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Um naturalista mitigado: nem tanto!

I- SILVIO ROMERO: PONTOS DE PARTIDA

3. Um naturalista mitigado: nem tanto!

Somado ao caráter polêmico de Sílvio, recaí sobre todo seu pensamento outra pecha, não menos importante, que é o fato de ter sido o crítico literário um escritor determinista, representante do Naturalismo de sua época. Não temos a pretensão de adentrar a temática das escolas literárias no Brasil, enveredando por uma discussão teórica e formal do assunto, mas sim abordar a forte influência do Naturalismo no escritor sergipano. Sílvio é um típico representante do Naturalismo europeu no

Brasil, escritor que se não buscava erigir sistemas teóricos, almejava explicar o quadro social do país a partir do que ofereciam os avanços científicos da modernidade européia.

Com o desenvolvimento econômico, acarretando cada vez mais a mecanização das forças produtivas, a sociedade passa a ser vista conforme as leis científicas e considerada passível de serem explicadas conforme os mesmos avanços adquiridos no progresso técnico. O maior trunfo do Naturalismo foi não somente mostrar ao mundo os avanços técnicos, mas trazer a ciência, especificamente, o conhecimento, como recurso explicativo para explicar as mais variadas formas de pensar, “o extraordinário avanço no campo experimental, porém, e, algumas generalizações, mas

principalmente desligadas da realidade, provocam, de um lado, a ilusão de que se chegara ao fim dos conhecimentos, de outro lado, a ânsia em estender a domínios complexos descobertas hauridas em outros domínios, mais simples” 105

No campo literário, como sintoma desse progresso material, aparecem os livros de Claude Bernard, Lições de Filosofia experimental aplicada à medicina e Introdução ao estudo da medicina

experimental; Lombroso publicava seu O Homem Criminoso e em 1888, saía O homem de gênero;

Renan, escrevendo livro de mesmo título do de Strauss, a Vida de Jesus, em 1863, perde a cadeira que ocupava no Colégio de França. É nesse cenário que saía em 1848 o Manifesto do Partido Comunista e em 1859, A Origem das Espécies.

Sílvio conhecia todo esse panorama da transição Romantismo-Naturalismo, da mudança da nova ordem que a Europa e o Brasil atravessavam, onde as obras literárias mostravam ora os avanços científicos, ora as chagas sociais em suas taras e neuroses, e dialogou com boa parte dos escritores mencionados. A tomarmos o ponto de vista de Nélson Werneck Sodré de que “o Romantismo foi o

meio de expressão própria da ascensão burguesa; o Naturalismo seria o de sua decadência” 106, no

que acarretou toda a Crítica aos moldes românticos, Sílvio é um escritor naturalista sem medidas. Se essas obras mostravam o cenário europeu, Sílvio tratou de mostrar a quadro da realidade brasileira a par da Crítica moderna. Toda a obra de Sílvio é um esforço constante de observar o que há de males na estrutura social, política, econômica, e cultural brasileira, a par das doutrinas européias, para só assim esboçar sua Literatura. Não bastasse o homem convicto nas leis científicas, o tipo de escritor que foi, a visão que tinha de Literatura e o ataque que impôs ao Romantismo são provas cabais do pensador naturalista que se tornou. A Crítica ao Romantismo permite-nos muito mais que filiar Sílvio a esta ou àquela escola, nos faz perceber e entender quais os temas tratados em sua Literatura. Acreditando na marcha da História, na evolução do mais simples ao mais complexo, segundo premissa tomada da leitura darwiniana, na inserção da nossa História na História mundial, tais preocupações demonstram o

105 SODRÉ, Nélson Werneck. O Naturalismo no Brasil. 2ª. Ed. Belo Horizonte: Oficina de Livros, 1992.p.43. 106 Ibidem. p. 46.

Naturalismo de Sílvio. Dizia o escritor em sua obra mestra que desejava traçar um quadro naturalista da Literatura brasileira. Para além da discussão que adentramos, o certo é que Sílvio precisou do apoio cientifico para só assim validar toda sua produção.

Tantas vezes salientado, obedecendo às correntes do Naturalismo, do Evolucionismo e, em menor grau, do Positivismo, o que em nada se presume uma leitura simplista, foi ao alvorecer das

idéias novas que a figura de Sílvio esteve intrinsecamente ligada. A crença de que a cultura e, neste

caso, de modo específico, a Literatura era condicionada pelo meio e pela raça, o que num primeiro momento evidencia um Sílvio preso ao determinismo de Taine e Buckle, mostra o cerne da discussão para compreendermos sua visão literária. A influência do criticismo filosófico influenciado por Kant modelou a visão de Sílvio, que muitas vezes mostrou-se extremo conhecedor não somente da Crítica literária, seu campo de atuação, mas um crítico do conhecimento ou um crítico sociológico ou da cultura. Ressaltando ilustres figuras francesas ligadas ao campo da Crítica, voltando ao criticismo filosófico alemão, onde presenciamos a revolução operada pelo autor da Crítica da Razão Pura no campo do conhecimento, Sílvio muniu-se da Crítica do conhecimento presente na Filosofia de Kant para validar suas investigações. O germanismo literário dos tempos do ex-professor Primo de Aguiar, somado à forte influência do amigo de refregas literárias e de temperamento semelhante ao seu, Tobias Barreto, formaram a mente de Sílvio.

No Campo específico da Crítica literária, esboçava em sua formulação teórica a visão Crítica de personagens como Taine, Sherer, e Beuve, no que justificava sua amplitude de conceber Literatura como espelho da sociedade. Para Sílvio, a Literatura, uma vez condicionada pelo meio e pela raça, era reflexo das transformações ocorridas na sociedade, nunca existiria em si mesma, mas somente enquanto produto de um amplo processo cultural. Não é sem razão que, para ele, a Literatura, apesar de ser uma das criações artísticas, compara-se a um organismo que evolui tendendo sempre a diferenciação, sofrendo a interação do meio e da raça, onde a vitória está sempre ao lado das idéias mais fortes. Pretendia traçar um quadro naturalista da Literatura, o que faria com a História literária do país, esboçando as concepções dos críticos já aludidos, seus métodos, as correntes mais em voga, etc. O combate de Sílvio à Metafísica e à Retórica, bases da Crítica reinante até o advento da nova intuição, não era gratuito: o escritor sergipano era a prova maior de um novo Brasil, de um país que carecia de sua História, onde fizesse valer a voz dos esquecidos, daqueles que nunca figuraram em nossa História literária. Apoiando-se no ideal maior do Naturalismo, que seria a investigação dos problemas sociais, trazia Sílvio à “boa nova”, concebendo a Literatura não como Arte literária, mas tão somente como parte de um processo bastante complexo do que ocorria na sociedade.

O Naturalismo de Sílvio é ponto de ruptura com a História brasileira de então, no que desconsiderou um sem números de escritores, fossem poetas ou prosadores, resistindo somente

aqueles que esboçaram em seus escritos o sentimento pelo país, reprovando um sem número de escritores que concebiam Literatura a partir da base Metafísica e Retórica, traçando seus bosquejos e suas galerias em prol do desenvolvimento das Belas Letras do país. O Naturalismo que tanto impressionou a visão de Sílvio e a que a todo custo buscou traçar em sua História da Literatura

Brasileira rompe com as antologias e os bosquejos dos inúmeros autores de outrora, uma vez que “os

escritores portugueses, atrás citados, acham-se no mesmíssimo caso, e os brasileiros, conquanto mais conhecedores do assunto, só quiseram escrever quadros isolados e só trataram de alguns tipos destacados. É inútil analisá-los agora; seus méritos e defeitos serão estudados no correr deste trabalho”. 107

O modo de Sílvio interpretar o Brasil divergia daquele dos antigos escritores da História literária brasileira. Indo além da mera descrição dos vultos nacionais, dos varões brasileiros, não se limitou ao caráter de verdade das fontes, tal qual um Varnhagen, embora reconhecesse o Visconde de Porto Seguro justamente pelo cuidado deste com as fontes, que caracterizou toda a produção dos autores de parnasos e bosquejos na formulação da História literária brasileira, na busca por aquilo que era singular ao Brasil, o que era indispensável na construção da História nacional brasileira. A busca pela verdade, conseqüência das necessidades de um estado recém-independente em que o campo historiográfico se mostrava inseparável do campo literário, marcava a narrativa historiográfica: uma História elitista que tinha como fundamento a simples linearidade, donde bastava a exposição da galeria dos ilustres varões nacionais. O principal objetivo dessa História literária era fornecer elementos para erigir uma memória nacional. Sílvio mostrava a pobreza da nossa Literatura porque apesar de ser o Brasil visto por escritores europeus, raros foram aqueles que em suas obras mostraram o sentimento pelo país. A História literária elaborada por Sílvio, prenhe de seu método naturalista, destrona toda a erudição dos cronistas anteriores, uma vez que baseada na Crítica moderna tão celebrada pelo escritor. Não é sem razão que sobre a obra de Denis, tido pela historiografia como o escritor que fundou a História literária brasileira, afirma Sílvio: “O livro de Ferdinand Wolf, Le Brésil

Littéraire (1863), tem sido, e continua a ser com razão, o oráculo de todos na matéria; porque é o único em seu gênero. O escritor austríaco foi o primeiro a fazer um quadro pálido e incorreto, é certo, mas que se impõe, por está no singular. E já lá vão bastantes anos que o livro foi publicado, e até bem pouco era o compêndio oficial de nossos cursos!” 108

Queria Sílvio por meio de suas obras literárias chamar atenção para os problemas nacionais, o que considerava serem problemas que condicionavam a criação da obra, que a melancolia romântica e a mania tupiniquim mascarada sob a imagem indígena só acobertavam. A querela que desde jovem

107 ROMERO, Sílvio. História... Op. Cit.p. 53 108 Ibidem. p. 51

dirigiu contra os românticos era a maior manifestação de seu Naturalismo, em que tudo que fugisse à objetividade, avaliada por meio das leis científicas, era fantasioso e só atravancava o progresso do país na formação de uma nação moderna. Até mesmo desejava Sílvio uma Poesia científica, donde seus frágeis poemas e a acusação de ter sido um mau crítico literário, homem de espírito geométrico sem a sensibilidade imprescindível para a elaboração artística.

Na busca de um ponto de partida para iniciar sua História literária, balizada sempre pelo que permitia o Naturalismo europeu, arrola um sem número de autores com suas respectivas obras, busca Sílvio inserir qual o autor merece desfilar na História literária do país, levando em consideração sua contribuição, literária tendo em vista quem trabalhou pela diferenciação nacional. Silvio dava à Literatura um teor pragmático e lançava a idéia do escritor representativo imbuído de sua missão social, político e, acima de tudo, transformador. Mas quais seriam os critérios para inserir o escritor, brasileiro ou estrangeiro na História literária brasileira? Qual a visão de Sílvio sobre a maioria dos cronistas com relação ao Brasil? Como Sílvio pensava essa História literária?

A priori, o esteio de sua visão literária prendia-se aos quadros científicos da época. Nesse caso, “A Literatura brasileira não se furta as condições gerais de toda a Literatura antiga ou moderna, ser

a resultante de três fatores fundamentais: o meio, a raça, as correntes estrangeiras. Da ação combinada destes três agentes, atuando nas idéias e nos sentimentos de um dado povo, é que se originam as criações espirituais a que se costuma dar o nome de Literatura. É que se deixou de ver em tais criações a obra do acaso, do capricho ou das imposições de um poder estranho qualquer. Eram estas últimas presumidas manifestações da Metafísica do absoluto em tal ordem de assuntos. A Crítica moderna desterrou de seu seio esta classe de fantasmas” 109

Sem ser ainda um campo delimitado, para Sílvio, a Literatura, como um ramo ligado à Sociologia que, como tantos outros ramos do saber, possuíam um ponto de partida de análise porque se tratava de um organismo presidido pelas mesmas leis que presidiam as Ciências Naturais. Dessa forma, após definir o que cabia à Literatura, mostra-se Sílvio um escritor ao mesmo tempo sabedor da flexibilidade da criação artística, um escritor rigorosamente naturalista, creditando à Literatura um meio de interação entre os povos, em que o meio e o momento histórico tinham profunda influência na criação de toda e qualquer maneira de representação social. O salto de Sílvio ou a grande diferença do escritor é seu grito de guerra a favor do que considerava ser de fundamental importância na construção da nação brasileira: levar em consideração o povo, não desprezando a contribuição dos negros (como o fizeram os românticos) em nossa História.

Tal visão era parte da adoção do método histórico comparativo que permitia a sintonização das idéias de fora sem perder de vista o Brasil. Isso porque, como dito, a Literatura tal qual um organismo vivo, sofria o processo de evolução. As análises de Sílvio partiam desse raciocínio, a Literatura é parte de todo um processo histórico que antes de servir como meio elucidativo para mostrar o que acontece fora do país, requer antes de tudo o conhecimento da sociedade que o produz, no caso, a sociedade brasileira. Escrever exige a priori o conhecimento real por parte do escritor, por isto mesmo que transcende as normas do bom gosto com relação à criação artística; e o bom escritor é aquele regido pela objetividade, “é preciso que nos entendamos: eu também suponho ser naturalista, quero também

a verdade dos fatos, e é justamente por isso que julgo estreita a fórmula de Zola” 110. A objeção de

Sílvio a Zola não se dava apenas com relação a sua concepção de Crítica e dos fins da Literatura, se estendia à própria concepção literária. Se o Naturalismo de Zola merecia as reprovações de Sílvio, uma vez que não acreditava na neutralidade do escritor quando da elaboração do romance, nem por isto deixava de aludir à nova maneira de encarar a criação artística, pois “ao lado de um realismo

puramente fotográfico e inerte, é possível um realismo fundado na intuição cientifica hodierna”.

111

Os limites entre Literatura, História e Crítica, em Sílvio, eram por demais tênues e bastante rígidos, aqui entravam a influência do ambientalismo de Gervinus, Buckle e Curtius; da Etnologia, de Herder, Thierry e Renan; da Fisiologia de Taine e Zola; da Psicologia com Hermann Hetner e Karl- Frenzel; tudo isso somado à influência das correntes históricas tratadas por Macaulay e Vilemain, responsável por sua maneira de tratar a Literatura, sempre justificada pela nova intuição moderna. Por mais que Sílvio fosse e voltasse em suas análises, citasse vários personagens conhecidos mundialmente, não deixava de tomar por base o critério étnico herdado, sobretudo de Taine, processado pelo Evolucionismo de Spencer:

“Toda Literatura desdobrada no curso dos séculos oferece, destarte, o espetáculo de um gérmen, dum organismo que se desenvolve, já sob o estimulo de forças internas, inerentes a si mesmo, já sob a pressão de correntes estranhas que partem dum ou mais pontos do horizonte intelectual do mundo num tempo dado

Infelizmente estas correntes estranhas tem sido quase as únicas notadas na Literatura brasileira por alguns pseudocríticos que dela se tem ocupado”. 112(grifo do autor)

A visão literária de Sílvio revestia-se profundamente dos preceitos naturalistas que tanto o empolgou e lhe serviu para analisar a cultura de seu país. Silvio reprova a Crítica de Zola não por conta de acreditar o romancista francês na possibilidade de uma descrição exata da realidade, donde originaria para isso as classificações. Segundo Sílvio, o autor de Nana entrava em contradição quando

110 ROMERO, Sílvio. O naturalismo em literatura. Op. Cit. p. 354 111 Ibidem. p. 355

pensava ser possível a neutralidade do romancista frente a sua própria criação. Desse modo, “a

doutrina zolaiana, tomada em seu todo, a concepção artística deste Naturalismo, tomada em seu conjunto, é algum tanto árida, não quando prega a observação, arida, vida animal em ação; existem também todo o imenso trabalho da cultura, todas as forças vivas com que o fator humano pode tirar da grosseria dos instintos mecânicos, a Arte, a ciência, a Poesia, o direito, a justiça e a moral. A natureza, a natureza!...Muito bem: é ela a grande fonte; mas uma fonte acre e despótica em seu mecanismo determinada e fatal. O homem tomou-a em suas mãos e a tem modificado por meio da ciência, da indústria, e cada uma destas criações é um organismo que evolui por seleção artificial, as vezes contra a natureza, bela dama, bela expressão Metafísica como outra qualquer....” 113

Sílvio ia de um extremo a outro, sabia que toda e qualquer produção artística tinha a marca do criador e dessa forma, buscando a realidade dos fatos, abria uma brecha dentro do próprio Naturalismo, ou seja: reprovando a Crítica de Zola, não por desacreditar na fotografia do real, o escritor brasileiro levava em consideração a velha tríade taineana formada por meio, raça e momento histórico. Zola era elogiado por Sílvio por ter sido o escritor francês responsável pela nova maneira de tratar a Literatura e a Arte, “Zola não é, porém, um sectário vulgar; trouxe para o seio da doutrina

vistas próprias, que afirmam com força a sua individualidade. Entre elas destacam-se a idéia que o romancista faz da Crítica, o seu conceito da Literatura, a sua doutrina sobre a Arte”. 114

Não acreditando na possível neutralidade do escritor, nem na existência da obra artística que não contivesse elementos do real, Sílvio punha em questão a influência da clássica tríade taineana e voltava ao ponto de partida: analisa a criação artística tendo por base a Crítica moderna. Entre idas e vindas, reprovando Hugo e admitindo Taine e Delacroix, Sílvio se mostra um naturalista. Lembremos que para ele Naturalismo era simplesmente “o contrário da intuição fantasista, do Romantismo aéreo,

mórbido, inconsistente, histérico. Entre os naturalistas, entretanto, pode num predominar a impressão subjetivista e idealista, como em Sully-Prudhomme, ou a objetiva, como em François Copée.” 115

Como num movimento de vai e volta, reconhecendo a flexibilidade da criação literária, pontuava Sílvio que “a Literatura não só é produto da natureza, não tem por fim descrever as paisagens da

terra, ou tirar fotografias do mundo exterior. A Literatura é um produto humano, histórico, social, evolutivo das nossas faculdades Estéticas, e, com Buckle contra Zola, creio que na História ao lado dos fatores naturais há os fatores mentais neutralizadores da natureza” 116. Fala como esta evidencia

claramente que apesar da forte influência dos autores racistas e figuras significativas como Taine e Buckle, Sílvio abre uma fenda em seu próprio determinismo. O fato é que em meio às doutrinas,

113 ROMERO, Sílvio. O Naturalismo em Literatura. Op. Cit. pp. 353-354 114 Ibidem. p. 343

115 Ibidem. p. 341 116 Ibidem. p. 354

buscava qual a melhor teoria para interpretar o Brasil, o que justifica simultaneamente ora uma fala determinista, ora considerar a importância dos “fatores mentais neutralizadores” na maneira de conceber a atividade literária.

“Assim, pois cumpre, não perder de vista de serem os fatores primordiais e permanentes de nossa vida espiritual, respectivo de nossa Literatura, a natureza e a raça, que lhe constituem o organismo e a alma, e ser o fator móbil, variável, externo, a influência, a imitação estrangeira. Aberra quem desconhece os primeiros; erraria quem escondesse o último.

Há mister estudá-los mais de perto”. 117

Mesmo com este aparato explicativo, com suas sínteses e generalizações, bem a modo do que oferecia a ciência de seu tempo, Sílvio mostrava não apenas acompanhar as idéias elaboradas no exterior, como se mostrava um escritor relativista, uma vez que, considerava a influência social como condição de alterar as próprias bases do que considerava serem fatores condicionantes. Lembremos que Sílvio citava o higienista francês Michel Lévy, adotou a teoria climática de Buckle, mesmo fazendo ressalvas ao escritor britânico, dada a incoerência com relação a sua descrição do país, como por exemplo, a inexistência de vulcões, ciclones, desertos, geleiras, grandes primatas, etc, descritas por um cientista que sequer conheceu o Brasil. Não era incoerente analisar o Brasil da época a par das

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