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Síntese do significado da feira livre para o Agreste de Pernambuco

CAPÍTULO IV – A Feira da Sulanca na percepção dos seus protagonistas

4.4. Síntese do significado da feira livre para o Agreste de Pernambuco

17. Eu sinto saudade das feira... eu considerava a feira uma festa

Meu pai era do sítio Cacimba de Baixo e minha mãe, sítio Barrinha, na época era município de Taquaritinga, hoje Santa Cruz. Eu nasci em 41, em Cacimba de Baixo. Meus pai casaram e foram morar em Cacimba de Baixo, que era a terra de meu pai, no sítio dos pai, da família dele. Os familiares dele, tudo, são de Cacimba de Baixo. Então, num determinado tempo, já depois de eu já grande, mas morando com meus avós, então eles

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saíram daqui, moraram uma temporada em Agrestina, de Agrestina passaram pra Arapiraca, Alagoas. Então, no ano de 58, eu tava com 17 ano de idade, aí eles tavam morando em Arapiraca, aí eu fui visitar eles, eu morando com meus avós aqui, em Santa Cruz, na zona rural. Dizem que eu fui pra casa dos meus avós com 9 meses de nascido. Minha mãe era costureira na época e o meu pai trabalhava em fazenda, que era o que ele entendia, montar a cavalo, criar gado, tirar leite. E então, no ano de 58, eu fui fazer uma visita a eles lá. Visitar meus pais que tavam morando lá. Cheguei lá encontrei o meu irmão mais velho, trabalhando de sapateiro. Eu achei muito interessante aquilo. Eu fui pra passar um mês lá, mas passei seis mês, com interesse de aprender a arte de sapateiro com meu irmão, que ele trabalhava lá num fabricozinho de calçado, não era legalizado, não, era um fabrico clandestino, mas bem arrumado e ele fazia lá uma alpercata muito bem feita que era conhecida lá pela alpercata de batalha. Batalha é uma cidade lá de Alagoas. Então, eu fiquei entusiasmado com aquilo e me interessei demais em aprender, eu fiquei ajudando ele e aprendendo, passei seis meses lá. Aí, cheguei e aprendi, num fiquei trabalhando igual a ele, não, mas já fazia uma alpercata por minha conta, não tão bem feita como as dele, mas já tava na hora de eu voltar, meus avós já tinham mando muito recado pra eu voltar. Mas, o interesse era que eu só vinha quando soubesse fazer alguma coisa em calçado. Aí, fui, vim, contei a meu avô, ele gostou muito da minha versão, que eu queria trabalhar em calçado. Aí, ele vai, compra umas forma, compra máquina, tudo que precisava pra começar um fabricozinho pra mim lá na zona rural. Aí eu comecei a fazer alpercata lá, depois ficou agradando, eu fui miorando o trabalho, depois passei a fazer umas bota, que aí estourou. Eu ia comprar os couro nos curtume em Caruaru, já beneficiado, nera aqui, não. Santa Cruz nesse tempo era pequenininha, no ano de 58, olha, era muito pequena. Aí, então, passei a fazer umas bota, melhorei. Aí eu cortava o couro, pespontava, solava, no ano de 58. Aí, fui trabalhando lá na zona rural, passou 59, 60, 63, eu inventei de casar, 62 que eu casei, com 21 ano. Quando eu casei aí, vim morar na rua. Aí, eu fabricava assim, sob encomenda, trabalhando só. Eu trouxe o fabrico pra cá. Aí me deu a ideia de eu fazer feira, a turma já tava querendo mais calçado que eu fazia, aí arrumei uma pessoa pra me ajudar pra aumentar a produção e passei quando ia à Caruaru, comprava calçado também pra revender, passei a comprar calçado de criança, sapato pequeno e médio. Botei um banquinho na feira, mas como deu certo!

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Na feira de Santa Cruz nas segundas-feiras, no pátio da igreja, onde hoje é a prefeitura, meu banco era debaixo daquele pé de gameleira, eu tinha um banquinho ali. Mas, eu comecei a disparar, começou a dar certo, eu trazia também de Caruaru, naquela época era atrasada. Minhas encomenda eu levava pra feira, pegava mais encomenda, e aqueles calçado que trazia de Caruaru, eu já com uma certa ideia de calçado, eu comprava uns calçado arrumadinho, dava pra agradar o povo, aí comecei a vender e me dar bem, foi no ano de 63. No ano de 64, Jataúba, era outra cidadizinha que na época era pequena, mas tinha uma feira muito falada na sexta. Naquela época, tinha uma coisa que era um rendimento pras feira tanto daqui como de Jataúba, as feira aqui do Nordeste, era a safra de algodão. Meu avô lavrava muito algodão, eu lembro que lá tinha um quarto que ele enchia de algodão todo ano. Então, no ano de 64 eu passei a fazer a feira de Jataúba, lá menor do que aqui, aí foi que deu certo. A safra de algodão começava em setembro, mas era uma feirinha boa, fazia umas feira melhor do que aqui, mas porque lá vinha muito algodão do sertão, daqueles encosto da Paraíba, Santana do Congo, Camalaú, São João do Tigre, Sumé, vinha pra Jataúba que era uma cidade pequena mas tinha uma feira muito arroxada, por causa do algodão e da criação também. Na época do algodão o dinheiro corria folgado, acredita? No outro ano passei a fazer Brejo da Madre Deus, no sábado. Aí eu fazia Jataúba, nessa época ia muita gente daqui pra Jataúba, dormia em Jataúba, pra ir de manhã pra Brejo, sábado à tardinha, quando terminava a feira de Brejo eu regressava pra Santa Cruz pra na segunda-feira fazer a feira de Santa Cruz. No domingo descansava em casa pra pegar pesado na segunda, que começava cedo a feira daqui. Brejo é uma cidade muito antiga, era maior que Santa Cruz e Jataúba. Brejo é uma cidade que tem quatrocentos e tantos anos, Caruaru já pertenceu a Brejo. Brejo tem um povo muito humilde. Na época do algodão, o dinheiro corria folgado nas feira.

Eu fazia minha encomenda, já tinha deixado de fazer as alpercata, já tava fazendo umas bota longa, essa turma que gostava de vaquejada me encomendava muita bota. Naquele tempo era difícil porque era tudo atrasado e aquelas bota agradava e o povo me encomendava demais, e sandália, sapato, e eu fui aumentando, comprando em Caruaru. No ano de 65 eu comprei meu primeiro carro, era uma Rural. Porque quando eu ia pras feira fora levava os sapato numa mala em cima de um caminhão. Tinha um caminhão que ia fazer as feira e levava, chamavam os feirantes, em cima do caminhão. Eu enchia a mala de sapato e levava. Quando foi no ano de 65 eu comprei uma Rural, aí passei a não viajar mais de caminhão, ia no carro meu, tirava os banco traseiro, enchia de sapato.