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A tese se organiza em três capítulos. Ademais desta Introdução, que ofereceu uma justificativa ao trabalho, sintetizou as hipóteses principais e organizou as bases teóricas da tese, o Capítulo 1 apresentará as principais mudanças no capitalismo internacional, destacando aspectos da financeirização, da fragmentação de cadeias produtivas e da ascensão da economia chinesa como elo constitutivo de um novo centro – que se conforma com os Estados Unidos como elemento basilar.

Compreendidas as principais transformações do centro, os Capítulos 2 e 3 em conjunto observarão as trajetórias da estrutura produtiva e da integração regional como elementos articulados, ainda que separados analiticamente em capítulos distintos. O Capítulo 2 fará um esforço para compreender como essa nova realidade impactou a América Latina, os distintos padrões de desenvolvimento e particularmente sua estrutura produtiva. O Capítulo 3 se concentrará em observar aspectos relacionados a inserção internacional extrarregional e como se comportou a integração regional durante o período de análise da tese. É no Capítulo 3 que também está a discussão da hipótese complementar de que o Brasil não se comportou

como elo dinâmico regional, capaz de promover mudança estrutural e integração regional, bem como a explicitação das diferenças nas estratégias de integração.23

Espera-se que os Capítulos 2 e 3, em conjunto, demonstrem que: por um lado, a dinâmica do novo centro foi capaz de produzir um ciclo de alta da liquidez internacional e de preços de commodities, o que aliviou a restrição externa. Mas, por outro lado, esses mesmos fatores se constituíram como incentivos econômicos a investimentos em estruturas primário- exportadoras. A abundância de liquidez e o boom de preços de commodities, ademais dos impactos nos balanços de pagamentos, criou um diferencial de rentabilidade entre ativos relacionados a atividades primárias e extrativas vis-à-vis atividades da indústria de transformação. Além da alta rentabilidade de investimentos ligados à commodities, os preços cadentes da fábrica asiática ameaçaram as distintas indústrias da região. Assim, os incentivos econômicos produzidos pelo novo centro foram no sentido de reforçar estruturas primário- exportadoras e dificultar ainda mais a tarefa da industrialização e diversificação de estruturas produtivas, de modo que esse desenvolvimento do centro atuou muito mais por reproduzir o subdesenvolvimento do que contribuir com esforços locais de política industrial e diversificação produtiva (que além de tudo estiveram relativamente descoordenados e insuficientes). A reprodução de estruturas produtivas, nos distintos padrões de desenvolvimento da região, aprofundou as inserções externas tipicamente extrarregionais, de modo que a integração regional não pôde avançar com as estruturas produtivas exportadoras de commodities (caso do Sul da América Latina) ou integradas a cadeias dos EUA (caso do Norte da América Latina).

Diante dessa realidade, os esforços da “onda rosa” por mudança estrutural e integração foram insuficientes para conter a força dos estímulos “de mercado” por reproduzir estruturas produtivas e aprofundar inserções internacionais tipicamente voltadas a mercados extrarregionais.

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Os Capítulos 1, 2 e 3, após suas seções iniciais de “apresentação”, todos eles possuem uma seção de breve resenha histórica do período imediatamente anterior ao século XXI, o que poderá ajudar na compreensão dos movimentos histórico-estruturais.

Capítulo 1 - Centro em transformação no século XXI I. 1. Apresentação

O objetivo principal da tese é discutir os desafios da integração regional a partir do comportamento de estruturas produtivas na América Latina no período que se inicia com a crise do consenso de Washington, na virada do século, até meados da década de 2010. É um período em que a região viveu avanços nos campos político e social, durante tempos de choque positivo nos termos de troca (sobretudo na América do Sul), em que a alta liquidez internacional contribuiu para a abundância de divisas e permitiu um crescimento econômico sem restrição externa, mas esses mesos elementos também contribuíram para que não houvesse mudança estrutural. Assim, a inserção externa da região manteve seu padrão historicamente dependente e a integração regional não acompanhou o ritmo da retórica das lideranças políticas. No momento da reversão cíclica, os projetos de desenvolvimento socialmente inclusivo são colocados em xeque.

Cabe a este primeiro capítulo discutir o movimento mais geral do capitalismo no período recente, debater os novos elos dinâmicos no centro da economia internacional, que trouxe diferentes impactos em sua periferia. Dada a realidade periférica latino-americana, seria problemático fazer uma avaliação do período sem antes buscar a devida compreensão mais geral do funcionamento do capitalismo internacional e sem perceber a dinâmica de funcionamento do centro da economia global. Cumprido esse objetivo de debater mudanças no centro do capitalismo, os capítulos segundo e terceiro buscarão observar as especificidades da América Latina que essa tese se propõe a discutir.

O Capítulo 1 tem dois objetivos principais, primeiro, observar a forma pela qual o capitalismo financeirizado fragmentou cadeias produtivas e como a China se aproveitou desse processo para articular sua estratégia de desenvolvimento nacional; segundo, debater as alterações no centro do capitalismo e refletir se a China é, ou não, centro. A linha de raciocínio que se apresenta, em síntese, inicia destacando que, após a crise do padrão de Bretton Woods, o capitalismo internacional se transformou, particularmente por meio do processo de liberalização financeira e comercial. A globalização financeira e produtiva durante a hegemonia americana, sob a liderança das finanças, transformou o funcionamento da economia global estabelecido no pós-guerra. Esse processo histórico de transformação do capitalismo se deu em paralelo com outros elementos, como a estratégia nacional chinesa de desenvolvimento e a articulação geopolítica dos EUA e da China, que contribuíram por

alterações importantes na organização produtiva global. Isso permitiu a esse país asiático obter posição relevante nos novos elos dinâmicos no centro do capitalismo internacional. Esse processo fez com que a China abandonasse uma condição meramente periférica e estabelecesse relações de tipo centro-periferia com parte do globo, mesmo que (ainda) não tenha se consolidado como um centro dinâmico que suplanta a hegemonia e liderança estadunidense – sobretudo nos aspectos de sua moeda, finanças e nos persistentes desafios quanto a homogeneização de sua continental economia.

Além desta apresentação inicial, a seção I.2 se enfocará em processos históricos anteriores ao século XXI, basicamente enunciando as principais transformações da economia capitalista após a crise de Bretton Woods, com destaques à relação entre a financeirização e realocação global da produção. Em seguida, a seção I.3 discutirá como essas transformações da economia capitalista levaram a mudanças no centro da economia internacional, particularmente marcando as especificidades nas relações entre China e EUA, as cadeias globais de valor e, finalmente, explicitando a nova geografia da produção internacional, na qual conformou-se um novo elo dinâmico central, no qual a China tem posição-chave. Por fim, as considerações finais (seção I.4) sintetizam os principais objetivos do Capítulo 1.