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RESULTADOS E DISCUSSÃO

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Como mencionado anteriormente, os objetivos deste trabalho foram os de levantar a opinião dos enfermeiros sobre a Sistematização da Assistência de Enfermagem na organização do trabalho, verificar os efeitos da Implementação da Sistematização da Assistência de Enfermagem nos profissionais enfermeiros e descrever a associação entre a Implementação da Sistematização da Assistência de Enfermagem e o sofrimento psíquico nestes profissionais.

Para atingir tais objetivos, após a pré-análise, a fala dos entrevistados foi estruturada nas seguintes categorias: conhecimento sobre a Sistematização da Assistência de Enfermagem, opinião sobre a Sistematização da Assistência de Enfermagem, desenvolvimento da Sistematização da Assistência de Enfermagem no contexto do trabalho, influência da Implementação da Sistematização da Assistência de Enfermagem no desempenho das tarefas e a ocorrência de sofrimento psíquico na Implementação da Sistematização da Assistência de Enfermagem.

Cada uma destas cinco categorias derivou, tendo em vista a natureza do que era investigado, subcategoria específica. A categoria e suas respectivas subcategorias serão discutidas e precederão a análise propriamente dita.

Vale ressaltar que as opiniões emitidas e aqui analisadas refletem o momento particular que estava sendo vivenciado pelos enfermeiros em seu ambiente de trabalho e, portanto, trata-se de opiniões que podem sofrer alterações em função de mudanças que possam ocorrer neste mesmo ambiente.

1o. QUANTO AO CONHECIMENTO DA SAE

Esta primeira categoria de análise corresponde ao “Conhecimento sobre a sistematização da assistência de enfermagem”, e que foi subdividida em duas subcategorias: ter idéia sobre o que é a SAE; ter pouco conhecimento sobre a SAE.

A primeira subcategoria __ tem conhecimento sobre a sistematização da assistência

de enfermagem __ relaciona-se a conhecer, ter idéia sobre o que é a SAE e caracteriza a maioria das respostas encontradas que trazem, em seu conteúdo, expressões que confirmam o conhecimento do modelo de trabalho proposto como um organizador do serviço de

enfermagem. As falas abaixo devem evidenciar a análise feita: S1 “ Conheço”

S 2 “ Conheço. É um instrumento que veio direcionar melhor a enfermagem, dentro da visão de atendimento, prestação de serviço ao cliente”

S9 “ Sim”

Assim, vinte Enfermeiros entrevistados retratam que conhecem a Sistematização da Assistência de Enfermagem, sabem da sua existência como modelo organizador para intensificar o ofício da profissão, tal como exigido pelo Conselho Profissional de Enfermagem, através do Sistema COFEN/CORENs.

A segunda subcategoria __ tem pouco conhecimento sobre a sistematização da assistência de enfermagem __ foi encontrada em dois depoimentos, as quais, na verdade, indicam haver não um “desconhecimento” sobre a SAE, mas antes um conhecimento em construção. As respostas indicam que alguns profissionais encontram-se ainda em fase de adaptação ao modelo de trabalho exigido pelo Sistema COFEN/CORENs. Isso pode ser evidenciado pelas seguintes falas:

S6 “Sim já ouvir falar”

S8 “Estou me familiarizando com ela”

Assim, percebe-se que nesta categoria de análise, a idade e o tempo de formação profissional são variáveis importantes que relacionadas ao conhecimento da sistematização da assistência de enfermagem, interferem na aplicabilidade da implementação deste modelo na Instituição de Saúde, talvez devido à resistência encontrada dos sujeitos da pesquisa, em implementar a SAE no ambiente de trabalho, porque a sistematização para ser implantada necessita de aprendizado específico e contínuo, direcionado ao modelo de trabalho.

Comparando-se as respostas obtidas nesta primeira categoria de análise às variáveis “idade” e “tempo de formação profissional”, pôde-se perceber que os profissionais mais jovens e com menor tempo de formação demonstram maior conhecimento sobre a SAE. Ao contrário, os sujeitos que indicaram ter um menor conhecimento integram, majoritariamente, o grupo de profissionais mais velhos e com maior tempo de formação O que parece possível derivar deste quadro é que os profissionais mais jovens aceitam mais facilmente as mudanças impostas, relativamente àqueles profissionais mais experientes que tendem a resistir às mudanças. Deste modo, pode-se afirmar que a idade e o tempo de formação profissional mostraram-se variáveis significativas na composição do quadro acerca do conhecimento sobre a SAE.

2º. QUANTO À OPINIÃO SOBRE A SISTEMATIZAÇÃO DA ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM

Esta segunda categoria de análise reflete à “Opinião dos Enfermeiros entrevistados sobre a SAE”. Observa-se que dos profissionais entrevistados nenhum é desfavorável à SAE e, assim, a análise das respostas levou a criação de duas subcategorias, quais sejam: favoráveis e parcialmente favoráveis.

A primeira subcategoria __ favorável à sistematização da assistência de enfermagem __ relaciona-se à posição de ser a favor e reúne opiniões que consideram o modelo de trabalho proposto como positivo à organização do serviço de enfermagem. Essa posição pôde ser percebida por meio de expressões que indicavam a importância, a prioridade, a organização, a melhoria e a facilitação do serviço de enfermagem. As falas abaixo devem evidenciar a análise:

S2 “Eu acho que a SAE é um instrumento que veio direcionar melhor a enfermagem dentro da visão de atendimento, prestação de serviço ao cliente. É importante sim.”

S3 “Eu acho muito boa, ela dá para trabalhar, é importante. Ela te facilita na atuação do teu serviço, como você tem pronto condições de aplicar.”

S4 “A SAE, administrativamente falando, ela na realidade regulariza, ela formaliza, documenta o que você aprende na faculdade, que é examinar o paciente e determinar a necessidade dele.”

S9 “Depende, se for numa instituição que te dê todo um número de funcionários suficiente, que tenha enfermagem adequada para cada paciente, número de paciente por enfermeiro. Acho que funciona, acho válido, acho muito válido a sistematização. Isso ajuda a cobrar melhor a assistência e deixa ficar nada para trás. Você consegue trabalhar melhor com o paciente.”

S18 “Acho importante no paciente, a gente ter uma visão melhor, você consegue ver toda dificuldade dele, e uma melhora da qualidade do serviço prestado para ele, você dar uma assistência melhor e mais do que você precisa melhorar a assistência.”

S21 “Eu acho assim: é muito bom para o paciente e também facilita muito para enfermagem também. A enfermagem passa conhecer melhor, tem aquela parte de histórico, tem toda aquela parte de prescrição de enfermagem, eu acho muito bom.”

S20 “Eu acho que é bom, a gente conhecer o paciente detalhado, história. Bom, meio caminho andado.”

S22 “Um método de trabalho para uma melhor qualidade na assistência de enfermagem, onde o enfermeiro encabeça e coordena esse trabalho.”

Assim, considerando-se as falas acima, percebe-se que o posicionamento favorável dos Enfermeiros entrevistados relaciona-se pontualmente à Sistematização da Assistência de Enfermagem como um elemento organizador e facilitador para o serviço de enfermagem.

A segunda subcategoria __ parcialmente favorável à SAE __ relaciona-se àquilo que convencionamos nomear como uma posição “parcialmente favorável à SAE”. É importante explicitar que esta subcategoria reúne as falas daqueles Enfermeiros que, embora reconheçam as qualidades do modelo proposto, enfatizam as dificuldades para a implantação e ou efetivação deste modelo. Via de regra, estas dificuldades relacionam-se a condições desfavoráveis no ambiente de trabalho, ligadas, sobretudo, a déficits de recursos organizacionais. Dentre as dificuldades apontadas, podemos destacar: dificuldade para o desenvolvimento das tarefas, implicando bastante tempo para sua realização. Vê-se, assim, que as críticas atrelaram-se mais à questão da possibilidade de efetivação da SAE e menos à SAE propriamente dita. Isso pode ser evidenciado pelas seguintes falas:

S1 “Eu acho que ajuda a gente a organizar o nosso serviço, o serviço de enfermagem, o cuidado de enfermagem e o que o paciente precisa. Poder programar como a gente vai fazer isso. Então, acho importante a gente conseguir fazer, facilita o nosso trabalho. Mas no momento, isso é uma obrigação, eu acho que a gente tem que cumprir, e a gente se sente não cumprindo uma parte do nosso dever...”

S5 “... Acho que é uma forma de organizar a assistência, só que é assim: eu acho que nós temos algumas prioridades. A principal prioridade é ter um recursos humanos qualificado e o número de enfermeiros adequados para você colocar a SAE funcionando adequadamente. Hoje você tem que ajudar realmente, estar participando da assistência junto com o auxiliar de enfermagem, estar cobrando técnica do auxiliar que está saindo da escola, sem saber o básico, com uma carência enorme de profissionais e, eu acho que a SAE fica prejudicada nisso aí. Eu acho que organiza a assistência, mas acho que você tem que ter uma base para poder trabalhar com a SAE. Esta base falta um pouquinho no Brasil. Alguns hospitais têm, mas na maioria não.”

S14 “ Eu acho até que para uma clínica inteira, que não seja o meu caso com a maternidade que é muito fragmentada, tem vários momentos que esta paciente passa. A gestante passa por vários momentos na maternidade. Então é muito quebrado, os setores são muito quebrados, então é mais difícil você manter a SAE. Mas talvez numa clínica mais

estável, quando você pega o paciente, começa fazer o histórico dele na clínica, talvez até funcione. Aqui, vários profissionais lidam com esta paciente, a gente tem uma equipe no centro obstétrico lidando com esta paciente. Começa por lá no centro obstétrico; é um processo todo. A maternidade é um ciclo. Lá, chega a gestante vai ser feito o exame físico e histórico naquele momento, quando ela sobe, aqui, a gente é outra equipe aguardando, tem que dar continuidade, eu não vou fazer novamente o exame físico e o histórico de enfermagem, eu vou dar continuidade nisto. Então, tem que ser uma coisa muito unida, tem que ser uma coisa muito em conjunto. O que a gente não consegue muito, é que é uma equipe lá, uma equipe cá, depois tem o bebê que é outra equipe. Então, a gente tem um pouco de dificuldade no que a SAE dá na maternidade por conta disso.”

S16 “É importante, porém é assim atrapalha o dia-a-dia da gente. É complicado trabalhar na UTI Neonatal e desenvolver a SAE, requer muito tempo e o nosso tempo é curto. Não só aqui como no outro serviço também. Aqui, as primeiras crianças que eu vejo e faço a SAE é na UTI , no outro, são 22 crianças, eu tomo praticamente o período todo fazendo a SAE, eu sei que é importante, mas eu deixo de dar outros cuidados, por exemplo: eu substituo o cuidado ao recém nascido para fazer a SAE.”

Assim, a opinião dos Enfermeiros entrevistados não é favorável à Sistematização da Assistência de Enfermagem no que tange às condições exigidas no ambiente de trabalho, as quais relacionam-se a um déficit de recursos humanos qualificados e a um déficit de recursos materiais, ambos necessários à Implementação da SAE. Esses fatores geram o desconforto demonstrado pelos sujeitos, uma vez que estes profissionais não conseguem desenvolver suas atividades adequadamente. Por um lado, o modelo proposto pela SAE demanda uma intensa exigência do profissional e estabelece rígidas condições para a realização do trabalho. Por outro lado, o profissional não encontra as condições materiais e humanas suficientes para cumprir as exigências. Esta situação paradoxal parece explicar o desconforto e, até mesmo, o sofrimento demonstrados pelos profissionais entrevistados.

É importante destacar que essa categoria de análise considerou a “opinião” dos sujeitos, segundo a definição de Moscovic (1978), como referencial para a compreensão de como a SAE influencia na organização do serviço de enfermagem.

Portanto, a opinião dos sujeitos entrevistados é essencial para fortalecermos o percurso da análise sobre o desenvolvimento da SAE no ambiente de trabalho, uma vez que os enfermeiros conhecem a sistematização e têm como exigência profissional desenvolver esse modelo de trabalho em todas as Instituições de Saúde.

3º. QUANTO AO DESENVOLVIMENTO DA SAE NO TRABALHO

Esta terceira categoria de análise é relativa ao “Desenvolvimento da Sistematização da Assistência de Enfermagem no contexto do trabalho dos enfermeiros entrevistados”, derivando duas subcategorias: ocorre parcialmente e não ocorre. Observa-se que nesta categoria de análise não há nenhuma subcategoria que retrate a realização integral da sistematização da assistência de enfermagem nas unidades de trabalho entre estes profissionais.

A primeira subcategoria __ desenvolvimento parcial da SAE __ relaciona-se no contexto do trabalho dos sujeitos entrevistados. Ela reúne, assim, relatos que exprimem a existência da SAE apenas nos setores do pronto socorro, unidade de terapia intensiva, berçário e clínica médico-cirúrgica. Suas opiniões são pontuadas por expressões que demonstram a falta de conhecimento teórico para aplicabilidade da SAE, resistência, sobrecarga de trabalho e falta de tempo. Isso pode ser evidenciado pelas seguintes falas:

S2 “Eu creio que se houvesse um pouco mais de divisão de tarefas, alguns enfermeiros a mais dentro do setor, facilitaria muito. Porque hoje o enfermeiro mesmo respondendo, no caso como eu que respondo pela coordenação da UTI. Eu sou enfermeiro de cabeceira, o enfermeiro assistencial, enfermeiro de supervisão, o enfermeiro de coordenação tudo em uma única pessoa e, ao mesmo tempo, com toda esta responsabilidade, tenho que estar orientando todo grupo em estar acompanhando todo desenvolvimento da equipe, na parte da UTI, e conseqüentemente tudo isso tenho que priorizar. É o paciente na verdade que tenho que priorizar. Depois desta parte do meu paciente, tem a burocrática que daria o retorno ao paciente. Mais isso é sempre segundo ou terceiro plano. Então, tudo isso é complicador, porque eu não tenho tempo hábil e, por outro lado, os enfermeiros que atuam não se comprometem tanto. A SAE hoje na UTI é realizado com muita resistência. Por outro lado não é um complemento maior, ele é muito pouco pelo muito que se pode fazer. Mas com isso já demos os primeiros passos, estamos chegando, falta pouco, é só chegar duas ou três enfermeiras que tudo vai se acalmar. Com certeza este SAE vai sair.”

S4 “Sim. Priorizo os pacientes graves, identifico imediatamente a necessidade de identificar quais as necessidades dos pacientes e faço a seleção, que é abordar o cliente de uma forma diferenciada.”

S7 “Sim. Eu priorizo os paciente mais graves e aplico a SAE e se der tempo a gente faz de toda clínica. Mas o paciente grave... o tratamento precisa ser seguido”.

físico, que eu não estou bem familiarizada, eu tenho dificuldade ainda, a prescrição e evolução são mais usadas, que é feito de todos os pacientes da UTI.”

S9 “Desenvolvo mais ou menos, por falta de tempo, porque só tem eu de enfermeiro, coordenadora no período da manhã e a gente não consegue dar toda assistência... É até difícil de aplicar a SAE no berçário, porque você tem várias atividades conjuntas: o atendimento na assistência, orientar os funcionários novos que acabaram de chegar e não têm nenhuma experiência. Além de você avaliar os auxiliares, você tem que ver o assistencial e mais a sistematização, para conseguir desenvolver um bom trabalho. Tudo isso em seis horas de trabalho.”

S15 “Mais ou menos, praticamente já vem tudo pronto, faço de acordo com cada paciente, visito cada cliente e faço a prescrição de enfermagem que falta.”

S16 “Em partes, não totalmente como deveria... É assim: plantonista é difícil ver o todo, eu não estou durante o dia na visita médica, que muitas coisas, eu deixo de ver, por isso que esta atividade deveria ser feita no período da manhã, pela enfermeira diarista, que tem mais contato no dia-a-dia com a criança, e eu acabo fazendo à noite para colaborar com a colega.”

S18 “Desenvolver, nós desenvolvemos, meia boca Ha! Ha! Ha! É difícil desenvolver total, a gente faz mais ou menos, muito superficial, só não é melhor porque nós nem conseguimos ver todos os pacientes, por exemplo: os paciente não chegam aqui com histórico do pronto socorro, a gente não consegue fazer uma evolução do paciente, você mal conhece a história, você conhece muito superficial o caso do paciente e a gente prescreve umas coisas assim muito inadequada e não consegue chegar no que deveria ser.”

Assim, as opiniões dos Enfermeiros entrevistados retratam o desenvolvimento parcial da SAE no seu ambiente de trabalho, justificado pelas reais condições de trabalho vivenciadas por estes sujeitos, que impossibilitam a continuidade e a consolidação da implementação da SAE. Por exemplo, os sujeitos entrevistados S2, S9, S10, S11, S13, S16, S18, S21 e S22, apresentam, em seus depoimentos, expressões que demonstram comportamentos semelhantes aos dos trabalhadores de empresas pós-fordistas, exercendo suas atividades em uma dinâmica de trabalho exaustiva com dupla função, acúmulo de cargos, e desenvolvimento de todo o serviço dentro da mesma jornada de trabalho.

A segunda subcategoria __ não implementação da SAE __ refere-se o que se dá em alguns setores específicos da instituição em que trabalham os Enfermeiros, quais sejam: centro obstétrico, centro cirúrgico e maternidade. As opiniões emitidas pelos sujeitos

entrevistados marcam-se por expressões que remetem a um déficit organizacional gerado pela falta de recursos humanos e materiais; a uma sobrecarga de trabalho, ao aumento de tarefas e à falta de tempo. As falas abaixo evidenciam tais posturas:

S6 “Não. Como já falei, a gente ainda não está fazendo ainda. Tem projeto para fazer, tem planos, mas ainda não deu para fazer.

S11 “Acho que dá pra dizer que não, entendeu? Eu acho que é assim: você faz parcialmente, às vezes faz, às vezes não faz. Então, hoje eu diria que a gente não faz. Isso eu acho pior, o dia-a-dia do enfermeiro, ele não propicia a desenvolver. Talvez a culpa seja nossa, eu acho que o enfermeiro terminou sendo responsável por um monte de outras coisas, entendeu?....”

S14 “Oficialmente não, o que a gente faz é a SAE numa forma informal. Na verdade, com algumas anotações isoladas, o histórico da paciente ele é feito na verdade, pelo médico, nós temos uma ficha de histórico feita pelo médico, depois a gente tem a prescrição de enfermagem, que geralmente é feita junto com a prescrição médica, porque a enfermeira da maternidade, ela é enfermeira obstétrica, e ela tem dentro do protocolo do hospital esta autonomia de fazer prescrições, tem algumas medicações, alguns cuidados, então a gente tem como hábito prescrever junto com a prescrição do médico e os cuidados também, não é aquela coisa padronizada. A gente faz o exame físico das pacientes mais graves, das patológicas, das mais graves, existe esta norma, mas não é uma coisa organizada como a SAE propõe para gente.”

S17 “Não, aqui no centro obstétrico nós não estamos desenvolvendo por falta de pessoal, eu, à noite fico no centro cirúrgico e no centro obstétrico e a gente não conseguiu implantar a sistematização ainda.

S19 “Não, nós ainda não desenvolvemos, comprovado, não. Por quê? Ainda não saberia te responder o porquê! Na verdade, lá não tem impresso nenhum, não chegou pra nós ainda. Eu sei, que lá no pré parto deveria no primeiro momento, com a paciente, fazer a entrevista, fazer o primeiro exame físico e desenvolver o histórico de enfermagem. Mas não tem.”

S20 “Aqui não, porque não é rotina, e também não está implantado. Só temos a rotina do cuidado e não temos sistematização.”

Os depoimentos dos Enfermeiros acima transcritos indicam que o não desenvolvimento da SAE em seus ambientes de trabalho deve-se à falta de recursos

organizacionais. Esta carência de recursos foge do controle não só dos Enfermeiros, como também da própria Gerência de Enfermagem e, deste modo, afigura-se como a principal justificativa para o Sistema COFEN/CORENs (caso haja alguma fiscalização) por não haver o desenvolvimento da SAE.

Alguns depoimentos indicam, ainda, que há situações em que um mesmo Enfermeiro se responsabiliza por dois centros distintos, o obstétrico e o cirúrgico, o que inviabiliza a implementação da SAE. Assim, as falas dos Enfermeiros demonstram, de modo geral, que a operacionalização da SAE no momento e nas condições de trabalho atualmente vivenciadas é impraticável. Para estes sujeitos, nestas condições, não se justifica o desenvolvimento da organização sistematizada do serviço de enfermagem. Deste modo, os sujeitos entendem que devem aguardar a reestruturação dos recursos organizacionais nesta instituição de saúde pública para que, então, a SAE seja possível.

De modo que, fazendo uma paralelo com Horta (1979), já na graduação, por meio de disciplinas teóricas, pode-se conhecer o “processo de enfermagem”, conhecimento este que, ainda segundo a autora, é o caminho para o crescimento do serviço da enfermagem. A SAE é, então, o resultado de uma adaptação deste “processo de enfermagem”, por meio da redução de suas etapas. Assim, a SAE foi a maneira encontrada pelo Sistema COFEN/CORENs para exigir a aplicação do “ processo de enfermagem” nas Instituições de saúde, como o objetivo de fazer com que estas instituições organizem, de forma sistematizada, todo o serviço de enfermagem e controlem a produção aí existente. No entanto, não são todos os Enfermeiros entrevistados que conseguem acompanhar o ritmo e a complexidade das mudanças organizacionais que atingem o serviço de enfermagem.

De modo geral, trata-se de profissionais mais velhos, com um maior número de anos de serviço e esta condição, como já discutimos, explicaria a resistência à mudança que

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