• Nenhum resultado encontrado

Passo 7 Fazer conclusões, o que compreende construção de explicações coesivas sobre toda a informação numérica, factos e circunstancias conhecidos sobre a entidade e que vão determinar as implicações para a auditoria.

2. Estudo Empírico

3.2 Caracterização e introdução no estudo

3.3.6. Royal Ahold , N.V

A Royal Ahold, N.V. recrutou no início dos anos 90 uma nova equipa de gestão. Esta equipa começou a implementar um novo plano de expansão internacional, estabelecendo desde logo objetivos de crescimento de proveitos para todas as unidades operacionais na Holanda e no estrangeiro em 15 % anuais. Os gestores de topo estavam a criar pressão sobre todos os níveis de gestão a fim de atingir metas de rentabilidade traçadas. Em complemento, foram introduzidos mecanismos de bonificação para gestores que conseguem alcançar resultados pretendidos. Esta nova estratégia permitiu a Royal Ahold aumentar as suas vendas dos 7,7 bilhões de EUR em 1990 até aos 62,7 bilhões de EUR em 2002. O crescimento impressionante abriu a empresa acesso aos capitais necessários para a expansão.

Acontece que, os objetivos de crescimento definidos pela nova equipa foram pouco adequados e realistas. A empresa operava no ramo de indústria de alimentos, setor altamente competitivo e com margens de lucro bastante modestas, além disso, as unidades de negócio recentemente adquiridas nunca poderiam ter taxas de crescimentos similares aos das unidades já existentes.

109

A Deloitte Accountants, B.V. foram auditores da Royal Ahold desde 1973 e os serviços de auditoria contemplavam auditorias às demonstrações financeiras consolidadas. No início do ano 2003 os auditores anunciaram a suspensão da auditoria relativa ao ano 2002, porque foram descobertas práticas contabilísticas e financeiras questionáveis que necessitavam de ser pormenorizadamente investigadas.

O mercado reagiu a esta notícia com queda de preço por ação por 70 % e redução do rating de crédito da Royal Ahold, o que praticamente impossibilitou a obtenção de novos créditos pela empresa.

Face a esta situação, o Conselho Administrativo tomou várias medidas corretivas, em primeiro lugar, despedindo o Administrador Executivo e o Diretor Financeiro envolvidos em esquemas da contabilidade irregular, segundo, colocando à venda as subsidiárias estrangeiras para obter meios líquidos necessários e, finalmente, iniciando o processo de cooperação com órgãos legislativos e reguladores a fim de identificar e eliminar os problemas contabilísticos existentes.

A informação financeira da Royal Ahold apresentava três principais distorções. Em primeiro lugar, a informação financeira de algumas das participadas estava integrada incorretamente nas demonstrações financeiras consolidadas, o que gerou sobre estimação significativa dos rendimentos e ativos consolidados. Por exemplo, os resultados e ativos de subsidiárias participadas em 50 % foram considerados pela sua totalidade indevidamente, ignorando o princípio de proporcionalidade. Nas demonstrações financeiras do ano 2001 os ativos de 32,2 bilhões de EUR foram sobre estimados em 4,4 bilhões e os rendimentos de 66,6 bilhões de EUR em 12,2 bilhões de EUR respetivamente. Segundo, os investimentos iniciais em algumas de participadas estrangeiras foram contabilizados incorretamente, por exemplo, a goodwill estava inflacionada e as despesas de aquisição foram levadas ao capital acionista no momento de aquisição. Assim, as falhas na contabilização inicial produziram sobre estimação de rendimento líquido por 8 milhões de euros em 2000 e 36 milhões de EUR em 2001. E finalmente, foi descoberta a fraude maciça na subsidiária Americana, U.S. Foodservice (USF). As contas desta filha estavam distorcidas ainda no momento anterior à aquisição pela Royal Ahold, mas o mesmo esquema foi empregue mais tarde pela USF para atingir objetivos de lucratividade impostos pela Royal Ahold. A USF contabilizava indevidamente as provisões entregues aos seus vendedores para fins promocionais. Por exemplo, só no ano 2001 os ganhos da Royal Ahold foram sobre

110

estimados por 212 milhões devido a estas operações, o que representa 60 % da sobre estimação de resultados registada naquele ano.

Em resultado deste escândalo a Royal Ahold teve que emitir durante o outono das 2003 correções às suas demonstrações financeiras do ano 2002, 2001 e 2000. Os resultados líquidos inicialmente registados foram reduzidos por 88,1%, 32,6% e 17,6 % respetivamente.

Foi efetuada a análise das demonstrações financeiras da Royal Ahold do período de 1999 a 2001. Nos parágrafos abaixo serão descritas as oscilações mais significativas dos itens das demonstrações financeiras e dos rácios. A análise completa encontra-se no Apêndice 7. No balanço verifica-se o aumento de disponibilidades no último ano por 48 % e esta alteração favorável é confirmada por rácios de liquidez com bons valores e em crescimento.

As rubricas de ativos intangíveis, reservas de reavaliação, reservas para diferenças de câmbio e participações de reserva, que apresentam crescimento significativo relacionam-se com a atividade de expansão transfronteiriça da empresa. Na demonstração de resultados podemos encontrar mais duas rubricas relacionadas com atividade económica desenvolvida nos outros países, que apresentam subidas percentuais grandes, nomeadamente amortizações da goodwill (com aumento acima de 3000 %) e rendimentos das empresas não consolidadas (com aumento de 572 %). Estas rubricas devem ser submetidas à verificação e confirmação mais pormenorizada pois têm por traz as operações que se consideram em auditoria como mais complexas e que comportam riscos acrescidos.

Na demonstração de resultados dos últimos 2 anos foi registado o crescimento de vendas superior a 86 %, o que é muito significativo para os operadores deste setor com margens tradicionalmente modestas. A rubrica gastos de financiamento evidencia que a entidade aumentou o seu endividamento por 118 % durante o período em análise.

Após a análise dos rácios pode-se concluir que a empresa demonstra bons sinais de desempenho económico em termos gerais. A rotatividade das contas de clientes é alta e as dívidas de clientes são recebidas em menos de um mês. Os inventários com a permanência curta, de aproximadamente um mês, representam um sexto do ativo. Os ciclos operacionais e de disponibilidades são razoavelmente curtos, de 60 e de 8 dias respetivamente. A empresa tem uma boa percentagem do lucro e a rotatividade do ativo. Os índices pelo

111

método do Beneish, de prazo médio de recebimentos, de margem de lucro e de crescimento de vendas, encontram-se dentro de parâmetros normais.

Levantam algumas preocupações os rácios de gestão de dívida, pois a dívida da entidade representa mais de 30 % do ativo e a metade do resultado antes de impostos é utilizada para pagamento de juros.

Além disso, mais sinais negativos são recebidos dos rácios de rentabilidade: a rentabilidade do ativo, dos capitais próprios e a margem do lucro desceram 45 %, 80 % e 28 % respetivamente durante os últimos 3 anos.

Os dois índices pelo método Beneish indicam que a qualidade dos ativos é baixa, mas que o acréscimo do ativo está anormalmente alto, que pode significar que os valores do ativo foram artificialmente inflacionados.

No caso da Royal Ahold os procedimentos analíticos permitiram identificar áreas de maior risco, nomeadamente contabilização de rendimentos, participações e outras operações com entidades participadas.