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Século XIX: as grandes corporações, o crescimento econômico vertiginoso e os

3.1 ANTECEDENTES DA BID ESTADUNIDENSE: O SURGIMENTO DA GRANDE

3.1.1 Século XIX: as grandes corporações, o crescimento econômico vertiginoso e os

Durante o século XIX, a economia estadunidense vislumbrou um crescimento vertiginoso, a partir de inovações industriais, organizacionais e de comunicação que possibilitaram a integração dos processos de produção e distribuição em massa dentro das empresas nacionais. Esse fenômeno deu origem a um novo tipo de empreendimento capitalista que se tornaria o centro da fase de expansão produtiva no começo do século seguinte e viabilizaria a participação do país como celeiro industrial nas duas grandes guerras mundiais: a grande corporação. O processo de centralização do capital e de verticalização industrial1, que começara nas companhias ferroviárias, levou-se a cabo durante a Grande

1 Nesse processo, um único núcleo passava a controlar diversas etapas de fabricação e distribuição de produtos. De tal modo que uma única corporação era capaz de produzir desde insumos específicos até o produto final, e, ainda, controlar sua distribuição no mercado interno estadunidense. Nessa conjuntura, surgiram importantes mercados de massa que ampliaram as possibilidades das empresas verticalizadas. Assim, a internalização dos subprocessos de produção e troca em um mercado ampliado teria garantido às empresas estadunidenses menores custos de transação, maior velocidade nas decisões e escala elevada às operações. As cadeias envolvidas na movimentação de insumos e produtos ao longo da sequência desses processos foram internalizadas em empresas formadas por diversas unidades submetidas a uma única administração (ARRIGHI, 1996, p. 247-248; CHANDLER, 1997, p. 244).

Depressão de 1873-1896 e, logo, atingiu todos setores da economia estadunidense (ARRIGHI, 1996, p. 248).

Nesse contexto, importantes inovações nas capacidades organizacionais e comunicativas viabilizaram, nos EUA, a administração burocrática dessas corporações gigantescas cada vez mais hierarquizadas. Tais empresas, difusas e estratificadas em redes com um núcleo gerencial, passaram a desfrutar de vantagens competitivas decisivas em relação a outras empresas formadas por somente uma unidade.

Essas prerrogativas iam desde os menores custos de produção, passando pelos ganhos de escala, por capacidades gerenciais avançadas, chegando-se ao modo de alavancagem por ações. Assim, o capitalismo de corporações estadunidense despontou para tornar-se, em seguida, a estrutura de acumulação dominante de toda a economia mundial (ARRIGHI, 1996, p. 249-251).

Foi nesse cenário econômico que se fundaram as principais empresas estadunidenses construtoras de armamentos durante a Primeira e a SGM. Entre 1850 e 1930, foram criadas empresas de aço, automobilísticas, e produtoras de aviões que se dedicaram à produção de material bélico durante as duas conflagrações mundiais. O quadro 1 lista as dez maiores empresas estadunidenses fornecedoras de materiais de defesa no período.

Quadro 1 – Principais Empresas de Defesa, Segunda Guerra Mundial

Bethlehem Steel Wright Aeronautical

Chrysler Dow Magnesium

General Motors Curtis Wright

Ford Motor Packard Motors

Studebaker Sperry Gyroscope

Fonte: adaptado de Gansler (2011, p. 12).

Todas elas eram grandes corporações formadas durante a ascensão econômica nacional em meados do século XIX. Esse conjunto de empresas, no entanto, não configurava uma BID propriamente dita. Sua produção bélica era resultado de cada guerra, momento em que essas empresas, fundamentalmente civis, voltavam suas linhas de produção para a construção de armamentos. Após cada conflagração, porém, o setor era desmobilizado e a produção retornava seus esforços para o mercado civil (ALMEIDA, 2013; GANSLER, 2011; WATTS, 2008).

Não havia, na época, um projeto integrado de defesa nacional que estimulasse a criação de empresas especializadas na produção de sistemas de armas. A despeito do crescimento econômico evidente no começo do século XX, tinha-se no país um contexto de baixos investimentos em defesa – exceto pelo aumento relativo do orçamento destinado à

Marinha2, em grande medida em função da Guerra Hispano-Americana (1889) – e de pouco planejamento e mobilização estratégica nesse sentido.

Sua pujança econômica não era acompanhada de grandes investimentos no poderio militar. Medidos em dólares de 1982, a economia estadunidense cresceu de $ 75 bilhões em 1870 para $ 425 bilhões em 1913, emplacando uma taxa de crescimento anual acima de 8% por mais de 40 anos seguidos. Se comparados com seus competidores econômicos mais próximos da época (Alemanha, França e Japão), já em 1873, os Estados Unidos detinham duas vezes o peso econômico da Alemanha e dezesseis vezes o peso econômico do Japão (ver gráfico em Anexo A) (CASTILLO et al., 2001, p. 19; KENNEDY, 1989, p. 241 e 318).

Porém, tanto seu gasto militar real quanto seus gastos militares relativos ao produto econômico eram muito inferiores aos de seus competidores (ver gráficos em Anexo B e C). Enquanto as demais potências mantinham um gasto relativo ao PIB entre 2,5% e 4%, os EUA adentraram o século XX gastando menos de 1% do produto nacional em defesa, razão que só mudou quando da Primeira Guerra Mundial (ver gráfico em Anexo D). O baixo investimento refletia-se também no tamanho das FA: no final do século XX, os EUA mantinham um efetivo de apenas 300.000 militares ativos – contrastando com os 700.000 militares ativos russos, 650.000 alemães e 500.000 franceses (CASTILLO et al., 2001, p. 23-35). A figura 9 sintetiza essa evolução.

2

Em finais do século XIX, houve um aumento nas despesas com a Marinha – considerada a linha de frente das defesas do país no caso de um ataque externo, e um instrumento útil de apoio à diplomacia e ao comércio crescente norte-americano na América Latina e no Pacífico. O maior impulso se deu, no entanto, com a Guerra Hispano-americana. O aumento da importância do poderia marítimo evidenciou-se na aquisição de bases no Pacífico, na concepção dos navios de guerra como guardiões da América Latina, e na ordem de Theodore Roosevelt (1901-1909) à frota branca para dar a volta ao mundo em 1907. De tal maneira que em 1914, a marinha estadunidense já era a terceira maior do mundo (KENNEDY, 1989, p. 240-241).

Figura 9 – Resumo do Histórico da BID no Século XIX

Fonte: Elaboração própria (2019).

3.1.2 Começo do Século XX: os estímulos da Primeira Guerra Mundial e as restrições