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4. OS SABERES DAS/OS ENFERMEIRAS/OS DOCENTES NOS CENÁRIOS E

4.1 Saberes docentes e os cenários Estágio Supervisionado em Enfermagem

4.1.5 Saberes pedagógicos: aspecto da avaliação

Considerando que os cenários dos estágios são complexos e diferem do contexto da sala de aula, a avaliação não poderia estar ligada apenas a um único instrumento avaliativo como, por exemplo, a prova. Apesar dos esforços dos docentes em desmistificar o processo avaliativo nesses cenários, ainda persiste uma concepção “de nota, de poder, de aprovação ou de reprovação, de autoridade, de classificação” como forma de avaliar os alunos (MASETTO, 2012, p. 169).

Segundo o autor, para desmitificar a avaliação como emissão de notas, que leva a resultados de aprovação ou reprovação dos alunos, o processo avaliativo deve estar integrado ao processo de aprendizagem. Isto deve ocorrer por meio de acompanhamento do aluno, verificando suas dificuldades, estabelecendo um feedback contínuo dos avanços alcançados, montando estratégias para que possa alcançar os objetivos de aprendizagem e não esperar para que, ao final do processo, esse aluno receba o resultado negativo de toda sua jornada na disciplina.

Partindo desse pressuposto, fomos à busca de identificar nos documentos das instituições, assim como nas práticas pedagógicas dos docentes, a forma de avaliar os alunos, considerando a diversidade dos cenários dos estágios e os recursos didáticos por eles utilizados.

Quanto ao sistema de avaliação das instituições, identificamos semelhanças quanto aos critérios estabelecidos, ou seja, para aprovação em qualquer disciplina, o aluno teria que obter a frequência mínima de 75% nas aulas, a diferença entre uma instituição e outra está na nota mínima para adquirir a provação, variando entre notas iguais ou superiores entre 5,0 e 7,0. Entre o Projeto Político Pedagógico (PPP) de cada instituição, encontramos apenas em um projeto o sistema de avaliação específico para o estágio supervisionado, que diz:

No decorrer do estágio a avaliação será formal em todo o processo de ensino-aprendizagem, voltado para os objetivos do estágio, envolvendo conhecimentos, habilidades e atividades dos acadêmicos, bem como conteúdos das tarefas, desempenho das atividades práticas, entrevistas e autoavaliação (PPP – IES 1, 2007).

Todas as instituições estão de acordo com a DCN, que nos informa no seu Art. 15, § 2º: “O Curso de Graduação em Enfermagem deverá utilizar metodologias e critérios para acompanhamento e avaliação do processo ensino-aprendizagem e do próprio curso, em consonância com o sistema de avaliação e a dinâmica definidos pela IES à qual pertence” (BRASIL, 2001, p. 6).

Apesar da diversidade de recursos didáticos e metodologias utilizados pelos professores, o processo avaliativo culmina na emissão de uma nota como resultado da avaliação. Identificamos semelhanças nos instrumentos avaliativos: os critérios estabelecidos, incluindo pontualidade, assiduidade, criatividade, iniciativa, destreza e associação entre a teoria e a prática, estão presentes nesses instrumentos. Outras estratégias são utilizadas como critério de avaliação, por exemplo, a prova escrita, autoavaliação e relatório ao final do período de estágio.

O professor Davi informa que realiza a avaliação atendendo ao sistema de avaliação da instituição:

[...] é feita uma avaliação escrita. São muitos critérios; então a gente pode colocar uma questão sobre a associação teoria e a prática, uma questão da apresentação dos seminários, das orientações que eles fazem nos diversos

programas de saúde, as palestras educativas (Entrevista – Prof. Davi –

05.11.2013)

A professora Elizabeth comenta que, além de utilizar o instrumento recomendado pela instituição, possui uma maneira própria de avaliar:

Eu tenho uma estratégia, eu criei uma ficha minha própria de autorreflexão dos alunos. Eu pego essa ficha e entrego para eles e vou lendo os tópicos: é em relação à pontualidade, assiduidade, compromisso, [...] Então eles se autoavaliam e quando eu chego para entregar a ficha de avalição para eles anexarem ao relatório de estágio, eles fazem uma reflexão antes de eu entregar a minha avaliação. Então, quando eles recebem a avaliação, eles já sabem o porquê daquela nota. Isso facilita a minha relação com eles e quebra aquela situação de conflito do aluno sair chateado do estágio (Entrevista – Profa. Elizabeth – 01.11.2013).

O professor Felipe discute o instrumento de avaliação com os alunos, esclarecendo todos os critérios, e solicita que seja entregue um relatório ao final do estágio.

[...] então apresento a ficha, converso com eles, peço para lerem os pontos que estão sendo avaliados e tomar conhecimento daquilo [...] Eu peço para ele fazer um relatório de cada local, onde ele vai relatar as atividades, colocar as suas dificuldades, limitações, facilidades, e aí eu peço lá no final desse cenário com algumas considerações, sejam desenvolvidas em três perspectivas, dele mesmo aluno como ele chegou e como ele está saindo, do local e a perspectiva do docente o que o docente ajudou, contribuiu, o que ele deixou de fazer emitindo sua opinião (Entrevista – Prof. Felipe – 05.11.2013).

Constatamos que, apesar de persistir o uso de instrumentos tradicionais, há um movimento que tenta superar a visão coercitiva da avaliação. Entendemos que as novas formas encontradas pelos docentes procuram inserir o contexto da aprendizagem, a realidade concreta dos cenários do estágio, por meio da autoavaliação, realizando o feedback com o aluno e solicitando sua opinião a respeito do processo avaliativo. O depoimento da professora Sofia representa a complexidade sobre a temática.

[...] eu sempre digo que é muito difícil, eu como professora, avaliar o estágio. Seria muito mais fácil eu passar uma prova e dar uma nota, se tirar 10, pronto, tirar 8 ou 7 você dá a nota e encerrou aqui. Mas com o estágio não, você tem que ficar observando, você observa várias coisas, você observa a vestimenta do aluno, a hora que ele chega, se ele quer sair mais cedo, se ele é pontual, se ele vem ou se ele não vem, se há participação, se ele se dá bem com os colegas, se ele dá bem com os funcionários, a forma pela qual ele trata os clientes: São “n” situações que são colocadas na nossa ficha de avaliação. São avaliações formais, não tem como você está com um caderninho anotando tudo, tem que ter um olhar mais ampliado, já que a gente tem vários alunos, vários setores, a gente tende a se perder. Então a gente tem que conhecer o nosso aluno, [...] O que eu acho importante é você dar um feedback para o teu aluno todo final de aula, para ele ficar ciente do que ele tem que mudar e o que pode melhorar (Entrevista – Profa. Sofia – 01.11.2013).

Verificamos, nos diferentes posicionamentos dos professores de estágio, a complexidade em torno da avaliação e diversidade de situações que eles se propõem a analisar. Além de estabelecer critérios avaliativos, a maioria deles organiza um roteiro de

observação, na perspectiva de obter maior “clareza, concretude, objetividade nas informações e consequente possibilidade de diálogo” com os alunos (MASETTO, 2012, p. 185).