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CAPÍTULO II Ruth Rocha: olhares sobre a vida e a obra da autora

2.2 Ruth Rocha na produção acadêmica

Estudos acadêmicos concernentes às obras de Ruth Rocha já foram desenvolvidos, em diferentes níveis, e publicados por diversos meios: livros; capítulos; artigos; anais de eventos científicos; dissertações e teses. Para aprofundar nossos conhecimentos e ampliar a compreensão sobre a autora e sua obra, realizamos um levantamento da produção acadêmica (dissertações e teses) no período de 2000 a 2011, publicada no Banco de Teses da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES64). Fixamos este período por coincidir com a delimitação feita na escolha das obras do PNBE, que constitui o corpus de nosso estudo, entendendo que:

Os resumos oferecem uma história da produção acadêmica através de uma realidade constituída pelo conjunto dos resumos, que não é absolutamente a mesma possível de ser narrada através da realidade constituída pelas dissertações de mestrado e teses de doutorado, e que jamais poderá ser aquela narrada pela realidade vivida por cada pesquisador em sua pesquisa. Os resumos das pesquisas analisadas contam uma certa realidade dessa produção. (FERREIRA, 2002, p. 268).

64 Para conhecer o banco de teses e dissertações da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível

Superior (CAPES), órgão do Governo Federal, acessar o endereço abaixo e em seguida clicar na palavra resumo e seguir os passos que a ferramenta indica, a qual permite a pesquisa por autor, ano, título e palavras-chave. http://www.capes.gov.br/servicos/banco-de-tesesAcesso em: 12/05/2012

Dessa forma, produzimos um estado da arte ou estado do conhecimento, com o objetivo de conhecer a produção acadêmica existente sobre a escritora e as suas obras de literatura infantil. Para o levantamento, utilizamos a palavra-chave “Ruth Rocha”. Durante o processo de classificação em 2012, quantificamos vinte e uma (21) dissertações e três (3) teses nas diferentes áreas, produzidas nos diversos Programas de Pós-Graduação do país. Em seguida, realizamos a leitura dos resumos acadêmicos e, posteriormente, a leitura na íntegra dos textos que se relacionavam com o nosso objeto de pesquisa, pois:

Pode-se estabelecer a partir de uma certa ordenação de resumos uma rede formada por diferentes elos ligados a partir do mesmo suporte material que os abriga, pela opção teórica manifesta, pelo tema que anuncia, pelo objetivo explicitado da pesquisa, pelo procedimento metodológico adotado pelo pesquisador. Um conjunto de resumos organizados em torno de uma determinada área do conhecimento (Alfabetização, Leitura, Formação do Professor, Educação Matemática, por exemplo) pode nos contar uma história de sua produção acadêmica. Mas é necessário pensar que nesta história foram considerados alguns aspectos dessa produção e que nela há certas limitações. (FERREIRA, 2002, p. 268, grifos da autora).

Localizamos três teses de doutorado nesse período, utilizando a palavra-chave Ruth Rocha, defendidas nos anos de 2003, 2005 e 2006. As duas primeiras produções foram defendidas na Universidade de São Paulo e a terceira na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro.

A primeira delas, de Oliveira (2003), tem como título “O contrato de comunicação da literatura infantil e juvenil: análise de „O reizinho mandão‟ de Ruth Rocha e „Graças e desgraças da corte de El-rei Tadinho‟ de Alice Vieira” na área de Letras (Estudos Comparados de Literatura de Língua Portuguesa). O tema da tese diz respeito às duas obras de literatura infantil: “O reizinho mandão”, de Ruth Rocha, e “Graças e desgraças da corte de El-Rei Tadinho”, de Alice Vieira, conforme descrita no resumo publicado no banco de teses e dissertações da CAPES65:

Este trabalho propõe uma leitura - à luz da análise semiolinguística do discurso de Patrick Charaudeau - de dois representantes exponenciais da literatura infantil lusófona: O reizinho mandão de Ruth Rocha (que se destaca no boom da literatura infantil brasileira dos anos 79/80) e

65Ver http://capesdw.capes.gov.br/capesdw/resumo.html?idtese=20039933002010168P8 Acesso em:

Graças e desgraças da corte de El-rei Tadinho de Alice Vieira (publicado em 1984, numa conjuntura de desencanto com a Revolução de Abril em Portugal). Pretendeu-se buscar nesse passado recente as raízes da literatura infantil lusófona de hoje. Revelaram-se altamente operacionais na análise dos dois livros as ferramentas da teoria de Charaudeau, graças à qual foi possível fornecer subsídios para a descrição do(s) contrato(s) de comunicação da literatura infantil atual, desmentindo a crença generalizada de que tal literatura fosse "menor". Tornou-se claro, à luz dessa teoria, tratar-se de diferença não de qualidade, mas de contrato.

Na obra “O reizinho mandão”, de Ruth Rocha, publicada no ano de 1978, pela Editora Pioneira e analisada por Oliveira (2003), é narrada a história de uma população que vive subjugada pela tirania de um soberano. Um rei arbitrário e prepotente, que cria leis absurdas para serem seguidas em seu reino. Tem mania de mandar as pessoas calarem a boca a todo momento e é tão egoísta e arrogante, que as pessoas passam a ficar cada dia mais caladas, até que não falam mais absolutamente nada, desaprendem a falar. Um dia, uma menina diz: “Cala a boca já morreu, quem manda na minha boca sou eu”. Vê-se, com este provérbio, uma crítica aos governos militares brasileiros, pois a primeira edição da obra é de 1978 (período de críticas e contestação ao regime militar). A autora utilizou-se da sátira para apresentar o seu personagem principal. Contudo, como é característica de suas obras, por meio desse texto, é possível pensar sobre a consciência crítica, o sentido da justiça e sobre o autoritarismo e liberdade de expressão. A segunda, tese defendida por Carvalho (2005), cujo título é “O ideário moral- pedagógico na literatura infantil de Ruth Rocha66”, foi produzida no Programa de Educação da USP. Focaliza os valores educativos que a escritora Ruth Rocha veicula em suas obras literárias, inspirada na “teoria da interpretação” de Paul Ricouer, de acordo com o resumo:

Esta pesquisa teve por objetivo estudar os valores educativos que a escritora RUTH Machado Louzada ROCHA vem veiculando para o público infantil, por meio de sua produção literária. O interesse do projeto foi identificar e compreender no discurso da escritora as bases valorativas e pedagógicas, sobre as quais ela vem propondo a integração de seus pequenos leitores na vida social. Os pilares teórico- metodológicos desta pesquisa fundam-se na Antropologia do Imaginário de Gilbert Durand, nos paradigmas de convivência social

66Ver http://capesdw.capes.gov.br/capesdw/resumo.html?idtese=2005117733002010001P6 Acesso em:

apontados pela Sócio-Antropologia, de Michel Maffesoli e nos estudos sobre os valores e virtudes desenvolvidos por André Comte- Sponville. Por tratar-se de um estudo que tem como foco a compreensão do significado de imagens simbólicas, o objeto foi abordado não por uma única via das ciências humanas, mas por uma ótica transdisciplinar, envolvendo outras áreas de conhecimento, como o objeto o exige. Esses fundamentos epistemológicos foram conduzidos por uma hermenêutica simbólica, inspirada na Teoria da Interpretação de Paul Ricoeur, em sintonia com a referida antropologia. A pesquisa não incidiu sobre o estudo dos signos linguísticos, mas deu primazia à exploração fenomenológica dos conjuntos simbólicos portadores de sentido de valores e virtudes. A pesquisa permitiu identificar que o discurso moral-pedagógico da escritora transitou entre a veiculação de uma moral fundada na racionalidade do dever-ser, evoluindo, gradativamente, na direção da prioridade ao hedonismo do estar-junto, não mais regido por instâncias transcendentes nem por objetivos morais, mas pelo que é vivido de modo orgânico no dia a dia e que se centra no que é da ordem da proximidade e nos laços afetivo-emocionais, que se inscrevem numa ética de solidariedade. No discurso de Ruth Rocha, as personagens vão encontrar esse hedonismo no compartilhamento das conquistas da liberdade, da satisfação da curiosidade infantil e das alegrias das descobertas.

No trabalho de Carvalho (2005), a cultura do imaginário, associado ao prazer encontrado nas leituras de Ruth Rocha, possibilitou o desvendar da curiosidade do leitor infantil. Seu objeto, sob uma perspectiva transdisciplinar, envolve várias áreas do conhecimento. Relacionamos o processo transdisciplinar, como os registros de Pombo (2004, p. 39):

[...] forma extrema de integração disciplinar, impossível nas circunstâncias atuais da ciência e da escola, mas para a qual, eventualmente, aponta o próprio processo de desenvolvimento cognitivo e comunicativo. Rompendo as fronteiras entre as disciplinas envolvidas, ela implicaria profundas alterações tanto nos dispositivos da investigação como nos regimes de ensino, tanto na estruturação das comunidades científicas como na organização da instituição escolar.

A proposta de Pombo é a defesa da interligação de todos os conhecimentos. Trata-se de conceber, analisar e agir em conformidade com a realidade que nos cerca, unindo o conhecimento e a experiência adquirida no cotidiano. Essa concepção confere sentido ao desenvolvimento das estruturas teóricas, metodológicas, práticas e de investigação atuais. É, por exemplo, pela troca dinâmica entre as ciências exatas,

humanas, artes e por meio do reconhecimento das fragilidades de cada disciplina que nos aproximamos mais da transdisciplinaridade.

A terceira tese, por sua vez, de Monteiro (2006), “Permanência e mutações: o desafio de escrever adaptações escolares baseadas em clássicos da literatura67”, foi defendida na área de Letras. O pesquisador, por meio de pesquisas de campo, realizadas com alunos da 7o série (hoje 8o ano do Ensino Fundamental), analisa adaptações escritas por Ana Maria Machado e Ruth Rocha, como descrito no resumo:

Para esta tese, a adaptação escolar é a atualização de um discurso literário. Adaptações existem e são necessárias porque toda sociedade é construída por meio de uma rede sofisticada e complexa de discursos; para se manter coesa ou para se reconstruir constantemente uma sociedade precisa saber como atualizá-los. O que nunca é simples, fácil ou livre de conflitos. A função da adaptação dentro do sistema escolar é manter viva a tradição considerada de valor, apresentando a uma nova geração o que se convencionou chamar de cânone literário. Afinal, a tradição só se mantém pela renovação. Revendo a história do livro e do copyright, podemos perceber tanto as origens da adaptação escolar como as razões dos preconceitos contra este gênero específico. Com base em Foucault, Said, Borges e Lobato, esta tese contrapõe a literatura como narrativa à "ideologia do texto fixo" formulada no século XVIII. O maior desafio do adaptador ao resumir o enredo é escolher onde (ou como) cortar. A narrativa resumida é uma nova narrativa, que tem de ser a mesma (conter o passado, o cânone) e ser outra (estar contida na recepção dos leitores). O adaptador precisa atualizar a linguagem de forma adequada à faixa etária do leitor e respeitar limites impostos pela moral vigente. É preciso conhecer a fundo a obra a ser adaptada, entender porque ela permaneceu e continuou a ser lida, cultuada, sobrevivendo ao implacável teste do tempo. As hipóteses desta tese foram testadas por meio de duas pesquisas de campo realizadas com leitores da sétima série do ensino fundamental a partir de adaptações escritas por Ana Maria Machado e Ruth Rocha.

Na pesquisa de Monteiro (2006), percebemos seu propósito de estudar a adaptação no sistema escolar. Para conhecer as obras analisadas, foi preciso recorrer ao texto completo. Foi analisada a obra Thomas Maroly (Ana Maria Machado), a comparação da adaptação escrita com uma versão cinematográfica. A segunda obra foi Ruth Rocha recontando a Odisseia. Foi feita uma comparação entre ela e um filme

67 Ver http://capesdw.capes.gov.br/capesdw/resumo.html?idtese=20062131005012022P7 Acesso em:

adaptado da obra. Ruth Rocha (2008), em uma entrevista concedida à Revista Nova Escola68, expõe sua ideia sobre suas adaptações de clássicos e como falar a língua das crianças nesse gênero literário: “Dou um tom mais infantil à obra, mas não fico tentando buscar palavras que sejam mais fáceis. O livro também é uma forma de enriquecer o vocabulário, e a adaptação precisa respeitar o original”.

Conforme Monteiro (2006, p. 213), “formar leitores ainda é um dos trabalhos mais gratificantes e importantes a que um professor pode dedicar. Vale a pena. E boas adaptações são excelentes instrumentos para esta tarefa”. Acrescentamos, formar leitores críticos e reflexivos é gratificante.

Faz-se cada vez mais necessária a formação de leitores críticos que sejam capazes de ler e compreender o que leem, para que possam ter melhor ideia sobre o mundo e sua própria realidade. É preciso, também, preocuparmo-nos com a formação do professor leitor, no que compete à leitura crítica, por entendermos que muitos desses profissionais não gostam de ler e/ou não cultivam este hábito e, por isso, não desenvolvem práticas de leituras eficientes em suas salas de aulas. Contudo, é importante não ler apenas para fazer provas e/ou exercícios propostos nas aulas das disciplinas do currículo. Faz-se necessário utilizar a leitura literária como um instrumento para assimilar e refletir criticamente sobre o conteúdo do texto.

Além das três teses, foram localizadas 21 dissertações de mestrado produzidas em diversos programas de pós-graduação do país. Dentre elas, separamos três para comentários69. A primeira delas, de Tochetto (2001), cujo título é “Um olhar sobre a construção do Leitor infantil”, foi resumida da seguinte forma na página da CAPES70:

O presente trabalho pretende levantar algumas considerações sobre como se constrói o leitor infantil as implicações no percurso histórico e ao mesmo tempo, tendo como pressuposto que a leitura é uma atividade social intencional, sendo a escola uma das formadoras de leitores e difusora de materiais de leitura, parceira do mercado editorial. Tendo como hipótese básica que o texto literário se constitui

68 Ver entrevista intitulada: “Ruth Rocha: Leitura não pode ser só folia". Disponível em:

http://revistaescola.abril.com.br/lingua-portuguesa/pratica-pedagogica/leitura-nao-pode-ser-so-folia- 423575.shtml Acesso em: 21/01/2013.

69Optamos por analisar três dissertações porque ao fazermos a leitura do resumo das vinte e uma

dissertações, disponibilizadas no banco de dissertações e teses da Capes, verificamos que elas tinham temas que relacionavam com o nosso objeto de pesquisa.

70 Disponível em: http://capesdw.capes.gov.br/ capesdw/resumo.html?idtese=200115633004030009P4.

pelo autor e seu contexto, pelo leitor que o significa a partir de sua vivência, pela época do ato da leitura e que este texto cumpre a função de apresentar-se como auxiliar na construção da história do leitor infantil, quando respeitada a incompletude desse texto Propomos, a utilização do texto literário infantil como formador do leitor. É nossa intenção mostrar que o conhecimento da Literatura e do relacionamento desta com a História e a sociedade pode ajudar o professor no trabalho da leitura, na escola, visando à formação de leitores críticos, capazes de ler também a história presente nos textos. O corpus de nosso trabalho é composto basicamente de obras contemporâneas da Literatura e selecionamos para estudo, textos da Literatura Infantil como os de Ana Maria Machado, Lygia Bojunga Nunes, Ruth Rocha e Monteiro Lobato, como também, alguns fragmentos de textos literários infantis, extraídos de livros didáticos escolares. Nos livros didáticos, examinamos os procedimentos discursivos que se fazem presentes, via fragmentos literários. No texto literário, a relação de cumplicidades criada entre o autor e o leitor infantil, permitindo que este ocupe os espaços vazios criados por aquele. Privilegiamos textos literários que inscrevem um leitor infantil inteligente e que reconhecem esse leitor na linguagem que utilizada. O trabalho procura dar resposta a seguinte questão: é possível, em sala de aula, trabalhar o texto literário, de tal forma, sem tirar-lhe o prazer e sem transformá-lo especificamente utilitário? Para enfrentar esse desafio, buscamos a ajuda de autores consagrados, da Literatura Infantil, e ao apontarmos caminhos para trabalhar a leitura, na escola, procuramos dar voz ao aluno leitor para que possa construir e construir-se também pelo texto literário.

Não foi possível encontrar na íntegra o trabalho “Um olhar sobre a construção do Leitor infantil”, mas, a partir do resumo, percebemos que Tochetto (2001) fez um estudo ressaltando sua preocupação com a formação do leitor infantil, por meio do texto literário infantil. Inferimos o valor do estudo, pois, hoje, mais do que nunca, se proclama a necessidade da formação de um novo tipo de leitor, para atender às novas exigências do mundo contemporâneo. O leitor, ao interagir com a obra literária, adquire um novo conhecimento de si próprio e do mundo, por meio da experiência vivenciada de forma fictícia, que está entrelaçada ao mundo real.

A segunda dissertação, “Ruth Rocha, página a página: bibliografia de e sobre a autora71”, de autoria de Miguel (2006), descreve dados bibliográficos sobre a escritora Ruth Rocha, além de listar as obras literárias produzidas pela escritora e resenhar

71 Disponível em: http://capesdw.capes.gov.br/capesdw/resumo.html?idtese=20062633004048019P1

algumas, dentre elas “O trenzinho de Nicolau”, “Atrás da porta” e “Quem tem medo de quê?”, livros selecionados para nossa pesquisa. O resumo desta produção, disponível no site da CAPES, é:

O presente trabalho tem por objetivo central o levantamento sistemático das obras escritas pela escritora Ruth Rocha (1931), bem como da produção crítica produzida sobre sua obra (em livros, teses, dissertações, artigos científicos, artigos de divulgação publicados em jornais e revistas). Além disso, é realizada uma reflexão introdutória sobre as principais tendências observadas no conjunto dessa produção crítica. Motivou a realização do trabalho o fato de a autora destacar-se significativamente em meio aos escritores que compõem a “geração de 70” da literatura infantojuvenil brasileira, num momento em que esta passa por profundas transformações, incorporando-se definitivamente à indústria cultural e contando com o mecenatismo do Estado, comprador e distribuidor de grandes tiragens de obras infantojuvenis para escolas e bibliotecas de todo o Brasil. Num primeiro momento da dissertação, é apresentada uma rápida visão geral dos caminhos trilhados pelo gênero infantojuvenil, enfatizando a questão do utilitarismo e do mercado. Em seguida, são organizados dados sobre a vida da autora, coletados em diversas fontes (entre elas, muitas entrevistas), no intuito de constituir um apanhado biográfico geral sobre Ruth Rocha. No capítulo subsequente, procura-se levantar “o estado da questão” referente à produção crítica sobre a obra da escritora, com base em dados extraídos da crítica profissional e da imprensa não especializada. Finalmente, é feito um amplo levantamento dos títulos literários publicados pela escritora.

Sobre as mudanças ocorridas na literatura infantojuvenil no ano de 1970, Lajolo e Zilberman informam que:

O Instituto Nacional do Livro (fundado 1937) começa a co-editar, através de convênios, expressivo número de obras infantis e juvenis, o que representa, do ponto de vista do Estado, um investimento bastante significativo na produção de textos voltados para a população escolar, cujo baixo índice de leitura, por essa mesma época, começa a preocupar autoridades educacionais, professores e editores. (LAJOLO; ZILBERMAN, 1987, p.124).

Com essas mudanças, cresceu o prestígio do autor nacional e “os títulos brasileiros vão se impondo. Entre 1975 e 1978, por exemplo, de um total de 1890 títulos, 50,4% constituem traduções (953 títulos) e 46,6% são textos nacionais” (LAJOLO; ZILBERMAN, 1987, p.124). Contudo, apesar deste crescimento, somente

nos anos 80 o Brasil despertou para o fato de a literatura infantil ser um instrumento para formação do leitor crítico72.

Salientamos ainda que até a década de 1970, com exceção de Monteiro Lobato, a literatura infantojuvenil no Brasil era constituída de textos vinculados a orientações e posturas moralizantes para criança. Contudo, a partir dessa década, houve uma renovação na literatura infantil brasileira, como expõem Yunes e Pondé (1989, p. 132):

A partir da década de 1970 houve um movimento de renovação na literatura infantil brasileira, que buscou alternativas para os modelos comportamentais pedagógicos e moralizantes preconizados pela literatura escolar das décadas anteriores. A partir daí, observamos uma evolução na representação da criança, oferecida aos leitores de literatura infanto-juvenil, num movimento de resistências e crítica ao autoritarismo. [...] Enfim, os personagens passam a ser configurados de um ponto de vista transgressor e crítico, que os insere nos conflitos por que está passando a sociedade contemporânea. Assim, essa literatura, longe de alienar – como fazem os livros didáticos – está procurando fazer com que o leitor participe do mundo que está a seu redor,

Essa postura de resistência é percebida nas obras de Ruth Rocha, acompanhando a tradição lobatiana. Ela, desde o início, apresentava uma produção comprometida com a realidade social com vistas a atingir o leitor em formação, respeitando suas especificidades e necessidades. Como escreve Miguel (2006, p. 27), esta autora

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