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CAPÍTULO 3: ANÁLISE DAS FONTES

3.4 SÍNTESE DAS OBRAS

3.4.1 Síntese de Sociología argentina

Na obra Sociología argentina,30 Ingenieros pensou na “evolução sociológica”

da sociedade argentina levando em consideração os estudos de vários pensadores como Sarmiento, Alberdi, Echeverría, Ramos Mejía etc. A partir dos trabalhos destes intelectuais, Ingenieros queria chegar a conclusões que fossem concordantes com a “filosofia científica” professada por ele. Neste sentido, o autor pensava a Sociologia como uma Ciência Natural que aplicava algumas teorias da biologia ao social. Em

Sociología argentina, ele mesclou premissas deterministas e darwinianas,

fundamentadas nos conceitos de “meio” e “raça”, com estudos referentes ao passado da Argentina a fim de construir uma identidade cultural para o país. Assim, o intelectual alegou que a nação argentina se definia a partir da influência do legado histórico e da influência das suas variações geográficas e climáticas.

O objetivo geral desta obra era traçar uma trajetória da sociedade argentina no tempo. Isto significa que Ingenieros construiu um modelo explicativo, que levava em consideração as hipóteses dos intelectuais listados acima - sobretudo, Sarmiento e Alberdi - para analisar as principais transformações do “grupo social” argentino ao longo das gerações. Assim, a intenção de Ingenieros era pensar a sociedade argentina desde as suas origens até a sua contemporaneidade, isto é, queria determinar o percurso e os momentos de transformação desta sociedade desde a

30 Segundo Diaz Araujo, (1993) a obra Sociología argentina se alicerçou nos seguintes tópicos:

Darwinismo Social; Economicismo Histórico (que considera a interpretação econômica da história como filha do evolucionismo darwiniano, numa correlação de biologia com economia); Também aparece a teoria do socialismo reformista (que prega a cooperação entre as classes ao invés de oposição e luta entre elas); Defesa do imperialismo (em que os países mais fortes estariam encarregados de tutelar os mais fracos, proporcionando-lhes o benefício da sua civilização mais evoluída); e, por fim, o racismo (que alega que a formação da nacionalidade argentina teve origem em um simples episódio de luta entre as raças). Araujo pondera que nesta obra estão presentes muitos dos ingredientes do ideário fim-secular. As teorias racistas tem filiação direta no ideário alberdiano-sarmentista, que tinha uma visão negativa da conquista espanhola ao passo que valorizava o modelo de colonização anglo-saxão. Também era comum o desdém pelo gaúcho, considerado como inferior, e a imitação das modas ideológicas europeias.

“barbárie indígena” até a “civilização” de tipo europeu, refletindo também sobre as mudanças políticas e econômicas vividas no país. Observe como Ingenieros apresentou ao público leitor o eixo central da sua análise:

Pensando sin preocupaciones de raza, nacionalidad, clase o partido, el presente ensayo tiende a mostrar las aparentes antinonias que se desenvuelven en torno de dos orientaciones: la evolución de la barbarie indígena hacia la civilización del tipo europeu (en el orden interno) y del feudalismo colonial hacia el solidarismo democrático (en el orden internacional) (INGENIEROS, 1961, p. 12, v. 6).

Em Sociología argentina, o intelectual defendeu a tese de que era necessário estudar a evolução sociológica argentina levando em consideração o conhecimento científico. Neste sentido, o estudo sociológico não deveria ser influenciado pelos interesses e as paixões de nenhum historiador ou partido político, pois “una

circunstancia de ese género no agregaría autoridad a lo escrito” (INGENIEROS,

1961, p. 11, v. 6). Era necessário pensar os fenômenos sociais a partir do conhecimento das ciências, uma vez que “el conocimiento científico nasce de la

experiencia, como la superficie de un lago tranquilo refleja la imagen de la realidad que existe indepedientemente de ella” (INGENIEROS, 1961, p. 12, v. 6).

Ingenieros defendeu a hipótese de que não só a sociedade argentina, mas todos os outros “grupos sociais” evoluíam de acordo com causas mesológicas31 e

biológicas, e que o papel da sociologia era examinar este processo. Contudo, para determinar o trajeto da evolução da sociedade argentina era necessário combinar os conhecimentos da mesologia e da biologia com os dados consignados pelos historiadores e ensaístas que se preocupavam em examinar a história do país. A sociologia necessitava refletir, também, sobre as “convulsões sociais” de determinadas épocas e pensar a respeito dos sucessos e dos infortúnios de determinados personagens que tiveram importância significativa na história da Argentina.

O intelectual argumentou que, para analisar a evolução do “corpo social” argentino, era necessário realizar um criterioso exame sobre a luta pela vida entre

31 Neste contexto a Mesologia era compreendida como uma ciência dedicada ao estudo das relações recíprocas entre o ambiente e os seres que viviam nele. A mesologia também buscava determinar e compreender a "influência do meio" sobre o indivíduo.

os grupos que compunham a sociedade argentina, e entre esta e as demais sociedades do continente americano. Desta forma, em seu livro, Ingenieros desenvolveu a sua argumentação a partir dos seguintes eixos temáticos:

 A luta pela vida entre os agregados sociais (conflitos políticos internos e externos).

 Fez uma análise da evolução política interna da Argentina em harmonia com os interesses econômicos criados pelas nações de raça branca.

 Pensou na futura posição de liderança, influência cultural e pacifista da Argentina dentro do continente americano.

Enfim, o intelectual descreveu, ao longo de Sociologia argentina, a trajetória política e econômica do país, relacionando-a a fatores como raça e meio. O autor fez um exame detalhado da trajetória sociológica argentina, pois tinha como finalidade proporcionar ao público leitor a compreensão de como se deu, ao logo da história, a formação da “raça argentina”. Ele queria explicar como se construiu a “argentinidade” do povo e demonstrar, com argumentos legitimados pelos saberes das ciências, os motivos pelos quais a “raça branca” era a melhor adaptada ao seu território e por que ela era a raça ideal para povoar o solo argentino.