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3 EVOLUÇÃO DOS CONCEITOS DE SAÚDE E DE DOENÇA E DAS

3.1 SAÚDE E MITOLOGIA

A medicina científica surgiu na Grécia, e já havia uma distinção entre medicina

curativa e medicina preventiva:

“A tensão essencial entre a medicina individual e a medicina coletiva,

desde os primórdios do pensamento ocidental na Grécia Antiga,

refletia um antagonismo ancestral entre as duas filhas do deus

Asclépios: Panacéia e Higéia. Panacéia era a padroeira da medicina

curativa, prática terapêutica baseada em intervenções sobre

indivíduos doentes, através de manobras físicas, encantamentos,

preces e uso de pharmakon (medicamentos) – ainda hoje se fala da

“panacéia universal” para designar um poder excepcionalmente

curativo. Sua irmã Higéia era adorada por aqueles que consideravam

a saúde como resultante da harmonia entre os homens e dos

ambientes, e buscavam promovê-la por meio de ações preventivas,

mantenedoras do perfeito equilíbrio entre os elementos fundamentais

terra, fogo, ar, água. Da sobrevivência dessas crenças e práticas,

através dos tempos, derivam os conceitos de higiene e higiênico,

sempre no sentido de promoção da saúde, principalmente no âmbito

coletivo”. (ROQUARYOL & ALMEIDA (2003, p.1).

No início da Idade Média, nas práticas de saúde eram utilizados os amuletos,

as orações e os cultos a santos protetores da saúde, para salvação da alma “mesmo

com a perdição do corpo individual” (STAROBINSKI, 1967 apud ROUQUARYOL,

1997 p. 2). Os males e doenças eram considerados ação divina vingativa e corretiva

aos pecados, afrontas e infrações cometidas por pessoas ou coletividade, e eram

combatidas, assim como as epidemias, com penitências e sacrifícios (CARVALHO &

BUSS, p 143, em GIOVANELLA, 2009).

A prática médica para os pobres era exercida principalmente por religiosos,

como caridade, ou por leigos, barbeiros, boticários e cirurgiões, como profissão

(SIGERIST, 1941, apud ROUQUARIOL; ALMEIDA, 2003, p.1). As famílias da

aristocracia tinham seu médico privado que, em muitos casos, era um cortesão

especialista também na arte de matar por envenenamento.

Hipócrates, grego nascido na ilha de Cós no ano 460 a, C., é considerado o

“Pai de Medicina”. Viveu muitos anos (104), notabilizou-se por haver distinguido a

medicina da magia e do folclore “orientando os conhecimentos médicos de maneira

racional e científica, tendo escrito o primeiro tratado de Geografia Médica, “Ares,

Águas e Lugares onde descreve o mundo físico baseado em quatro elementos: FOGO

– Bile amarela – Quente e seco.TERRA – Bile negra – Frio e úmido. ÁGUA – Fleugma

– Frio e úmido, e AR – Sangue – Quente e úmido. (PESSOA, 1978, p 94).

“Oráculo” era uma expressão usada para designar o local onde as divindades

davam respostas a respeito do futuro. Foram célebres os oráculos de Júpiter e de

Apolo, na cidade de Delfos. Esculápio ou Asclepios era seu filho. Esculápio possuía

alguns oráculos, sendo o mais célebre o de Epidauro, onde os enfermos procuravam

respostas e a cura para suas enfermidades. Segundo Bulfinch (2002, p. 342)

deduz-se que o tratamento aplicado aos doentes consistia no magnetismo animal ou

mesmerismo. As serpentes lhe eram consagradas devido à superstição de que os

ofídios, fazendo as mudas, tinham a faculdade de readquirir a juventude.

Esculápio possuía dois filhos, os médicos Podalírio e Macáon, e

desenvolveram uma verdadeira escola de Medicina, em Epidauro, com métodos

inicialmente mágicos, mas prepararam o caminho para uma medicina mais científica,

desenvolvida por seus descendentes, máxime Hipócrates.

A escola hipocrática separou a medicina da religião e da magia; afastou as

crenças em causas sobrenaturais das doenças e fundou os alicerces da medicina

racional e científica. Ao lado disso, deu um sentido de dignidade à profissão médica,

estabelecendo as normas éticas de conduta que devem nortear a vida do médico,

tanto no exercício profissional, como fora dele (REZENDE, 2000).

Na coleção de 72 livros contemporâneos da escola hipocrática, conhecida

como Corpus hippocraticum, há sete livros que tratam exclusivamente da ética

médica. São eles: Juramento, Da lei, Da Arte, Da Antiga Medicina, Da conduta

honrada, Dos preceitos, Do médico.

Sobressai dentre eles o Juramento, a ser proferido por todos aqueles

considerados aptos a exercer a medicina, no momento em que são

aceitos como tal pelos seus pares e admitidos como novos membros

da classe médica. O juramento hipocrático é considerado um

patrimônio da humanidade por seu elevado sentido moral e, durante

séculos, tem sido repetido como um compromisso solene dos

médicos, ao ingressarem na profissão (REZENDE, 2000).

No Brasil, a maioria das Faculdades utiliza um modelo simplificado, tradução

de um texto latino:

"Prometo que ao exercer a arte de curar, mostrar-me-ei sempre fiel

aos preceitos da honestidade, da caridade e da ciência penetrando no

interior dos lares, meus olhos serão cegos, minha língua calará os

segredos que me forem revelados, o que terei como preceito de honra.

Nunca me servirei da profissão para corromper os costumes ou

favorecer o crime. Se eu cumprir este juramento com fidelidade, goze

eu, para sempre, a minha vida e a minha arte, com boa reputação entre

os homens. Se o infringir ou dele afastar-me, suceda-me o contrário”.

Lacaz (1972, p. 9), introduzindo a Geografia Médica, enuncia ter ela nascido

com Hipócrates, e, portanto, com a própria historia da medicina, ao publicar “Dos ares,

das águas e dos lugares”, e assim escreve, sobre o Brasil:

Possuímos ainda um vasto território a ser povoado e Brasília,

correspondendo aos anseios do povo brasileiro, será o pólo de

irradiação de toda a vida do Brasil de amanhã. Atraindo a civilização

para o interior do país, esta marcha para o centro e para o oeste

representa o verdadeiro sentido de nossa vida política e social.

Múltiplas atividades humanas vêm-se desenvolvendo com a criação

de novas estradas, com a industrialização crescente, a agricultura

cada vez mais racionalizada, cedendo lugar ao extrativismo puro,

numa demonstração efetiva das virtudes e da energia criadora de

nossa gente. O progresso material necessita, porém, chegar