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Ribeiro, L (2020, 17 de abril) Entrevista pessoal

Comandante do Destacamento Territorial de Santa Comba Dão, da Guarda Nacional Republicana, Capitão de Cavalaria Luís Ribeiro.

OBJETIVO 1: AVERIGUAR OS FUNDAMENTOS E AS VANTAGENS/DESVANTAGENS DA ALTERAÇÃO LEGISLATIVA NO QUE CONCERNE ÀS REVISTAS REALIZADAS POR ARD

1. Qual a sua opinião sobre a nova alteração legislativa referente às revistas intrusivas na entrada dos recintos desportivos?

LR – Na minha opinião esta alteração veio dar um incremento muito positivo ao trabalho

dos ARD que desagua, naturalmente, numa maior eficácia das revistas em observância ao fim último que é obviamente limitar o acesso de objetos proibidos ao interior dos recintos desportivos, conferindo maior tranquilidade e segurança aos espectadores e agentes desportivos.

2. Quais as razões para ter voltado a ser permitido aos ARD efetuarem revistas intrusivas?

LR – O termo “intrusivas” é um termo utilizado na legislação atual pelas introduções da

Lei n.º 46/2019, de 08 de julho. Obviamente que aqui surge todo um contexto de política de combate à violência no desporto, com a criação de um conjunto de novos mecanismos sancionatórios, num quadro que, de entre muitos outros aspetos, clarifica o papel dos clubes como principais responsáveis pela segurança dos eventos desportivos. Este “alargamento da capacidade operacional” dos ARD é, do meu ponto de vista, mais uma ferramenta legal à disposição dos promotores, para garantirem a segurança dos eventos.

3. Na sua opinião, quais as principais vantagens em serem os ARD a realizar as revistas intrusivas na entrada dos recintos desportivos?

LR – Atento a que o quadro legal deposita a responsabilidade da segurança dos

espetáculos desportivos nos promotores, exigindo naturalmente alguns requisitos em termos de meios humanos especializados, como são o caso do Gestor e do Coordenador de Segurança, é importante que sejam os ARD a realizar este tipo de revistas, na medida em que técnica e operacionalmente estão na dependência de toda uma estrutura organizativa. A par, esta dinâmica permite libertar as forças de segurança para o trabalho de supervisão e de ordem pública que lhes compete.

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LR – Na prática a principal desvantagem é, por vezes, uma certa indisposição psicológica

do adepto para ser revistado por um elemento da segurança privada, fazendo pressão para acelerar o procedimento, resultando numa revista menos eficiente.

5. Qual a sua opinião sobre a capacidade dos ARD na realização de revistas intrusivas quando comparados com os polícias?

LR – Sou defensor de que, havendo capacidade operacional, as polícias assumam as

revistas nas portas destinadas ao acesso dos Grupos Organizados de Adeptos.

Num evento desportivo (sobretudo tratando-se de futebol) há todo um quadro de psicologia de massas que é necessário gerir desde o primeiro momento, competindo essencialmente às forças de segurança implementarem as melhores medidas para obter os melhores resultados de segurança, recordando que num quadro extremo, é no comandante do policiamento que cairá toda a responsabilidade.

6. Qual a sua opinião em relação aos ARD, de acordo com a lei, poderem optar por realizar revistas intrusivas ou revistas recorrendo a meios técnicos?

LR – As revistas têm de abarcar forçosamente dois grandes pilares: celeridade e eficiência.

Independentemente dos meios, sabemos que não há revistas infalíveis, pois para almejarmos esta possibilidade, levaríamos vários minutos a revistar cada cidadão. Uma vez mais o legislador pretendeu, notadamente, abrir o leque, como que dizendo “façam da forma que operacionalmente entenderem ser mais eficiente” para concretizar bem o ato de revista.

OBJETIVO 2:AVERIGUAR QUAL A SUPERVISÃO QUE A POLÍCIA DEVE GARANTIR

7. Quais os aspetos a ter em atenção na supervisão que deve ser efetuada aos ARD na realização de revistas intrusivas?

LR – Essencialmente se há método na forma tática como é concretizada, bem como a

salvaguarda dos direitos que assistem aos cidadãos no que à da dignidade individual diz respeito.

8. Na sua opinião, quais os polícias mais indicados (de acordo com a função que desempenham) para realizar a supervisão dos ARD?

LR – Policias do dispositivo territorial com experiência no policiamento de eventos da

natureza em causa. Tratando-se de espetáculos desportivos, é importante fazer a ligação com os elementos spotter, procurando identificar novos métodos de introdução de objetos

158 proibidos e sinalizar indivíduos já identificados como suspeitos de introdução de objetos proibidos.

9. Quem considera que deve definir quantos polícias vão efetuar a supervisão? Consegue definir um rácio de polícias por ARD?

LR – A definição de qualquer assunto relacionado com a atuação dos elementos das forças

de segurança é obviamente do comandante do policiamento.

Considero difícil definir rácios, porquanto dependerá sempre da experiência e relação de trabalho da força de segurança para com os elementos da segurança privada.

OBJETIVO 3:AVERIGUAR SE NÃO DEVERIA SER A POLÍCIA A GARANTIR A REALIZAÇÃO DAS REVISTAS INTRUSIVAS

10. Quais os motivos para, na sua opinião, os polícias que estão a supervisionar as revistas não as realizarem?

LR – Considero que por motivos de gestão da capacidade operacional do efetivo policial e

na ótica de manter toda uma cadeia de responsabilidade da segurança do evento que compete ao Promotor do Espetáculo através do Gestor de Segurança.

11. Uma vez que as revistas intrusivas restringem direitos fundamentais, qual a sua opinião sobre os ARD deterem esta prerrogativa?

LR – Trata-se de uma necessidade para um fim maior, que é obviamente a segurança de

todos quantos estão presentes num espetáculo desportivo. A segurança tem sempre uma base de restrição de direitos das partes em detrimento dos direitos do todo.

É igualmente nessa base que as pessoas acedem aos recintos desportivos, já cientes de que, ao fazerem-no, terão necessariamente de cumprir determinados pressupostos, dos quais serem sujeitos a revistas desta natureza.

12. Na sua opinião, quem deveria garantir as revistas intrusivas à entrada dos recintos desportivos (ARD ou Polícia)? E porquê?

LR – Como referi anteriormente, considero que havendo capacidade operacional, essa

seria uma tarefa a atribuir às Forças de Segurança. Ainda assim, esta situação poderia constituir uma desvirtuação da lógica da segurança do evento, que se pretende ser da responsabilidade do promotor, conforme citei nas respostas anteriores.

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