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Síntese do Capítulo – Revisão de Literatura

No documento Daniel Moiteiro_Dissertaçao_ISLA_MGRH_2016 (páginas 62-67)

Capítulo 2 – Fundamentação Teórica

2.5 Síntese do Capítulo – Revisão de Literatura

De acordo com a literatura apresentada na primeira parte deste estudo, conclui- se que o trabalho, sendo caracterizado como um importante motor para o desenvolvimento da sociedade, apenas faz sentido quando serve de agregador de valor social; quando serve essencialmente para garantir uma fonte de rendimento aos trabalhadores, de maneira a permitir-lhes satisfazer as necessidades básicas pessoais e materiais. O trabalho também fomenta nos trabalhadores aspirações profissionais futuras, direitos de reconhecimento, estabilidade pessoal e familiar, justiça e igualdade, e ainda potencia a autoestima. Tudo isto, claro, em função e de encontro às necessidades do empregador e dos objetivos dos subordinados.

Para o desenvolvimento deste, é necessário definir e adequar um horário de trabalho mediante as necessidades. Horário, esse, que não é mais do que o total de horas diárias, semanais e mensais que cada trabalhador tem a obrigação de cumprir. De acordo com a legislação em vigor, este não pode exceder as 8 horas diárias e as 40 horas

semanais, salvo em raras exceções, nas quais os trabalhadores podem ver no seu horário um acréscimo de 4 horas diárias.

O sistema de horário mais comum, ao longo dos anos, tem sido o horário diurno; aquele que se considera normal, em que os trabalhadores entram de manhã e saem ao final da tarde. Com a exigência dos mercados e a crescente evolução tecnológica, o paradigma tem-se vindo a alterar, começando, então, a emergir o trabalho por turnos e os turnos com trabalho noturno, uma vez que constituem uma vantagem do ponto de vista organizacional, principalmente para empresas de laboração contínua que necessitam de funcionar 24 horas por dia. Existem, portanto, vários sistemas e horários de trabalho por turnos, com ou sem turno noturno, embora, e tendo em conta a presente investigação, o enfoque recaia sobre o trabalho por turnos rotativos de rotação rápida com turno noturno, dado que, este é o regime predominante na empresa onde se processa esta investigação, mormente nos trabalhadores com regime de turnos noturnos. Este sistema, de acordo com a revisão de literatura, é um potencial causador de efeitos nefastos para o trabalhador a todos os níveis, ou seja, problemas de saúde (físicos e psicológicos), pessoais, sociais e familiares, originados essencialmente, pelo facto de se tratar de uma situação contranatura, já que o homem é um ser diurno.

O facto de os trabalhadores por turnos viverem num padrão social diferente, no que diz respeito aos horários desencontrados relativamente aos restantes, e ao cumprimento de algumas necessidades biológicas (como é o caso do sono), pode fazê- los sentir afastados da vida comum, não só ao nível familiar como ao nível pessoal e social. Como agravante a esta perceção que podem ter deles mesmos, está o facto de terem de desempenhar funções profissionais também durante os fins de semana, o que, grande parte das vezes, remete necessariamente para o afastamento dos seus entes mais próximos. Por sua vez, o sono, necessidade básica indispensável ao funcionamento do corpo, tão importante como a alimentação e a hidratação, é uma das principais queixas que os trabalhadores apresentam.

Sendo a saúde considerada como um estado completo de bem-estar físico, emocional e social, são vários os problemas que advêm deste tipo de sistema horário. A alteração dos ritmos circadianos, dos hábitos alimentares, o sedentarismo e o consumo de substâncias psicotrópicas acabam por não ser uma causa, mas sim uma consequência do regime e dos horários de trabalho. Em suma, grande parte do corpo humano é influenciada negativamente, embora os dados mais importantes recaiam sobre o sono, o

stresse e a fadiga, os acidentes de trabalho, o absentismo e ainda a vida pessoal, social e familiar.

No que respeita ao sono, como se trata de uma função importante para o bom funcionamento de todo o corpo humano, é importante que exista um equilíbrio entre os períodos de descanso/trabalho, dado que, de acordo com a necessidade humana, o corpo está programado para descansar durante a noite e trabalhar durante o dia. É essencial privilegiar a qualidade do sono, pois o ser humano passa grande parte da vida a dormir. Quando isto não acontece, e a qualidade do sono é posta em causa, as pessoas começam a sentir e a manifestar o seu descontentamento, bem como a evidenciar alguns problemas de saúde. A curto prazo, surge a falta de atenção durante os períodos noturnos, períodos nos quais o estado de alerta, naturalmente, diminui, podendo assim, ser um aspeto fulcral quando se fala de potenciar os acidentes de trabalho e o consumo de substâncias estimulantes, passando esta a ser uma realidade para os trabalhadores inseridos no regime de trabalho por turnos com turno noturno. Já a médio/longo prazo, sobressaem, então, os distúrbios alimentares (que frequentemente levam a problemas de obesidade), o sedentarismo e as mudanças repentinas de humor. Todos estes fatores transportam, portanto, para um elevado nível de preocupação. Sabendo de antemão que estes aspetos negativos já foram amplamente referenciados e são suscetíveis de acontecer, existem várias formas de os combater e amenizar. Partindo principalmente das empresas empregadoras, que devem ir implementando, a título de exemplo, a prática de hábitos de vida mais saudáveis, como o ajuste nos regimes alimentares, a prática de exercício físico, o aconselhamento para técnicas de higiene do sono, de relacionamento familiar, de redução do stresse ou a promoção de sestas. No fundo, estas medidas apenas servem para, de alguma forma, tentar compensar o organismo dos trabalhadores com regime de turnos noturnos dos aspetos negativos decorrentes do horário e regime de trabalho a que estão sujeitos.

Quanto ao stresse, este ocorre quando o trabalho supera a capacidade de resposta dos colaboradores. Ele é, grande parte das vezes, responsável pela origem da fadiga, ansiedade e depressão. É muito frequente os trabalhadores por turnos sentirem isso, uma vez que, ao planearem e tentarem conciliar os seus horários de trabalho com os horários para a vida familiar, pessoal e social, sentem-se impotentes e cansados. O tempo torna- se escasso para atividades de desporto e lazer, principalmente porque os primeiros dias de pausa servem para o descanso forçado, e os restantes podem não coincidir com a disponibilidade do agregado familiar. Falando concisamente num nível pessoal, os

principais problemas dos trabalhadores incidem sobre o apetite, distúrbios gastrointestinais, doenças cardiovasculares e problemas nervosos (dores de cabeça, depressões, tremor nas mãos). Num nível organizacional, enumeram-se os acidentes de trabalho (que, naturalmente, têm uma maior probabilidade de ocorrer), a insatisfação no trabalho, a redução no desempenho e o aumento das taxas de absentismo. Estes fatores, quando conjugados, levam a uma quebra de produção acentuada para a empresa. Assim, é importante que a empresa previna esta situação, podendo recorrer à otimização das condições de trabalho, à realização de exames periódicos (médicos e psicológicos), disponibilizando um especialista em aconselhamento pessoal e, por último, e sempre que possível, evitar que os colaboradores permaneçam neste regime de trabalho até uma faixa etária mais elevada ou durante um grande período de tempo.

Sabe-se que a vida pessoal, social e familiar é essencial para o bem-estar e satisfação das pessoas. Neste campo, o tempo destinado a estes aspetos da vida é sacrificado em função do trabalho por turnos, facto que não deveria de assim ser uma vez que devem ser garantidas condições dignificantes aos trabalhadores que lhes permitam conciliar todos estes aspetos com o trabalho. Mediante a disponibilidade dos parceiros, agregado familiar e restantes grupos presentes no dia a dia das pessoas, estes poderão ver-se privados da partilha de tempo com os mesmos, levando, assim, a um grande descontentamento e frustração. Tensões de stresse familiar, dificuldades em manter uma vida efetiva estável, privação de um melhor acompanhamento e educação dos filhos e a interação com a restante sociedade, são consequências deste regime de trabalho, que resulta, igualmente, num problema para as organizações. Nesta perspetiva, o trabalho por turnos revela-se uma pequena armadilha, pois o sistema de recompensas financeiras normalmente adotado não compensa a fraca qualidade no aproveitamento do tempo livre já que quando os trabalhadores se encontram de folga, a maioria das pessoas encontra-se a trabalhar. Face ao exposto, torna-se vital para os empregadores adotar medidas que visem uma maior satisfação aos subordinados, promovendo, por exemplo, convívios, atividades de lazer, uma maior mostra de interesse para os problemas dos trabalhadores por turnos, e, ainda, uma melhoria nas condições destes (minimização dos turnos noturnos, ou, caso não seja possível, adequação de horários de turno de maneira a diminuir o descontentamento das pessoas e a conferir disponibilidade para aproveitar os tempos livres com os seus entes próximos). Terminando, o trabalho por turnos não se trata de uma escolha prioritária dos trabalhadores, pelo que, com o passar do tempo, os seus estímulos e motivações não serão certamente muito elevados.

Concluído o capítulo dedicado à fundamentação teórica, passa-se, seguidamente, ao capítulo 3, que versa a metodologia de investigação e o caso de estudo da presente dissertação.

No documento Daniel Moiteiro_Dissertaçao_ISLA_MGRH_2016 (páginas 62-67)