, pois uma sociedade com baixo nível de escolaridade, certamente terá um menor poder de reivindicação e mobilização na conquista dos direitos como cidadãos.

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