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símbolo dá que o pensar, dá, e isto implica que o sentido não o põe arbitrariamente quem interpreta Mas

CAPÍTULO III- INTERPRETAÇÃO DO DIREITO/ CONTROLE DA ADMINISTRAÇÃO E IMPRECISÃO DA LINGUAGEM

símbolo dá que o pensar, dá, e isto implica que o sentido não o põe arbitrariamente quem interpreta Mas

dá o que pensar, abrindo uma tarefa que deve prosseguir o intérprete, pelo que ■ sonhar com eliminar esta sucessiva posição complementar eqüivale a cegar a dimensão simbólica do texto. Tampouco o texto legal se compõe de signos técnicos que dizem o que querem dizer, senão de signos opacos que portam um duplo sentido: o literal e o existencial; isso lhes leva a dizer sempre mais do que dizem e a não terminar nunca de decidir^^

Em reforço a esta compreensão da complexidade do fenômeno hermenêutico, sendo o texto ponto de partida para uma operação envolvendo sujeitos . interagentes e circunstâncias concretas, afirma TÉRCIO SAMPAIO FERRAZ JR. que "a)os simbolos(nomes ou predicadores) nada significam isoladamente; b) o que lhes confere significação é o uso; c) uma lingua admite

OLLERO TASSARA, Andrés. Tiene Razón el Derecho?, p. 229.. Trecho original: " 'El simbolo da que pensar, 'da', y ello implica que el sentido lo 'pone' arbitrariamente quien interpreta> pero da 'que pensar', abriendo una tarea que debe proseguir el intérprete; por lo que sonar com eliminar esta sucesiva 'posición' complementaria equvale a cegar la dimensión simbólica dei texto. Tampoco el texto legal se compone de signos técnicos que dicen lo que quieren decir, sino de signos opacos que portan un doble sentido': el literal y el existencial; ello les lleva a decir siempre más de lo que dicen y a no terminar nunca de decidir". Adiante, afirma o autor: "No podemos s i t u a m o s frente ao derecho, como si éste fuera de verdad un entramado 'objetivo' de normas; nos encontramos situados en él, recibiendo un sentido y obligados a interpretarlo en nuestra circunstancia histórica. La labor judicial se convierte en arquetípica al respecto: el juez no es un demiurgo arbitrario, sino que se encuentra condicionado por(o 'arrojado en') un mundo normativo previo. De él forma parte el texto legal(o el precedente judicial, cuya indispensable interpretación implica a la vez el 'proyecto de un mundo n ormativo nuevo en un horizonte histórico diverso"(Op.Cit., p.241). Traduçao livre do autor: "Não podemos nos situar frente ao direito como se este fora verdadeiramente un entramado 'objetivo de normas, nos encontramos situados nele, recebendo um sentido e obrigados a interpretá-lo em nossa circunstância histórica. Atarefa judicial se converte em arquetípica a respeito: o juiz não é u m demiurgo arbitrário, mas se encontra condicionado por(ou 'decidido em') um mundo normativo prévio. Dele forma parte o legal(ou o precedente judicial), cuja indispensável interpretação implica por sua vez o 'projeto de um mundo normativo novo em um horizonte histórico diverso".

U S O S diversos para os simbolos; d) a maioria dos símbolos da língua natutal é semanticamente vaga e ambígua"^®. Neste espectro, os conceitos indeterminados, além de fazerem parte do problema interpretativo, demonstram a necessidade de exteriorização do procedimento de atribuição de sentido a normas dotadas de termos vagos, exigindo a justificação da concreção adotada, balizada pelo próprio sistema de direito^®.

A interpretação é operação inafastável para o aplicador do direito, devido a freqüente vagueza das palavras^°. Neste ponto STEPHEN ULLMANN procura explicar os fatores que geram a incerteza quanto ao sentido dos termos, quando afirma que a imprecisão pode ocorrer em muitos aspectos e decorrer de diversas causas^^. Para o autor, a primeira fonte de imprecisão, e uma das principais, é o caráter genérico das palavras, já que a maiorias destas designam classes de coisas ou acontecimentos ligados por um elemento em comum^^. Além disso, ULLMANN entende que as palavras nunca são completamente homogêneas, pois "mesmo as mais simples e as mais monolíticas têm um certo número de facetas diferentes que dependem do contexto e da situação em que são

FERRAZ JR., Tércio Sampaio. Introdução ao Estudo do Direito, p.258. Ibid.,p.317.

Neste ponto afirma Paulo de Barros Carvalho (Op.Cit.p. 84) : "o ordenamento é fechado, em termos sintáticos, mas aberto nos niveis semântico e pragmático, o que permite comprovação no breve exame de algumas vozes bem conhecidas. Aludimos, a título de exemplo, a 'adultério', 'tributo' e 'mulher honesta' como palavras do discurso jurídico que experimentaram sensíveis mutações semânticas, nos tempos atuais"

ULLMANN, Stephén. Semântica-Uma Introdução à Ciência do Significado, p . 245. Ibidem. Ullmann(Op.Cit.p.248) traça ainda uma distinção importante entre caráter genérico e abstração: "A natureza genérica das palavras foi muitas vezes descrita como um elemento de '^abstracção" da linguagem. Há aqui um certo perigo de ambigüidade, uma vez que a oposição habitual entre abstracto e concreto não corresponde à que existe entre genérico e particular. Uma palavra pode ser extremamente geral no seu significado e permanecer mesmo assim no plano concreto; assim, os termos animal e planta são os de mais vasto alcance em todo sistema de classificação zoológica e botânica e, não obstante, são concretos no sentido de que os animais e as plantas especificas são coisas tangíveis, materiais, por oposição a puras abstracções como liberdade ou

i m o r t a l i d a d e . N um sentido mais amplo, no entanto, os termos genéricos podem

ser considerados como "abstractos", isto é, mais esquemáticos, mais pobres em notas distintivas do que em termos particulares".

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usadas", afirmação que contesta a tese da possibilidade de uma verificação certeira, eminentemente objetiva, que dispensaria a interpretação.

Outro fator motivador de indeterminação, de acordo com ULLMANN, é a falta de fronteiras bem definidas no mundo

não-linguístico", entendido este como "as coisas a que se refere a linguagem"^^. A falta de fronteiras ficaria mais evidente quando os signos fazem referência a fenômenos abstratos, sem vinculação direta com elementos da realidade, manifestando na verdade construções da mente humana, constatação que se enquadra perfeitamente na abordagem dos conceitos indeterminados, já que estes são particularmente problemáticos não por sua generalidade, mas por seu alto grau de abstração, designando idéia difusas de difícil vinculação com circunstâncias fáticas. Esta característica, no entanto, não desqualifica a atividade do operador do direito como sendo de natureza interpretativa, mas, na realidade, exterioriza o caráter peculiar de uma linguagem dotada de uma função instrumentalmente definida( resolução dos casos concretos a partir dos enunciados exteriorizadores da intenção reguladora) e potencialmente vaga(tendo em conta a pluralidade de situações e a complexidade do mundo sobre o qual incidem as normas).

Por fim, o que pode gerar imprecisão nas palavras é a falta de familiaridade destas com as coisas que representam, sendo este um "(...)factor, altamente variável, dependente dos conhecimentos gerais e dos interesses especiais de cada

Importante é a distinção entre '"nome", "sentido", e "coisa". Para Stephen Ullmann(Op.Cit.p.119), "0 'nome' é a configuração fonética da palavra, os sons que a constituem e também outros aspectos fonéticos, tais como o acento. 0

'sentido', expresso em termos gerais, sem nos fecharmos em nenhuma doutrina

psicológica particular, é a 'informação que o nome comunica ao ouvinte, enquanto que a 'coisa’ {...) o aspecto ou acontecimento não-linguistico acerca do qual falamos".

i n d i v í d u o " . Neste aspecto, refere-se ULLMAN à falta de conhecimento do intérprete sobre os termos utilizados, causando dificuldades no momento da apreensão do sentido.

Os elementos aqui ressaltados servem para demonstrar que a interpretação do direito envolve dentro da sua problemática o enfrentamento das incertezas da linguagem, tendo em conta que as próprias características desta estabelecem uma série de dificuldades a serem enfrentadas no momento da concretização do comando normativo^^. Limitar a vinculação administrativa aos casos nos quais haja certeza quanto à resposta acarreta o esvaziamento do princípio da legalidade, ao desconhecer-se que grande parte da atividade estatal é pautada em normas indeterminadas ã partida. No que tange a este ponto, interessante é a conclusão a que chega CELSO ANTÔNIO BANDEIRA DE MELO^®, ao afirmar que a incerteza na hipótese abstrata pode transformar-se, no caso concreto, em admissibilidade de uma única solução justa, caso em que teríamos a chamada redução à zero da discricionariedade. Observa-se que, nesta hipótese caso, o que há é a conjugação do elemento lingüístico, o signo de significação indeterminada, conjugado com a circunstância fática apresentada, relação esta que exigirá uma complexa atividade de interpretação/ concretização, não tendente a obter a solução unívoca, mas sim a obter a resposta racionalmente justificada perante o caso concreto.

As considerações sobre a vagueza das palavras e a interpretação destas evidenciam a insustentabilidade de uma metódica baseada na pura descoberta da vontade da lei, de maneira

Ibid.,p.264.

Esclarece Paulo Barros Carvalho que "(...)a ambigüidade, enquanto tal, não compromete necessariamente o discurso. Para tanto, contudo, é mister que o contexto seja suficiente para esclarecer o seu sentido. Caso isso não aconteça, porém, a mensagem gerará, inevitavelmente, o equívoco". Cf.

Interpretação e linguagem-Concessão e delegação de serviço público, p. 86.