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3. ESTRADA DE FERRO PERUS-PIRAPORA: UM OBJETO, DIFERENTES

3.3. Sobre o Estado Atual de Preservação do Bem Tombado

3.3.2. Resultados

A Resolução de tombamento, publicada em janeiro de 1987, define o acervo da Estrada de Ferro Perus-Pirapora como material rodante e instalações. Esse segundo item é amplo e inclui as linhas férreas, oficinas e equipamentos de apoio (PROCESSO CONDEPHAAT 21273/80, 1980). O detalhamento desse conjunto foi aprovado apenas em 2000, através da Resolução SC 56/2000 (PROCESSO CONDEPHAAT 21273/80, 1980). O novo documento especifica a proteção de: (1) o leito da via férrea entre o quilômetro 2 e o entroncamento; (2) Instalações, especificamente as caixas d’água [km 5], Parada Santa Fé [km 9]; Desvio [km 12] e Estação Mirim [km 17]; Material Rodante, incluídas as locomotivas a vapor listadas [21 unidades, sendo nove ativas, duas inativas e dez irrecuperáveis] e outras 122 unidades, entre diferentes tipos de vagões, duas pranchas e um guincho ferroviário; e, área envoltória.

O Artigo 3° dessa resolução define os limites da área envoltória, sendo formada por cinco zonas com características específicas de proteção. (PROCESSO CONDEPHAAT 21273/80, 1980). Cada uma das partes está descrita e possuem coordenadas em formato UTM (Universal Transversa de Mercator) para identificação do início e término. As linhas férreas e os rios localizados nas proximidades aparecem como elementos balizadores, como no exemplo:

I – do ponto inicial do quilômetro 2 (dois) ponto de coordenadas UTM 7.411.310 MN e 319.100 m E – até a divisa dos municípios de São Paulo e Cajamar – ponto de coordenadas 7.410.760 mN e 313.620

mE – em uma faixa de 50 (cinqüenta) metros da margem esquerda

do Rio Juquery, ao sul, no interior do Parque Anhanguera, em uma faixa de 300 (trezentos) metros da linha férrea e, no restante, em uma faixa de 25 (vinte e cinco) metros a partir do leito da linha férrea (Zona 1);

A definição precisa do perímetro é dificultada pela menção a elementos externos ao processo e sem coordenadas correspondentes, tais como o Parque Anhanguera e a margem do Rio Juquery. Tampouco há no processo ou na página do CONDEPHAAT qualquer mapa que ilustre a proteção, o que, por consequência, agrava a situação. Dessa forma, a ausência de representações gráficas colabora para a indefinição, sendo ainda, em nosso entendimento, um problema para a gestão do bem tombado.

Conforme mencionado nos detalhamentos sobre materiais e métodos, as informações foram coletadas durante visita de campo realizada em fevereiro de 2015. Como resultado, de maneira geral, identificamos o avanço da deterioração do bem quando comparado à situação descrita no processo de tombamento em 1987

(PROCESSO CONDEPHAAT 21273/80, 1980). Grande parte dos trilhos foi removida e em alguns pontos, a exemplo das proximidades do antigo km 12, a percepção dos cortes e da própria ferrovia vai sendo apagada pela ocupação (figura 21).

Figura 21. Áreas ocupadas no KM 12.

Fonte: Acervo do autor.

Sobre as linhas, atualmente, apenas o trajeto entre o km 2 e km 6, além de pouco mais de 800 m localizado na atual Fábrica da Natura (antigo km 11), possui capacidade de operação (figura 22). O trecho seguinte, entre a fábrica e o limite da zona 2 da área envoltória, apresenta apenas vestígios das vias. Nem mesmo o desvio do km 12, instalação destacada na Resolução, está íntegro.

Figura 22. Mapa. Situação das Linhas Férreas

Fonte: Elaborado pelo autor.

Além da área protegida na Resolução SC 56/2000 (PROCESSO CONDEPHAAT 21273/80, 1980), a Estrada de Ferro Perus-Pirapora é composta ainda por outros dois trechos. O trecho entre o km 0 e km 2, em São Paulo, e toda a área posterior ao Entroncamento, já na cidade de Cajamar. Essas representam os extremos da ferrovia. Como vimos no tópico anterior, ambas as áreas foram mencionadas durante a proposta de regulamentação (vide anexo 3), contudo, não foram incluídas na decisão final.

O ponto inicial está localizado ao lado da Estação Perus da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos. Em visita realizada em 2010, identificamos no local alguns vestígios das linhas e o próprio corte. Por informação, a área está integrada ao

tombamento estadual da Estação Perus, portanto, também se trata de área protegida. No outro extremo, em Cajamar, as linhas do denominado Gato Preto foram

retiradas completamente. São poucos os vestígios íntegros das antigas operações ferroviárias. Entre eles, temos como exemplo uma base de sustentação de uma antiga ponte (figura 23)

Figura 23. Antiga Ponte EFPP. Bairro Gato Preto. Cajamar.

Fonte: Acervo do autor.

Sobre as instalações, as caixas d’água localizadas no km 5 são os elementos que apresentam melhor estado de preservação (figura 24). Possivelmente, a localização, Pátio do Corredor, e o fato de seguirem ativas, auxiliando no abastecimento das locomotivas operadas pelo IFPPC, sejam a razão da integridade. Situação oposta foi verificada nos demais itens da lista. Na Estação Mirim (km 17), a vegetação encobre a área e dificulta o acesso. Ainda que não possamos afirmar que tenha sido destruída, a estrutura não é visível.

Figura 24. Caixa d´água (Pátio do Corredor)

Fonte: Acervo do autor.

Quanto ao desvio (km 12), conforme já mencionado, existem apenas vestígios dos trilhos naquela área e não é possível identificar o objeto. Nas proximidades do km 12, notamos a presença de outra estrutura ferroviária, um antigo posto telegráfico. O local foi alterado e aparenta ter sido convertido para usos religiosos (figura 25).

Figura 25. Antigo Posto Telegráfico

Quanto ao material rodante, em função da grande quantidade e variedade dos equipamentos que integram o acervo tombado, seria necessário um estudo específico para avaliar a situação. Ainda assim, o que podemos informar sobre o assunto é a concentração de equipamentos na área do Pátio do Corredor. Existem ainda outras quatro locomotivas localizadas no Km 11 (figura 26), além de unidades no local denominado como “Fila da Morte”, localizado em Cajamar sobre o estado de preservação, vide registro fotográfico, em apêndice.65 Desconhecemos a quantidade,

uma vez que o espaço não se enquadrava no recorte proposto para a visita de campo, mas está mencionado na Regulamentação de Tombamento.

Figura 26. Locomotivas na atual Fábrica da Natura

Fonte: Acervo do autor.