• Nenhum resultado encontrado

Sétima categoria analítica: “o caminho das águas: o rio e a chuva”

3. RESULTADOS E ANÁLISE DOS DADOS

3.2. GRUPO 02: A EDUCAÇÃO AMBIENTAL

3.2.3. Sétima categoria analítica: “o caminho das águas: o rio e a chuva”

“chuva de verão você volta todo ano a cada estação”

Alice Ruiz Podemos fazer uma analogia com o processo de educação ambiental e dois eventos relacionados a água, os rios e a chuva. A educação ambiental pode ser trabalhada de maneira pontual, geralmente relacionado as datas comemorativas (semana do meio ambiente, dia da árvore, dia da água, etc.) ou em projetos esporádicos (ocorrem em determinado ano, ou determinadas épocas do ano), como a chuva. Ela também pode ser trabalhada de maneira contínua, ao longo de todo o ano letivo. Ambos os modos fornecem água e podem gerar uma colheita, no entanto cabe uma reflexão sobre qual modo seria mais interessante.

A maioria das escolas trabalha a educação ambiental por meio de projetos pontuais (n=9, 56%, ver quadro 2), que ocorrem em determinados anos, ou meses, e depois se encerram. Esses projetos podem ser muito efetivos (como os exemplos utilizados na sexta categoria), porém a grande desvantagem é que acabam não tendo continuidade, como parte do projeto pedagógico das escolas.

Independente da minha função, é necessário que as crianças pensem no espaço em que elas vivem e preservem esse espaço. No caso da zona rural, fica parecendo que a gente tem um compromisso até maior, porque eles estão voltados para um campo, que precisa ser cuidado, que a gente está destruindo constantemente, e que as vezes esse olhar da criança do campo deveria ser até mais abrangente do que eles têm hoje. Então eu acho que o primeiro passo, na verdade, é a gente levar essa noção de ambiente, de espaço para eles e de preservação desse espaço. E eles serem os multiplicadores disso nesse espaço rural e no espaço urbano que eles convivem normalmente. É, esses projetos externos que tinham, já pensavam um pouco disso, é… essa questão da preservação, principalmente das nascentes, ao redor aqui… a própria questão da utilização de produtos no plantio, principalmente agrotóxicos…

Mesmo eles estando distantes da gente aqui, as vezes é… os nossos alunos do quinto ano, todos os anos, a pelo menos uns seis anos participam do ciência viva.

É já tem uns seis anos que a gente participa e sempre é relacionado a questão ambiental. . Isso é uma constante na escola. Mas é muito pontual. (Diretora Buriti, Escola Cerrado Rupestre).

É… Tenho paixão também pela questão ambiental, né, com esse ruralismo, horta… E a vontade é de… A vontade minha era de estar sempre trabalhando com projeto nessa área, produção de muda, conscientização ambiental, coleta seletiva de lixo… né? Reaproveitamento de… de… de… material orgânico, e tal., né. Mas assim, fica mais à vontade né. Nas poucas vezes que eu desenvolvi alguma coisa, nós encontramos um obstáculo maior que nos impede de continuar. Então, mas acho muito pouco. Muito pouco um ano… Deu muito certo naquele período né, um trabalho muito bonito na época e tudo. Serviu! Teve aluno que chegou aqui e me contou, olha professor, eu estou… lá em casa eu fiz um canteiro assim e assado, você me dá um pouquinho de semente? Então teve um resultado. Mas o que eu fico chateado é das coisas não ter uma… sequência. Né.

Não teve apoio suficiente, eu acho, de nós, né, de nós, outros professores. Tem a questão também da gente ser mais conteudista né, tem que cumprir e tal, um determinado currículo e aí, eu acho, que o Camboatá fica mais chateado nessa parte, não teve assim… não foi geral.

Foi um trabalho… foi um trabalho desenvolvido mais ele e os meninos, e assim, com todas as dificuldades… Ele quase sozinho, não é Camboatá?

(Professora Gabiroba e Diretor Camboatá, Escola Mata Ciliar)

A outra opção é diluir a educação ambiental em projetos de longo prazo ou em políticas institucionais, dessa maneira trabalhando esse tema de uma maneira contínua. Temos exemplos de escolas rurais que optam por esse modelo:

Bom, para mim o conceito de ambiental é cuidar do ambiente. Mas quando eu penso o ambiente, é tudo. Eu estou no ambiente. Né? Então sou eu, o que está em volta de mim, as pessoas que tão em volta de mim. É todo esse espaço. Né, é tudo isso. É cuidar disso. Eu vejo como esse trabalho de conscientização mesmo. E ação.

Eu tenho um projeto interno. Né, nós estamos com um projeto interno junto a monitores, e ele vai ser ampliado junto aos demais professores, sobre o cuidado desse espaço.No sentido de… de… de cuidar desse ambiente. Cuidar e como nós podemos melhorar ele. E tudo, não é só o ambiente árvore, planta, jardinagem. Também. Mas também o cuidado com a sala, o cuidado com o colega…(Diretora Baru, Escola Cerrado)

E assim, como que as práticas do dia-a-dia deles influenciam esse ambiente e como elas estão sendo influenciadas, né. E aqui ainda mais, porque é uma escola rural. Então essas práticas que os pais exercem, né, nas fazendas, elas precisam ser orientadas também. No ano passado nos trabalhávamos com a horta, . Então assim, é uma série de questões, bem delicadas, e a educação ambiental ela vai permeando esse dia-a-dia. Não é uma coisa, assim, estruturada, eu não dou aula de educação ambiental, mas a educação ambiental ela sempre permeia as conversas que vão sendo estabelecidas. Isso, isso. Não tem uma… um projeto fechado que eu vou explicar sobre educação ambiental, a gente vai fazer algum trabalhinho. Não.

- É difícil de lidar mas já melhorou bastante a questão do lixo, nossa, a gente passava até os… os próprios passeios eram cheios de lixo. Hoje a quantidade de lixo é menor. A criança está com a informação, mas… até chegar em casa e processar isso. É uma coisa cultural. Muito forte, né. (Provessora Gravatá, Escola Mata Seca)

Houve essa tentativa de pensar a questão ambiental como um todo, é… o que as vezes… eu não sei… eu não sei como te dizer, assim… como eu te falei antes. Isso as vezes não era pensando o ano todo, o ano todo, as questões ambientais. Mas muito mais assim, é… em datas comemorativas, as vezes no mês do meio ambiente

E a nossa proposta não é essa. Para esse ano a proposta é trazer as questões ambientais, a questão da preservação, do espa… do cuidado do espaço onde você vive, o ano todo. Que isso vire rotina no dia-a-dia das crianças. (Diretora Buriti, Escola Cerrado Rupestre).

Tratar a questão mais ambiental, mas acaba que é superficial de uma certa forma, porque acaba que o nosso currículo ele vai sendo assim, tão fragmentado é… compartimentado e a gente tem toda uma…, apesar de eu não ser assim rígida quanto essa questão do conteúdo.

Na sala de aula a gente procura é…, conversando com os meninos, uma postura mais de educação ambiental com relação a questão do lixo. Do descarte né… do material, que sempre tem, principalmente de folha né, dos cadernos. Essa questão… Procurando sempre tratar. Mas não como uma área específica, trabalhar a educação ambiental. Ela é diluída no dia a dia.

Voltado para essa questão de educação ambiental. Mas no dia a dia, na nossa práxis né?! (…) vamos economizar um pouco caderno. Vamos jogar lixo no lixo, entedeu. Cotidiana. Sem ter uma formalidade, então essa é a disciplina, vamos trabalhar isso só nesse momento… É uma mudança de postura, de atitude, que a gente pretende, não só nós da área de ciências da natureza, mas todos na escola…e tratamos também a questão do consumismo. Isso é… é uma atitude cultural, (Professor Mangaba, Escola Cerrado Rupestre)

Uma desvantagem do modelo contínuo é que o rio pode passar rápido demais, com uma correnteza muito forte, não dando tempo para uma germinação efetiva. Como o professor Mangaba disse na sua entrevista ao diluir no dia-a-dia a educação ambiental acaba sendo superficial e é difícil perceber se você atingiu algum objetivo concreto, quando não se tem um projeto. A outra opção é como o processo de reciclagem que está sendo adotado na Escola Cerrado Rupestre pela nova diretora Buriti. Uma cópia do projeto foi fornecida por e-mail, porém como o foco desse trabalho não é utilizar uma análise documental, irei apenas descrever brevemente o escopo do projeto aqui.

É um projeto de reciclagem que envolve a escola inteira, durante o ano letivo todo. Os alunos, auxiliados pelos professores, irão transformar a escola em uma mini cooperativa de reciclagem. Os alunos irão aprender que tipo de resíduos são recicláveis e irão coletar o lixo em suas residências e levar para a escola. Esse lixo triado será vendido ao final do ano letivo e a renda oriunda do trabalho será revertida para melhorias no espaço escolar, em um acordo entre alunos e direção. É um projeto com longa duração, além disso ele é uma prática transformadora: alia o conteúdo da educação ambiental dado ao aluno com a prática, no local onde ele vive. Separar o lixo reciclável irá virar uma rotina para essas famílias, durante esse

ano letivo. Caso ocorra a coleta seletiva no local, esses moradores já terão o hábito de separar o lixo.

Além da periodicidade da educação ambiental, outro aspecto importante é a origem desse processo educativo, que será abordado na oitava categoria.