obtidos os adultos, contabilizou-se o número de exemplares de cada género, tendo por base as caraterísticas referidas por Dal Ri e Capra (2003). Assim os machos têm menores dimensões do que as fêmeas (4,8 a 5,2 mm vs 5,5 – 6,0 mm) (Figura 1) e apresentam, na cabeça, 2-3 linhas transversais escuras contrariamente à fêmea que possui 3-4 (Figura 2); acresce que nas fêmeas também é possível observar o oviscapto, que tem coloração castanha-dourada (Figura 3). Os indivíduos mortos com sintomas aparentes de presença de fungos entomopatogénicos, foram esterilizados por submersão durante 5 min, numa solução de hipoclorito de sódio a 1%; seguidamente lavaram-se três vezes com água destilada, colocaram-se em placas de Petri com meio de cultura (PDA) e levaram-se a incubar a 25ºC.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
DesenvolvimentoDos 173 indivíduos capturados (63 em Godim e 110 S. Miguel de Lobrigos), 12,7% eram adultos e 87,3% eram ninfas (N5 – 34,7%, N4 – 22,5%, N3 – 13,9% e N1+N2 – 16,2%) (Figura 4).
Razão sexual
Na população inicial de adultos, verificou-se uma predominância de machos (94,1%), sugerindo que estes emergem antes das fêmeas. Porém, a razão sexual do total da amostra evidenciou ligeira predominância de fêmeas (1:0,87). Em trabalhos realizados por Lessio et al. (2009), com populações de laboratório e em indivíduos capturados em armadilhas, estes autores verificaram também uma predominância de machos no início do ciclo que, ao longo do tempo foi sendo alterada no sentido da predominância de fêmeas.
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Note-se que, aparentemente, os machos são mais eficientes na transmissão do fitoplasma (CABI e EPPO, s/d). No estudo efetuado por Lessio et al. (2009), a percentagem de machos infetada com fitoplasma foi superior ao das fêmeas, contudo, estes autores referem que este resultado deve ser encarado com precaução, uma vez que teve como base a análise envolvendo um reduzido número de indivíduos.
Mortalidade
Cerca de 6,9% dos indivíduos capturados estavam mortos, sendo que destes, 41,7% indicavam sinais de predação (Figura 5). Observou-se um indivíduo de Dictyna sp. (Araneae: Dictynidae) (figura 6) a predar uma ninfa de S. titanus. No laboratório, verificou-se uma mortalidade de 19,9%, não tendo sido possível averiguar a causa da morte, embora em duas das ninfas, se tenha observado a ocorrência de fungos que aguardam identificação.
Não se obteve nenhum parasitóide na amostra recolhida, o que está de acordo com os resultados obtidos em estudos franceses (Malausa e Sentenac, 2011). No entanto, estudos efectuados na região de origem de S. titanus revelaram a existência de um complexo de parasitóides constituído sobretudo por espécies das famílias Dryinidae e Pipunculidae (Figura 6) (Malausa et al., 2003), ambas presentes na Região Demarcada do Douro. Por outro lado, observam-se com frequência outras espécies de cicadelídeos parasitados por driinídeos (Figura 7).
Assim, este tipo de estudos deverá ter maior abrangência espacial e temporal, de modo a permitir avaliar as potencialidades destas famílias na limitação natural de S. titanus.
AGRADECIMENTOS
Trabalho realizado no âmbito do projecto “EcoVitis - Maximização dos Serviços do Ecossistema Vinha na Região Demarcada do Douro”, co-financiado pelo Programa de Desenvolvimento Rural – Ministério da Agricultura, Mar, Ambiente e Ordenamento do Território – Fundo Europeu Agrícola de Desenvolvimento Rural – “A Europa investe nas zonas rurais”. Os autores agradecem ao Engº José Freitas, da Estação de Avisos Agrícolas do Douro por ter indicado as quintas amostradas bem como aos proprietários das Quintas, por terem permitido o acesso às mesmas.
QUADROS E FIGURAS
♀
♂
Figura 1. Adultos de Scaphoideus titanus,
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Figura 2. Cabeças de adultos de Scaphoideus
titanus mostrando as linhas transversais escuras no vértex em número de 2-3 nos machos (à esquerda) e 3-4 nas fêmeas (à direita).
Figura 3. Extremidade do abdómen de adultos de
Scaphoideus titanus. À direita, abdómen de fêmea onde se pode observar o oviscapto de coloração castanha- dourada. 0 10 20 30 40 N1+N2 N3 N4 N5 A % relativa e stad o d e d e son vo lv im e n to
Figura 4. Constituição da população de Scaphoideus titanus (A- adultos; N-
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Figura 5. Ninfas de Scaphoideus titanus predadas (à esquerda) e aranha do género Dyctina sp.,
observada a predar uma ninfa de Scaphoideus titanus (à direita).
Figura 6. Indivíduos da família Pipunculidae (à
esquerda) e Dryinidae (à direita), recolhidos na Região Demarcada do Douro.
Figura 7. Ninfa de cicadelídeo parasitada por driinídeo (à esquerda)
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