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3.2 Revisão de literatura

Atividade Física é comummente definida como “qualquer movimento corporal produzido pelos músculos esqueléticos, que resulta num gasto energético maior que os níveis de repouso.” Caspersen et al. (1985) citados por Zick (2015), Cos & Barrios (2010) e António (2012).

Podemos definir Exercício Físico (ExF) como “uma atividade física planificada, estruturada e repetitiva, com o objetivo de melhorar ou manter um ou mais componentes da aptidão física” Caspersen et al. (1985).

De acordo com Cos, I.R. & Barrios, A.R. (2010) as relações entre ExF e saúde, citamos:

1. O ExF influencia a qualidade de vida; melhorando o funcionamento do organismo.

2. O ExF é muito útil na prevenção e tratamento de várias doenças.

3. O ExF mal executado e mal planificado pode causar danos à saúde., portando diminuindo a qualidade de vida dos indivíduos. Assim a prática moderada realizada 3 a 4 vezes por semana melhora a saúde, enquanto que uma prática pontual pode ser contraproducente para o organismo devido à exigência da mesma.

A prática regular de AF melhora a ApF, a saúde e várias dimensões da qualidade de vida.

Podemos distinguir dois tipos de atividade física, a atividade física moderada e a atividade física vigorosa.

De acordo com Teixeira (2016), atividade física moderada inclui atividades como a marcha rápida, andar de bicicleta em terreno plano, fazer hidroginástica, alguns tipos de dança, desportos leves e todas as atividades físicas aeróbicas (repetitivas) que nos fazem respirar um pouco mais rápido e nos aquecem o corpo, mas não nos tiram o fôlego. Indicador simples: enquanto as fazemos, conseguimos conversar mas já não conseguimos cantar. Ao praticar atividade física vigorosa já não conseguimos conversar sem perder o fôlego. A corrida, desportos como o futebol, nadar sem parar, andar de bicicleta a subir ou participar numa aula de grupo no ginásio são predominantemente atividades vigorosas. É normal transpirar e não conseguir manter estas atividades por mais de 30 minutos seguidos sem descansar.

23 Segundo as recomendações da Organização Mundial de Saúde (OMS), todas as crianças e adolescentes devem praticar AF de intensidade pelo menos moderada 60 minutos todos os dias, incluindo atividades de intensidade vigorosa, pelo menos três vezes por semana. Em crianças e adolescentes a AF pode incluir atividades como brincadeiras e jogos, meio de transporte que utilizam, como, por exemplo, caminhar ou ir de bicicleta para a escola e incluir, ainda, o dispêndio energético decorrente da prática desportiva. Com o crescimento e o desenvolvimento a atividade física tende a diminuir, nomeadamente, no género feminino.

Para os adultos recomendam-se pelo menos 150 minutos semanais de atividade física de intensidade moderada (30 minutos por dia, 5 dias por semana) e incluir atividades que solicitem o sistema músculo-esquelético para a melhoria da força muscular e da flexibilidade dos grandes grupos musculares, em 2 ou mais dias por semana ou 60 a 75 minutos por semana de atividade aeróbia de intensidade vigorosa e incluir atividades que solicitem o sistema músculo-esquelético para melhoria da força muscular e da flexibilidade dos grandes grupos musculares, em 2 ou mais dias por semana ou alguma combinação equivalente de atividade aeróbia moderada e vigorosa.

De acordo com Tudor-Locke, C. et al. (2013) Lifestyle índex: >5000 steps/day Appl. Physiol.

Nutr. Metab. 38: 100-114 citado por Teixeira (2016) e publicado em

http://fitescola.dge.mec.pt/pagina.aspx?id=15, as recomendações de atividade física podem ser expressas no número de passos por dia.

Nas crianças e adolescentes a recomendação situa-se nos 12000 passos por dia para as raparigas e 15000 passos por dia para os rapazes. Para as pessoas adultas não existe qualquer diferenciação quanto ao género nas recomendações do número de passos diários. As recomendações sugerem a execução de pelo menos 10 000 passos diários para homens e mulheres. Em função do número de passos diários, existem diversas categorias descritivas para a atividade física.

24 COMPORTAMENTO SEDENTÁRIO

Citando a mesma fonte refira-se que para além do aumento do tempo passado em atividade física, é necessário que as crianças e os adolescentes passem pouco tempo em comportamento sedentário, especialmente no comportamento sedentário recreativo. Para reduzir os riscos associados a estes comportamentos são as seguintes as recomendações para as crianças e os adolescentes com idades compreendidas entre os 5 e os 17 anos: limitar a um máximo de 2 horas por dia o tempo despendido a ver televisão, jogar consola ou computador. Menos tempo sentando nestas e noutras tarefas recreativas viabiliza melhor o desenvolvimento físico e mental. E limitar o comportamento sedentário associado ao transporte passivo (andar de carro, autocarro), devendo optar, sempre que possível, por um transporte ativo como andar a pé ou de bicicleta.

A identificação de estratégias para aumentar os níveis de AF em crianças é uma prioridade de Saúde Pública. A participação desportiva pode ser uma estratégia para aumentar os níveis de atividade física em crianças. (Neves, 2017)

Na atualidade podemos identificar três grandes perspetivas na relação entre a atividade física e a saúde: uma perspetiva reabilitadora, uma perspetiva preventiva e uma perspetiva orientada para o bem-estar.

Adaptado de Cos, I.R. & Barrios, A.R. (2010)

O conceito de saúde tem evoluído ao longo dos tempos, se antes se considerava saúde a ausência de doenças agora entende-se como uma forma de vida. No entanto, atualmente, a definição comummente aceite é a da OMS que define saúde como “o estado de completo bem-estar físico, mental e social” e não apenas a ausência de doenças.

“De acordo com a OMS (1978), a aptidão física deve ser entendida como: capacidade de realizar trabalho muscular de maneira satisfatória. Dentro desse conceito, estar apto fisicamente significa que o indivíduo apresenta condições que lhe permitem bom desempenho motor quanto submetido a situações que envolvem esforços físicos (Guedes, 1995)” citado por Zick (2015).

perspetiva reabilitadora perspetiva preventiva perspetiva orientada para o bem-estar

25 Ainda citando Zick (2015) de forma conceptual “Pate (1988) definiu aptidão física relacionada com a saúde como: (a) realizar atividades do quotidiano com vigor e energia; e (b) demonstrar traços e capacidades associados a um baixo risco de desenvolvimento prematuro de distúrbios orgânicos provocados pela falta de atividade física e segundo Guedes (1995), o conceito de aptidão física relacionada com a saúde implica a participação de componentes voltados para as dimensões funcional-motora, morfológicas, fisiológicas e comportamentais. A dimensão morfológica é caracterizada pela composição corporal e distribuição da gordura corporal. A dimensão funcional-motora caracteriza-se principalmente pela função cardiorrespiratória e função músculo-esquelética. Já a dimensão fisiológica está ligada aos níveis de pressão sanguínea, oxidação de substratos, níveis de colesterol e tolerância à glicose. Por fim, a dimensão comportamental está ligada ao stress”.

Relativamente à prática da AF em Portugal há vários estudos e alguns parecem contradizer outros.

Teixeira (2016) refere que um terço dos portugueses é fisicamente inativo e não cumpre qualquer recomendação para a prática da AF, correndo por isso mais riscos de sofrer ou mesmo de morrer de diabetes ou de doença cardiovascular. Refere ainda que "apenas um quinto da população portuguesa cumpre estes critérios".

Mas ao mesmo tempo os resultados do Inquérito Nacional de Saúde com Exame Físico (INSEF) realizado, em 2018, pelo Departamento de Epidemiologia do Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge (INSA), revelaram que 2,3 milhões de portugueses (34,2%) praticam alguma atividade física regular. Esta atividade é mais frequente nos homens (39,7%) e no grupo etário dos 25 aos 34 anos (47,1%).

Logo a seguir surge a faixa etária dos 35 aos 44 anos (40,6%), dos 45 aos 54 anos (31,8%) e dos 55 aos 64 anos (28,1%). A AF é menor na faixa entre os 65 e os 74 anos (20,8%).

Ou seja temos estudos que comprovam que há 1/3 da população que não pratica AF regular e ao mesmo tempo outros que dizem que 1/3 da população tem uma AF regular.

No entanto a fazer fé nestes resultados a situação está a melhorar dado que Teixeira, P. em 2016 referia que “apenas um quinto da população portuguesa cumpre os critérios que definem uma AF regular” e o inquérito de 2018 aponta para um terço. A confirmarem-se estes dados a prática de AF regular por parte dos portugueses está aumentar.

26 Não obstante, de acordo com o Programa Nacional para a Promoção da Atividade Física (PNPAF) criado em 2016 cerca de 80% da população não pratica atividade física suficiente para cumprir as recomendações da OMS. Contudo, importa considerar que estas recomendações contemplam sobretudo a prática de exercício físico e desporto. É possível ter uma vida fisicamente ativa através de outras alterações no dia-a-dia que levem a realizar mais movimento – no trabalho, em casa e, sobretudo, nas deslocações. Entre as crianças com 10-11 anos, 64% são pouco ativas fisicamente. O valor da inatividade física sobe abruptamente para mais de 95% em jovens com 16-17 anos.

De acordo com o mesmo programa calcula-se que se a inatividade física atingisse (apenas) 50% da população portuguesa, os custos seriam de cerca de 900 milhões de euros. No entanto, a inatividade física parece atingir níveis tão elevados como 77% da nossa população. Estes custos dizem respeito a despesas com doenças que a atividade física poderia prevenir (8% das doenças das artérias coronárias, 11% dos casos de diabetes tipo II, 14% dos casos de cancro da mama e 15% de cancro colorretal) e com a mortalidade prematura associada.

A OMS definiu metas no âmbito da AF, em 2013, foi definida em reduzir em 10% a inatividade física nos países membros, até 2025, no contexto de um Plano de Ação Global para a prevenção e controlo das doenças não-transmissíveis.

A escola tem um elevado potencial para influenciar os comportamentos das crianças e jovens, incluindo a sua atividade física e desportiva. Por esta razão, os jovens em idade escolar constituem um grupo-alvo prioritário das políticas de promoção da saúde, designadamente no âmbito da disciplina de Educação Física, mas também através do Desporto Escolar. A Educação Física, presente ao longo de toda a escolaridade obrigatória, deve transmitir conhecimentos, atitudes e habilidades motoras essenciais para a manutenção de estilos de vida ativos, no contexto da promoção da literacia física.

Dados os benefícios da prática da AF e os malefícios da sua não prática associados à constatação de que existe uma percentagem muito grande da nossa população, e em especial da população mais jovem, implicando a necessidade de se aumentar a mesma, surgiu o programa FITescola®, sucessor do Fitnessgram.

Citando o FITescola®: “A prática de atividade física regular concorre para a melhoria da saúde, o bom funcionamento do organismo e o bem-estar ao longo da vida. A idade escolar surge como uma oportunidade única de intervir, promovendo a prática do exercício físico regular, através de experiencias agradáveis de aptidão física, fundamentais na prevenção

27 do sedentarismo, já que é no decorrer deste período que se instalam grande parte dos hábitos morbidogénicos. A Educação Física desempenha um papel de destaque fundamental para que crianças e adolescentes possam ser fisicamente ativos ao longo da vida.

Jovens que praticam regularmente AF, para além de verem melhorias na sua ApF, encontram diversos benefícios nas mais diversas componentes, incluindo benefícios psicológicos, cognitivos, biológicos e também sociais.

O aumento da AF, a redução do comportamento sedentário e a melhoria da ApF promovem benefícios que vão para além do seu efeito favorável na saúde de crianças e adolescentes. Jovens que passam mais tempo a praticar exercício e menos tempo em comportamentos como ver televisão ou jogar jogos de computador e consolas experienciam adaptações funcionais que irão estar associadas a uma melhoria do desempenho cognitivo e do sucesso escolar.

Benefícios na aprendizagem podem ocorrer pela melhoria de funções cognitivas básicas como a atenção e memória que são aprimoradas pela prática de AF e redução do tempo sedentário que têm efeito na ApF. A promoção da AF na escola é essencial. Dedicar uma parte do período escolar à prática de AF que visa a melhoria da ApF irá contribuir para o sucesso escolar de forma mais positiva do que dedicar este tempo exclusivamente a atividades académicas.

Os programas escolares devem promover a longo prazo a prática de AF regular e adequada, ao invés de se centrarem apenas na avaliação e desempenho da ApF de crianças e adolescentes. Informar os alunos e realçar diretamente o seu comportamento, em vez de evidenciar apenas os resultados obtidos, pode ser decisivo na promoção da prática de atividade física ao longo da vida.

A avaliação da ApF e da AF e comportamento sedentário é fundamental para sensibilizar crianças e adolescentes para a importância do desenvolvimento de hábitos de AF regulares ao longo da vida. É fundamental que as crianças e os adolescentes sejam fisicamente ativos para que seja possível manter uma boa ApF. Todos os elementos incluídos no FITescola® foram metodicamente pensados como um apoio na conquista dos alunos para uma das finalidades educativas expressas no Programa Nacional de Educação Física, nomeadamente, ensiná-los a enquadrar a AF como parte importante do seu quotidiano.”

28 “O FITescola® foi concebido para educar e avaliar os jovens para a ApF relacionada com a saúde de crianças e adolescentes, através de uma bateria de testes físicos que tem em conta as três componentes de aptidão física consideradas importantes pela sua estreita relação com a saúde em geral e com o bom funcionamento do organismo. As três componentes são: a aptidão aeróbia, a composição corporal e a aptidão muscular (força muscular, resistência e flexibilidade).

Os resultados obtidos nestes testes são avaliados em função de critérios de saúde. Os padrões de Zona Saudável (ZS) são padrões critério-referenciados, estabelecidos para indicar os níveis de ApF que se encontram relacionados com parâmetros de saúde. Estes valores facilitam comparações entre crianças e evidenciam a ApF associada à saúde, ao invés de metas apenas baseadas no desempenho físico. Desta forma, a avaliação do aluno compreende duas zonas: Zona Saudável e Precisa Melhorar”

O objetivo é que os alunos estejam dentro da ZS em cada um dos testes de ApF. Caso isso não acontece é referido que Precisa Melhorar e o programa fornece pistas e ajudas para trabalhar por forma a conseguir atingir essa ZS.

Como é óbvio se os alunos estiverem na ZS é indicativo de uma boa ApF e condições de saúde melhores.

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