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jurídicas específicas.

Na Ação de Embargos à Execução, no pólo ativo, como embargante, está o devedor, contra quem é reclamado o cumprimento da obrigação; e do outro lado, no pólo passivo, como embargado, está o credor, que na execução pretende o recebimento do seu crédito, pela coação do Estado sobre o devedor e seu patrimônio.

O objetivo do processo de execução é a composição da lide executiva, para atingir uma finalidade específica, qual seja, a entrega da prestação jurisdicional ao credor pelo Estado. Oferecida a resistência do devedor, o processo de execução reclama uma atividade efetiva e eficaz, dotada de celeridade e economia, como princípios outros informadores do processo judicial, colimado com a entrega da tutela jurisdicional reclamada.

CÂNDIDO RANGEL DINAMARCO63, antes tratando da instrumentalidade do processo e a dizer que o sistema processual vigente não acompanha as mudanças trazidas pelas reformas dos sistemas de direito material, leciona, com muita propriedade que:

É vaga e pouco acrescenta ao conhecimento do processo a usual afirmação de que ele é um instrumento, enquanto não acompanhada dos objetivos a serem alcançados mediante o seu emprego. Todo instrumento como tal, é meio; e todo meio só é tal e se legitima, em função dos fins a que se destina. (...) Fixar os escopos do processo equivale, ainda, a revelar o grau de sua utilidade.

Prossegue o jurista, em sua crítica à sistemática do processo vigorante, fazendo referência à atividade jurisdicional e à finalidade do processo:

(...) Por isso é que hoje, todo estudo teleológico da jurisdição e do sistema processual há de extrapolar os lindes do direito e da sua vida, projetando-se para fora. É preciso, além do objetivo puramente jurídico da jurisdição,

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encarar também as tarefas que lhe cabem perante a sociedade e perante o Estado como tal. O processualista contemporâneo tem a responsabilidade de conscientizar esses três planos, recusando-se a permanecerem num só, sob pena de esterelidade nas suas construções, timidez ou endereçamento, destoantes das diretrizes do próprio Estado social.

Extrai-se do magistério do jurista sua visão crítica devida ao processo. Diz-se devida ao processo como um todo. A instrumentalidade, finalidade e objetivo dos processos: de cognição, de execução, cautelares e especiais, realmente deixam a desejar, no momento em que o destinatário da tutela jurisdicional não está bem e melhor contemplado, quando da aplicação da norma instrumental. A idéia do mestre é a mudança do sistema processual, com crítica ao atual modelo, a partir dos critérios de aplicação e efetiva função teleológica do processo judicial.

FLÁVIO LUIZ YARSHELL64, dissertando criticamente sobre a efetividade do processo de execução e da jurisdição quanto a sua finalidade, começa em lição dizendo:

Já faz algum tempo que a doutrina processual civil, preocupada com a efetividade do processo e da jurisdição, tem dirigido críticas severas ao modelo brasileiro de tutela executiva dos direitos. De um modo geral, as críticas que se voltam contra o próprio processo de execução, não são – para alguns talvez nunca tenha sido – aptas a atingir, de forma adequada, os escopos da atividade jurisdicional, nessa seara; fala-se dessa forma, em reaver ou mesmo ‘desestruturar’ o processo de execução.

Melhor se coloca o jurista, quando leciona sobre os remédios processuais com

efeito suspensivo, a justificar a morosidade da justiça e a ineficiência do processo de

execução, pugnando que:

Com efeito, parece-nos razoavelmente claro que o que contribui decisivamente para retardar o andamento da justiça - no qual o processo de execução tem papel decisivo - não é a previsão legal de que uma dada decisão pode ser revista por meio de um recurso ou de outro meio de impugnação. Pelo contrário, sob a ótica dos escopos da jurisdição (e, dentro

64 Processo de Execução, série Processo de Execução e assuntos afins, vol. 2, Coord. Sergio Shimura e

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deles, do escopo jurídico), todo recurso é forma de aperfeiçoamento da cognição realizada no processo e, propiciando melhor conhecimento dos fatos trazidos a Juízo, é fator que contribui para a Justiça da decisão, isto é,

para sua adequação e fidelidade às posições do direito objetivo.65

Mas, fatores outros e diversos levam a Justiça a uma demora injustificável na prestação jurisdicional. A doutrina e a jurisprudência revelam os princípios e normas legais a serem observados, na condução do processo. Todavia, acrescentem-se, como fatores determinantes da morosidade da máquina judiciária, a má interpretação dos princípios e normas de direito, pelos juízes e tribunais, respeitadas as boas interpretações e decisões; a deficiente organização estrutural do Poder Judiciário, carente de revisão e reforma; tudo isso contribui para o desrespeito aos princípios processuais, desnaturando o caráter instrumental do processo, instrumento da jurisdição. Bem verdade que um mínimo de tecnologia, representada por aparelhos de comunicação e informação, além do aumento no quadro de servidores da Justiça e juízes, é visível. Mais e melhores julgadores fariam a diferença, no momento em que as mudanças sociais exigem o acompanhamento dessas transformações, colocando-se o direito e a justiça acima e não abaixo das normas, quando em busca do direito justo.

Ora, o devido processo legal, a ação e a ampla defesa e o contraditório são direitos consagrados na Carta Magna. As normas legais e os princípios a serem interpretados e aplicados impõem dever de observância a todos os sujeitos e os fatos que integram a relação jurídica processual. A inobservância de um princípio ou norma, por um sujeito, deve ser reclamada pelo outro, no processo, por meio dos recursos cabíveis.

Daí que a crítica ao sistema processual deve ser mais cautelosa. Tudo que está, como regra, no mesmo sistema de processo, deverá ser acompanhado de uma outra crítica, no momento em que todo processo tem seu tempo e lugar, carecendo de aperfeiçoamento, para a validade da sua efetividade e eficácia, como instrumento das jurisdições, impondo-se uma revisão, depois de uma devida e merecida análise crítica.

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