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Participaram da pesquisa 27 adolescentes, na faixa etária de 13 a 19 anos. Sendo que a maior incidência foi observada na idade de 16 anos, refletindo a realidade brasileira onde se estima que aproximadamente 20-25% do total de mulheres gestantes são adolescentes, apontando que uma em cada cinco gestantes são adolescentes entre 14 e 19 anos de idade (SANTOS JÚNIOR, 1999; BRASIL, 2006).

Tabela 1: Distribuição das gestantes segundo faixa etária, escolaridade, escolaridade paterna, escolaridade materna, renda familiar mensal, características da moradia, número de pessoas na residência e classificação econômica.

Características N % Idade 13 2 7,4 14 4 14,8 15 3 11,1 16 12 44,4 17 4 14,8 18 1 3,7 19 1 3,7 Escolaridade da gestante Ensino fundamental 11 40,7 Ensino médio 16 59,2 Analfabeta 0 0 Escolaridade do pai Ensino fundamental 17 62,9 Ensino médio 5 18,5 Analfabeto 5 18,5 Escolaridade da mãe Ensino fundamental 23 85,1 Ensino médio 3 11,1 Analfabeta 1 3,7 Renda familiar </= 1S.M. 1 3,7 de1 a 2 S.M. 17 62,9 de 2 a3 S.M. 8 29,6 de 3 a 5 S.M. 1 3,7 5 S.M. ou + 0 0 Moradia Própria 12 44,4 Alugada 11 40,7 Cedida 3 11,1 Financiada 1 3,7

Pessoas por residência

Entre 1 e 3 6 22,2 Entre 4 e 6 20 74 Entre 7 e 9 1 3,7 Classificação econômica B2 3 11,5 C1 13 48,1 C2 7 26,9 D 4 15,3

A idade das adolescentes grávidas desta pesquisa foi de 16 anos (44,4%) e este dado é semelhante ao encontrado no estudo realizado por Chalem et al. (2007) com adolescentes grávidas internadas em um hospital Maternidade na periferia de São Paulo a média de idade das participantes foi de 17 anos, variando

de 11 a 19 anos e 17% tinham até 15 anos. E ainda em outro estudo realizado por Belo e Silva (2004) com o objetivo de estudar o conhecimento, a atitude e a prática em relação ao uso prévio de métodos anticoncepcionais em adolescentes gestantes estas apresentaram média de idade de 16,1 anos.

Em relação ao número de pessoas por residência a maioria das famílias são numerosas compostas por 4 a 6 pessoas (74%), entre 1 a 3 pessoas (22,2%) e entre 7 a 9 pessoas (3,7%).

Estas moradias numerosas se devem ao fato de que como mostra Chalem et al. (2007) do total das adolescentes de seu estudo, 42,3% viviam exclusivamente com o companheiro e/ou filhos constituindo um núcleo familiar independente, ao passo que as demais (57,7%) continuavam morando também com outros familiares.

No estudo de Cerqueira-Santos et al. (2010) os autores ressaltam também que embora a maioria das adolescentes-mães tenha afirmado morar com seu próprio filho (68,2%), os dados revelaram que essas jovens e seus companheiros, ainda mantinham relações de dependência econômica e domiciliar com as famílias de origem para poder cuidar do filho. O pai ou a mãe, os avós, foram indicados como principais responsáveis pela moradia dos filhos.

Quanto ao tipo de moradia, verificou-se que 26 delas moram em casa e uma em apartamento. A maioria possui casa própria (44,4%) e as demais casas alugadas (40,7%), cedidas (11,1%) ou financiadas (3,7%).

Na tabela 1, verifica-se que 16 adolescentes (59%) freqüentavam o ensino médio, 11 (40,7%) o ensino fundamental, mas quando questionadas à respeito do estudo, 14 delas (51,8%) relataram que haviam parado de estudar.

O mesmo foi percebido no estudo de Chalem et al. (2007) que destaca que 67,3% das adolescentes não estavam mais estudando no momento da entrevista; 60,2% associavam o abandono da escola com a gravidez e 65,4% o haviam abandonado durante o ano letivo. Do total de participantes, 9,7% referiam estar trabalhando, o que justificaria a necessidade econômica citada anteriormente.

Arcanjo et al. (2007), acrescentam que a baixa escolaridade, futuramente, diminui a oportunidade de uma profissionalização e como conseqüência de um trabalho seguro e bem remunerado. A presença da adolescente na escola formal diminui a ociosidade e consequentemente ajuda no planejamento de projetos para o seu futuro, gerando a necessidade de auto

realização e satisfação pessoal.

Em pesquisa realizada nos Estados Unidos, a questão da gravidez na adolescência segue nesta mesma linha, o autor examinou relatos de dezenove mães adolescentes, estudantes antes e após o parto, e o impacto da maternidade nos seus objetivos educacionais e em seu progresso na escola. O significado da escola na vida dessas adolescentes tornou-se evidente em sua decisão de formar-se, no entanto, seu compromisso renovado com a escola foi muitas vezes frustrado por demandas de trabalho concorrentes, responsabilidades familiares, cuidados com o filho e condições de ensino (SMITH, 2007).

Outro estudo, no entanto, aponta a gravidez e a maternidade na adolescência, como associadas à baixa renda e escolaridade, mas ela pode acontecer em todos os estratos sociais e pode ser fruto da falta de informação adequada sobre saúde reprodutiva e métodos contraceptivos ou da falta de acesso a eles (MANDÚ et al., 2002).

Segundo a Fundação Seade (2004) a proporção de jovens de 15 a 17 anos que não freqüentam a escola gira em torno de 25% para o Município de São Paulo. Neste estudo, porém, o índice de evasão escolar observado (51,8%) foi muito elevado. A evasão escolar associada à gestação precoce traz graves conseqüências para a adolescente e seu filho e para a sociedade em geral, principalmente porque, nessa faixa etária, uma das poucas opções de inserção social e de ascensão econômica se dá por intermédio do sistema educacional.

Dados da pesquisa GRAVAD (2006) reforçam esta perspectiva. Os valores apresentados revelam que 42,1% das jovens com menos de 20 anos que tiveram filhos, já não frequentavam a escola à data da gravidez, e 62,6 % das adolescentes, no nascimento do primeiro filho, encontravam-se já fora do mercado de trabalho e assim se mantiveram. Nesses casos os fatores de risco já estavam presentes, uma vez que o abandono escolar e a ausência de profissionalização, impossibilitam o acesso ao mercado de trabalho, prejudicando o auto-sustento (WHO, 2004).

Para Martinez et al. (2011) esse é um importante resultado, uma vez que a profunda relação entre a educação e a gravidez precoce traz como consequência a manutenção do estado de pobreza de uma comunidade, já que as adolescentes grávidas tendem a abandonar a escola e o retorno ao estudo muitas vezes não ocorre, com posteriores dificuldades em conseguir empregos bem

remunerados.

No que se refere ao grau de escolaridade dos pais e mães das gestantes prevaleceu o ensino fundamental, as mães (85,1%) e os pais (62,9%).

Em relação à renda familiar mensal a maioria das famílias das gestantes vivem com uma renda de 1 a 2 salários mínimos (70,3%), revelando o baixo nível econômico em que se encontram estas famílias.

Através da utilização do critério de classificação econômica das gestantes, com a aplicação da tabela ABEP, observou-se que a classe econômica C1 predominou (46,1%),seguida pela classe C2 (26,9%),classe D (15,3%) e B2 (11,5%).

O presente estudo encontrou alta proporção de adolescentes que não estavam mais estudando no momento da entrevista, assim como a referência de baixa escolaridade e ausência de trabalho remunerado, características que apontam para a relação entre condição socioeconômica desfavorável, educação precária, maternidade na adolescência e falta de perspectiva de vida. Nessa faixa etária, como salienta Moura et al. (2011) a educação é uma das poucas opções de inserção social e ascensão econômica, logo, a evasão escolar associada à gravidez precoce traz graves consequências à adolescente, seu filho e à sociedade em geral.

Corroborando com esta pesquisa, um estudo sobre a estreita relação entre a gravidez na adolescência e fatores econômicos e sociais no Estado de São Paulo, encontra-se que os percentuais de gravidez na adolescência apresentaram-se maiores nos municípios de menor Produto Interno Bruto (PIB), maior incidência de pobreza, menor tamanho populacional e maior percentual de indivíduos com Índice Paulista de Vulnerabilidade Social (IPVS) igual a 5 ou 6, ou seja, são os mais vulneráveis (MARTINEZ et al., 2011).

Para Ferreira et al. (2012) as pesquisas relacionadas com a vulnerabilidade apontam que apesar de haver uma redução do número de gestações na adolescência, na atualidade, a mesma não ocorre de forma uniforme, apresenta desigualdades, de acordo com o desenvolvimento social, o território, sendo maior a incidência nas classes sociais mais excluídas. De acordo com o mesmo autor onde há maior densidade de vulnerabilidade é maior o percentual de mães, em todas as faixas etárias, com menos de oito anos de estudo, excluídas ou inseridas precariamente no mercado de trabalho.

A seguir apresentamos os dados sobre a gestação, a vida sexual e a motivação para a gravidez foram agrupados na tabela 2.

Tabela 2: Distribuição das gestantes segundo data da primeira menstruação, início da atividade sexual, informação sexual, métodos anticoncepcionais conhecidos, métodos anticoncepcionais utilizados e motivação da gravidez.

Características N % Menarca 8 anos 1 3,7 9 anos 1 3,7 10 anos 3 11,1 11 anos 4 14,8 12 anos 9 33,3 13 anos 6 22,2 14 anos 2 7,4 15 anos 1 3,7

Início da vida sexual

13 anos 8 29,6 14 anos 8 29,6 15 anos 7 25,9 16 anos 3 11,1 17 anos 1 3,7 Informação sexual Esc./Prof. 11 25,5 Esc./amigos 13 30,2 Fam./mãe 13 30,2 Fam./pai 2 4,6 Fam./tia 1 2,3 TV 1 2,3 Revista 1 2,3 Internet 1 2,3

Métodos anticoncepcionais conhecidos

Camisinha masculina 26 25

Camisinha feminina 16 15,3

Pílula 24 23

Pílula do dia seguinte 17 16,3

Injeções 19 18,2

Coito interrompido 1 0,9

Dispositivo intrauterino 1 0,9

Métodos anticoncepcionais usados

Camisinha masculina 13 44,8

Pílula 9 31

Coito interrompido 1 3,4

Nenhum 6 20,6

Motivação para a gravidez

Não preveniu 10 29,4

Queria engravidar 8 23,5

Parceiro queria 4 11,7

Quanto à idade da primeira menstruação, ela se concentrou nas idades de 12 (33,3%) e 13 (22,2%). Dados próximos a estes foram encontrados por Belo e Silva (2004) em pesquisa sobre conhecimento, atitude e prática sobre métodos anticoncepcionais entre adolescentes gestantes, quando a idade média da menarca foi 12,2 anos.

Já o início da vida sexual se deu principalmente aos 13 e 14 anos (29,6%) e aos 15 anos (25,9%). Estes dados estão próximos aos de Chalem et al. (2007) que em seu estudo sobre o comportamento sexual de adolescentes grávidas, a média de idade de início de atividade sexual foi de 15 anos (DP = 1,5). Considerando a idade no primeiro parto, a diferença média entre o início da atividade sexual e o parto foi de 2,0 anos (DP = 1,4), variando de 0 (parto no mesmo ano do início de atividade sexual) até oito anos.

Segundo a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), 32,8% dos jovens brasileiros entre 12 e 17 anos já haviam iniciado a sua vida sexual, sendo que destes 61% eram rapazes e 39% moças (UNESCO, 2004).

O início precoce da atividade sexual e, principalmente, de forma desprotegida, associado com o alto índice de gestações não planejadas decorrentes de relacionamento com parceiro igualmente jovem são dados que desencadeiam reflexões sobre nossos adolescentes, que, apesar de razoável nível de escolaridade e de alguma informação sobre sexualidade, não conseguem traduzi-los em sexo protegido e mudanças de comportamento.

Quanto aos aspectos relacionados à fecundidade na adolescência, sabe-se que um dos importantes determinantes do seu aumento nos últimos 30 anos diz respeito à iniciação sexual precoce nos diferentes contextos socio- econômicos e à freqüente associação deste comportamento com o desconhecimento ou conhecimento inadequado de adolescentes sobre saúde reprodutiva e anticoncepção, aliado à pouca participação da família, escolas e serviços de saúde na educação para a sexualidade dos adolescentes (COSTA et al., 2001).

Pinheiro et al. (2002) em sua pesquisa encontrou que muitos jovens ainda não têm acesso a informações e serviços adequados ao atendimento de suas necessidades em termos de saúde sexual e reprodutiva que os estimulem a tomar decisões de maneira livre e responsável.

Ainda com relação ao uso do preservativo, para Teixeira et al. (2006), apesar do uso do preservativo ter aumentado entre os jovens, ele ainda não é utilizado por todos e nem em todas as relações sexuais. A informação sobre os métodos anticoncepcionais existente não implica necessariamente no seu uso adequado ou regular

No que se refere às fontes de informação sobre a educação sexual as mais citadas pelas adolescentes foram escola/professores (33,3%), família/mãe (33,3%) e escola/amigos (16,6%). A UBS não foi citada pelas adolescentes como uma das fonte de informação.

Em um estudo na cidade de Catanduva-SP, também se encontrou a escola como o maior veículo de orientação sexual para adolescentes, seguida pelo serviço de saúde e pela família. Adolescentes que recebem orientações dos pais ou da escola apresentam menos comportamentos de risco para aquisição de uma DST ou gravidez não planejada (MANFREDO et al., 2012).

Dentre as adolescentes desta pesquisa, verificou-se que 14 (51,8%) delas participaram de palestras ou grupos de discussão sobre sexualidade, sendo que o tema mais abordado foi gravidez na adolescência, seguido pelo tema doenças sexualmente transmissível e fisiologia.

De modo geral, a vida sexual se iniciando em idade cada vez mais precoce e os jovens não têm informações consistentes sobre desenvolvimento e a saúde sexual. Além disso, têm pouco acesso à orientação e aos serviços de planejamento familiar, sendo a fonte de seu saber, muitas vezes, conceitos equivocados, carregados de tabus, oriundos de colegas e amigos que também não tiveram acesso à educação sexual (MOURA et al., 2011).

Em estudo de Moura et al. (2011) que tinha como objetivo descrever as fontes de informação sobre sexualidade e contracepção utilizadas por adolescentes que vivenciaram uma gravidez, revelou que antes de engravidar, 89,5% das adolescentes possuíam informações sobre contracepção e doenças sexualmente transmissíveis e 55% tinham alguém com quem se sentiam seguras para conversar sobre sexo e gravidez, sendo as amigas (36,6%) a fonte de informação mais citada. Após a gestação, 75,5% delas receberam informações sobre contracepção e sexualidade, sendo o serviço de pré-natal (70,3%) a principal fonte citada.

Além disso, é importante ressaltar a situação de pais de adolescentes que não sabem como lidar com a sexualidade emergente de seus filhos (BELO;

SILVA, 2004). Para exacerbar a gravidade da situação, escolas e serviços de saúde que deveriam ser o apoio da família e complementar a educação sexual e o auto cuidado mostram-se limitados na qualificação de seus profissionais, com demonstram os resultados do estudo de Jardim e Brêtas (2006) que apesar de considerarem a importância do tema, a maioria dos professores não dispõe de conhecimentos suficientes para promoverem orientação sexual aos adolescentes, atendo-se muito mais no aspecto biológico da sexualidade do que nos sentimentos e valores que a envolvem.

No que se refere ao planejamento da gravidez verificou-se que oito (29,6%) das adolescentes quiseram engravidar e 19 (70,3%) não planejaram a atual gestação. Quanto ao vinculo com o pai de seu filho, 18 (66,6%) adolescentes responderam que é o atual namorado, sete (25,9%) que é o companheiro com quem mora, uma (3,7%) que o pai de seu filho é um amigo e outra (3,7%) que é um “ficante”.

Para Berlofi et al. (2006) mulheres que iniciam a maternidade na adolescência, tendem a ter um número maior de filhos durante toda a sua vida reprodutiva. Na maioria dos casos, a primeira gravidez não é planejada, e algumas vezes indesejada. Assim, a probabilidade das seguintes gestações adquirirem o caráter não desejado da primeira torna-se altíssima.

Segundo Persona et al. (2004), O desejo de engravidar pode se mostrar de forma inconsciente ou consciente, visto que muitas vezes as adolescentes que engravidam são filhas de mães que também passaram por esta experiência na adolescência, o que demonstra um fenômeno psicológico da adolescente de repetição da história vivenciada por sua mãe.

Quanto aos métodos anticoncepcionais conhecidos os mais citados pelas gestantes foram camisinha masculina (25%) e pílula (23%), lembrando que cada gestante poderia citar mais de um método. Quase todas as gestantes (96,2%) conheciam a camisinha masculina. Estes dados são semelhantes aos encontrados também na pesquisa realizada por Manfredo et al. (2012), na cidade de Catanduva/São Paulo.

Quando questionadas sobre se faziam uso de algum método contraceptivo, 21(77,7%) das adolescentes responderam que sim e seis (20,6%) que não. Dentre as que usaram algum método anticoncepcional (44,8%) optaram pela

camisinha masculina seguida pela pílula (31%) e também pelo coito interrompido (3,4%).

Para Belo e Silva (2004) os métodos anticoncepcionais mais conhecidos pelas adolescentes de suas pesquisas foram a camisinha masculina (99,4%) e o anticoncepcional oral hormonal (98%). Cerca de 67,3% não estavam utilizando qualquer método antes de ficar grávida e o principal motivo isolado alegado para o não uso foi o desejo de engravidar (24,5%).

Estudo realizado no interior paulista mostrou que dentre as adolescentes, que tiveram uma gravidez, seis em cada dez afirmaram conhecer algum tipo de anticoncepcional, porém só uma em cada dez informou ter utilizado algum método, demonstrando que, apesar de ser elemento-chave, apenas a informação não é suficiente para o uso consistente de métodos anticoncepcionais pelos adolescentes (SCHOR; LOPEZ, 1990).

Outro estudo demonstra que as adolescentes mais velhas, as que informaram professar alguma religião e as que pertenciam a uma classe socioeconômica mais elevada, tinham um maior conhecimento dos métodos contraceptivos. As adolescentes multíparas usaram com maior freqüência contraceptivo antes de ficarem grávidas (BELO; SILVA, 2004).

Em pesquisa que envolvia o perfil social, reprodutivo e sexual de adolescentes atendidas em um Ambulatório de Ginecologia de Campinas/São Paulo, revelou que quanto ao conhecimento e prevenção das doenças sexualmente transmissíveis, a maioria dos adolescentes referiu esclarecer suas dúvidas com pais e amigos e conhecia as formas de transmissão da Síndrome de Imunodeficiência Adquirida; entretanto metade das adolescentes não usava camisinha (camisa-de-vênus, condom) para prevenção de doenças sexualmente transmissíveis (COSTA et al., 2004).

Cerqueira-Santos et al. (2010) discutem o uso de métodos anticoncepcionais e aborto, associados à saúde da adolescente. Os resultados revelam um percentual alto para gravidez e aborto em jovens de baixo nível socioeconômico, quando comparado a outros estudos. Sobressai a primeira relação sexual em idades precoces e o fato de que cerca de 1⁄4 da amostra apresenta uso irregular de métodos contraceptivos.

Almeida et al. (2003) em estudo sobre o comportamento contraceptivo de adolescentes relata que os fatores associados positivamente ao uso consistente

de contraceptivos por rapazes inclu ram a iniciação sexual mais tardia, com parceria estável, contando com a família como fonte potencial para a compra de contraceptivos e acesso a serviços de saúde; entre as moças, inicio da vida sexual pouco tempo e ter o pai como fonte de informação sobre sexualidade, contracepção e prevenção de doenças sexualmente transmissíveis. Estes resultados confirmam a complexidade da determinação do comportamento contraceptivo entre adolescentes e a necessidade de que os programas educativos incorporem as múltiplas dimens es da uestão para que tenham efetividade.

Dentre os motivos que levaram as adolescentes da pesquisa a engravidarem os mais citados foram: achar que não aconteceria com ela (35,2%), a falta de prevenção (29,4%) e porque queriam engravidar (23,5%).

Para as adolescentes de um estudo realizado nas maternidades do Rio de Janeiro, a proporção de mulheres que não desejava ter engravidado, poderia ser justificado pela percepção, por parte das jovens, da falta de estrutura para constituir uma nova família naquele momento (GAMA, SZWARCWALD, LEAL; 2002).

A literatura tem demonstrado que as adolescentes grávidas são mais pobres, de mais baixa escolaridade, têm menor atenção durante o pré-natal, filhos com maiores taxas de baixo peso ao nascer e de mortalidades neonatal e infantil (RIBEIRO et al., 2000).

Tradicionalmente, a gravidez na adolescência era descrita como um problema social, associada à pobreza, encarada como comprometedora de um desenvolvimento saudável, tanto para a mãe, como para o seu filho. Contudo, estudos mais recentes descrevem o fenômeno de forma distinta, como resultante de múltiplas características e variáveis influenciadoras do desenvolvimento (CERQUEIRA SANTOS et al., 2010). A maternidade adolescente é descrita como um produto de vários fatores de risco, nomeadamente, a história dos pais, nível socioeconômico, redes de apoio, recursos psicológicos, idade dos pais e as características de temperamento do bebê (JACARD; DODGE; DITTUS, 2003).

Os dados encontrados no presente estudo permitem também reconhecer a vulnerabilidade decorrente de comportamentos sexuais desprotegidos, no qual, muitas vezes, está associada à falta de conhecimento por parte dos adolescentes e Berlofi et al. (2006) reforçam a importância do estabelecimento de políticas públicas e programas voltados para a saúde sexual e reprodutiva dos adolescentes e jovens que englobem a educação, os conceitos e o uso correto dos

métodos contraceptivos, que ofereçam além do método, o acompanhamento médico e de enfermagem, visto a necessidade destes de informações e meios de prevenção de gravidez.

Ainda referente à vulnerabilidade, podemos inferir que a dimensão social foi a mais alta, pois se relacionou aos aspectos materiais, culturais e políticos que dizem respeito à vida social, como região de residência das adolescentes deste estudo. Nesta região, segundo as estatísticas do município se concentram os maiores índices de violência, tráfico de drogas, pessoas reclusas, encaminhamento para o conselho tutelar, famílias atendidas pelo CRAS, enfim é uma região com muitas vulnerabilidades (Informação Verbal)2.

As igrejas através de suas quermesses oferecem algumas atividades culturais. As atividades esportivas acontecem no parque poliesportivo onde são oferecidas aulas de ginástica, vôlei e futebol de salão. No centro comunitário acontecem aulas de dança e yoga. No aspecto sócio econômico o bairro possui comércios, fábricas e bancas de calçado e prestadores de serviços, mas também é a região com o maior número de famílias inteiras inseridas em programas de transferência de renda com o Bolsa Família, Renda Mínima, Renda Cidadã,” (informação verbal)3.

2,3

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A gravidez na adolescência é um fenômeno complexo, associado a grande número de fatores, como os econômicos, educacionais e comportamentais, precipitando problemas e desvantagens decorrentes da maternidade precoce.

No presente estudo foi possível identificar alguns fatores que parecem ter contribuído para a gravidez na adolescência. Dentre os fatores socioeconômicos, a baixa escolaridade tanto da gestante como dos pais e o baixo nível econômico das famílias podem ser citados como principais.

As adolescentes em sua maioria não estudavam ou trabalhavam no momento em que engravidaram, a gestação não foi fator determinante para estabelecimento de casamentos ou uniões estáveis visto que a maioria vivia e vive com os pais, permanecendo solteiras após a gestação.

Em relação aos fatores vinculados à gestação e à sexualidade observou-se que apesar de terem informação sobre os métodos anticoncepcionais

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