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Sílvio Romero fora do cânone: intérpretes de sua história literária

I- SILVIO ROMERO: PONTOS DE PARTIDA

4. Sílvio Romero fora do cânone: intérpretes de sua história literária

Sílvio foi um importante sistematizador da História Literária Brasileira. Tantas vezes lembrado, para Sílvio, a Literatura extrapolava o campo específico do fenômeno literário, abrangia toda e qualquer manifestação da inteligência humana. Mesmo no campo literário, apenas uma das maneiras de representação, não compreendia Sílvio uma Literatura em si mesma, do ponto de vista estético. É por isto que não aceitava a Arte pela Arte, a Crítica pela Crítica. Sua visão literária confunde-se com os problemas brasileiros que buscou subtrair, atinando para os fatores condicionantes.

Inúmeros são os trabalhos que analisam de maneira específica e generalizante a produção intelectual de Sílvio. Ele tem despertado muito interesse em pesquisadores das mais variadas áreas, porque sua produção abrange os mais diversos campos do conhecimento, hoje muito bem delimitados.

Por isso é que várias são as áreas ou as frentes onde a importância de Sílvio é evidente, como a Sociologia, a Educação, a Antropologia, ou especificamente, a História literária.

Como lembra Antonio Candido, Sílvio é uma figura que ao mesmo tempo em que nos causa paixão desperta ódio, porque por mais numerosas que tenham sido suas incoerências, buscou ler o Brasil com Teorias de seu tempo, esforçando-se demasiadamente para escolher qual dessas Teorias era a mais adequada para interpretar o país. Soma-se a isto o homem bonachão que era, como aponta Araripe Júnior, pessoa que se dizia justa e que admirava as tradições culturais das pessoas mais simples. Diante dessas questões, o que há de mais importante é sua maneira de interpretar o Brasil, valorizando a dimensão etnográfica, dizendo ter sido o primeiro escritor a introduzir este método de análise, mas que Varnhagen e Martius já haviam relevado.

Seu modo “carbonário” de falar, traço apontado por todos aqueles que analisam Sílvio, motiva escritores de seu tempo, e esse é um dos principais elementos a despertar a análise de sua História literária. Assim, Sílvio desperta interesse desde seus contemporâneos, como Veríssimo, Laet, Capistrano, Araripe Júnior, Machado, e tantos outros, até os dias de hoje. Em tempos de ruptura, a palavra de Sílvio respondia às questões do atraso brasileiro. Sílvio continua a despertar o interesse da Crítica. Do difícil momento histórico vivido pelo país, como pontuava, surgia o crítico, o turbulento escritor nordestino. Mas, surgia também o historiador da Literatura que contestava o esquecimento dos poetas sergipanos em detrimento das celebridades nacionais residentes na Corte. A denúncia de Sílvio diante dos mais variados problemas brasileiros não se separavam de sua História literária. Do momento febril por que atravessara o Brasil, tenazmente lembrado por Sílvio, quando da chegada das Teorias estrangeiras, é que emergia a confecção de sua História literária.

Neste sentido, é o tom polêmico do ensaísta um dos fatores motivadores da Crítica. Insistimos em salientar a adoção da Crítica naturalista para deixar clara a visão de Sílvio. Nesse caso, vale lembrar a importância dos elementos, pelos quais, Sílvio acreditava influenciar a evolução da sociedade brasileira. Esta visão é parte integrante de seu temperamento, traço a que todos os trabalhos aludem e que o próprio escritor lembrava ter aflorado desde criança, quando sofrera maus tratos dos seus próprios irmãos. Impossível separar a empolgação das idéias de Sílvio em sua análise da Literatura brasileira desse caráter polêmico, dos arroubos de um escritor que sempre se achou injustiçado por parte das panelinhas da corte, dos políticos corruptos, e, sobretudo, de adversários que segundo o polígrafo não tinham crédito, uma vez que eram desconhecedores da Crítica moderna.

Como era sintomática do seu tempo, a polêmica fazia parte dos trabalhos literários, ou melhor, muitos livros eram acertos de contas entre o escritor e seus oponentes. Eis um dos motivos de Sílvio ser estudado por homens de seu tempo por conta tanto de sua vasta produção como em função de seu novo olhar sobre o Brasil. Olhar que não foi somente seu mas também da maioria dos escritores de seu

tempo que recorreram aos critérios da raça e do meio para interpretarem o Brasil. Sílvio buscou esmiuçar o critério etnográfico e sua História da Literatura é a análise da influência racial na História cultural do país.

Sobre os tempos iniciais de Sílvio, embora os primeiros textos do escritor estejam todos perdidos, é de extrema importância o artigo de seu contemporâneo Araripe Junior, onde podemos conhecer um pouco a vida, a carreira e a vasta produção do escritor sergipano. Esse artigo serve de base para inúmeros trabalhos futuros que tratam de analisar a vasta produção de Sílvio, como os de Carlos Sussekind Mendonça e Sílvio Rabelo, dentre outros. Araripe analisa de maneira pormenorizada toda a produção de Sílvio, salientando sempre o caráter polêmico do escitor. Sobre o primeiro volume da História da Literatura Brasileira, onde o escritor sergipano analisa os condicionantes da cultura e busca a Psicologia do brasileiro, afirma Araripe Junior que, “O eixo do primeiro livro,

incontestavelmente o mais interessante da obra, é o fato da fusão das raças, preta e vermelha no Brasil, sob o influxo da cultura trazida nas caravelas de Pedro Álvares Cabral. Esta tese, que Von Martius já em 1847 discutia com a amplidão de vistas que lhe era peculiar, Sílvio Romero desenvolve- a brilhantemente, auxiliado pelo aparelho da Crítica vigente e pela interpretação biológico- psicológica da História à la Darwin. O que há de mais importante, porém, nesse livro, que vai até a página 140, é o relevo que o crítico conseguiu dar ao produto de origem popular, bem como a Psicologia nacional. Incontestavelmente, nessas páginas, feitas as reduções dos exageros que os excessos de doutrina nelas puseram , encontra-se, esteriotipado, o nosso perfil no convívio das nações, embora tosco, flutuante em muitos pontos, mas já indicando o ponto de onde brotará, quaisquer que sejam , de ora em diante, os elementos de imigração, o brasileiro do futuro”. 138

O trabalho de Araripe Junior, escritor que divergiu de Sílvio com relação ao elemento de maior participação na História da Literatura brasileira (se o meio ou a raça), evidencia o caráter polêmico de Romero, mas é a primeira grande análise sobre a vasta produção do ensaísta. Contemporâneo de Sílvio, como José Veríssimo, Souza Bandeira, Machado de Assis, Valentim Magalhães, dentre outros, Araripe acentua o traço polêmico presente até em sua História da Literatura Brasileira, “o talento de

polemista de Sílvio, mais do que em qualquer outra de suas obras, avulta neste estudo”. 139

Não nos interessa reforçar cada vez mais o tão divulgado caráter polêmico de Sílvio, mas todos os intérpretes de sua História literária aludem ao traço intempestivo do escritor sergipano. O escritor cearense e também crítico literário vai além da caracterização de Romero como figura polêmica, “Sílvio Romero é um pensador, e um pensador audaz; iludir-se-á, porém, aquele que pretender

encontrar nesse pensador um Michelet, um Renan, ou mesmo um Taine. Ninguém, no Brasil, se tem

138 JUNIOR, Araripe. Op. Cit.p. 299 139 Ibidem. p

mostrado tão apto para investigar as origens e estabelecer a filiação do pensamento brasileiro, sob o ponto de vista de todas as suas manifestações, vis-à-vis dos produtos da cultura européia; ninguém, no Brasil, dispõe de envergadura tão apropriada para empreender trabalhos semelhantes aos que fizeram Teuffel e Barnhardyrelativamente às Literaturas romana e grega; devo, porém, confessar que as construções de caráter estético não são as que mais se amoldam a natureza das suas faculdades. Para isto, seria indispensável que ele fosse mais acessível à sensação concreta das coisas, isto é, - que tivesse, em maior escala, o sentimento de cuja ausência se ressentem, não sei se bem ou mal, muitos analistas profundos, a causa eficiente do interesse e do colorido que se notam em certas obras de Críticas, como, por exemplo, na História da Literatura Inglesa, de Taine.140

Desafeto de Sílvio, Araripe Jr. analisa de maneira sintética e pormenorizada a vasta produção do escritor sergipano no desenvolvimento da cultura brasileira. Tal artigo influenciou a série de trabalhos futuros dedicadas a Romero como um dos nomes mais marcantes na interpretação da sociedade brasileira. Os trabalhos posteriores não deixam de recorrer ao artigo de Araripe Junior chamando atenção para o caráter temperamental de Sílvio, “cascavel”141, responsável pelas inúmeras

polêmicas com os mais importantes escritores da época.

As linhas que separam o personagem Sílvio Romero da criação de seu grupo literário e filosófico, a Escola do Recife, são muito tênues, muito se falou que ela nada mais era que uma escola sem discípulos, tratando-se, pois de uma invenção de Sílvio para fazer frente às confrarias literárias da Corte. A renovação literária e filosófica que Sílvio tanto defendeu frente ao pioneirismo do Recife se confunde com o próprio crítico porque não há como separar o autor de O Naturalismo em Literatura das correntes deterministas, positivistas e evolucionistas, chegadas ao Brasil a partir de 1868.

Outro nome importante no cenário literário da época e apenas um dos tantos adversários de Sílvio foi o também crítico literário José Veríssimo. Às vezes exagerado em suas análises como ressalva Antonio Candido, a maior desavença de Veríssimo não residia somente em função da concepção literária do crítico paraense, no que divergia da de Sílvio, para quem a Literatura era reflexo das transformações sociais, mas sim, coloca em questão a primazia das idéias científicas que Veríssimo denominava de alvoroço das idéias novas. A primazia defendida por Sílvio com relação às idéias do cientificismo europeu, divulgadas pela Escola do Recife, segundo Veríssimo, não tinha existência real, o que se tornava o principal motivo para as divergências entre os dois jovens escritores.

Situando a influência das idéias estrangeiras da época no pensamento intelectual do momento, ressaltando que estas idéias chegavam ao Brasil aproximadamente vinte anos depois, Veríssimo pontua os centros de irradiação do alvoroço das idéias novas. O crítico destaca que “Destes fatos não é

140 Ibidem. pp. 273-274 141 Ibidem.

lícito se não concluir que a ação de Tobias Barreto, conquanto considerável, não foi tal qual se tem presumido, e que efetivamente só entrou a exercer-se pelo ano de 1882. Então já no Ceará e em São Paulo pelo menos, e no Rio de Janeiro, desde o princípio do século passado o nosso mais considerável centro intelectual, manifestamente se desenhava o movimento a que tenho chamado de modernismo. Principalmente reflexa, a ação de Tobias Barreto nesse movimento operou-se mediante os seus discípulos imediatos, dos quais um ao menos, o Sr. Sílvio Romero (S.Paulo de quem Tobias é o Cristo), teve considerável influência na juventude literária dos últimos vinte anos do século passado. No empenho, aliás simpático na sua inspiração, de o exaltarem, inventaram uma “escola do Recife”, do qual o fizeram instituidor. Não viram, como atiladamente noto o mesmo Sr.Graça Aranha, que “a força singular desse homem estava na genialidade Poética por onde lhe veio a intuição científica e filosófica” e que “essa genialidade, essa imaginação faltaria aos seus discípulos porque ela era uma expressão puramente individual e que não se repete. Extraíram dos livros e das frases do mestre apenas as fórmulas audazes, confundiram a sátira com a seriedade do pensamento, tomariam os vagos delineamentos por conclusões definitivas e espalhariam numa língua bárbara a dogmática doutrina para as quais não teriam nem a Ciência, nem a advinhação profética”. A “escola do Recife” não tem de fato, existência real. O que assim abusivamente chamaram é apenas um grupo constituído pelos discípulos diretos de Tobias Barreto, professor decerto e, sobretudo, ultrabenévolo, eloqüente orador literário e poeta fecundo, mais do que Tobias pensador e escritor. Cumpre, aliás, repetir que esse grupo, salvo imigrações individuais posteriores, restringiu-se ao Norte, donde era máxima parte de seus alunos, e mais exatamente Pernambuco”. 142 (grifo nosso).

O livro de Veríssimo não tratava de um simples acerto de contas com Sílvio, antes servia para evidenciar a concepção literária do crítico sergipano e, por conseguinte, como o escritor interpretava seu país salientando a concepção literária daquele. Para além do revide de José Veríssimo ao ataque de Sílvio e João Ribeiro no Compêndio de História da Literatura Brasileira, onde o crítico paraense se defende afirmando ser avesso a polêmica, razão “de cair na falta que censuro como um dos nossos

mais feios costumes asseguro que nunca fiz senão forçado e com profundo aborrecimento” 143, as

intrigas entre Sílvio e Veríssimo nos oferecem muito mais do que meros ataques: mostram como os dois polígrafos concebiam Literatura e qual o seu papel.

Dizendo-se atacado por Sílvio e João Ribeiro, afirmando que até então era amigo e até admirador pessoal daquele devido a sua participação no desenvolvimento das letras pátrias, em Sobre alguns

conceitos de Sílvio Romero, escreve Veríssimo, “O Sr. Senhor Sílvio Romero é o mais completo tipo

142 VERÍSSIMO, José. História da Literatura Brasileira. pp. 343-344

143 VERISSIMO, José. Sobre Alguns conceitos de Sílvio Romero. In: Que é Literatura? e outros escritos. São Paulo: Lany,

representativo, que eu conheço. Nele se reúnem num acordo harmonioso, todas as nossas qualidades e defeitos. Os senões, como os méritos da sua obra, que nas nossas letras é uma das mais volumosas, são a manifestação sincera e ingênua da sua personalidade”. 144

Se Veríssimo citava a si mesmo, era porque este fora o recurso tantas vezes utilizado por Sílvio. Logo a seguir pontua, “Criticar e compreender, e não se precisa de uma grande penetração Crítica

para entender o Sr. Sílvio Romero. É mesmo um dos seus principais méritos, aliás independente da sua vontade e só filho do seu temperamento: ele não é uma natureza complicada e difícil, antes clara, espontânea e aberta. Mas também incoerente, impulsiva, sem medida nem comedimento. Isso explica as suas incoerências, a sua inconstância de caráter e de espírito. E, digo-o em toda a sinceridade, por muito o desculpa, não podendo quem o conhece, querer-lhe mal. É pronunciado nele o sentimento, ou como melhor se lhe chame, de que é perseguido; por isso em toda a discordância das suas opiniões, em toda a discrepância do que julga ser a sua doutrina, em toda a sua Crítica da sua obra vê um propósito firme de o atacar, de o diminuir, de o contestar. Se não se emenda, é um candidato ao delírio de perseguição. Porque o que Sr. Araripe Junior, o mais benigno dos críticos, chamou a Varnhagen, no seu Gregório de Matos, de criador da História da nossa Literatura, porque eu, repetindo-o inadvertidamente, chamei ao nosso grande historiador de “instituidor da nossa História literária”, sem que nem do contexto das frases, nem do espírito dos nossos escritos, se pudesse concluir nenhuma intenção oculta de ferir alguém, o Sr. Sílvio Romero, entretanto, escreveu que era “de notar a insistência com que este dois críticos, com evidente preocupação (?) andam a proclamar Varnhagen o criador da História da Literatura brasileira (o grifo é dele). E para rebater a nossa imaginária preocupação cai sobre o pobre Varnhagen de punhos cerrados (V.Prefácio citado). Como o Sr.Graça Aranha, a quem o Sr. Sílvio Romero não perdoa o colossal sucesso de Chanaan sem o seu beneplácito, nem o ser um dissidente da “escola do Recife”, um espírito independente da sua influência, disse que o critério etnográfico no estudo da nossa cultura já se achava em Martius (e apesar das degenerações do Sr.Sílvio, disse a verdade) o Sr.Sílvio arremete contra ele. E não porque ele tenha errado, mas porque lhe atribui o inocente reparo ao “despeito que lhe causou o não havermos endossado – diz ele – sua versão da famosa lei da repetição abreviada da História”; chama-lhe de apaixonado crítico, de fantasista e outros nomes feios. Asseguro ao Sr. Sílvio que ele nunca escreveu maior injustiça, e pelo conhecimento íntimo que tenho do Sr. Graça Aranha garanto- lhe que este não deu sequer pelo seu tal não endosso” 145(grifos nosso)

A discussão girava em torno de Veríssimo considerar Varnhagen o instituidor da nossa História literária. Com isso, o crítico paraense queria dizer que alguns pontos tocados por Sílvio, como por

144 Ibidem. p. 243 145 Ibidem. p. 244

exemplo, a importância do mestiço ou da mestiçagem, não eram novidades, o que feria frontalmente a fera. Não apenas tinha Vanhargen tocado no que Sílvio sustentava ter sido ele mesmo o primeiro escritor brasileiro a trazer para suas análises literárias o traço etnográfico sob o influxo de seu tão alardeado espírito crítico, como também tinha sido, “o primeiro que as viu no seu todo e não somente

como mais ou menos fizeram os seus antecessores, na sua Poesia, e ocupou-se embora de passagem, (e nem fazia uma obra volumosa e exaustiva) de todos os autores nacionais que pode conhecer, e ainda de portugueses abrasileirados pela sua residência no Brasil e preocupações brasileiras (Gabriel Soares, Antonil, Cardim) fossem poetas ou historiadores, cronistas, moralistas, viajantes, economistas, como faria o Sr. Sílvio Romero muito anos depois”.146

As afirmativas de Veríssimo contrariavam frontalmente o que Sílvio anunciava ser novidade em sua maneira de interpretar o Brasil, que era a influência das raças, e mais expecificamente, do mestiço, explicando o atraso do país desde os primórdios da colonização portuguesa. Não bastasse às injustiças cometidas por Sílvio a sua pessoa, até então discípulo e admirador do mestre sergipano, somadas às incoerências deste no que diz respeito à contribuição de Martius e Varnhagem, autores que segundo Veríssimo salientaram a importância das raças, reforçava o crítico paraense que, “Varnhagen foi

também o precursor do Sr. Sílvio Romero naquilo mesmo que este julga uma das suas originalidades na concepção da História da nossa Literatura, no incorporar nela todo o gênero de obras e escritores, sem distinção de fins e estilos artísticos. Implicitamente foi o que fez Varnhagen, já na introdução do seu Florilégio, já na História Geral, onde nas páginas consagradas à Literatura, trata de historiadores, cronistas, oradores, economistas, etc., e até, justamente como o Sr. Sílvio Romero, mas trinta anos antes deste, de artistas, músicos, pintores, etc”. 147

Sílvio jamais aceitaria o posicionamento de Veríssimo de ver em Varnhagen o instituidor das

letras brasileiras, autor da primeira grande obra literária, escritor que depois de Martius atinou para a

importância das raças para empreender a História literária brasileira. Podemos dizer que por Literatura estes escritores pretendiam encontrar os heróis, os ilustres varões literários, esquecendo-se dos negros e vendo as populações indígenas de maneira estilizada. Sílvio reprova a História literária brasileira produzida por Martius, Varnhagem, Capistrano, Machado de Assis e Veríssimo porque esta se baseava numa análise Estética e nada realista, contrária ao resultado oferecido pela fundamentação científica da Crítica moderna.

Se para Veríssimo o Ensaio histórico sobre as letras no Brasil é a “primeira pedra solidamente assentada do edifício da nossa História literária, o núcleo em torno do qual ela se devia aglomerar e constituir a célula de que ela se devia desenvolver, e de que de fato se desenvolveu, do que são ainda

146 Ibidem. p. 254 147 Ibidem. p. 255

prova os grossos volumes do Sr. Sílvio Romero”, 148 este reconhecia o mérito literário do Visconde de

Porto Seguro por que o autor do Florilégio da Poesia Brasileira “compreendeu ser impossível fazer a historia sem os documentos originais, e, por isso, muito andou, muito pesquisou, muito leu e de tudo conseguiu extrair essa Historia Geral do Brasil, que, apesar de seus defeitos de redação e da estreiteza de sua Filosofia, é um livro de grande mérito”. 149

Sílvio elogiava Varnhagen não por conta de sua visão literária, mas sim pela farta produção histórica e a busca pela verdade documental. Ainda que em sua História Geral do Brasil muitos fossem os erros de redação, foi Varnhagen “o que primeiro compreendeu ser impossível fazer a História sem

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