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A SAÚDE MENTAL E O BEM-ESTAR PSICOLÓGICO NA VIVÊNCIA DA PESSOA COM

CAPÍTULO 2 – ESPIRITUALIDADE E SAÚDE MENTAL NA VIVÊNCIA DA PESSOA COM

2.2. A SAÚDE MENTAL E O BEM-ESTAR PSICOLÓGICO NA VIVÊNCIA DA PESSOA COM

A diabetes sendo uma doença desafiadora no que diz respeito às inumeras exigências que acarreta no quotidiano, a sua vivência caracteriza-se por sucessivas alterações e estados de desiquilibrio nas dimensões fisica, psicológica, social, laboral, espiritual e familiar. Compreender estes diferentes processos adptativos pode tornar os enfermeiros mais competentes na ajuda à gestão mais eficaz da doença. Assim, é essencial focar no bem estar psicológico, no lado emocional da diabetes, pois estes doentes conhecem bem a frustração e a zanga de ter uma doença incurável e o reconhecimento de que por muitos esforços que façam poderão não ser suficientes para controlar o percurso da doença. Numa investigação recente, percebemos que os indivíduos com diabetes tipo 2, onde foram aplicadas as esclas de bem estar psicológico de Ryff, apresentavam menor bem-estar psicológico que o grupo de controle (que não apresentavam diabetes tipo 2) independente do género (Randhir Singh, 2014). Apesar dos inúmeros estudos de investigação publicados, é difícil provar a causalidade do efeito da espiritualidade/ religiosidade sobre a saúde mental, embora a inter-relação possa ser demonstrada de forma efetiva (Chapple, 2003).

Relativamente à relação entre saúde mental e espiritualidade, também, aqui estes resultados estão muito dependentes das definições e operacionalização dos constructos utilizados pelo que os resultados podem ser inconsistentes (Sawatzky, et al., 2005). Desta forma, não podemos inferir uma relação causal direta entre espiritualidade e saúde mental, mas existem alguns estudos epidemiológicos que sugerem que a religiosidade e a espiritualidade poderão preceder o bem-estar (e.g. Levin & Chatters, 1998). Uma vez que o desconforto psicológico ocorre em qualquer momento da vida, o desenvolvimento do bem- estar espiritual tem um papel vital na adaptação ao stress.

Espiritualidade e Saúde Mental da Pessoa com Diabetes tipo 2 CONTEXTUALIZAÇÃO TEÓRICA

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Tal como já referido, os estudos até agora sugerem uma associação entre envolvimento religioso e melhores resultados de saúde mental, incluindo uma maior autoestima, melhor adaptação ao luto, uma menor incidência de depressão e ansiedade, uma menor probabilidade de abuso de álcool e drogas, e maior satisfação com a vida e felicidade em geral (Koenig & Larson, 2001). Todavia desconhecemos o impacto da religiosidade e do BEE na pessoa com diabetes, designadamente no BEP e na saúde mental. Constatámos a existência de uma associação entre depressão e o desenvolvimento de comportamentos de saúde nocivos (tabagismo, inatividade física, obesidade) o que por sua vez, conduz a um risco acrescido em desenvolver situações de diabetes tipo 2 (Mezuk, Eaton, Albrech, & Golden, 2008) enquanto outros não encontram essa associação tão significativa (Knol, et al., 2006). Atestámos, também, que a diabetes pode aumentar o risco de depressão devido à sensação de ameaça e perda pelo diagnóstico e pela necessidade de alteração do estilo de vida. Por outro lado existem dados que nos indicam que a depressão poderá estar associada a alterações vasculares, como sucede no caso da diabetes (Gois, Dias, Raposo, Carmo, & Barbosa, 2012). Em suma, as evidências científicas sugerem que o relacionamento entre estas duas condições é bidirecional e podem alterar ao longo da vida, contudo a relação entre depressão e diabetes tipo 2 continua ainda por esclarecer. A depressão é frequentemente considerada uma co- morbilidade resultante da carga diária da vivência da diabetes. Finalmente, Schmitz, Gariépy, Smith, & al, (2014) concluem que a identificação precoce dos quadros depressivos, a sua monitorização e tratamento podem contribuir para melhorar o funcionamento e qualidade de vida da pessoa com diabetes tipo 2.

Dificuldades na área psicossocial são frequentemente referidas entre as pessoas com diabetes mas, muitas vezes, não são identificados, logo não são sujeitos a uma intervenção específica e adequada (Peyrot & Rubin, 1997).

Do que referimos, podemos afirmar a existência de uma associação bidirecional entre depressão e diabetes mellitus (Golden, 2007). A depressão é um fator de risco para diabetes (Gois, Dias, Raposo, Carsmo, & Barbosa, 2012) e esta aumenta o risco da depressão (Nouwen, et al., 2010), contribuindo para uma fraca adesão à medicação, para o não cumprimento da dieta prescrita, para a falta de exercício físico, para controlo glicémico insuficiente, para uma redução da qualidade de vida (Lustman & Clouse, 2005).

Recorrendo novamente ao conceito de saúde mental, já referido anteriormente, como um estado de bem-estar em que a pessoa tem competências para lidar com as tensões do quotidiano, concluímos que a saúde mental é essencial para a adaptação positiva às mudanças.

A incapacidade resultante deste processo de doença conduz a pessoa a desenvolver respostas intencionais de adaptação na procura de um equilíbrio. Deste modo, um problema de saúde mental (quer seja o diagnóstico de depressão, sintomatologia ansiosa, tristeza, entre outros), interfere com as capacidades cognitivas, emocionais ou sociais de uma pessoa,

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prejudicando a capacidade de uma pessoa controlar e gerir a sua vida. O impacto da falta de saúde mental pode afetar a capacidade da pessoa viver de forma independente e satisfazer as suas necessidades diárias, quer na relação consigo própria, quer ainda na relação com os outros e com o meio ambiente. É neste contexto que os cuidados de enfermagem assumem uma singular importância, “quer ao nível educacional, na promoção de comportamentos

saúdáveis, na promoção do autocuidado, na adesão e gestão dos regimes terapeuticos ou ainda, na procura do sentido da vida” p. 84 (Vieira, 2007).

Nessa procura, a espiritualidade é um aspeto importante e integrante dos paradigmas de enfermagem. Compreender a dimensão espiritual da experiência humana, através do bem- estar espiritual, é da máxima importância para a enfermagem, quer pelo facto de ser uma exigência contemporânea, quer ainda por que é uma prática baseada numa disciplina em que o seu core é o cuidar.

É nosso propósito desenvolver a dimensão da saúde mental através de indicadores de ansiedade, depressão, perda de controlo emocional/comportamental e bem-estar psicológico (Ware, et al., 1993). As diferentes vertentes encontram-se interligadas e são interdependentes, assim a saúde mental é indivisível da saúde em geral. Podemos abordar este conceito de duas formas: uma relativa ao sofrimento, em que o foco será a doença mental ou o sofrimento; e outra relativa aos fatores protetores da saúde mental. Uma vez que nos importa evidenciar as potencialidades, as “forças” mobilizadoras no desenvolvimento da saúde mental, sentimos necessidades de mobilizar o referencial sobre a saúde mental positiva de Vaillant (Vaillant, 2012). Este autor apresenta-nos seis possibilidades de explorar o conceito de saúde mental. Numa primeira, a saúde mental é definida como uma entidade acima do normal (como sintetizado pela Avaliação Global de um DSM-IV de Funcionamento (GAF, 6) pontuação de mais de 80). Numa segunda perspetiva, pode ser considerada pela presença de múltiplas potencialidades humanas e não a presença de fragilidades. Em terceiro lugar, pode ainda ser analisado tendo em conta a maturidade que se vai alcançando ao longo do ciclo vital. Em quarto lugar, pode ser visto como o domínio de emoções positivas. Em quinto lugar, ele pode ser articulada coma a inteligência socioemocional elevada. Em sexto lugar, pode ser vista como o bem-estar subjectivo. Em sétimo lugar, pode ser conceituada como a resiliência.

A saúde mental no adulto reflete um processo contínuo de amadurecimento desdobramento e mielinização cerebral progressiva, que se torna mais evidente na sexta década de vida (Bene, Turthe, Khan, & Farol, 1994). Estudos prospetivos revelam que os indivíduos apresentam menos quadros de depressão e apresentam uma maior modulação emocional aos 70 anos do que na década dos 30 anos (Vaillant, 2000). Esta ideia parece-nos muito pertinente uma vez que a nossa sociedade tem um índice de envelhecimento muito elevado, pelo que é importante enaltecer os aspetos positivos e não as perdas e incapacidades. Por fim, para a leitura e interpretação dos nossos resultados referiremos a teoria de (Neuman & Fawcett, 2011).

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Com base no modelo de Neuman, a saúde é perspetivada como um estado dinâmico de bem-estar ou de doença, determinada por variáveis fisiológicas, psicológicas, socioculturais, de desenvolvimento e espirituais. Neste contexto, os cuidados de enfermagem são perspetivados como intervenções que visam a integridade da pessoa e todas as variáveis que têm efeito sobre a sua resposta aos agentes de stress, com o objetivo de lhes reduzir o efeito. A autora entende ainda a saúde como um continuum e não como uma dicotomia de bem-estar e doença.

De acordo com o mesmo modelo, o ambiente são todos os fatores ou influências internas e externas, que circundam o cliente ou o seu sistema, que afetam ou são afetados por este, sendo a variação dependente das necessidades e motivações individuais.

Neuman e Fawcett (Neuman & Fawcett, 2011) definem enfermagem como uma “profissão única” que intervém em todas as variáveis que afetam as respostas da pessoa aos fatores de stress. O principal objetivo da enfermagem é prestar assistência à pessoa de modo a reter e obter a estabilidade do seu sistema, obtendo um nível máximo de bem-estar. Para atingir esse bem-estar são realizadas intervenções intencionais, com vista à redução dos fatores de stress e condições adversas que podem afetar o funcionamento excelente, em qualquer situação em que se encontra a pessoa.