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3.4 Atores da Geopolítica do Ártico

3.4.1 Cooperação e Papel das Organizações Internacionais

3.4.1.1 União Europeia

A Europa e, consequentemente a União Europeia, permanecem, no presente, no centro da ação política à escala global (BALÃO, 2014), encontrando-se indissociavelmente ligada à região do Ártico, em virtude de uma combinação única de factores históricos, geográficos, económicos e de realizações científicas (CCE, 2008).

Enquanto ator na cena internacional com interesses na região, a UE tem conduzido sucessivas tentativas de aproximação, nomeadamente através do seu órgão executivo, a Comissão Europeia, antevendo-se a necessidade de cultivar um leque de aliados nesta região, com vista a um aumento das probabilidades de consecução dos seus objectivos a curto prazo (BALÃO, 2014).

Como se demonstra na imagem seguinte, a região do Ártico encerra em si áreas de três Estados Membros da União Europeia: Dinamarca (Gronelândia), Finlândia e Suécia e inclui territórios de dois estados parceiros da Área Económica Europeia: Islândia e Noruega (CCE, 2008), atores que se poderão constituir como uma “porta” de acesso, “na e para a região”, enquanto importantes “interlocutores noutros domínios da ação política” e “potenciais elementos facilitadores” (BALÃO, 2014, p. 34).

Estados Membros da UE 130

Estados Parceiros da Área Económica Europeia

Estados Membros da Aliança Atlântica (NATO)

Figura 33 – Os 8 Estados do Ártico – UE e NATO

Fonte: Autor

No que concerne à concretização destes interesses em documentos estratégicos, o ano de 2008 é apontado como o momento em que a UE delineia a sua política para o Ártico. Com o documento “A UE e a Região do Ártico”, a Comissão Europeia apresenta aquelas que viriam a ser as bases da política da organização para esta região, identificando, fundamentalmente três objectivos estratégicos: “proteger e preservar o Ártico, em uníssono com a sua população; promover uma utilização sustentável dos recursos e contribuir para uma melhor governação multilateral do Ártico” (CCE, 2008, p. 3).

Complementarmente a estes três vectores-chave, a integração dos povos indígenas, o acesso aos recursos energéticos, a responsabilização ambiental, a gestão de pescas e navegação, bem como o estatuto político e legal do Ártico, encontravam-se igualmente na agenda da UE para a região, tendo em consideração a importância do estabelecimento de relações de cooperação com organizações internacionais de que o Arctic Council é um exemplo, bem como a necessidade de aposta numa governança (THE WORLD BANK, 2014)131 multilateral no círculo ártico (CCE, 2008).

130 Não se considerou as Ilhas Faroe, dada a especificidade do seu estatuto e não estarem integradas na União

Europeia, não obstante das facilidades e benefícios concedidos aos seus cidadãos serem em tudo semelhantes aos dos Estados Membros.

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O conceito de Governança ou Governance, tal como o Banco Mundial o definiu, refere-se às tradições e instituições pelas quais a autoridade de um país é exercida, incluindo o processo pelo qual os governos são selecionados, monitorizados e substituídos, a capacidade do governo para formular de forma eficaz e implementar políticas sólidas, o respeito dos cidadãos e do Estado pelas instituições que governam e as interações económicas e sociais entre eles.

Relativamente ao primeiro objetivo elencado, observa-se a preponderância que as questões ambientais assumem, encontrando-se transversalmente espelhadas nas estratégias dos diversos atores. Pode ainda associar-se esta referência à promoção dos valores intrínsecos da UE, surgindo neste documento alguns projetos da CE e de estados-membros no domínio da investigação ambiental, que se deverá manter uma prioridade para esta região (ibidem).

Já no que diz respeito ao segundo objetivo, são identificadas quatro áreas prioritárias: hidrocarbonetos, pesca, transportes e turismo. Face à importância dos recursos energéticos, salienta-se a necessidade de uma exploração em respeito pelo ambiente, em que o CA poderá assumir um importante papel. Paralelamente, destaca-se a importância da necessidade de exploração sustentável dos mares da Noruega e Barents (visto a UE ser o maior importador de peixe desta região) e da abertura das rotas marítimas do Ártico, garantindo os princípios de liberdade de navegação.

O turismo, por último, surge como atividade que deverá continuar a ser desenvolvida na região ressalvando-se, porém, a necessidade de desenvolver esforços para minimizar a pegada ecológica decorrente desta atividade. No sentido do desenvolvimento da governação multilateral do Ártico o documento realça que nenhum país ou grupo de países detém a soberania do Pólo Norte ou sobre o Oceano Ártico (CCE, 2008) pelo que se deverá recorrer à UNCLOS para a resolução pacífica das disputas da região. A orientação política deste documento foca-se, ainda, em desenvolver um mecanismo cooperativo de governança para o Ártico, centrado na UNCLOS e com vista à segurança e estabilidade, gestão ambiental rigorosa, e à utilização sustentável dos recursos, bem como o acesso livre e equitativo aos mesmos (CCE, 2008). Este, é efetivamente, um ponto essencial na medida em que permite o acesso à região por estados que não têm as suas fronteiras no Ártico e que, de outro modo, não teriam essa possibilidade (BALÃO, 2012).

De facto, observa-se uma preocupação com a garantia do acesso aos recursos existentes nesta região, enquanto factor de grande impacto na segurança energética da

UE, em grande parte assente nas importações de gás e petróleo da Rússia e da Noruega (EC, 2013)132.

No decurso deste documento, o Parlamento Europeu aprovou, no mesmo ano, a resolução intitulada “Uma política sustentável da UE para o grande norte” e, mais recentemente, uma resolução acerca da estratégia da UE para o Ártico (PE, 2014). No ano de 2013, o principal objectivo político da CE no âmbito da estratégia da UE para esta região polar parecia direcionar-se no sentido da obtenção do estatuto de observador permanente do Conselho do Ártico, adquirindo assim uma posição mais próxima das questões relacionadas com esta região, não tendo, porém, sido cumprido este objetivo (BALÃO, 2014).

Nos últimos dez anos, a UE e os seus Estados-membros investiram mais de 200 milhões de euros de fundos comunitários em atividades de investigação relacionadas com as alterações climáticas, as consequências para as populações e os efeitos na economia (EC, 2012). Só desde 2008 já foram lançados 12 projetos, no âmbito do 7º Programa Quadro (7PQ), estando previstos mais oito programas, que contribuirão para a criação de novas redes de centros de investigação na Europa e potenciarão os centros já existentes.

Estas ações da UE podem ser entendidas como uma importante ferramenta para estreitar as relações com os estados do Ártico. Inserida nas preocupações com a segurança da navegação, incluindo as questões ambientais, a UE tem ainda participado na elaboração do Código Polar, a par do apoio ao desenvolvimento de capacidades de busca e salvamento (EC, 2012).

No entanto são ainda vários os problemas a carecerem de uma resposta, assim como os desafios transnacionais a serem enfrentados e ultrapassados, que envolvem esta região do globo. Para o futuro a UE estabelece como metas a prossecução dos seus

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A Rússia é o 3º parceiro comercial da UE, constituindo o petróleo 78,9% do total das suas exportações, as quais correspondem a 32,3% do total de importações da UE. A Noruega é o 5º parceiro comercial da UE, constituindo o petróleo 64,4% do total das exportações, as quais correspondem a 12,3% do total de importações da UE.

objectivos estabelecidos em 2008 e reafirmados em 2012, reforçando ainda a necessidade de (PE, 2014, pp. 4-6):

- “Prosseguir uma sólida política climática que preveja metas vinculativas, e a apoiar ativamente a França nos seus esforços para acolher a Conferência de Paris sobre o Clima, em 2015, tendo em mente que, para combater as alterações climáticas, são necessárias decisões à escala global que envolvam os EUA, a China, a Rússia e outros países BRIC (Brasil, Rússia, Índia e China), bem como a UE”; - “Estabelecer um diálogo regional permanente com a sociedade civil na região do

Ártico”;

- “A CE e os Estados-Membros concentrarem a sua atenção nos corredores de transporte, como as estradas, as vias ferroviárias e as vias navegáveis, com vista a manter e a promover as ligações transfronteiriças no Ártico europeu e a trazer mercadorias do Ártico para o mercado europeu - a ligação ao Ártico europeu necessita ser melhorada”;

- “Tomando conhecimento da Declaração de Kiruna do Conselho do Ártico, de maio de 2013 e da sua decisão no sentido de acolher afirmativamente o pedido da UE para beneficiar do estatuto de observador permanente, o Serviço Europeu de Ação Externa (SEAE) e o Canadá, que exerce a Presidência do Conselho do Ártico, resolverem as questões pendentes”;

- “Realçar as relações sólidas que a UE mantém com a Gronelândia e a importância geoestratégica deste território. Tomando nota das prioridades do Governo da Gronelândia que colocam uma ênfase renovada no desenvolvimento económico e na exploração de matérias-primas, procurar aferir de que forma a UE pode contribuir para o desenvolvimento sustentável na Gronelândia e prestar assistência neste domínio, tendo em conta quer as preocupações ambientais, quer a necessidade do desenvolvimento económico”;

- “Encontrar uma solução positiva, nomeadamente para questões futuras relacionadas com a pesca, que passem pela conservação das populações de peixe e pela

prevenção da extinção de outras espécies e de danos graves no ambiente marinho, decorrente da evolução dos acontecimentos entre a UE e os Estados costeiros em matéria de quotas de pesca”.

No documento Dissertação ASPAL PILAV 137721 BAPTISTA (páginas 134-139)

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