• Nenhum resultado encontrado

Resultados dos modelos

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO

4.3 Resultados dos modelos

85

A Tabela 2 mostra estimação dos modelos descritos na metodologia do estudo. Esta apresenta os modelos estimados de efeitos fixos, para o 5º ano, da disciplina de língua portuguesa e de matemática. Observa-se que, na estimação de efeitos fixos, os gastos por alunos são significativamente e positivamente correlacionados com os desempenhos dos mesmos, entretanto a magnitude é muito pequena. Pode-se dizer que, para obtenção de um aumento médio de 9 (nove) pontos na Prova Brasil, é necessário elevar em média R$ 1.000,00 por discente nos gastos públicos com educação para o ensino fundamental dos municípios nas duas disciplinas.

Entretanto, analisando o intercepto, mantendo as outras variáveis com coeficiente

zero, tem-se que a disciplina atinge em média 116 escores, portanto, não se direciona para

outro nível de ensino aprendizagem, permanecendo no nível péssimo de desempenho. Neste

nível, o aluno identifica o tema, em um texto simples e curto. Já matemática, ao fazer a

mesma análise, o discente obtém em média 130,8 escores, indicando melhoras com relação ao

valor absoluto de português, porém, no mesmo nível péssimo de aprendizagem.

A variável distorção idade série não se mostra nas expectativas de alguns estudos

realizados, pois esta é significativa e positivamente correlacionada, ou seja, um aumento de

10% na distorção aumenta em média 4,3 pontos nas notas dos alunos de português e 4,1

pontos na média da disciplina de matemática. Alguns estudos apontam essa variável com

influência negativa no desempenho.

Em efeitos fixos, o nível de escolaridade dos professores tem impacto

estatisticamente significante somente em língua portuguesa. Um aumento de 10 pontos

percentuais na proporção de docentes com nível superior resulta em um acréscimo de 1,7

pontos no desempenho dos alunos. Já em matemática, esta variável não foi estatisticamente

significante

Tabela 2 - Estimação dos Modelos Regredidos

Variável dependente nota

Língua Portuguesa Matemática

gasto 0.00906** 0.00901**

(0.000) (0.000)

86 (0.000) (0.006) escprof 0.172* 0.153 (0.029) (0.101) pib 0.00206* 0.0025* (0.037) (0.052) escmae 0.188** 0.202** (0.001) (0.003) _cons 107.0** 121.8** (0.000) (0.000) Obs. 543 543 Prob>F 0.000 0.000 0.5002 0.4193 R² Ajustado 0.4955 0.4139

Fonte: Elaboração Própria. P-Valor em parênteses. *p < 0.05, **p < 0.01.

Assim como os gastos, o PIB per capita é positivo e significante, porém, a magnitude do impacto é mínima.

Com relação à escolaridade da mãe dos alunos, a variável tem impacto significante e positivo tanto para língua portuguesa quanto para matemática, sendo maior o efeito sobre a disciplina de matemática.

Os modelos de efeitos fixos se mostram bem ajustado para dados em painel. O grau de ajuste na matéria de português chega 49,5% e em matemática 41,3%.

5 CONCLUSÃO

A literatura que relaciona qualidade dos gastos educacionais ao desempenho dos alunos, seja brasileira ou internacional, busca, em seus recentes estudos, mensurar a qualidade do ensino, e não só a quantidade.

O Brasil avançou vagarosamente, se comparado a outros países, com relação às políticas educacionais desenvolvidas. Desde meados da década de 90, o país conseguiu elevar a frequência escolar em todos os níveis. A questão agora é melhorar a qualidade da educação ofertada pela rede pública de ensino.

Os resultados dos modelos desenvolvidos apontam para um efeito estatisticamente significante na qualidade dos gastos por aluno. Entretanto, esse impacto foi mínimo nas duas disciplinas e nos dois modelos analisados, mostrando que um aumento de R$ 1.000,00 eleva em média 9 (nove) pontos nas notas dos discentes para estimativa de efeitos fixos em ambas as disciplinas. Portanto, o intercepto mostra que, sendo os outros coeficientes iguais a zero, português sempre vai figurar um nível abaixo de matemática, nos dois modelos analisados.

87

Chama atenção essa regularidade dos impactos no desempenho relacionada às variáveis para os modelos de matemática e português, prevalecendo como modelos mais consistentes os de efeitos fixos.

A exceção é a escolaridade da mãe, sendo esta criada como uma média ponderada, mensurando apenas o efeito do sinal do coeficiente, sem análise de impacto (magnitude). Ainda se pode analisar o nível de ensino dos professores, não significante na disciplina de matemática, entretanto apresenta um bom resultado em português.

Um efeito não esperado no estudo é a distorção idade série (dis) dos municípios, pois se mostra significativa e positivamente correlacionada com o desempenho dos estudantes. Entretanto, essa pode ser uma endogeneidade que os efeitos não conseguem medir, como o Programa de Alfabetização na Idade Certa, que objetiva alfabetizar alunos até o 2º ano, e do 3º ao 9º ano, aqueles ainda não alfabetizados.

Pode-se concluir que, no estado do Ceará, gastos educacionais possuem impacto muito pequeno no desempenho dos alunos. Esse resultado não é somente um fenômeno cearense e nem brasileiro, aparece até mesmo em países desenvolvidos. Estes fatos tendem a se reforçar na medida em que o presente trabalho contribui na literatura, a qual afirma que essa relação quase não existe ou existem de forma mínima, legitimando, de certa forma, os resultados deste estudo.

Fica claro e evidente que, somente elevar o montante de recursos orçamentários destinados à educação, não conseguirá melhorias no desempenho escolar. É necessário saber alocar os insumos para maximizar o aprendizado dos estudantes cearenses.

É sabido que, como a metodologia econométrica possui suas limitações, pode-se sugerir usar outros métodos que busquem encontrar fatores endógenos de cada município. Um exemplo importante de uma variável omitida é habilidade do estudante. No entanto, a discussão sobre o tema é grandiosa, ficando para trabalhos futuros a utilização de modelos que possam estimar essas características especificas de cada município, como o método de variáveis instrumentais ou modelos de efeitos aleatórios.

REFERÊNCIAS

ABRAHÃO, J.; FERNANDES, M. A. Sistema de Informações sobre os Gastos Públicos da Área de Educação – SIGPE: Diagnóstico para 1995. Texto para Discussão, n. 674, IPEA, Brasília, 1999.

88

AGUIAR NETO, João Coutinho. Análise de Eficiência dos Gastos Públicos em Educação

no Município de Meruoca. 2010. Dissertação (Mestrado Profissional em Economia) –

Universidade Federal do Ceará, Fortaleza-Ce, 2010.

ANGRIST, J. D. e KRUEGER, A. B. Does Compulsory School Attendance Affect Schooling and Earnings? The Quarterly Journal of Economics. Massachusetts, v. 106, issue 4, p. 979- 1040, november 1991.

BARBOSA FILHO, F. H.; PESSÔA, S. A. O Retorno da Educação no Brasil. Pesquisa e Planejamento Econômico. Pesquisa e Planejamento Econômico, Rio de Janeiro, v. 38, p. 97-125, 2008.

___________. Educação e Crescimento: O que a Evidência Empírica e Teórica Mostra?

Economia, Brasília (DF), v.11, n.2, p. 265–303, maio/ago. 2010.

BARROS, Ricardo Paes de; MENDONÇA, Rosane; SANTOS, Daniel Domingues dos; QUINTAES, Giovani. Determinantes do Desempenho Educacional no Brasil. Instituto de

Pesquisa e Economia Aplicada (IPEA): Texto para Discussão, Rio de Janeiro, n. 834, 2001.

BENEGAS, M. O Uso do Modelo Network DEA para Avaliação da Eficiência Técnica do Gasto Público em Ensino Básico no Brasil. Economia, Brasília, v. 13, p. 569-601, 2012.

BIONDI, R. L.; FELÍCIO, F. Atributos escolares e o desempenho dos estudantes: uma análise em painel dos dados do Saeb. Brasília, Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas

Educacionais Anísio Teixeira (INEP), 2007.

BRUNET, J. F. G.; BERTÊ, A. M. A.; BORGES, C. B. Qualidade do gasto público em educação nas redes públicas estaduais e municipais. In: II CONGRESSO CONSAD DE GESTÃO PÚBLICA – PAINEL 32: QUALIDADE DO GASTO PÚBLICO II, 2009, Brasília-DF. Anais... Brasília-DF. Conselho Nacional de Secretários de Estado da Administração, 2009. Disponível em: <http://consad.org.br/evento/ii-congresso/>. Acesso em: 18 de Maio de 2014.

CASALONE, Giorgia; SONEDDA, Daniela. Evaluating the distributional effects of fiscal policies using quantile regressions. Review of Income and Wealth. Oxford, Series 59, p. 305-325, n. 2, june. 2013.

CAMERON, A. C; TRIVEDI, P. K. Microeconometrics: Methods and Applications. Cambridge: Cambridge University Press, 2005.

COLEMAN, J. S.; CAMPBELL, E. Q.; HOBSON, C. F.; MCPARTLAND, J.; MOOD, A. M. Equality of Educational Opportunity. U. S. Office of Education. Washington, 1966.

CURI, A.; MENEZES FILHO, N. A. Determinantes dos gastos com educação no Brasil.

Pesquisa e Planejamento Econômico, Rio de Janeiro, v. 40, p. 1-39, 2010.

DIAZ, Montoya Dolores Maria. Qualidade do gasto Público em Educação no Brasil.

Fundação Instituto de Pesquisa Econômica (FIPE), São Paulo, p. 47-73, 2007.

___________. Qualidade do gasto Público Municipal em Ensino Fundamental no Brasil.

89

EDUCAÇÃO é dinheiro. Boletim da Educação: Educar para Crescer, São Paulo, 23 de junho de 2009. Disponível em: <http://educarparacrescer.abril.com.br/politica- publica/entrevista-eric-hanushek-479414.shtml>. Acessado em: 14 de novembro de 2014.

FRANCO, A. M. P. Os determinantes do aprendizado com dados de um painel de escolas do SAEB. Fundação Instituto de Pesquisa Econômica (FIPE), [São Paulo], mar./2009.

FRANCO, A. M. P.; MENEZES-FILHO, N. A . Os determinantes do aprendizado com dados de um painel de escolas do SAEB. In: XXXVII ENCONTRO NACIONAL DE

ECONOMIA, 2009, FOZ DO IGUAÇU. Trabalhos aprovados, 2009.

GOVERNO DO ESTADO DO CEARÁ. Educação do Ceará mais uma vez é destaque na

imprensa nacional. Fortaleza-CE, Sexta feira, 25 de abril, 2014. Disponível em:

<http://www.ceara.gov.br/sala-de-imprensa/noticias/10569-educacao-do-ceara-mias-uma-vez- e-destaque-na-imprensa-nacional>. Acesso: em: 10 de Maio de 2014.

GUIA DE NORMALIZAÇÃO DE TRABALHOS ACADÊMICOS DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ. Biblioteca universitária: comissão de normalização. 2013. Disponível em: <http://pt.calameo.com/read/001848523bf6ac6366464>. Acessado em: 05 de Junho de 2014.

GUJARATI, Damodar N.; PORTER, Dawn C. Econometria Básica. 5. ed., Porto Alegre: AMGH, 2011. 924 p.

HAELERMANS, C. et al. On the allocation of resources for secondary schools. Economics

of Education Review. Netherlands, v. 31, Number 5, p. 575– 586, 27 de february 2012.

HANUSHEK, E. A. Measuring Investment in Education. Journal of Economic

Perspectives, v. 10, n. 4, p. 9-30, fall 1996.

___________. The Single Salary Schedule and Other Issues of Teacher Pay. Peabody

Journal of Education, p. 574-586, october 2007.

___________. Incentives for Efficiency and Equity in the School System. Perspektiven der

Wirtschafts politik. Oxford, Special Issue 9, p. 5-27, 2008.

___________. The Economic Value of Education and Cognitive Skills. In: SYKES, G.; SCHNEIDER, B.; PLANK, D. N., Handbook of Education Policy Research, New York: Routledge, p. 39-56, 2009.

HANUSHEK, E. A.; KIMKO, D. D. Schooling, Labor-Force Quality, and the Growth of Nations. American Economic Review. v. 90, n. 5, p.1184-1208, december 2000.

HANUSHEK, E. A.; RIVKIN, S. G. Teacher Quality. Handbook of the Economics of

Education, v. 2, Amsterdam: North Holland, p. 1052-1078, 2006.

___________. Pay, Working Conditions, and Teacher Quality. Future of Children, [Princeton], v. 17, n. 1, p. 69-96, spring 2007.

90

___________. The Distribution of Teacher Quality and Implications for Policy. Annual

Review of Economics, p. 131-157, 4, september 2012.

HORTA NETO, João Luiz. Um olhar retrospectivo sobre a avaliação externa no Brasil: das primeiras medições em educação até o SAEB de 2005. Revista Iberoamericana de

Educación (ISSN: 1681-5653). EDITA: Organización de Estados Iberoamericanos para la

Educación, la Ciencia y la Cultura (OEI), n.º 42/5 – 25 de abril de 2007.

INDICADORES ECONÔMICOS BRASILEIROS 2001-2012. Elevação da Escolaridade e

da Qualidade do Ensino. Pag. 36 a 43. Disponível em:

<http://aplicacoes.mds.gov.br/sagirmps/ferramentas/docs/IDB-portugues.pdf>. Acesso em: 16 de Agosto de 2014.

INSTITUTO NACIONAL DE ESTUDOS E PESQUISAS EDUCACIONAIS ANÍSIO TEIXEIRA - INEP: Disponível em: <http://portal.inep.gov.br>, 2014.

JAMISON, E. A.; JAMISON, D. T.; HANUSHEK, E. A. The Effects of Education Quality on Income Growth and Mortality Decline. National Bureau of Economic Research, 1050, Massachusetts Avenue Cambridge, woeking paper 12652, oct. 2006.

MENEZES-FILHO, Naércio. Os determinantes do desempenho escolar no Brasil. São Paulo:

Instituto Futuro Brasil, Texto para discussão, n. 2, p. 30, 2007.

MENEZES-FILHO, N.; AMARAL, L. A Relação entre Gastos Educacionais e o Desempenho Escolar. In: IBMEC Working Paper 109, São Paulo, 2009.

MENEZES-FILHO, Naércio; OLIVEIRA, Alisson Pablo. A Relação entre Gastos e Educação e Desempenho Escolar nos Municípios Brasileiros: Uma Análise com dados em Painel.

Universidade de São Paulo, BNDS, 2014. Disponível em:

<http://www.bndes.gov.br/SiteBNDES/export/sites/default/bndes_pt/Galerias/Arquivos/produ tos/download/chamada_publica_FEP0410_topico4.pdf>. Acesso em: 17 de maio de 2014.

PETTERINI, F. C.; IRFFI, G. D. Evaluating the impact of a change in the ICMS tax law in the state of Ceará in municipal education and health indicators. Economia, v. 14, Issue 3-4, p. 171-184, sept./dec., 2013.

PONTILI, R. M.; KASSOUF, A. L. Fatores que afetam a frequência e o atraso escolar, nos meios urbano e rural, de São Paulo e Pernambuco. Revista de Economia e Sociologia Rural

(RER), Rio de Janeiro, vol. 45, n. 01, p. 027-047, jan./mar. 2007.

REIS, M. C.; RAMOS, L. Escolaridade dos Pais, Desempenho no Mercado de Trabalho e Desigualdade de Rendimentos. Revista Brasileira de Educação (RBE), Rio de Janeiro, v. 65, n. 2, p. 177–205 Abr-Jun 2011.

RELATÓRIO NACIONAL PISA 2012: Resultados Brasileiros. Fundação Santillana. São Paulo, 2012. Disponível em: <http://portal.inep.gov.br/internacional-novo-pisa-resultados>. Acesso em 20 de Maio de 2014.

91

RIANI, J. L. R.; RIOS-NETO, E. L. G. Background familiar versus perfil escolar do município: qual possui maior impacto no resultado educacional dos alunos brasileiros?. Rev.

Bras. Estat. Pop., São Paulo, v. 25, n. 2, p. 251-269, jul./dez. 2008.

SAMPAIO, B.; GUIMARÃES, J. Diferenças de eficiência entre ensino público e privado no Brasil. Econ. Aplic., São Paulo, v. 13, n. 1, p. 45-68, jan./mar. 2009.

SANTOS, F. C. B.; CRIABI NETO, F.; SOUZA, M. C. S. Uma Avaliação da Eficiência do Gasto Publico Municipal no Brasil. Rev. Bras. Estat., Rio de Janeiro, v. 68, n. 228, p. 7-55, jan./june. 2007.

SILVA, J. L. M.; ALMEIDA, J. C. L. Eficiência no Gasto Público com Educação: Uma Análise dos Municípios do Rio Grande do Norte. Planejamento e Políticas Públicas, n. 39, jul./dez. 2012.

WJUNISKI, B. S. Education and development projects in Brazil (1932-2004): Political economy perspective. Brazilian Journal of Political Economy, v. 33, n. 1 (130), p. 146-165, Jan./Mar. 2013.

WOOLDRIDGE, Jeffrey M.. Econometric analysis of cross section and panel data. MIT Press Cambridge, Massachusetts London, England, [2002].

WOOLDRIDGE, Jeffrey M. Introdução à Econometria: Uma Abordagem Moderna. São Paulo: Cengage Learning, 2011.

ZOGHBI A. C. P. et al. Mensurando o Desempenho e a Eficiência dos Gastos Estaduais em Educação Fundamental e Média. Est. econ., São Paulo, v. 39, n. 4, p. 785-809, out./dez. 2009.

ZOGHBI A. C. P. et al. Uma Análise da Eficiência nos Gastos em Educação Fundamental para os Municípios paulistas. Planejamento e Políticas Pública, n. 36, jan./jun. 2011.

DESIGUALDADE DE RENDIMENTOS DA REGIÃO NORDESTE ENTRE