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Dos 727 animais apresentados ao serviço de ecocardiografia do HVP, entre Março de 2003 e Março de 2010, foi diagnosticada pelo menos uma alteração cardiovascular em 642 cães. A tabela 3 apresenta todas as alterações cardiovasculares diagnosticadas por ecocardiografia, durante esse período de tempo.

Dos 642 cães com alterações cardiovasculares, 89 (13.9%) apresentavam malformações cardíacas congénitas de 10 tipos diferentes, e em 6 desses cães foram diagnosticadas mais do que uma DCC. A lista das DCCs e a sua distribuição percentual estão apresentadas na tabela 4. A EA foi a mais prevalente entre a população de cães que apresentaram uma ou mais DCCs, correspondendo a 49.4% dos 89 cães. Na figura 2 pode-se observar a distribuição das 95 DCCs diagnosticadas nestes 89 animais, onde a mais comum foi a EA (46.3%).

A prevalência da EA determinada em relação aos 642 cães com alterações cardiovasculares, apresentados ao serviço de ecocardiografia, foi de 6.9% (44 cães). Destes 44 animais, 3 (6.8%) possuíam outras DCCs concomitantes, a EP (2 animais) e a aorta quadricúspide (1 animal) (tabela 4). Nestes 44 cães, simultaneamente com a EA,

Tabela 3: Alterações cardiovasculares diagnosticadas em 642 cães, entre Março de 2003 e Março de 2010, por ecocardiografia.

n.º

Doença valvular crónica da mitral 376 Doença valvular crónica da tricúspide 154 Insuficiência da valva Pulmonar 104 Hipertensão pulmonar 103 Arritmias 73 Cardiomiopatia Dilatada 56 Estenose Aórtica 44 Efusão pericárdica 43 Hipertrofia ventricular 43 Insuficiência Aórtica 39 Neoplasia cardíaca 35 Estenose Pulmonar 23 Cardiomiopatia Hipertrófica 17 Dirofilariose 9 Aorta quadricúspide 8 Defeito do septo atrial 7 Ducto arterioso persistente 4 Displasia da tricúspide 4

Endocardite 3

Tetralogia de Fallot 2 Displasia da mitral 1 Defeito do septo interventricular 1 Veia cava supranumerária 1

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ecocardiograficamente, também se diagnosticou uma insuficiência da mitral (14 cães); a doença valvular crónica da mitral (5 cães); a cardiomiopatia dilatada (2 cães); a efusão pericárdica (2 cães); e a insuficiência da valva aórtica (4 cães).

Figura 4 - Gráfico circular representativo da distribuição percentual de 95 doenças cardíacas congénitas

diagnosticadas, entre Março de 2003 e Março de 2010, numa população de 89 cães (percentagem em relação ao total de doenças cardíacas congénitas diagnosticadas).

46.3% 24.2% 8.4% 7.4% 4.2% 4.2% 2.1% 1.1% 1.1% 1.1% Estenose Aórtica Estenose Pulmonar Aorta Quadricúspide Defeito do septo atrial Ducto arterioso persitente Displasia da Tricúspide Tetralogia de Fallot

Defeito do septo interventricular Displasia da mitral

Veia cava supranumerária

Tabela 4: Distribuição percentual das doenças cardíacas congénitas registadas em 89 cães e percentagem de cada malformação cardíaca em relação à população de cães diagnosticados com alguma alteração cardiovascular (n=642), durante o mesmo período de tempo.

Diagnósticos n.º de cães (%)

% em relação à população de cães com alterações cardiovasculares (n=642)

Estenose Aórtica (EA) 41 (46.1%) 6.4% Estenose da Pulmonar (EP) 19 (21.3%) 3.0% Aorta quadricúspide (AQ) 7 (7.9%) 1.1% Defeito do septo atrial 5 (5.6%) 0.8% Ducto arterioso persistente (DAP) 3 (3.4%) 0.5% Displasia da tricúspide (DT) 3 (3.4%) 0.5% Tetralogia de Fallot 2 (2.2%) 0.3% Defeito do septo interventricular 1 (1.1%) 0.2% Veia cava supranumerária 1 (1.1%) 0.2% Displasia da mitral 1 (1.1%) 0.2%

EA +EP 2 (2.2%) 0.3%

EA + AQ 1 (1.1%) 0.2%

EP + DT 1 (1.1%) 0.2%

EP + Defeito do septo atrial 1 (1.1%) 0.2% DAP + Defeito do septo atrial 1 (1.1%) 0.2%

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A idade de diagnóstico dos cães com EA variou entre os 2.3 meses e os 165.9 meses de idade, com uma mediana de 59 meses. Dos 44 cães afectados, 31 (70.5%) eram machos e 13 (29.5%) eram fêmeas. Nas tabelas 5 e 6 estão representadas algumas características da população de animais com EA.

A EA foi diagnosticada em cães de 12 raças diferentes, com a raça Boxer a ser a mais comum (63.6%), seguida da Golden Retriever e da Rottweiler (tabela 6). Através do cálculo do risco relativo destas 3 raças entre todas as alterações cardiovasculares diagnosticadas possuírem EA, verificou-se que todas possuem um risco significativamente elevado de desenvolver EA (tabela 7). Também pelo cálculo do risco relativo, verificou-se que os machos apresentaram 1.2 vezes maior risco (intervalo de confiança de 95%, 0.623-2.376; p=0.566) de ter a doença em relação às fêmeas.

Tabela 5: Características da população de animais com Estenose Aórtica.

Idade (meses)

n= 44

Média ± Desvio padrão 58.8 ± 43.1

Mediana 59.0 Amplitude 2.3 – 165.9 Sexo 31 (70.5%) a 13 (29.5%) a n=44 Masculino Feminino Peso (kg)

n= 42 Média ± Desvio padrão 28.1 ± 11.4

Mediana 28.4

Amplitude 3.9 – 70

BSAb (m2)

n= 42 Média ± Desvio padrão 0.91 ± 0.25

Mediana 0.94

Amplitude 0.25 – 1.72

a

Resultados expressos em número e percentagem.

b

Área de superfície corporal

Tabela 6: Distribuição de raças e sexos dos 44 cães afectados com Estenose Aórtica.

Raças Macho Fêmea Total %

Boxer 17 11 28 63.6 Golden retriever 4 0 4 9.1 Rottweiler 2 1 3 6.8 Terranova 1 0 1 2.3 Samoiedo 1 0 1 2.3 Bull terrier 1 0 1 2.3 Dogue alemão 1 0 1 2.3 Dogue bordéus 1 0 1 2.3 Dogue argentino 1 0 1 2.3 Pequinês 1 0 1 2.3 Whippet 0 1 1 2.3

Sem raça determinada 1 0 1 2.3

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Dos quarenta e quatro cães afectados por EA, 38 cães (86.4%) tinham ESA, 5 (11.4%) EAV e 1 (2.3%) EASV (tabela 8). Dos 38 cães que apresentaram ESA, 3 possuíam a descrição ecocardiográfica da forma dinâmica da doença. Verificou-se a dilatação pós-estenótica da aorta em 3 dos 44 cães.

A classificação da EA quanto à gravidade da obstrução hemodinâmica foi realizada em 43 dos cães afectados por EA, de acordo com o GP sistólico máximo medido entre o TSVE e a aorta. Assim, 22 cães apresentaram EA ligeira (51.2%), 12 moderada (27.9%) e 9 grave (20.9%) (tabela 9). A partir dessa classificação, compararam-se as médias de idades, e de certos índices ecocardiográficos entre cada um dos 3 grupos, não se verificando diferenças significativas entre as suas médias (tabela 10).

Tabela 7: Riscos relativos estimados para as três raças mais afectadas com Estenose Aórtica na população de cães com alterações cardiovasculares (n=642).

Raça n Risco relativo Intervalo de

confiança de 95% p

Boxer 28 20.1 10.2-39.7 < 0.0001

Golden Retriever 4 6.5 1.9-22.1 0.003

Rottweiler 3 7.1 1.7-29.5 0.007

Tabela 8: Distribuição dos 44 cães afectados por EA em relação à localização anatómica da lesão.

Tiposa n % ESA 38 86.4 EAV 5 11.4 EASV 1 2.3 Total 44 100 a

ESA, Estenose subaórtica; EAV, Estenose aórtica valvular; EASV, Estenose aórtica supravalvular.

Tabela 9: Classificação da EA quanto à gravidade.

Variáveis n Ligeira Moderada Grave

n=22 (51.2%) b n= 12 (27.9%) b n= 9 (20.9%) b

GP (mmHg) 43 24.5 ± 2.9 c 64.0 ± 4.0c 112.2 ± 4.6c

a

GP, Gradiente de Pressão sistólico máximo entre o TSVE e a Aorta.

b

Resultados expressos em número e percentagem.

c

41

Os catorze animais a que se teve acesso ao grau de intensidade do sopro possuíam um sopro sistólico de ejecção de intensidade variável (I-VI/VI), com o seu ponto máximo de intensidade localizado na região cardíaca basilar esquerda, com excepção de 2 cães em que o ponto máximo de intensidade foi localizado a nível da mitral. A frequência dos graus de intensidade de sopro que estes 14 cães apresentaram foi a seguinte: 1 cão (7.1%) com um sopro de grau I/VI, 1 cão (7.1%) com grau II/VI, 8 cães (57.1%) com sopros de grau III/VI, 3 cães (21.4%) com sopros de grau IV/VI e 1 cão (7.1%) com sopro de grau VI/VI.

Os coeficientes de correlação entre o GP sistólico máximo através do TSVE e a aorta e variáveis como a idade em meses, o grau de intensidade do sopro e diversos índices ecocardiográficos são apresentados na tabela 11. A idade em meses dos 43 cães afectados com EA mostrou ter uma correlação positiva e estatisticamente significativa com o GP máximo através do TSVE e da aorta (r=0.331; p=0.03). A intensidade do sopro de 12 cães (os 2 que apresentaram o ponto de máxima intensidade do sopro a nível da valva mitral foram excluídos deste teste, pois a intensidade registada podia não corresponder ao sopro sistólico de ejecção originado pela EA) afectados com EA e o GP máximo medido através do TSVE e da aorta, desses animais também estavam significativamente correlacionadas de forma positiva (r=0.668; p=0.02). Foram observadas correlações negativas entre o GP máximo medido através do TSVE e da aorta, e a IVSd/BSA (r=-0.148, p=0.361), a IVSs/BSA (r=-0.179, p=0.269), a LVIDd/BSA (r=-0.115, p=0.478) e a LVPWs/BSA (r=-0.077, p=0.636). Correlações

Tabela 10: Idade e parâmetros ecocardiográficos segundo a gravidade de EA.

Variáveisa n Ligeirab Moderadab Graveb P

Idade (meses) 43 53.1 ± 41.1 46.8 ± 35.7 86.6 ± 53.1 0.09 IVSd/BSA (cm/m2) 40 1.3 ± 0.4 1.4 ± 0.7 1.2 ±0.2 0.530 IVSs/BSA (cm/m2) 40 1.8 ± 0.3 1.8 ± 0.6 1.4 ± 0.3 0.253 LVIDd/BSA (cm/m2) 40 4.8 ± 0.9 4.6 ± 1.6 4.2 ± 1.2 0.582 LVIDs/BSA (cm/m2) 40 3.0 ± 0.7 3.0 ±1.3 3.0 ± 1.3 0.980 LVPWd/BSA (cm/m2) 40 1.3 ± 0.3 1.4 ± 0.7 1.3 ± 0.2 0.630 LVPWs/BSA (cm/m2) 40 1.8 ± 0.5 2.0 ± 0.8 1.7 ± 0.2 0.412 IVSd/LVIDd 42 0.3 ± 0.1 0.3 ± 0.1 0.3 ± 0.1 0.470 LVPWd/LVIDd 42 0.3 ± 0.1 0.3 ± 0.2 0.4 ± 0.1 0.096 a

IVSd, espessura do septo interventricular, em diástole; IVSs, espessura do septo interventricular, em sístole; LVIDd, dimensão interna do ventrículo esquerdo, em diástole; LVIDs, dimensão interna do ventrículo esquerdo, em sístole; LVPWd, espessura da parede posterior do ventrículo esquerdo, em diástole; LVPWs, espessura da parede posterior do VE, em sístole; BSA, área de superfície corporal.

b

42

positivas foram registadas entre o GP máximo medido através do TSVE e da aorta, e a LVIDs/BSA (0.06, p=0.714), a LVPWd/BSA (r=0.002, p=0.989), a IVSd/LVIDd (r=0.174, p=0.269) e a LVPWd/LVIDd (r=0.285, p=0.067).

Dos 21 animais aos quais se teve acesso à sua história clínica, apenas 8 (38.1%) tinham registo de sinais clínicos relacionados com a doença: 5 cães tinham história de intolerância ao exercício, 4 de síncope, 1 de lipotimia e 6 possuíam sinais clínicos de insuficiência cardíaca congestiva (ascite, dispneia e tosse). A tabela 12 inclui as médias de vários índices ecocardiográficos, do GP sistólico máximo medido entre o TSVE e a aorta, e das idades em meses de cães afectados com EA dependendo da presença ou da ausência de sinais clínicos de doença. No entanto, nenhum dos parâmetros estudados apresentou diferenças significativas entre os dois grupos.

Tabela 11: Coeficientes de correlação (r) de Pearson entre o gradiente de pressão sistólico máximo, através do tracto de saída do ventrículo esquerdo e da aorta, e diversas variáveis.

Variáveisa n rb p Idade (meses) 43 0.331 0.030* Intensidade de sopro 12 0.668 0.018* IVSd/BSA (cm/m2) 40 -0.148 0.361 IVSs/BSA (cm/m2) 40 -0.179 0.269 LVIDd/BSA (cm/m2) 40 -0.115 0.478 LVIDs/BSA (cm/m2) 40 0.06 0.714 LVPWd/BSA (cm/m2) 40 0.002 0.989 LVPWs/BSA (cm/m2) 40 -0.077 0.636 IVSd/LVIDd 42 0.174 0.269 LVPWd/LVIDd 42 0.285 0.067 a

IVSd, espessura do septo interventricular, em diástole; IVSs, espessura do septo

interventricular, em sístole; LVIDd, dimensão interna do ventrículo esquerdo, em diástole; LVIDs, dimensão interna do ventrículo esquerdo, em sístole; LVPWd, espessura da parede posterior do ventrículo esquerdo, em diástole; LVPWs, espessura da parede posterior do ventrículo esquerdo, em sístole; BSA, área de superfície corporal.

b

Coeficiente de correlação de Pearson.

43

Tabela 12: Parâmetros ecocardiográficos e idade de animais afectados por Estenose Aórtica tendo em conta a presença ou a ausência de sinais clínicos relacionados com a doença.

Parâmetros

Sem sinais clínicos Com sinais clínicos

p n ± s n ± s Idade (meses) 13 54.0 ± 41.4 8 79.7 ± 58.5 0.252 GP (mmHg) 13 46.1 ± 33.8 8 68.8 ± 60.3 0.354 IVSd/BSA (cm/m2) 13 1.1 ± 0.7 7 1.1 ± 0.2 0.116 IVSs/BSA (cm/m2) 13 1.8 ± 0.5 7 1.5 ± 0.4 0.374 LVIDd/BSA (cm/m2) 13 4.9 ± 1.0 7 4.6 ± 1.2 0.518 LVIDs/BSA (cm/m2) 13 2.8 ± 0.5 7 3.3 ± 1.4 0.406 LVPWd/BSA (cm/m2) 13 1.5 ± 0.6 7 1.2 ± 0.2 0.165 LVPWs/BSA (cm/m2) 13 2.1 ± 0.8 7 1.5 ± 0.4 0.081 IVSd/LVIDd 13 0.3 ± 0.1 8 0.3 ± 0.1 0.559 LVPWd/LVIDd 13 0.3 ± 0.1 8 0.3 ± 0.1 0.878 a

GP, Gradiente de Pressão máximo entre o tracto de saída do ventrículo esquerdo e a Aorta; Vmax, Velocidade máxima através do tracto de saída do ventrículo esquerdo; IVSd, espessura do septo interventricular, em diástole; IVSs, espessura do septo interventricular, em sístole; LVIDd, dimensão interna do ventrículo esquerdo, em diástole; LVIDs, dimensão interna do ventrículo esquerdo, em sístole; LVPWd, espessura da parede posterior do ventrículo esquerdo, em diástole; LVPWs, espessura da parede posterior do ventrículo esquerdo, em sístole; BSA, área de superfície corporal; ± s, média ± desvio padrão.

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