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Síntese Conclusiva

No documento Dissertação ASPAL PILAV 137721 BAPTISTA (páginas 121-124)

3.3 UNCLOS e as Fronteiras no Ártico

3.3.9 Síntese Conclusiva

Na sequência do que foi abordado nos subcapítulos anteriores, observa-se que as questões fronteiriças assumem efetivamente um papel de grande relevo nos estudos geopolíticos, nomeadamente na região do Ártico. Com efeito, numa metáfora com o que sucede com as placas oceânicas, nesta área, também “...as placas geopolíticas estão em movimento constante. Acontecem tremores maiores e menores, mas os sinais de mudança estiveram lá para todos aqueles que se preocuparam em vê-los” (COHEN, 1991, p.559) – sendo precisamente sobre estes sinais ténues que procuramos focar o nosso olhar.

A questão que subsiste no Ártico prende-se, fundamentalmente, com o facto de se tratar de uma região aparentemente hostil, mas com um grande potencial de exploração de recursos (USGS, 2009a) e capacidades (antes inimagináveis) que no presente afloram120, o que veio fazer incidir um novo foco na região, abrindo espaço a novas reivindicações de acordo com os interesses dos atores em questão.

O despertar para o potencial inexplorado materializou-se, desde um passado próximo até à atualidade por uma corrida na salvaguarda dos interesses nacionais por parte dos atores circumpolares, nomeadamente através de diversas reivindicações de extensão das suas plataformas continentais, por razões de afirmação nacional e soberania nesta área, salvaguarda da gestão de recursos piscatórios e preocupações ambientais que, amiúde, parecem camuflar/evitar uma corrida declarada aos recursos energéticos que abundam nestas áreas.

Na imagem seguinte, apresenta-se uma representação das fronteiras geopolíticas do Ártico no ano de 2013, constituindo uma síntese global do que foi apresentado a escalas regionais mais reduzidas, contando ainda como pano de fundo com a ilustração da imensa área de hidrocarbonetos121 de que esta região é dotada (USGS, 2009a).

120 Como é o caso das rotas marítimas do norte, abertas na sequência do degelo na região. 121

Os pontos vermelhos pretendem representar as áreas de exploração de recursos energéticos no presente, enquanto as manchas vermelhas, mais claras, se referem às áreas por explorar, com uma probabilidade igual ou superior a 50% de existência destes recursos.

Figura 32 – Recursos energéticos no mapa geopolítico do Ártico

Fonte: (COPELAND & WATKINS, 2013)

De facto, um olhar atento sobre o Ártico, demonstra-nos, não apenas o vasto potencial energético que este encerra, como as fronteiras que o delimitam, o que nos permite um olhar crítico sobre as ações presentes e futuras de estados como o Canadá, USA, Rússia122 ou Noruega enquanto detentores das maiores reservas de petróleo e gás natural nestas latitudes e, sobretudo, face a um contexto em que se especula a possível escassez e/ou dificuldades negociais destes recursos noutras áreas do globo (COPELAND & WATKINS, 2013).

Neste sentido, no seguimento das transformações observadas na região do Ártico e tendo em conta o aflorar de interesses a nível internacional, centrados nesta região, poder-se-á antever uma alteração significativa no mapa geopolítico da mesma,

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Conscientes da importância que a exportação de hidrocarbonetos detêm na economia deste estado, assinalamos que, de facto, a área da Rússia, assinalada próximo do Mar de Kara, representava em 2013 cerca de dois terços do seu fornecimento de petróleo e gás.

decorrente do conflito de interesses entre estados e em que o pano de fundo será a UNCLOS, que, com base nas disposições anteriormente referidas, permitirá gerir os direitos e deveres de cada ator123 (AC, 2008).

De facto, existem no presente diversas questões de disputa relacionadas com fronteiras marítimas ainda não solucionadas, como foi demonstrado anteriormente. Outras, como a que se verificou no Mar de Barents, podem servir como padrão para a antevisão do futuro. Facto é que as propostas de extensão das PC, parecem traduzir a importância que os estados circumpolares dedicam ao Ártico, orientando neste sentido as suas estratégias e interesses nacionais, sendo, portanto, de esperar futuramente uma crescente interação entre estes, no sentido de diminuir os entraves à exploração destas áreas (ZWAAG, 2008).

Neste sentido, no que diz respeito à resolução do conflito de interesses que se observa na região, destacam-se, essencialmente, duas teses: a primeira, apoiando-se no recurso ao meio militar, formula uma especulação acerca da existência de um contexto semelhante a uma nova guerra fria na região (BLAU, 2013), que poderá ou não evoluir no sentido de um conflito; a segunda, no nosso entender mais ajustada ao SI atual, embora admitindo a competição entre os estados, numa corrida aos recursos do Ártico, vislumbra o recurso aos meios diplomáticos e à cooperação entre os atores envolvidos, realçando o papel das organizações supranacionais124 nesta encruzilhada (BALÃO, 2014), não antevendo a probabilidade de conflitos ou o recurso a meios coercivos (COPELAND & WATKINS, 2013).

O que se observa no presente é uma conjugação ténue entre ambas, em que cooperação e diplomacia parecem surgir como vias idealmente eleitas, proferidas nos discursos dos dirigentes políticos e espelhadas nas estratégias dos estados circumpolares para a região125. No entanto, paralelamente a este discurso, observa-se

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A declaração de Ilulissat, de Maio de 2008, acórdão entre os cinco estados do Ártico, veio demarcar objetivamente a visão destes face à necessidade de um novo regime jurídico internacional para o Ártico. Com efeito, não é reconhecida essa necessidade, entendendo-se que a UNCLOS (quadro jurídico atual) deverá ser o recurso para a resolução dos diferendos nesta região.

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O papel nas organizações nomeadamente na cooperação no Ártico será desenvolvido mais à frente nesta dissertação.

uma preocupação na identificação de regiões de potencial interesse estratégico dissimulando, por vezes, um acautelamento dos interesses nacionais de cada Estado, em alguns casos, já com uma aposta crescente nos meios de defesa.

Facto é que no presente, nenhuma das disputas territoriais na região aparenta pôr em risco a estabilidade e segurança globais ou regionais (WEF, 2015; HIICR, 2014). No entanto, não poderemos deixar de ter em conta que as fronteiras no Ártico são frágeis, mesmo mantendo um forte envolvimento na diplomacia e na cooperação126 (ZWAAG, 2008). Com efeito, apenas “resta saber se a vontade política se manifestará através da ação ou da omissão. Em qualquer dos casos, a humanidade não deixará de ser a principal destinatária e, por isso, beneficiada ou prejudicada” (BALÃO, 2014).

No documento Dissertação ASPAL PILAV 137721 BAPTISTA (páginas 121-124)

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