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2 INSTITUIÇÕES E CAPITAL SOCIAL: ELEMENTOS PARA ANALISE DA

3.4 SÍNTESE

As profundas mudanças ocorridas, nas últimas décadas, na estrutura industrial mundial ocasionada pela difusão das tecnologias de informação e comunicação deram impulso a uma nova dinâmica da organização da produção e do trabalho. Essas mudanças afetaram fortemente o setor eletrometal-mecânico, o qual atravessou um intenso processo de modernização e de reestruturação produtiva, que resultaram na crescente segmentação e automatização dos processos produtivos e especialização em produtos mais complexos com o uso de componentes eletrônicos.

Nessa atual configuração da organização produtiva, esses setores industriais seguem numa trajetória de desconcentração industrial associada ao grau de avanço tecnológico dos produtos fabricados nos diversos segmentos industriais. Ou seja, nessa nova dinâmica industrial as diversas etapas produtivas da cadeia eletrometal-mecânica voltadas à fabricação de bens mais complexos tecnologicamente estão tradicionalmente concentradas nos países desenvolvidos (Tríade). Contudo, deve-se ressaltar que essa dispersão geográfica das atividades produtivas ao criar oportunidades para os segmentos intensivos em insumos e mão- de-obra, como a manufatura, vem abrindo importantes espaços de atuação para as empresas que estão localizadas em países de industrialização recente.

No novo padrão tecnológico e organizacional os investimentos em atividades geradoras e difusoras de conhecimento tecnológico, como P&D, são um importante fator estratégico para ampliar o nível de competitividade desses setores industriais no mercado mundial. Esse fato é revelado pelas especificidades dos segmentos que estão próximos da

fronteira tecnológica que vem alcançando elevados níveis de especialização em produtos e processos pelo uso intenso de ativos tecnológicos. Ou seja, esses segmentos mais dinâmicos tecnologicamente vêm investindo nos denominados intangíveis, como em softwares aplicados, capacitação da mão-de-obra, flexibilização de processos produtivos, pesquisas em projeto e desenho, elementos esses que se traduzem em importantes vantagens competitivas para as empresas. Logo, a inovação, em produtos e processos, surge como variável decisiva para sustentar a competitividade desses setores industriais cuja dinâmica inovativa passa a depender cada vez mais do aprendizado tecnológico do que da disponibilidade de recursos naturais de produção.

Considerando que uma forte característica desses setores industriais refere-se ao aprendizado tecnológico obtido nas rotinas produtivas das empresas, essas então passam a exigir trabalhadores qualificados capazes de aprender com o próprio processo de produção. Além dessa aprendizagem obtida via atividades informais (learning by doing), ressalta-se ainda a importância da realização de alianças ou acordos de cooperação tecnológica entre os produtores, clientes e fornecedores. Na formação dessas redes de cooperação técnico- produtiva, a proximidade espacial entre os agentes produtivos é fundamental para estimular o aprendizado por interação através do desenvolvimento conjunto de produtos e processos possibilitando a troca de conhecimentos não codificados e a difusão de inovações mais radicais. Essa complexa rede de inter-relações entre as empresas expressa pelo elevado comércio intra-indústria, revela a importância do setor eletrometal-mecânico como difusor de novas tecnologias para os demais setores industriais.

Na tentativa de ampliar a competitividade as empresas mais dinâmicas vêm realizando esforços tecnológicos, expressos na ampliação de seus gastos em P&D e na intensificação dos processos de aprendizagem a partir dos relacionamentos com universidades e centros de pesquisas tecnológicas. Ou seja, a capacidade para inovar está cada vez mais vinculada a uma

maior complementaridade entre o setor empresarial e o sistema de ciência e tecnologia. Contudo, na maioria dos países as possibilidades competitivas desses setores industriais, além dos fatores tecnológicos, serão afetadas fortemente por condições sistêmicas como financiamento, tributação e nível de proteção doméstica. Esses segmentos são bastantes suscetíveis as condições de funcionamento da economia associadas ao comportamento da demanda tanto de reposição quanto de expansão, ou seja, da taxa de crescimento do próprio setor ou dos demais setores industriais.

Portanto, a partir do exposto sobre a configuração mundial do setor eletrometal- mecânico, pode-se verificar que essa estrutural industrial caracteriza-se pela ampla heterogeneidade em relação ao tamanho e número de empresas por segmento; assimetria quanto a capacitação produtiva, tecnológica e gerencial nas empresas; origem do capital e sobretudo, no que se refere a diversificação da pauta de produção. Em alguns segmentos pertencentes a essas indústrias verifica-se a presença tanto de empresas familiares, de pequeno porte, quanto de grandes grupos empresariais com a presença de multinacionais.

Essa heterogeneidade das indústrias gera diversos nichos de mercados e diferentes possibilidades competitivas para as empresas que irão depender do tipo de produto ofertado e do nível de maturidade tecnológica. Por um lado, nos segmentos que atuam na fabricação de produtos de baixa e média tecnologia cujo ciclo de vida já atingiu certa maturidade tecnológica, a concorrência é estabelecida via preços, em geral esses é de baixo valor agregado. Logo, nesses segmentos de mercado as barreiras à entrada são baixas, e os fatores determinantes da competitividade são a escala, os baixos custos de produção e o suprimento barato de insumos. As empresas localizadas nos países de industrialização recente, geralmente, atuam nesses segmentos de mercado menos dinâmicos tecnologicamente, onde o preço é importante fator de competição.

Por outro lado, nos segmentos produtores de bens com maior complexidade tecnológica, a concorrência é definida em termos de custos, diferenciação de produto, ou do grau de desenvolvimento tecnológico. As empresas em resposta ao curto ciclo de vida de seus produtos intensificam seus esforços e gastos na realização de pesquisa e desenvolvimento para reduzir o tempo de lançamento de produtos e com isso criar ou ampliar os seus mercados de atuação. Em geral, as empresas situadas nos países de industrialização avançada atuam nesses segmentos de mercados em decorrência das elevadas barreiras à entrada, que requerem por parte das empresas maiores competências em engenharia de projeto e produto e elevados gastos em P&D.

A principal diferença entre os setores industriais localizados em países que estão na fronteira tecnológica e aqueles de industrialização recente refere-se a alocação dos investimentos em P&D. Nos primeiros os gastos realizados pelas empresas são destinados a realização de pesquisa básica, isto é, em inovações tecnológicas. Por outro lado, nos demais países, as empresas destinam em sua maioria recursos para adaptações, cópias e desenvolvimento de tecnologias já existentes. Em geral, nesses países em desenvolvimento, são as empresas de maior porte, ou em alguns casos pequenas mais dinâmicas tecnologicamente, que tem buscado intensificar seus gastos na geração interna de novas tecnologias e na elevação da qualidade e do conteúdo tecnológico de seus produtos. Essas empresas tendem internalizar laboratórios ou departamentos de P&D visando criar capacitações endógenas para inovar em produtos ou processos. Uma outra importante fonte de conhecimento para essas empresas é os intensos relacionamentos com clientes, fornecedores, universidades, centros de treinamento voltados a realização conjunta de P&D.

No Brasil, o modelo de substituição de importações norteou o desenvolvimento das indústrias eletrometal-mecânicas até o final dos anos 80. Contudo, essas políticas protecionistas a indústria nacional aliada às restrições as importações foram um entrave ao

crescimento industrial e a absorção de inovações tecnológicas. Devido aos longos períodos de recessão enfrentado pela economia brasileira muitos dos segmentos pertencentes as indústrias eletrometal-mecânicas não acompanharam a tendência tecnológica internacional em direção a automação microeletrônica. Isso explica porque grande parte das empresas se concentrou na produção de bens de menor conteúdo tecnológico importando peças e componentes de maior complexidade tecnológica. Na ausência de fornecedores especializados a industria brasileira perde em termos de competitividade internacional.

Na década de 90, a partir do movimento de liberação comercial nos países em desenvolvimento, a industria nacional passa a enfrentar uma situação de acirrada concorrência em decorrência da entrada de inúmeras empresas multinacionais no setor. As empresas em busca de sobrevivência adotaram estratégias de desverticalização da produção visando obter uma maior especialização produtiva ampliando assim a competitividade dos bens produzidos tanto internamento quanto no mercado externo. Como já comentado anteriormente, o maior problema enfrentado pela indústria nacional é com relação a ausência de fornecedores especializados o que contribui para manter elevados os déficits comerciais. Os produtores de bens de capital são os que mais sofrem efeitos negativos em decorrência da falta de fornecedores de peças e componentes. Em praticamente todos os segmentos produtores de bens de capital o período de lançamento de novos produtos elevou-se bastante contribuindo para a falta de competitividade de seus produtos no mercado externo. Ou seja, a indústria nacional é competitiva somente em segmentos intensivos em mão-de-obra e em matéria- prima, visto que esses fatores de produção apresentam baixos custos para as empresas.

Portanto, no Brasil verifica-se que a composição da estrutura industrial, não difere muito do resto do mundo, caracteriza-se como muito heterogênea, estando concentrada nas grandes empresas, mas também contando com a presença significativa de micro, pequenas e médias empresas, principalmente no que se refere ao segmento de máquinas-ferramenta.

Em conseqüência das mudanças ocorridas no cenário mundial a partir dos anos 80, seja em relação as condições econômicas e ao padrão tecnológico vigente, pode-se verificar que as principais estratégias concorrenciais adotadas pelas empresas para a manutenção de uma posição sustentável no mercado foram:

(i) a reestruturação produtiva que implica em maior produtividade as custas da redução no volume de emprego direto;

(ii) terceirização de parte dos processos produtivos com o objetivo de reduzir custos operacionais e eliminar estoques;

(iii) maior utilização da automação e flexibilidade de processo visando obter economias de escala e escopo;

(iv) novas relações e organizações do trabalho baseado na redução de níveis hierárquicos e qualificação da mão-de-obra;

(v) intensos esforços na especialização da pauta de produção; e

(vi) elevado grau de concentração e internacionalização das empresas que estimulam as redes de cooperação vertical e os fluxos de comércio internacional de natureza intra-industrial e intra-blocos.

Mas deve-se ressaltar que a competitividade internacional dos principais segmentos da eletrometal-mecânicas estão associados a existência de um parque de fornecedores de peças e componentes bastante desenvolvidos e de um sistema de ciência e tecnologia eficiente em seu entorno. Cada vez mais nos países avançados industrialmente vem predominando estratégias de globalização através do estreitamento da cooperação vertical, ou seja, da construção de redes de relações (networks) entre os agentes ao longo das várias etapas produtivas da cadeia eletrometal-mecânica.