• Nenhum resultado encontrado

Dá para compreender muito da história e da cultura de um país conhecendo suas revistas (SCALZO, 2009).

As revistas se estabeleceram no Brasil com a chegada da corte portuguesa. Como vimos no primeiro capítulo, no item 1.3.2, quando a corte se instalou no país, a imprensa começou a se desenvolver e aos poucos além do surgimento dos jornais diários, emergiram também algumas revistas.

Scalzo (2009) afirma que a primeira revista brasileira foi criada em 1812, em Salvador. Chamada “As Variedades ou Ensaios de Literatura”, a publicação seguia as características e padrões das revistas da época: tinha formato semelhante a de um livro.

Nos anos posteriores apareceram novas revistas como “Patriota” e os “Anais Fluminenses de Ciências, Artes e Literatura”. A última tinha como proposta apresentar para os leitores um vasto conteúdo das áreas de Direito, Engenharia e Medicina.

Scalzo (2009) destaca que em 1827 surgiu a primeira revista especializada que tinha como objetivo divulgar informações científicas da área médica. Nomeada “O Propagador das Ciências Médicas”, o periódico foi lançado pela Academia de Medicina do Rio de Janeiro. No final deste século emergiram algumas revistas de variedades como “A Marmota da Corte”, “Semana Ilustrada” e “Revista Ilustrada”. Todas tinham uma característica em comum: o uso de recursos visuais como forma de chamar a atenção dos leitores. Todas utilizavam grandes ilustrações nas matérias. A “Semana Ilustrada”, por exemplo, publicou várias fotos da Guerra do Paraguai.

As revistas nasceram, por um lado, sob o signo da mais pura diversão – quando traziam gravuras e fotos que serviam para distrair seus leitores e transportá-los a lugares aonde jamais iriam, por exemplo. Por outro lado, ajudaram na formação e na educação de grandes fatias da população que precisavam de informações específicas, mas que não queriam – ou não podiam – dedicar-se aos livros (SCALZO, 2009, p. 13).

A utilização dos recursos visuais e do fotojornalismo passaram a se configurar como padrão das revistas brasileiras. No século XX, a publicação “Revista da Semana”, por exemplo, se especializou em trazer para os leitores reconstituições de crimes por meio de fotografias. Nessa diretiva, Abreu e Baptista (2010, p. 3) ressaltam que “se instaurou no mercado brasileiro de revistas, um modelo que veio para ficar: veículos recheados de ilustrações e fotos atraentes aos olhos do consumidor”.

Na história das revistas brasileiras merece destaque a publicação “Cruzeiro”. Idealizada por Assis Chateaubriand, a revista foi uma das primeiras a conseguir vender no ano de 1950 uma média de 700 mil exemplares semanalmente. O periódico continha 64 páginas repletas de anúncios publicitários, ilustrações coloridas e matérias sobre assuntos nacionais e internacionais, abrangendo diferentes temas que contemplavam todos os públicos.

Tais características fizeram Cruzeiro se firmar como a grande revista de penetração nacional em poucos meses após seu lançamento. Muitos leitores se dirigiam à redação da revista na tentativa de encontrar o exemplar que não haviam conseguido comprar nas bancas. Cruzeiro circulava em todas as classes sociais; tinha como público fiel mulheres e homens, idosos e adolescentes, moradores de grandes e de pequenas cidades, circulava do Sul ao Norte do país, como desejou “Chatô”, ao projetar a revista (ABREU; BAPTISTA, 2010, p. 9).

Nas décadas seguintes surgiram novas revistas como a “Diretrizes”, “Manchete” e “Realidade” que inaugura a inserção da Editora Abril S.A no segmento de revistas. Após o fim da publicação da revista “Realidade”, a Editora Abril criou em 1968 a revista VEJA, uma das mais vendidas no Brasil até os dias atuais.

A VEJA foi criada de acordo com os padrões das revistas norte-americanas

Time e Newsweek e desde o início trazia seções fixas e colunas assinadas por renomados

jornalistas. Os anos iniciais da revista foram marcados por pouco lucro e também pela censura da ditadura. O sucesso só aconteceu em 1974. Uma das marcas da revista até a

atualidade são as famosas “páginas amarelas” que trazem a entrevista de destaque da VEJA. Sobre a configuração dessas páginas, Hernandes (2001, p. 22) relata:

O diretor de redação colocou na abertura uma entrevista com perguntas e respostas. Havia um estoque de papel amarelo sobrando na gráfica, e ele foi usado na nova seção. Como se tornou marca, quando o papel acabou, utilizou-se tinta amarela para colorir as páginas de entrevistas.

Scalzo (2009 p. 33) enfatiza que no final da década de 60 começou a se delinear entre as revistas brasileiras o conceito de segmentação editorial: “Surgem nessa época, [...] as revistas técnicas segmentadas”. Dentro desse mercado segmentado, crescem as revistas científicas, tanto as especializadas como as para leigos, confirmando uma das fortes vocações do veículo.

Em 1976 foi lançada a revista “IstoÉ” que seguia o padrão editorial da VEJA e se destacava por possuir correspondentes em vários lugares do país e do mundo. De acordo com Scalzo (2009) na década de 80, os temas referentes à saúde, beleza e forma física se notabilizaram no cenário brasileiro e assim surgiram várias revistas sobre essas temáticas como as publicações “Saúde”, “Boa forma” e “Corpo a Corpo”. Ainda nesta década, entre 1981 e 1984, circulou a revista “Ciência Ilustrada”, que chegou a vender 80 mil exemplares, mesmo não tendo recursos próprios, nem publicidade. A publicação foi considerada a primeira grande revista de ciência em circulação no Brasil. Três anos depois que a “Ciência Ilustrada” deixou de existir, foi criada a revista “Superinteressante”, que parecia muito com a anterior.

A reportagem de capa do primeiro número da Super abordava o tema dos Supercondutores. Ela já seguia uma linha de argumentação que o futuro da revista adotaria: descrevia a teoria, o mecanismo básico do fenômeno, sem receio de assustar o leitor, para em seguida descrever os segredos básicos da natureza ou das tecnologias existentes; utilizando dados históricos, numa linguagem acessível e popular (VERAS JUNIOR, 2005, p. 35).

Na década de 90 surgiu a revista “ÉPOCA” que marcou a entrada das Organizações Globo no mercado editorial das revistas semanais. A história da ÉPOCA é o assunto principal do próximo item.

Nos anos posteriores, Scalzo (2009) aponta duas tendências: a primeira relaciona-se ao surgimento de revistas populares que abordavam a vida de celebridades e fofocas do meio artístico, como as publicações “Ana Maria”, “Contigo!”, “Tititi” e

outras; e a segunda tendência, de acordo com a autora, foi a ideia de personalização das revistas, tornando-as únicas para cada leitor: “Chegar a cada indivíduo foi uma das tendências mais discutidas no meio das revistas [...]. Era a chamada „personalização‟. Cada leitor teria a sua própria revista, feita sob medida para ele” (SCALZO, 2009, p. 49).

Observando o contexto das revistas no Brasil percebe-se claramente uma trajetória de consolidação de um veículo que priorizou no seu cerne a conexão entre textos (linguagem verbal) e recursos visuais (linguagem não-verbal) e que buscava desde sua origem conquistar e fidelizar leitores dia a dia. A maioria das revistas citadas no início do capítulo tiveram duração curta e em poucos meses deixaram de existir, contudo fortaleceram a tentativa de tornar esse instrumento parte da cultura brasileira.

Atualmente, as revistas se firmaram no cotidiano dos brasileiros. Para muitos, são elas que semanalmente trazem debates de assuntos que já foram informados na internet, TV e jornais diários. E esse é um ponto crucial que diferencia o suporte revista das demais mídias: há mais tempo para realização de apurações mais demoradas, o que provoca a percepção de uma produção de textos que visa aprofundar os temas já discutidos. Por isso, corroboramos com Hernandes (2005, p. 13) que elucida que a revista se configura em uma complexa engrenagem social, que reproduz um olhar peculiar sobre acontecimentos do dia a dia.

A revista é uma sofisticada engrenagem que transmite valores por meio de operações racionais, passionais e sensoriais. São escolhas de composição visual, de tipo de argumentação, de fotografias, de infográficos, de tipologia, e de jogos entre esses e outros elementos.

As “escolhas” citadas por Hernandes (2005) formam a essência do discurso jornalístico das revistas. E são essas seleções, que orientam a leitura e transformam o fato ou acontecimento em reportagem ou notícia.