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Esquema 15: Síntese interpretativa Ricardo Graham

6.1 SÍNTESE INTERPRETATIVA

6.1.8 Ricardo Graham (o Ebanista)

Esquema 15: Síntese analítica Ricardo Graham Fonte: o autor (2016)

188 A interpretação dos resultados das análises para subsidiar o processo de categorização se deu em três etapas. Inicialmente foram processadas as informações básicas da ficha de análise e postas nos gráficos síntese, norteando uma classificação básica de elementos de configuração e produção do artefato, retiradas da parte descritiva. Em seguida são exploradas as questões de “associação com o artesanal” que englobam sua configuração formal e processo produtivos. Estas etapas descritas são confrontadas com as análises das funções dos artefatos, buscando similaridades na intenção da utilização dos elementos de configuração e processo de feitura das peças.

Quanto à configuração formal, foi observado que a representação ou utilização de características formais das técnicas se apresentaram de maneira distinta e com intenções diversas. A designer Bianca Barbato, por exemplo, utiliza deste recurso com intenções estético-simbólicas nos três artefatos analisados, estes frutos de produção industrial. Já o uso da estrutura taxonômica de produtos artesanais foi identificado nos produtos de Eulália Anselmo, com o objeto de sentar TrançaBalança e a cadeira Argolas; na cadeira Vó Judith de Nicole Tomazi e na poltrona Cangaço dos Campana.

É preciso destacar que o uso de tal referência no trabalho de Eulália Anselmo, como a Argolas inspirada nos arreios dos cavalos e o trançado tradicional gaúcho na TrançaBalança são motivadas por referências de seu repertório da infância, como diz em depoimento coletado70.A cadeira Vó Judith de Nicole Tomazi é inspirada em suas experiências com sua avó, quando esta lhe ensinava as técnicas manuais que sabia, e assim como Anselmo, fruto de repertório da infância. Já a poltrona Cangaço utiliza a estrutura taxonômica das peças de selaria, mas estas inspiradas no trabalho do artesão Espedito Seleiro, que contribuiu no projeto.

Quanto ao uso de produtos artesanais na composição das peças, foi identificada sua representação na poltrona Abraço de Flor, de Eulália Anselmo, e na poltrona Multidão, dos Campana. A Abraço de Flor é formada de centenas de flores de crochê e a Multidão de bonecas de pano, ambas com o agrupamento destes elementos em sua superfície.

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189 É preciso salientar que os demais produtos que são produzidos através de técnicas artesanais vão apresentar características reconhecíveis e associadas às respectivas técnicas/tipologias, mas o que se pretendia identificar era o uso de características formais associadas ao artesanal, que não necessariamente estivesse associado ao processo produtivo através de uma técnica ou processo específico, uma vez que a intenção é coletar (de forma panorâmica) possibilidades diversas de utilização destes recursos.

Partindo para processo produtivo, no quesito mão de obra artesanal, apenas Bianca barbato e Inês Schertel não fazem uso deste recurso. Bianca utiliza fornecedores industrais para seus móveis e os elementos artesanais que insere em suas peças não são feitos por artesãos. Já Inês Schertel faz sozinha o processo de beneficiamento da matéria e a manipulação do feltro de lã para formar o produto acabado.

Domingos Tótora e Ricardo Graham trabalham em suas oficinas e sua produção ocorre apenas com um tipo de material, a massa de celulose para Tótora e a madeira maciça para Graham. Seus funcionários estão a par de todo o processo produtivo.

Já Eulália Anselmo e Nicole Tomazi idealizam o produto e delegam a feitura das partes artesanais para as artesãs com quem trabalham. Suas peças de autoprodução podem ser mescladas com a produção industrial, onde as artesãs com quem trabalham fornecem a mão de obra para as empresas que licenciam seus produtos.

Os Campana, como visto, utilizam a mão de obra artesanal de maneiras distintas. A cadeira Vermelha conta com a reprodução manual de seu complicado trançado em corda, mas no ambiente de produção industrial. Com a poltrona multidão com a aquisição de bonecas de pano feitas por artesãs de uma comunidade, e a poltrona Cangaço com a execução por um artesão que também participa da elaboração de seu projeto.

Quanto às técnicas de produçãoa artesanal, foi possível identificar nas peças de Bianca Barbato a referência a três técnicas distintas, associadas à função estético simbólica do produto. O bordado na mesa de acrílico que permite criar padrões geométricos, a colagem do tampo das mesas tramas utilizando os princípios da marchetaria e o padrão floral da chapa metálica que

190 dá forma à cadeira Renda. As técnicas aqui são exploradas a partir das possibilidades produtivas que o experimento com o material lhe proporciona.

Domingos Tótora elege uma técnica e segue criando suas peças com consistência: moldando sua pasta de celulose. Assim também faz Inês Schertel com seu feltro de lã e Ricardo Graham e a marcenaria com madeira maciça. Jacqueline Chiabay utiliza algumas técnicas dentro da tipologia dos fios, como o crochê e o tricô, mas sempre com o mesmo material: os fios de couro proveniente de descarte. Já Eulália Anselmo utiliza de técnicas distintas para produzir suas peças. Nos artefatos selecionados para a análise são usados o crochê e o “trançado gaúcho”, todos feitos com lã natural. É preciso destacar a intenção de Eulália em resgatar as técnicas que ela diz serem tradicionais da região.

Já Nicole Tomazi não apresenta variedade de tipologias em suas peças. Geralmente utilizando o tricô e o crochê, seus produtos são produzidos com materiais que não são tipicamente associados a estas técnicas. Estes dados subsidiam a elaboraçao de uma tabela (tabela 6, p. 190) para a melhor visualização do que foi identificado.

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Tabela 6: Tabela da síntese analítica para a categorização Fonte: a autora, 2016.

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7 CATEGORIZAÇÃO

O processo de categorização, como descrito, segue pelo processo de acervo, em que a definição das categorias resulta da classificação progressiva dos elementos analisados.

Ao utilizar critérios referentes à configuração formal e respectivos processos produtivos, foi possível conceber gráficos para uma melhor visualização de como as referências artesanais se materializavam nos artefatos e em sua produção. De maneira complementar, foi possível através do depoimento dos designers, mediante questionário, extrair informações como as motivações para o uso de tais referências. Deste modo, foram definidas as seguintes categorias para ilustrar a referência do artesanato no design do mobiliário contemporâneo analisado:

1. Categoria 1: Feitura manual - Mãos de mestre 2. Categoria 2: Reaproveitamento material 3. Categoria 3: Memória afetiva artesanal 4. Categoria 4: Experimentação artesanal

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