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ESTES ESTÍMULOS A PESSOAS DEFICIENTES MENTAIS QUE ESTÃO EM PROCESSO DE INGRESSO NO MERCADO DE TRABALHO

1.2 Síntese da evolução do conceito de deficiência mental

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Nomear objetos não é tarefa fácil, mais difícil ainda é nomear categorias (Pessoti, 1999). Pessoas deficientes mentais existem desde os primórdios da humanidade, o que mudou no decorrer dos séculos é o entendimento a respeito do fenômeno Deficiência Mental. Com o avanço das pesquisas científicas, o conceito de deficiência mental evoluiu. Há atualmente7 uma tendência mundial para se usar o termo deficiência intelectual. Esta nova terminologia refere-se ao funcionamento do intelecto especificamente e não ao funcionamento da mente como um todo. Este termo favorece a distinção entre as nomenclaturas deficiência mental e doença mental, retirando da pessoa deficiente mental/intelectual o fardo patológico de doente mental (Sassaki, 2005). Entretanto, o termo deficiente mental ainda é o mais utilizado na literatura científica, mesmo apresentando em seu escopo o estigma de incapacitado (Almeida, 2004).

Segundo Almeida (2004), no início do século XX, autores como Tredgold (1908 e 1937) e Doll (1941) reafirmaram o status de permanência e incurabilidade do retardo mental, ratificando o estado de incompetência social do D.M. Em 1959, Herber, Presidente da Associação Americana de deficiência mental (AAMA), estabeleceu que retardo mental é o funcionamento intelectual geral abaixo da média e é originado no período de desenvolvimento, sendo associado às condições de maturação, aprendizagem e ajustamento social. Contudo, Herber, em 1961, revisa o conceito estabelecido e define mais claramente os termos maturação, aprendizagem e ajustamento social, substituindo-os por deficiências no comportamento adaptativo. Também, segundo a definição do Sistema, 2002 (2006, p. 20) “Retardo metal é uma incapacidade caracterizada por importantes limitações, tanto no funcionamento intelectual quanto no comportamento adaptativo, está expresso nas habilidades conceituais, sociais e práticas. Essa capacidade tem início antes dos 18 anos de idade”.

Surgem, então, as críticas sobre os procedimentos de avaliação baseados nos testes de inteligência. Clausen (1972b) argumenta que os procedimentos de avaliação não eram adequados, sendo o diagnóstico apoiado somente nos resultados de testes de inteligência. Problemas relacionados à avaliação baseada em testes de inteligência já tinham sido indicados em 1967, pelo mesmo autor, sendo eles: (1) concepção do conceito de retardo mental como uma condição inalterada, em que não se teriam explicações para as mudanças comportamentais individuais que ocorressem ao longo do tempo e que não aparecessem nos testes e (2) possibilidade de erro de diagnóstico, em função das diferenças culturais, nas quais cada criança estava inserida. Grossman (1973) também revisa o manual sobre classificação do

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retardo mental, definindo deficiência mental como “funcionamento intelectual significativamente abaixo da média” e comportamento adaptativo com relação ao grau e à eficiência da independência e responsabilidade do indivíduo, ampliando o período de desenvolvimento para 18 anos. Dois documentos (Dunn, 1968; PCMR, 1970) reiteram os problemas relatados por Clausen (1967) quanto à classificação dada a crianças baseadas apenas nos testes de QI.

A cada nova publicação eram feitas revisões dos manuais, de forma a promover avanços acerca das decisões pautadas na experiência do avaliador, ou seja, o “julgamento clínico”. A publicação do sétimo manual sobre classificação e terminologia da deficiência mental (1977) explica a mensuração do comportamento adaptativo. No oitavo manual da AAMR (1983), os sistemas de classificação (OMS, 1978; CID-9 e DSM III) se tornaram mais compatíveis e o uso do teste foi questionado. Dessa forma, outras condições eram levadas em conta (déficits no comportamento adaptativo ou diferenças culturais) de maneira que o teste não era a única alternativa de classificação. A nona edição do manual (Luckasson, Borthwick-Duffy, Buntinx, Coulter, Craig, Reeve, Schalock, Snell, Spitalnik, Spreat & Tassé, 2002), de natureza mais funcional, enfatizava a interação entre capacidade da pessoa, ambiente e necessidade de receber apoio.

Inteligência conceitual (QI), inteligência prática e social são incluídas como componentes fundamentais na definição de retardo mental (Greenspan, 1997). O sistema de classificação de retardo mental, proposto por Greenspan (1997), enfatiza a necessidade de suporte da pessoa deficiente mental, e não suas limitações intelectuais. Dessa forma, Greenspan sugere três subcategorias baseadas no grau da deficiência: limitada, extensiva e permanente. Por fim, em 2002, foi realizado um estudo (Luckasson & cols, 2002) sobre os 10 anos de utilização do sistema proposto em 1992, que descreveu reações positivas e negativas a este sistema. Com relação às reações positivas, os autores ressaltam: (1) eliminação da classificação dos níveis (leve, moderado, severo e profundo) do retardo mental; (2) definição baseada no modelo de suporte, em substituição ao modelo baseado no déficit; (3) modificação na conceituação global de “comportamento adaptativo” para áreas de habilidades adaptativas; (4) determinação de “pontos fortes e fracos” no diagnóstico e retardo mental; (5) redução da importância do QI na avaliação e classificação do retardo mental. Em relação às reações negativas, o estudo assinala: (1) a adoção da definição de retardo mental, proposta em 1992, foi menor do que era esperado. As razões da falta de utilização da nova proposta foram: (a) inexistência de instrumentos padronizados para avaliar as condutas adaptativas; (b) a terminologia de QI não foi claramente substituída; (2) críticas da literatura: (a) eliminação dos

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níveis de severidade; (b) substituição dos níveis de suporte por níveis de severidade; (c) mudança nos critérios de QI de 70 para 75; (d) imprecisão quanto ao uso de habilidades de comportamento adaptativo e sua mensuração; (e) eliminação da categoria de “retardo mental leve”; (f) o ponto de corte do QI em 75 resultou em uma super representação de grupos minoritários, segundo pesquisas realizadas por Kauffman e Doppelt (1976) e MacMillan, Gresham & Siperstein (1993).

Diante desses problemas, a AAMR, em 2002, propôs uma nova definição para retardo mental, assim expressa: “uma incapacidade caracterizada por limitações significativas em ambos, funcionamento intelectual e comportamento adaptativo e está expresso nas habilidades sociais, conceituais e práticas” (Luckasson e cols, 2002). Na concepção de Silva (2000), as pessoas com deficiência possuem direitos como sujeitos sociais e são “diferentes” em função de suas especificidades. Em outras palavras, “As pessoas e os grupos sociais têm o direito a ser iguais quando a diferença os inferioriza, e o direito a ser diferente quando a igualdade os descaracteriza” (Santos, 2002, p. 75). Dessa forma, para que as especificidades educacionais do D.M sejam atendidas é necessário que haja uma mudança comportamental por parte dos estabelecimentos de ensino.