• Nenhum resultado encontrado

CAPÍTULO 1 – AS VÉSPERAS DO CAOS: O CONTEXTO LUSO E A

1.3 SEBASTIÃO JOSÉ DE CARVALHO E MELO: A ASCENSÃO À VIDA

1.3.4 O retorno a Lisboa

Ao retornar a Portugal em 1749, Carvalho e Melo percebeu o quão prejudicial

havia sido ficar tanto tempo longe de Lisboa. Foi somente no ano seguinte, com

o falecimento de D. João V e ascensão de seu filho D. José I ao trono, que seu nome voltou a ser alvo de especulação. Era preciso encontrar homens preparados para auxiliarem na administração do reino português. Mesmo porque, tanto Marco Antonio de Azevedo e Coutinho, o secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros e da Guerra, quanto Antonio Guedes Pereira, o secretário de estado da Marinha e domínios ultramarinos haviam falecido, deixando o

caminho aberto para a indicação de novos nomes àquelas funções.124

Nesse contexto, a nomeação de Carvalho e Melo ganhou apoio de alguns personagens decisivos. O primeiro, da própria rainha, D. Maria Ana, mãe de D. José I. É o que nos realça o pesquisador Francisco Lobo de Barros Correia,

121 AZEVEDO, 2004, p. 65. 122 AZEVEDO, 2004, p. 83. 123 DOMINGUES, 1955, p. 80.

Em 30 de Julho de 1750, faleceu o rei D. João V[...]. Segundo as leis do reino, o corpo do rei não podia ser entregue para as exéquias, senão por um secretário d'Estado com todas as formalidades d'um ato público. Pedro da Motta era então o único que tinha este título, mas o mau estado de saúde [...] levaram-no a suplicar ao novo rei o quisesse dispensar d'esta cerimônia. A rainha aproveitando habilmente esta circunstância, propôs Carvalho a seu filho para este importante cargo. 125

O apoio da rainha de Portugal, de origem austríaca devia-se, em parte, à estadia de Sebastião José na corte de Maria Teresa e ao prestígio adquirido enquanto emissário. Pesava a favor da nomeação de Carvalho e Melo, também, as palavras de um dos mais fiéis funcionários do reino português nos tempos de D. João V, D. Luís da Cunha. Tratava-se de uma figura que tivera excelentes relações com Marco Antônio de Azevedo e Coutinho, a quem chamava de “filho”.126 Como visto, Marco Antônio, tio de Carvalho e Melo, foi um de seus

principais mentores, como demonstra o fluxo de troca de cartas entre ambos.127

Desse modo, é possível que, em algum momento, Azevedo e Coutinho tenham recomendado o sobrinho para Luís da Cunha, especialmente, em sua missão na Áustria.

O motivo de tal hipótese é a indicação do nome de Carvalho e Melo no Testamento Político de D. Luís da Cunha, escrito em 1747, verdadeiro inventário político dos anos de serviços prestados à coroa portuguesa e dedicado a D. José I, que dentre outras coisas, sugeria a composição ideal para as secretarias

criadas por D. João V, em 1736:

[...] será preciso prover uma e outra secretaria, para as quais tomarei o atrevimento de lhe indicar dois ministros, pelo conhecimento que tenho deles e dos seus talentos; a saber: para a do Reino, Sebastião José de Carvalho e Melo, cujo gênio paciente, especulativo e ainda que sem vício, um pouco difuso, se acorda com o da nação; e para a da Marinha Gonçalo Manuel Galvão de Lacerda, porque tem um juízo prático e expeditivo, e serviu muitos anos ao Conselho Ultramarino [...] e desta sorte gratificaria V. A. com muita vantagem os serviços destes ministros, os quais viveriam em boa inteligência com o Secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros, Marco Antônio de Azevedo

125 BARROS, 1882, p.8. 126 AZEVEDO, 2004, p. 96. 127 Cf. BARRETO, 1986.

Coutinho, porque o primeiro é seu parente e o segundo sempre foi seu íntimo amigo.128

Entretanto, apesar da aprovação da Rainha-mãe e da indicação de D. Luís da Cunha, Carvalho e Melo sofreu franca oposição de segmentos mais tradicionais da corte lusa.

Ainda vacilante, D. José I decidiu em três de agosto de 1750, dois dias depois a sua ascensão ao trono, nomear Sebastião José de Carvalho e Melo para o cargo deixado por seu tio, Secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros e da

Guerra129, mantendo perto de si nomes mais afinados com nobreza tradicional.

A Secretaria de Estado dos Negócios do Reino continuou sobre a tutela de Pedro da Motta e Silva, que fora ministro com D. João V. E para a Secretaria de Estado da Marinha e Negócios Ultramarinos convidou o abade Diogo de Mendonça

Corte-Real, cujo pai também serviu durante o período joanino.130

Além do já citado Manuel Pereira de Sampaio, que atuou como representação da oposição contra Carvalho e Melo na Corte Portuguesa, Alexandre Gusmão (1695-1753) passou a figurar como um dos opositores do futuro ministro de D. José I. O luso-brasileiro que, em grande parte tomado por um sentimento de desprestígio ao receber a notícia de que Carvalho e Melo teria sido nomeado Secretário de Estado e ele, esquecido pelo novo governo depois de tantos anos de serviços prestados à Coroa. Gusmão, inclusive escreveu para o Conde de Assumar que estava “Encoleirado” com a situação.

Outro exemplo de oposição à Carvalho e Melo era o de Frei Gaspar da Encarnação (1715-1752), porém de maneira mais indireta. Na verdade, o novo monarca estaria interessado em afastar o grupo de aliados de Frei Gaspar dos centros de poder. Para tanto, teria escolhido calmamente um indivíduo que

128 CUNHA, Luís. Testamento político. Disponível em < http://www.senado.gov.br/senado/campanhas/conselhos/downloads/luisdacunha.pdf >. Acesso em: 08 de Abril, 2015, p. 606-607.

129 MONTEIRO, 2006, p. 68. 130 GUANABARENSE, 1885, p. 54.

servisse de antagonista para Gaspar, que enquanto perdia influência na corte

hostilizava Sebastião José131

Assumiu, em 1750, o posto pelo qual trabalhou arduamente em cortes estrangeiras e, assim como demais membros da nobreza, não parecia ter pretensão de deixá-lo, a não ser que fosse pelo seu falecimento. Como dito anteriormente, os anos iniciais do governo de D. José I caminharam a passos modestos, mas progressivos. A política de secretarias reformulada por seu pai parecia ser um dos alicerces das pretensões josefinas em controlar o jogo político de Portugal. Nesse cenário, Carvalho e Melo passaria por uma prova de fogo para as capacidades adquiridas ao longo de sua vivência política. O ponto alto foi o terremoto de 1755, quando ele, em um cenário de confusão e desorientação portuguesa, tornar-se-ia o principal homem do Rei.

Assim, é possível afirmar que a trajetória de Sebastião José, suas experiências enquanto ministro estrangeiro, a convivência com oposição de indivíduos mais expressivos na corte lusitana que o próprio recém nomeado ministro contribuíram significativamente para a formação política de Carvalho e Melo. De fato, retomando as ideias sobre trajetória expostas no começo desta sessão, as relações político-sociais vivenciadas pelo secretário foram responsáveis pela maneira com a qual Carvalho e Melo passou a enxergar Portugal, fruto da experiência vivida ao participar da vida pública.

CAPÍTULO 2

– AS VOZES DA CATÁSTROFE: NARRATIVAS