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No documento LER PART I L H A R C O P I A R P E N S A R (páginas 32-68)

juRíDico e De iMAginAção poLíticA

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Arnulf Becker Lorca**

traduzido por Adriane Sanctis de Brito, eduardo Shigueo tomikawa e Marcel ichiro Bastos Kamiyama Revisado por Michelle Ratton Sanchez Badin

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nteRnAcionAL eM peRSpectiVA coMpARADA Existe uma maneira tipicamente latino-americana de se entender a ordem pública global? Como os juristas latino-americanos refletiram sobre dese- nhos globais alternativos e suas implicações para a região? Essas ques- tões se tornam inesperadamente complicadas em relação à América Latina contemporânea, uma vez que a disciplina do direito internacional não ofe- rece aos juristas situados na periferia ferramentas analíticas adequadas para a compreensão do significado e dos usos do direito internacional em seu próprio contexto.1 No entanto, examinar tradições jurídicas periféricas, regionais ou nacionais não só esclarece similaridades e diferenças entre as concepções alternativas do mundo internacional, como também ajuda a reconhecer as restrições estruturais e relações desiguais de poder que operam dentro da disciplina e que podem dificultar/impedir tentativas de imaginar visões alternativas da ordem mundial a partir da linguagem do direito internacional.2

Este artigo investiga as maneiras pelas quais os juristas latino-americanos usaram o direito internacional à luz de seu contexto particular e dentro de um conjunto limitado de materiais jurídicos, doutrinários e históricos. Ao mesmo tempo, aliado ao direito internacional crítico de contrabalanceamento

e descentralização, o objetivo deste artigo é reinterpretar esses usos e prá- ticas enquanto constituintes de uma abordagem marcadamente regional ou de uma tradição de pensamento jurídico internacional.

Contudo, recorrer ao direito internacional para examinar o pensamento atual na América Latina sobre a ordem pública global traz dificuldades adi- cionais: parece ser uma escolha metodológica voltada para a direção errada. Juristas latino-americanos, geralmente, têm-se desvinculado da discussão acerca das várias formas de governança, relegando para outros especia- listas, áreas de conhecimento, ou mesmo para a política internacional a articulação de uma definição de ordem internacional e sua relação corres- pondente com a América Latina. Essa abordagem contrasta fortemente com outros momentos da trajetória da disciplina na região.3

Com um ponto de partida heurístico, no estudo de usos e práticas do direito internacional na América Latina contemporânea, examino uma bata- lha ocorrida no âmbito da disciplina, que durou de 1880 a 1950, período em que profissionais da área jurídica lutaram para afirmar ou negar a existência de um direito internacional tipicamente latino-americano. Também exploro como essa disputa tem sido representada e tratada na atual cultura jurídica latino-americana. Defendo que as atuais represen- tações desse debate, que enfatizam demasiadamente a sua solução pací- fica e a cessação das divergências profissionais, dão origem a um ponto cego na História – o que aconteceu com a disciplina entre os anos 1950 e 1970? O esquecimento estratégico desse período em que a disciplina experimentou politização e fragmentação relevantes está intrinsecamente conectado à natureza das práticas dominantes da atualidade.

O presente artigo propõe a seguinte periodização da trajetória do direito internacional na América Latina: primeiro, o direito internacional como um instrumento no processo de construção da nação (décadas de 1810 a 1880); segundo, o direito internacional como parte da criação discursiva do conceito de América Latina, bem como de uma linguagem para contestar sua definição (décadas de 1880 a 1950); terceiro, um período de radicalização e fragmentação profissional (décadas de 1950 a 1970); e quarto, um período de despolitização profissional e de irrele- vância do direito internacional no discurso da região (décadas de 1970 a

2000).4 Mostro aqui que o direito internacional teve um papel importante de 1880 à década de 1950 no estabelecimento de um discurso que pos- sibilitou aos latino-americanos discutir e contestar sua identidade polí- tica e lugar no mundo. De um lado, os momentos em que a tradição jurídica internacional tem sido utilizada para apoiar e contestar ideais sobre a América Latina correspondem aos momentos de relevância e polêmica da disciplina. Por outro lado, o apaziguamento e a tradução de contendas no interior da matéria em arranjos doutrinários e institucionais sinaliza- ram a perda de relevância do direito internacional em relação a outros discursos, tornando a sua tradição menos atraente para se pensar a Amé- rica Latina.

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Procurar uma tradição de pensamento de direito internacional na Amé- rica Latina pode ser complicado. Em primeiro lugar, a tradição jurídica dominante toma-o como um fenômeno de origem europeia que se esten- deu paralelamente à expansão da Europa pelo globo. Assim, os autores, as escolas de pensamento e as tradições intelectuais necessariamente têm origem eurocêntrica, e quando essas categorias são transpostas para a Amé- rica Latina, são reduzidas à recepção, imitação ou, na melhor das hipó- teses, contribuição para o legado da disciplina. Em segundo lugar, os juristas latino-americanos contemporâneos mal consideraram a existência de um modo latino-americano de pensamento sobre o direito internacio- nal (no entanto, entre o período de 1880 a 1950, um seleto grupo de auto- res e textos lutou pela discussão acerca de um direito internacional latino-americano). A cultura jurídica da América Latina esqueceu-se desse debate ou o formalizou num relato de conquistas institucionais e con- tribuições doutrinárias para o desenvolvimento de um sistema jurídico internacional universal.5

Na disciplina contemporânea, diversas narrativas sobrepõem-se para explicar a trajetória do direito internacional na região. A narrativa a-his- tórica e universalista, atualmente dominante, apresenta uma visão limi- tada a determinados conteúdos, usos e funções do direito internacional,

excluindo assim os relatos genealógicos de particularidades regionais do Direito. Outra narrativa compreende relatos de juristas latino-ameri- canos sobre a história do direito internacional na região. Este artigo sugere uma terceira abordagem, que parte do trabalho produzido por juristas da América Latina entre 1880 e 1950 – momento no qual, a partir de um fer- voroso debate sobre a existência de um direito internacional específico para a América Latina, foi operada não apenas a mediação da tensão entre universalidade e particularidade do direito internacional, como também se articulou uma concepção de América Latina. Em vez de privilegiar uma dessas narrativas sobre as outras, este artigo tem a intenção de produzir uma imagem fluida da trajetória do direito internacional na América Latina, uma imagem capaz de compreender tanto os seus defeitos quanto o seu potencial transformador.

Quanto à questão da construção eurocêntrica da história do direito inter- nacional, a ideia aqui é deixar em segundo plano o problema da origem oci- dental e, em vez disso, enfatizar o processo da formação de cânones.6A ideia de origem ocidental em si é, para mim, um cânone do direito interna- cional dominante. Assim, no contexto deste artigo, uma crítica ao eurocen- trismo não é uma disputa metafísica (contestando a ontologia do Ocidente) nem um desafio histórico (sobre a origem do direito internacional). É sim uma investigação sobre a criação de um cânone, a autoridade que ele tem despertado na América Latina e, também, sua conexão com o contexto polí- tico internacional ao refletir e reproduzir relações de desigualdade de poder. Abandonar a questão da sua origem e realidade histórica abre espaço para que se considere os juristas latino-americanos como agentes históricos, envolvidos na assimilação do cânone dominante de direito internacional – por sua própria conta e risco. Acredito que apenas após a compreensão dos hábitos de assimilação jurídica da América Latina é possível contestar a suposta pureza e ordenação hierárquica desse cânone, bem como, a partir daí, avaliar as suas consequências.

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de direito internacional da América Latina contemporânea.7A análise mos- tra uma linha comum na representação do direito internacional e de sua tra- jetória na América Latina, bem como as divergências intrarregionais de pensamento acerca da relação da região com o direito internacional.

São duas as razões que me levam a concentrar os meus esforços em livros didáticos. Primeiro, cada país latino-americano tem um conjunto de livros de direito internacional que consolidou seu pensamento sobre o direito internacional latino-americano – por meio de inúmeras edições e uso extensivo no ensino e na assessoria jurídica em universidades nacio- nais, bem como nas representações diplomáticas das relações exteriores.8 Em segundo lugar, os livros didáticos expressam o senso comum da pro- fissão, o entendimento popular e tácito sobre o direito internacional na região, constituindo uma tradição nacional. Além disso, monografias dedi- cadas especificamente à questão do direito internacional latino-americano são raras. Muitas vezes, elas não fazem mais do que reafirmar a história do direito internacional na América Latina para o público estrangeiro.9

Os livros didáticos latino-americanos podem ser categorizados entre a adoção das concepções universalismo ou particularismo. O universalismo é uma conceituação do direito internacional que afirma a sua universalidade geográfica, cultural e material, considerando a sua própria nomenclatura e autodeclaração de que o seu âmbito de aplicação é o internacional. O par- ticularismo, por sua vez, considera que o direito internacional atinge uni- versalidade na História, pois compreende várias origens geográficas e culturais, bem como as contribuições contínuas que preservam tal diver- sidade. Dentro desse espectro, é possível distinguir dois tipos ideais de representação do direito internacional na América Latina contemporâ- nea: o universalismo estanque e a contribuição particularista. Defendo que esses dois modos extremos, na verdade, impulsionam o debate em direção ao centro.

À primeira vista, os dois tipos ideais retratam como o conflito sobre a existência de um direito internacional latino-americano sedimentou uma distinção entre universalismo e particularismo e como essa distinção opera como uma digressão formalizada do conflito. Os juristas de ambos os lados consideram sua conceituação de direito internacional fundada em termos

científicos – em vez de termos pessoais e políticos –, rejeitando, assim, qualquer relação entre a sua posição na disciplina e sua posição acerca da existência ou não de um direito internacional latino-americano. Assim, os extremos universalistas e particularistas permanecem como cicatrizes da resolução do debate.

Em outro nível, esse debate reflete as fragilidades inerentes à disci- plina. As formas de lembrar, esconder ou esquecer a discussão acerca da existência de um direito internacional latino-americano específico – seja como uma trajetória fácil que levou à criação do sistema interamericano, seja como um período turbulento na profissão que tem sido superado pela restauração da moderação científica – traz à tona concepções e intui- ções dos juristas sobre o significado e significação da disciplina na Amé- rica Latina.

A | o universalismo convicto –

rumo ao particularismo abstrato

O direito internacional é o conjunto de regras que rege a relação entre sujei- tos internacionais.10Apesar da simplicidade dessa definição e a compreen- são clara da disciplina que decorre dessa definição — isto é, o estudo científico de um objeto óbvio – os juristas latino-americanos que seguem o universalismo convicto são obcecados com a articulação fiel da ideia de direito internacional. Um efeito colateral de sua busca por uma defini- ção verdadeira é que eles implicitamente criam uma hierarquia de fontes de autoridade.

Apesar de sua obsessão em encontrar a definição verdadeira do direito internacional, esses juristas latino-americanos, ao fim e ao cabo, terminam por outorgar aos grandes estudiosos europeus o conteúdo da definição. Os índices dos livros didáticos latino-americanos repetem praticamente o mesmo conteúdo essencial dos grandes livros da tradição europeia.11 No mesmo sentido, o tratamento de cada tema pelos livros didáticos nada mais é do que uma miscelânea de relatos clássicos anteriores por autores presti- giosos.12 Em ambas as situações, as estruturas argumentativas são as mes- mas. Os juristas latino-americanos desenvolvem seu raciocínio jurídico com base em uma hierarquia de cânones sobre os quais se apoia a cultura

jurídica. O peso atribuído aos autores citados parece depender exclusi- vamente da reputação profissional do autor. No entanto, devido à inclusão cuidadosa dos autores que representam cada uma das tradições jurídicas nacionais de prestígio, verifica-se que a hierarquização de importância ou influência de países ou de tradições jurídicas também é um fator determi- nante na formação de cânones.13

Em primeiro lugar, o argumento principal é apresentado por meio das obras e ideias dos “grandes” acadêmicos ingleses, franceses e alemães. Citações curtas oferecidas pelos mestres são então ornamentadas com con- teúdo mais preciso, fornecido, por sua vez, por um “segundo escalão” da academia, geralmente representado por autores espanhóis.14 Já nos pará- grafos que tratam de um assunto específico, o autor do livro didático dá vazão à sua própria voz, sempre dialogando com outros livros da região. No entanto, mesmo no espaço “seu”, ele utiliza, embora nem sempre o admita, argumentos relacionados às autoridades no topo da lista canônica, fazendo uma reinterpretação, por meio da qual o seu argumento adquire um tom mais pragmático.15

A posição notadamente inferior em que esse tipo de jurista latino-ame- ricano se coloca – em contato direto e em diálogo com aqueles considerados os verdadeiros mestres da disciplina – dá à narrativa um tom extremamente universalista e deixa pouco espaço para a história regional. Se eventual- mente abordada em algum momento, a América Latina é analisada através dos olhos do plano internacional. Assim, por exemplo, em um subcapítulo de uma seção que trata de organizações internacionais – e geralmente após uma descrição do sistema das Nações Unidas – um livro didático pode reservar algumas páginas para o “sistema interamericano”.16 Da mesma forma, os advogados de Direito Internacional da região raramente aparecem descritos como pertencentes à América Latina: sua presença acaba sendo diretamente relacionada ao seu sucesso na hierarquia internacional, à sua reputação profissional.17

Considerando-se os cânones promulgados nesses livros didáticos, o desenvolvimento da disciplina acaba ficando ensimesmado. Os modos peculiares de articular a universalidade tornam a representação totalmente particular; em outras palavras, as singularidades dos autores selecionados

para fazer parte do cânone em diferentes posições ao longo da hierarquia profissional fazem desse estilo algo exclusivamente latino-americano.18 Na mesma linha, não é a inexistência de traços latino-americanos, mas a sua distribuição ao longo do livro que dá vazão ao tom universal. Enquanto a versão particularista, examinada a seguir, reduz contribuições latino- -americanas ao direito internacional para corresponder a uma única pers- pectiva regional, a representação universalista os dispersa – dentro da divisão padrão de temas em livros didáticos clássicos – ou os deixa para os capítulos finais.19

A desconexão entre essas aparições regionais na narrativa impede qualquer análise histórica ou interpretação correspondente, levando a abor- dagem latino-americana do direito internacional para fora de cogitação. Não é fácil identificar as políticas consignadas pela representação uni- versalista – visto que a perspectiva reivindicada por esse tipo de jurista é não só universal, mas também científica e neutra. No entanto, defendo mais para frente que a política de despolitização na visão universalista constitui uma resposta aos conflitos profissionais que fizeram do direito internacional um discurso menos plausível tanto para alavancar transfor- mações sociopolíticas como para implantar um pensamento heterodoxo na América Latina.

B | A contribuição particularista –

rumo ao universalismo concreto

Em contraposição à posição universalista, os livros didáticos particula- ristas não acusam o direito internacional de falta de universalidade. Ao contrário, essa abordagem defende que encontrar uma série de contri- buições multiculturais faz do direito internacional tanto universal quanto concreto. O tipo ideal de contribuição particularista tem duas variantes, uma construção naturalista e uma construção secular da universalidade tratada aqui – posições que não colidem por estarem dispostas consecu- tivamente na narrativa histórica.

Na abordagem naturalista, a universalidade é um atributo necessário do direito dos povos. Por uma questão de definição, ubi societas ibi ius (“onde há sociedade há direito”), a interação entre diferentes povos não

é sem lei, mas regulada pelos princípios do direito natural. Assim, um retrato das relações entre entidades políticas autônomas durante os tempos anti- gos (ou pertencentes a civilizações não ocidentais) como sendo regula- das por normas análogas ou precedentes ao direito internacional moderno torna-se evidência concreta da universalidade.20

Livros didáticos latino-americanos da variação naturalista enfatizam uma tradição pré-moderna (e pré-grociana). Ao contrário dos livros didáticos mais clássicos, eurocêntricos, que identificam Vestfália como a origem da disciplina de direito internacional, os livros didáticos latino-americanos do tipo particularista incluem em suas seções introdutórias relatos cuidadosos sobre as origens da disciplina, que remontam à Antiguidade. Na esteira de uma longa lista de momentos históricos, Vestfália aparece apenas como um dos muitos períodos relevantes da história do direito internacional.21A nar- rativa particularista mostra não só que o direito das nações é muito mais amplo do que Vestfália, mas também que o alargamento da história tem con- sequências para a compreensão da disciplina.

Ante o entendimento dominante do direito internacional, que atribui aos latino-americanos o papel de espectadores, os praticantes da variante natu- ralista buscam reverter esse fenômeno agrupando, em primeiro lugar, os mar- cadores que distinguem a tradição jurídica internacional eurocêntrica e depois, por exclusão, erigindo uma tradição paralela – que aponta marcadores alternativos – a qual confere igualdade de condições para latino-americanos. Assim, os naturalistas particularistas associam à tradição contemporânea dominante no âmbito do direito internacional: a crença em Vestfália como origem do direito internacional; a ideia de que a Europa representa a “família de nações” inicial; e a existência de um padrão religioso protestante inerente à disciplina. Esses cânones dominantes são contrapostos, pelos juristas natu- ralistas, a um conjunto suplementar de associações, que tem a descoberta do Novo Mundo como um dos momentos fundadores do direito internacional, a América como o continente onde a universalidade do direito das gentes dei- xou de atender à realidade pela primeira vez, e teólogos escolásticos espa- nhóis como os primeiros autores da disciplina cuja tradição dura até hoje.

Embora essa narrativa histórica pareça lembrar uma espécie de univer- salismo do direito natural, o objetivo central dessas apropriações de uma

linha naturalista por autores latino-americanos é demandar uma afiliação por meio de uma tradição que lhes ofereça a voz disciplinar correspondente. Assim, o ponto em questão não é tanto ser capaz de derivar certos princípios jurídicos da natureza da relação entre os povos, e sim, principalmente, retra- tar diferentes povos como estando sujeitos ao mesmo direito.22

A história tradicional do direito internacional reconta a progressão do naturalismo ao positivismo – uma progressão que gerou uma transforma- ção paralela na compreensão da universalidade do direito internacional. Dentro de um sistema jurídico internacional que não inclui apenas regras e princípios positivos específicos, mas também se desloca em direção ao estabelecimento de instituições internacionais, o significado da univer- salidade muda dependendo, em última instância, das contribuições con- cretas de diferentes Estados (funcionando como representantes para a diversidade cultural) no tocante à materialização dessas regras e organi- zações internacionais.

Ao contrário da abordagem naturalista, a abordagem secular aceita,

grosso modo, o relato clássico de origem vestfaliana do direito internacio- nal, mas defende que o vértice do desenvolvimento da disciplina se encon- tra em um período histórico posterior: durante a época em que o direito internacional incorporou normas positivas (final do século XIX) ou quando alcançou forma institucional (início do século XX). Contudo, aos olhos do jurista secular-particularista, o desenvolvimento tanto das regras quanto das instituições teve em seu centro a América Latina. A emancipação da América Latina foi a inspiração e o ponto de partida para a cristalização de normas internacionais consuetudinárias que reconheceram a autonomia soberana dos povos civilizados fora da Europa. Sob a rubrica de “contri- buição americana”, os livros didáticos listam regras internacionais especí- ficas de origem latino-americana.23Além disso, o processo de codificação

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